Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012 se foi, agora é 2013. Hasta la vista baby!



A última mensagem do ano.

2012 se foi, agora é 2013.
Hasta la vista baby!

                 Um ano se encerra. Mais um de tantos em nossas vidas. Quantas coisas aconteceram. Muitos acontecimentos deixaram a desejar em compensação teve muitos outros excelentes. Mas não é para ser assim? Um dia li que o mal e o bem têm de existir, pois se o mal não existisse que mundo seria este? Não viemos aqui com uma finalidade? Não importa a fé que processamos em todas elas existe a promessa de um futuro melhor. Se colocássemos nossas vidas em uma tela gigantesca, quantas coisas não veríamos ao apagar das luzes deste ano? Um janeiro que começou um fevereiro, um março um abril. E o tempo foi passando e nós fomos passando com ele. O tempo é implacável. Ele não volta atrás. Quantos sorrisos conseguimos dar? E as tristezas? Não serviram de aprendizado?
          
                  Não sei, mas acho que aqueles que viveram intensamente o escotismo em 2012 tiveram seus momentos de felicidade. Um dia disse para mim mesmo que em nosso passado temos tantas coisas para contar que se escrevêssemos em um enorme imaginário livro da vida, quantas páginas seriam! Milhares e milhares. Sacrifícios eu sei que todos fizeram e quem não os fez? Somos milhões de escoteiros neste mundo. Quantos chefes labutaram acreditando que uma juventude melhor poderia florescer? Tem rosas no meu jardim? Será que observei alguma a desabrochar? São vermelhas? Brancas? Nos caminhos nem sempre acertamos os rumos a seguir. O ponteiro da bússola teve momentos de certeza e outros de duvida. As estrelas no céu nem sempre brilharam com a intensidade esperada para nos mostrar o norte e o sul. Mas nunca desistimos.

                 Seria bom se estivéssemos todos juntos, no alto de uma montanha, sabendo que o sol que caminha sempre para o oeste se foi. Agora esperamos que estrela de Baden Powell apareça brilhante no céu. Hora de ver os erros e os acertos. Que bom. Todos nós ali esperando o esperado 2013. Depois vêm o 2014, o 2015 e tantos que vamos viver intensamente nossas vidas, e alguns ainda procurando o que valeu ou não valeu neste ano e o que fazer para melhor no próximo. Quantas pessoas convivemos neste ano que se vai? Quantos jovens vimos sorrir com nosso esforço que nada mais foi como uma brisa a acariciar nossa face, um levantar de olhos para o infinito, uma vontade enorme de acertar. Isto não nos fez sorrir? Um ano que sabemos para muitos os caminhos tinham outras pistas, que tentamos algumas, voltamos ao ponto de reunião quantas vezes se tornaram necessárias, pois a vida é um eterno aprendizado. E não foi ele quem disse que é errando que aprendemos? Uma pista difícil de seguir e nunca desistimos, pois escoteiros que somos não desistimos de procurar à última, no fim de pista; é ela que nos indicará se tudo valeu. Se ela é a tão esperada - O Jogo já terminou. Paz.

                  Seria bom se fechássemos os olhos, todos nós, os milhões que fazem a saudação que nos foi legada por Baden Powell, e que em volta do mundo déssemos as mãos, entrelaçadas, com as esperanças vivas a pulsar em nossa mente e vendo as estrelas passando cantaríamos em um coro de muitas vozes, de muitos idiomas, que seriam ouvidos há anos luz dos planetas do mundo, e sempre acreditando que o escotismo tem uma força tão grande que nos une, nos dá a esperança de um mundo melhor. “E o Senhor que nos protege, e nos vai abençoar, um dia certamente vai de novo nos juntar”!

Acreditem, marchem fundo nas estradas dos acampamentos que vem por aí. Chamem todos, lobinhos, lobinhas, escoteiros, escoteiras, seniores, guias, pioneiros, pioneiras, chefes e dirigentes. Mochilas as costas, bandeiras ao vento e gritem bem alto para todos que com as mãos entrelaçadas acreditem: - Um grande, um assombroso, um admirável, um extraordinário, um formidável, um egrégio, um eminente, um colossal, um gigantesco, um espetacular e feliz 2013!

SEMPRE ALERTA!

Hasta la vista baby!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Vale para você? Em 2013 eu juro que serei feliz!



Vale para você?
Em 2013 eu juro que serei feliz!

                  Sem dúvida. No ano que vem eu vou mudar. Pretendo fazer tudo aquilo que não fiz em 2012. Quem sabe ser feliz? Sei que teve momentos que eu fui, mas teve outros que não. Então eu prometi a mim mesmo que iria mudar.  Agora eu quero ouvir músicas que tocam nas rádios, não importam quais sejam. Pretendo ser melhor ouvinte dos amigos que conversam comigo, vou procurar entender o que querem transmitir. Este novo ano eu vou fazer o que sempre quis. Vou correr andar, malhar este corpo que ficou parado no tempo e envelheceu.
            
                 As festas de natal se foram, bate em minha porta a virada do ano. Eu olho pela janela e vejo que o tempo passou. Será que eu também não passei com ele? As fisionomias dos que me são caros não são mais as mesmas. Todos envelheceram. Claro, o tempo não para. Não fiquei rico como tinha prometido em 2012. Lutei com as armas que tinha, usei o vento que passou e não deixei de lado o orvalho que sempre me acompanhou. Tentei durante o ano abarcar os problemas dos mais chegados não sei se consegui. Tentei fazê-los sorrir mais e as respostas foram poucas.

                Consegui aumentar o número de amigos, mas em compensação perdi muitos. Quem sabe por exigir demais? Muitas vezes só quis receber em vez de dar por isto este ano eu vou mudar. Já estive conversando com meu coração a tivemos um dialogo impossível, e olhe ele não foi duro para comigo. Senti suas batidas fortes no peito quando disse que ia mudar. Eu agora vou ser feliz custe o que custar. Prometi a mim mesmo me preocupar mais com os outros, em fazer os outros felizes e não perder para a noite escura os amigos que criei.

                 Se Deus quiser vou deixar aberta a porta do meu coração. Passagem livre para todos que me quiserem bem ou não. Quero que todos saibam que em 2013 ela, a porta vai ficar aberta, para que todos possam passar e sentir a força da minha felicidade em ter amigos assim. Deixarei que minha mente alce vôo para o céu. Deixarei que meu corpo seja levado pela brisa para onde ela me levar, sem lutar para ficar no escuro do desconhecido. Sim. Este ano eu vou mudar. Terei para todos um belo sorriso, sincero é claro, sempre um abraço amigo, respeitoso e agradecido.

                Eu irei mudar sim. Em 2013 serei outro. Irei mostrar que podem acreditar em mim. Quero distribuir abraços pedir perdão aos meus inimigos se é que os tenho, quero aprender a amar, quero me reinventar para ser o que não fui. Quero descobrir em mim o que eu tenho guardado no fundo de minha alma. Vou abrir mão de tudo que fiz e ser solidário com aqueles que não fui.

               Sei que será uma promessa difícil. Mas este ano de 2013 eu farei tudo para que consiga alcançar a trilha do Caminho para o Sucesso que perdi. Este ano meus amigos eu quero ser feliz e espero que todos vocês também o sejam. Quem sabe 2013 será o ano da redenção Escoteira? Quem sabe uma estrela verde irá descer do céu para iluminar a todos nós no caminho dos campos verdejantes que BP nos ensinou?

Torço por isto. Torço mesmo, pois em 2013 eu juro que serei feliz!

UM ESPLÊNDIDO 2013 A TODOS VOCÊS QUE ACREDITARAM EM MIM!

Um tributo a minha esposa. Célia Maria Ferraz. Sei que vocês não sabem, eu tenho um anjo ao meu lado.



Um tributo a minha esposa. Célia Maria Ferraz.
Sei que vocês não sabem, eu tenho um anjo ao meu lado.

 Muitos insistem em procurar a felicidade sem saber que ela está bem perto de nós. Muitas vezes não descobrimos e em outras muito tarde conseguimos ver. Estamos chegando em 2013. Mesmo nas dificuldades que estou enfrentando eu me considero um homem feliz. E sabe quem é responsável por tanta felicidade? Minha esposa. Isto mesmo. Celia que é minha vida e minha luz. Casamos novos. Ela com 17 eu com 23. Sempre tivemos um enorme respeito um pelo outro. Vivemos várias fases neste mundo de Deus. Não tivemos lua de mel. Como? Risos. O dinheiro passava longe. Fomos morar em uma cidadezinha. Trabalhava em uma usina siderúrgica. Peão de obra. Caminhão lonado indo e vindo. Comendo poeira. Minha casa? Alugada. Cozinha e quarto. Banheiro? Nos fundos do quintal. Móveis quase nenhum. Fogão a lenha. Um radinho de pilha.

Moramos em várias moradas. Em varias cidades. Em vários estados. Ela ao meu lado. Incansável. Nunca reclamou da vida que levávamos. Depois outro estado, uma fazenda, boiada das grandes, cobras, galinhas, porcos, Emas e Ciriemas, barcos, São Francisco, E rio das Velhas. Jacarés peixes e sucuris à vontade. Assim o tempo foi passando. Ainda noivo já lutava ao meu lado no escotismo. Sabia do meu segundo amor. Vestiu o uniforme de Bandeirante. Depois de Chefe Escoteira. Fez curso. Quase IM. Não continuou. Não dava. Fiquei mal e fui parar em um hospital. INSS. Ela lá. Junto comigo dia e noite. Até hoje é ela minha luz, minha enfermeira, aquela que me ajuda a pegar um ônibus, a correr nos prontos socorros da vida. Impossível descrever uma vida juntos de 49 anos. Muito tempo. Prometi a ela viver pelo menos para a festa das bodas de ouro. Que Deus me ouça.

Não posso continuar. Fico engasgado. Não era para escrever aqui. Ninguém aqui no facebook precisa ficar ouvindo lamurias. Mas tinha de dizer. Se tenho amigos aqui, ela é a responsável. Em 2012 rezei para chegar a 2013. Um ano se passou. Não sei se outros virão. Mas quando um dia qualquer eu me for lembrem-se dela. Se sou o que sou e acho que nada sou devo a ela. Tem dias que acho não ser merecedor de ter ao meu lado uma mulher como ela. Que os céus a proteja sempre. Ela ainda não leu estes parcos escritos tirados de um dia de alegria. Sim. Hoje estou alegre e tanto estou que digo a todos que quiserem ouvir – AMO DE MONTÃO A MINHA CELIA. ELA É MINHA VIDA, MINHA LUZ. TENHO CERTEZA QUE IREMOS VIVER PARA SEMPRE, POIS NOSSO AMOR É ETERNO!

Tudo de bom meus amigos. Nada mais a dizer. Que Deus os acompanhe sempre. Que possam ter sonhos dourados e que se realizaram como os meus. Sonhos bons, sonhos que irão dar novo ânimo para 2013. Feliz 2013! 

sábado, 29 de dezembro de 2012

Por que as pessoas sofrem?



Por que as pessoas sofrem?

     — Vó, por que as pessoas sofrem?

     — Como é, minha neta?
     — Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
     — Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
     —Vó...
     —Oi...
     — Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
     — É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?
     —Não, Vovó.

     — Você lembra-se da estorinha do Patinho Feio?
     — Lembro.
     — Então... O Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.

     — O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
     — Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.

     — É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
     — É por isso! Viu como você é esperta?
     — Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
     — Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?
     —O que?

     — Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
     — Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
     — Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
     — É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
     — Não entendi minha filha?

     — Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...
     — Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
     — Todos nós somos querida. Em parte.
     — Ele vai descobrir quem ele é de verdade?

     — Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.
     — E aí viramos cisnes?
     — Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
     — Aonde você vai?
     — Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!

     A boa vovó apenas sorriu!

(encontrado na internet sem identificação)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O passo do elefantinho.



Lendas escoteiras
O passo do elefantinho.

“O circo chegou na cidade,
É tempo de pensar no que se viu
Montaram uma tenda bem grande,
“Uma tenda do tamanho do Brasil”!

             Interessante. A vida da gente é sempre cheia de surpresas e quando nos lembramos das boas damos um enorme sorriso. Estava eu absorto e escrevendo quando começou a tocar “O Passo do Elefantinho” com a orquestra de Henry Mancini (Baby Elephant Walk, escrito em 1961 por este compositor para o filme Hatari). Adoro esta música principalmente porque ela me faz lembrar-se de Rafaella, uma lobinha morena, sete anos, miudinha e sempre de fisionomia séria. Dificilmente sorria para alguém. Nunca faltou uma reunião e mesmo doente chorava para ir. Uma vez chorou tanto que seus pais com sua charrete (não tinham carro) a levaram agasalhada e enrolada em uma manta para a sede. E quem disse que adiantou a Akelá, o Balu ou a Kaa falar com ela? Necas! Ficou lá sentada em uma cadeira só olhando e sem sorrir!

           O Circo dos Palhaços Impossíveis estava na cidade. Naquela época onde armavam sua tenda eles faziam questão do desfile apoteótico. Eles sempre se instalavam as margens da Estrada do Fim do Mundo. Chamava-se assim porque era esburacada, pontes caídas, assaltantes enfim, era mesmo um fim de mundo. Não se chegava a lugar algum. Nem bem o circo chegou e um carro de som saiu às ruas anunciando as atrações. Depois vinha atrás palhaços, equilibristas, artistas e animais exóticos. A rua enchia de gente e nas janelas apinhavam-se todos. A meninada vibrava correndo atrás e muitos davam plantão junto ao circo na sua montagem para ver o movimento. A maioria dos jovens do Grupo Escoteiro Olavo Bilac estavam lá. Boquiabertos. Vendo aquela parafernália sendo montada. Os pais sorriam de contentes, pois pelos menos os filhos tinham aonde ir e os sonhos das molecagens agora tinham uma pausa.

             Rafaella viu o desfile. Não sorriu, mas quando o elefante passou com a Rainha de Sabá sentada em seu dorso seus olhos brilharam. Sua mãe e seu pai não notaram seu súbito interesse. Eles mesmos achavam estranho dela não sorrir. Pessoas humildes sem posses consultas a médicos especialistas estava fora de cogitação. Chefe Noravinio em reunião dos chefes do grupo sugeriu que o grupo todo fosse em um espetáculo. Época de férias poderiam combinar com o dono do Circo e quem sabe seria mais barato? Dito e feito. O Senhor Wiener Neustadt proprietário do circo exigiu que fosse chamado de Arquiduque Maximiliano, pois era trineto do próprio. Discutir para que? – Sexta, às dezesseis horas. O circo vai apresentar um espetáculo especial para os Escoteiros falou. Uma gentileza de Arquiduque Maximiliano, lembrem-se disto! Não irão pagar nada!

            Uma festa. Mais de cento e quarenta membros. Grupo grande. Junto outros tantos de familiares e penetras aproveitando a “boca livre”. Duas horas todos na porta. Uniformizados é claro. Rafaella rondava o circo. Viu a jaula dos animais e próximo o elefante. Tentou aproximar. Não deixaram. O espetáculo começou. Uma bandinha, o apresentador – Respeitável publico! Seguiu os artistas, equilibristas, mágicos, saltimbancos e os animais. O brilho, a beleza e o colorido dava asas a imaginação e a fantasia dos escoteiros. Eram levados para um mundo diferente. Um mundo de sonhos, das alegrias e os palhaços? Incríveis! A escoteirada pulava de alegria. Mas Rafaella só olhava. Não sorria. Um elefante adentrou na arena. Junto um menino vestido de indiano com um turbante azul. O elefante o seguia. Rafaella ficou de pé. Sorriu! Rafaella sorria! Ninguém a viu sorrindo, acho que só eu.

               Ninguém prestava atenção em ninguém. Naquela hora só a arena e os espetáculos de sonhos, de azuis, amarelos, vermelhos e de mil cores que estavam sendo visto pelos escoteiros. Só viram Rafaella na Arena. Susto! Gritaram – Rafaella volte! Ela não ouvia ninguém. Foi até o elefante. O tocou na tromba. O elefante olhou para ela. Ajoelhou-se e sentou. A pegou com a tromba e bramindo a jogou no ar pegando-a novamente. Rafaella dava gargalhadas e a escoteirada acompanhou. Seu Arquiduque Maximiliano veio correndo. Mas o elefante levantando a colocou em seu dorso e ficava em pé sempre segurando Rafaella com a trompa.

                O adestrador de animais conseguiu retirar Rafaella de lá, mas ela gritava para não sair. Na arquibancada ela parou de rir. Ninguém entendeu nada. Rafaella sorrateiramente pulou por baixo da arquibancada, passou por baixo da lona e quando procuraram por ela foram encontrar junto ao elefante atrás do circo e dando risadas. Interessante que o elefante gostava dela. O circo ficou na cidade nove dias. Embarcaram em um trem da Leopoldina rumo à outra cidade. Rafaella sumiu. Cidade pasmada! Impossível diziam. Aqui não tem disso. Procuras mil. Rafaella tinha entrado no vagão do elefante como clandestina. Descobriram quando chegaram a Nuvem Azul. Seu Arquiduque Maximiliano passou um telegrama para buscá-la. Interessante. Rafaella voltou a sorrir. Quando voltou a Alcatéia foi recebida como a heroína de aventuras. Palmas e abraços. Valeu Rafaella. Um dia não há vi mais. Soube que seus pais foram morar em uma fazenda de um parente que morreu. Quem sabe lá junto à natureza ela não esteja sorrindo junto a um Lobo Guará cinzento e brincando pelas campinas verdejantes? Rafaella, um sonho de menina. Uma lobinha que soube fazer sua própria aventura.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O dia que o Escoteiro Tonico Tonelada conseguiu seu “Lis de Ouro”.



Lendas escoteiras.
O dia que o Escoteiro Tonico Tonelada conseguiu seu “Lis de Ouro”.

                       A cidade de Ouro Fino era pequena para ele. Se ele andasse no passeio os outros tinham de ir para a rua. O chamaram de tudo. Gordão, baleia, Jamanta, mas o que pegou mesmo foi Tonico Tonelada. Seu nome era Antonio Maquete de Marisia.  Nasceu com doze quilos e meio. Até o berçário foi improvisado. Interessante que sua mãe era magrinha e seu pai um pouco avantajado, mas com a barriga. Não teve irmãos. Eram classe media e não faltava nada para ele. Com o passar dos anos chegou a pesar 125 quilos aos seis anos. Comia feito um esfomeado. Andava com um bornal cheio de doces, chocolates, biscoitos e muitos lanches salgado que Marinalva a empregada fazia para ele. Seu pai e sua mãe eram proprietários de uma pequena fábrica de parafusos que ia de vendo em popa. Alem do mercado interno agora estavam exportando para o exterior.

                      Quando fez quatro anos ele passou nas mãos de vários médicos. Cada um tentando isto e aquilo e nada. Foi quatro vezes internado num Spá. Sempre a noite causava o maior reboliço por falta de comida. Desistiram. Na escola uma carteira especial foi improvisada. Demorava em sentar e levantar e no recreio sentava em uns tocos e comia e comia. Aos seis e meio pediu para matricular nos escoteiros. Chefe Joasem assustou. E agora meu Deus! Pensou. Nunca deixou um menino chorando do lado de fora. Mas aquele não era só um menino. Era uma carreta de vinte toneladas com vinte e quatro rodas! Chamou o Akelá, o Balu a Bagheera e Hathi. Eles levaram um susto. Como fazê-lo entrar em uma matilha? Como seria recebido? E os jogos? Ele não podia correr, não tinha agilidade, mas negar a entrada?

                    Tonico Tonelada entrou para os escoteiros. Sorria sem parar. Agora seria alguém. Falou com Marcelinho primo da sua matilha que ele não iria se envergonhar dele. Não levou seu bornal de doces e quitutes. Pediu a Marinalva que não preparasse mais nada para ele. Na primeira reunião estava com 145 quilos. Em dois meses com 122 quilos. Em um ano com 100. Mas ficou franco, muito fraco. No acantonamento em Joaçalva, um sitio do pai de um lobinho ele desmaiou. Foi duro para carregá-lo. Mas Tonico Tonelada não desanimava. Tonico Tonelada era outro. Chegou aos 90 quilos aos dez anos. Tentou o Cruzeiro do Sul, mas acharam que ele não estava preparado. Ele não acreditava nisto. Fez tudo que era pedido. Já andava com mais agilidade. Mas a tristeza de não conseguir o distintivo o desanimou. Passou para a Tropa Escoteira com 100 quilos. Engordava a olhos vistos. Joubert seu Monitor não gostava dele. Nenhuma Patrulha o queria e só os Panteras em votação o aceitaram. Pudera, eram cinco e todos novos inclusive o Monitor.

                      Durante cinco meses Tonico Tonelada sofreu nas mãos dos patrulheiros. No acampamento em Campo Novo prepararam uma armadilha para ele. O levaram em uma garganta fechada e ele conseguiu a custo passar, mas no retorno não. Ficou engastalhado entre duas pedras. Depois de muitas risadas a Patrulha viu que o assunto era sério. Com medo do Chefe chamaram a Gavião para ajudar. O Chefe Joubert desconfiou e foi atrás. Com uma corda por cima conseguiram retirá-lo, mas com muitas feridas. Chamou a atenção de todos. Tonico Tonelada não acusou ninguém. Disse que ou se é amigo de todos e irmão dos demais ou não se é nada. Não se trai um patrulheiro irmão. Escoteiros não são dedo duro! Com suas palavras passaram a olhar para ele com outros olhos.

                      Tonico Tonelada tinha um sonho. Ser Escoteiro Liz de Ouro. Ninguém acreditou nele. O Máximo que poderia conseguir seria o Cordão Verde Amarelo. Aos doze anos não teve jeito. Entregaram para ele o Distintivo especial. Quando ia fazer treze lá estava ele recebe o Vermelho e Branco. Esmerava-se nas especialidades e já possuía cinco e se preparando para a de primeiros socorros nível II. O vermelho e branco não teve dificuldade. Com as doze especialidades e a de cozinheiro e acampador nível II viu que em breve seria um Liz de Ouro. Entrou com o pedido na Corte de Honra. Ela não teve como dizer não. Sua chefia ficou em duvida, mas Tonico Tonelada voltou aos 90 quilos. Seu corpo modificava. Agora já não parecia gordo, mas incrivelmente forte. Cresceu muito e sua altura com quatorze anos já era um metro de setenta e seis.

                      Tonico Tonelada não perdia tempo. Fez seu projeto individual, as especialidades requeridas e já tinha a IMMA (Insígnia Mundial do Meio Ambiente). Tirou de letra os 36 conjuntos de etapas de progressão rumo e travessia. Dito e feito. Todos boquiaberto. Tonico Tonelada, o gordão, o Jamanta era o primeiro Escoteiro a receber o Liz de Ouro no Grupo. Fato inédito. Na data da entrega foi uma festa. Seus pais contrataram um bufê caríssimo para receber todos os amigos dele naquele sábado à noite. A cerimonia de entrega na Arena da Bandeira foi uma apoteose. Linda. Todo o grupo presente. O Comissário Distrital também.

                        Tonico Tonelada se tornou um modelo para todos os escoteiros que um dia acharam que ele não iria conseguir nada. Conseguiu. Sei que hoje ele é um radialista. Montou uma emissora em sua cidade. ZYW.120. Cresceu e montou varias outras rádios em outras em cidades vizinhas. Um homem de sucesso. Ameaçou compra a Rede Globo. Nunca acreditei nisto. Risos. Sei que continua Escoteiro. Agora é Diretor Técnico do Grupo onde começou. A cidade de Ouro Fino e as demais da região faziam o povo todo correrem todas as tardes para ouvirem Tonico Tonelada. “Esta é a Radio Tonelada, falando de Ouro Fino para o Brasil e para o Mundo; Alerta Escoteiros do Brasil”!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Uma noite maravilhosa de Natal!



Lendas escoteiras.
Uma noite maravilhosa de Natal!

                 Eu sempre tive um carinho enorme pela noite de natal. Família reunida, muitos presentes, abraços uma bela ceia isto sempre me encantou. Triste eu ficava quando lembrava que muitos não tinham esta minha felicidade. Já passava da meia noite e junto com minha esposa admirávamos na varanda os foguetes e a luzes no céu. Uma enorme tristeza se abateu sobre mim.  Lembrei-me da última visita que fiz na casa do Chefe Maninho. Sempre foi um pai para nós escoteiros de Esperança Feliz. Dizem que ele entrou para o Grupo em 1943. Ficou mais de sessenta anos no escotismo. Sempre notei nele uma pessoa triste, um olhar perdido no horizonte, olhos fundos e sempre com uma lágrima furtiva que ficava tentando esconder.

                  Chefe Maninho morreu há dois meses. Nas suas exéquias poucos foram. Nunca entendi isto. Esperava uma multidão e não foi quase ninguém. Claro era difícil vê-lo sorrir. Acho que ninguém nunca recebeu dele um abraço. Era muito fechado em si mesmo. Nunca esqueci o que ele me contou um dia. O Fogo do Conselho havia terminado e ficamos lá eu ele, Rosa uma Chefe Escoteira, Nair sua Assistente e Paulo Alberto um Chefe de tropa. Ficamos conversando e a meia noite todos foram dormir. Ficamos só eu e ele. Não sei por que ele estava com os olhos marejados de lágrimas. – Calma Chefe eu disse. Está se sentindo mal? - Não meu amigo, respondeu. São as lembranças que não cessam. E então, começou a contar parte de sua vida que acredito era desconhecido por todos que ficaram ao seu lado por muitos e muitos anos.

                 - Chefe, eu perdi meu pai quando tinha dez anos. Eu o adorava. Ele era tudo para mim. Levava-me aos parques de diversões, me levava em alto mar para pescar, fomos acampar em lugares inóspitos e mesmo já sendo um Escoteiro eu vibrava em sua companhia. Ele era Militar das Forças Armadas. Segundo Sargento do Regimento de Infantaria e todos o admiravam pelo seu caráter, por ser tudo o que hoje não sou. Um pai alegre, prestativo, amigo e muito respeitado não só em seu regimento como em toda vizinhança. Ele mesmo me contou com orgulho que fora incorporado ao 3º Regimento do Exercito Brasileiro. Um regimento da Força Expedicionária Brasileira. Em poucos meses ele partiu para a guerra na Itália.   Eu e mamãe choramos muito quando ele partiu. Sabe amigo Chefe, ele partiu em uma noite estranha, cuja lembrança nunca mais me sai. Chamou-me e disse – Filho, seu pai vai lutar lá na Alemanha. Vou me cuidar. Ainda vamos fazer grandes coisas, eu e você. Eu voltarei.

                  - Nos primeiros meses ele escrevia sempre. Mamãe, minha querida mamãe! Ela lia suas cartas, baixinho devagar, dizia que logo estaria de volta, pois a guerra estava prestes a acabar. Todos os dias ele vinha em meus sonhos, e nele retornava como se estivesse me abraçando. Passou um ano e ele não voltou. No natal escrevi para o Papai Noel uma carta. Uma carta simples, só pedia ao meu bom amigo que trouxesse de volta o meu papai que foi lutar na guerra. – Olhe Papai Noel, você que pode mais que a gente, e tem uma força sem igual, me dê Papai Noel este presente, se possível nesta noite milagrosa de natal. Mas nada. Nem resposta. No ano seguinte escrevi de novo. – Papai Noel, meu santo e bom paizinho, eu tenho meu coração como uma brasa, nesta hora triste em rezar ao Senhor eu venho. Papai Noel, se todos tem o seu papai em casa, só eu Papai Noel é que não tenho?

                Os dias, os meses foram passando. Mamãe só vivia pelos cantos chorando. As cartas não vieram mais. O silêncio era completo. Lembro-me que um dia mamãe passou a se vestir de preto e nunca mais sorriu para ninguém. E para piorar tudo meu amigo, um tarde chuvosa do mês de julho, bateram em nossa porta e dois oficiais do Exército Brasileiro entregaram a minha mãe uma medalha. Disseram a ela que ele tinha sido um herói. Mamãe, mamãe, eu quero meu papai! Ela calada, taciturna não chorou mais. Seu rosto lindo que nunca esqueci agora parecia uma mascara de cera. Na missa dos domingos ela disse para o Padre Antonio que estava perdendo a fé. Perdeu seu marido na guerra, ainda tinha seu filho, mas o mundo para ela desmoronou.

                 Sabe meu amigo, aquele mil novecentos e quarenta e cinco foi o ano que mais chorei. Eu sempre a noite rezava. Não acreditava que ele tivesse morrido. Jesus, meu amado e bom mestre eu dizia, se os tais heróis não voltam para casa, será que vale a pena ser herói? Senhor Jesus, meu santo e bom paizinho, me dê neste natal um presente. Acabe com minha revolta e me traga de novo o meu papai que foi brigar na guerra. Eu sei que o Senhor pode tudo e sei que vai dar um jeitinho de mandar o meu papai de volta. – Olhei para ele e ele chorava. Um "Velho" de oitenta anos chorando. Continuou a me contar - Olhe meu amigo Chefe. Não dá para esquecer. Acho que mamãe sempre ouvia minhas preces, pois um dia, naquela noite de natal, eu dormi abraçado com o retrato do meu pai. E confesso que tive lindos sonhos com ele. E sabe meu amigo Chefe, ao acordar gritei surpreso, pois lá estava enrolada em meu sapato uma enorme bandeira do Brasil!

               Sem palavras. Chorava ali com aquele velho naquela fogo que aos poucos se apagava. A brisa vinha de leve a nos dar um pouco de calma, de frescor. As pequenas fagulhas ainda existiam naquela fogueira que eram agora somente cinzas. Havia ainda algumas fagulhas que se arriscavam ainda a subir aos céus. Lânguidas e serenas para logo serem levadas com o vento. Papai Noel. E quem ainda não acredita nele? O natal, linda noite para alguns, muitas tristezas para outros. Abracei com força o Chefe Maninho. Ficamos ali até o amanhecer.  Nunca mais o esqueci. Que Deus esteja com você meu amigo, nestes pastos verdejantes do céu, junto ao seu papai e sua mamãe!

(História baseada no poema de Orlando Cavalcante, “Oração de natal de um órfão de guerra”). 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Meus lindos netos, e uma noite maravilhosa de natal.



Lendas e sonhos de uma Noite de Natal. 
Meus lindos netos, e uma noite maravilhosa de natal.

                   Tudo que contei aconteceu em uma noite em um dia vinte e quatro de dezembro. O ano deixa prá lá. Todos os anos a mesma coisa. Família toda reunida. Na sala os netos faziam a maior algazarra. As mães de cabelo em pé. Celia querendo terminar a ceia e a “netaiada” não deixava. Chamei-os todos e sentados em circulo no tapete da sala disse que ia contar uma história. Eles nunca gostaram. Eu tentei algumas vezes, mas só a netinha de quatro e seis anos se interessava e isto poucas vezes. Como tusso muito ninguém gosta.

                    - Olhe, esta história aconteceu a muitos e muitos anos atrás. Uma época que eu gostava de acampar sozinho. Pegava minha mochila, meu bornal, meu farnel e minha bolsa de intendência e lá ia eu para algum lugar – Sozinho Vovó? Sim. Lembro que fui acampar na Floresta do Ouro Negro. Peguei o trem de ferro na Estação às oito da noite. Conhecia o caminho com a palma de minha mão. Pulava do trem em movimento na subida do Gato Preto próximo ao Túnel do Machado Cego. Isto por volta de meia noite. Mais duas horas de subida e eu chegava à Clareira do Chefe Osvaldo conforme eu a batizei. Dei uma parada. Olhei nos rostinhos de cada um para ver se estavam gostando. A netinha de dois meses não. Dormia a sono solto no colo de sua mãe. Os demais ainda prestavam atenção.

                     - Naquela noite não armei a minha lona. Não precisava. O céu estrelado e o orvalho que caia eram prenuncio de um lindo dia. Fiz um café, ascendi o meu cachimbo devagar e com calma. Naquela época fazia isto. Eu adorava o som noturno da floresta. Ainda não eram duas da manhã. Estava começando a cochilar quando fui acordado pela ave com o canto mais lindo que já tinha ouvido. O Uirapuru. Poucos têm este privilegio. Ele se esconde na parte mais fechada da mata. Muitos sonham em encontrá-lo. Diz a lenda, que quando o Uirapuru canta, até as outras aves se calam. Ele é pequeno, mas quando solta a voz meu Deus! Vi que ele se calou. Agora ouvia o som de uma viola. O que? Alí na floresta? Duas da manhã? Só podia ser caçadores. Lá fui eu pé ante pé e o que vi não acreditei.

                     - Ao som da viola o Uirapuru cantava e ao lado um macaco compenetrado. Em cima de um galho um falcão desconhecido sorria. Pensei que ali na floresta só eu era o admirador de tão belo espetáculo. A viola era magnificamente tocada pelo Urubu Rei. Ele não cantava. Só crocitava. Era enorme, na sua mão a viola tomava vida. Notei que alem de mim outros animais chegavam para aquele “Sarau” maravilhoso em plena Floresta do Ouro Negro. Vi um casal de quatis que se aninharam perto. Duas Onças enormes também sentaram na grama. Lobos de todos os tipos. Ciriemas, Emas, jacarés. Centenas de pássaros chegavam e em poucos instantes os melhores lugares tinham sido tomados. Dez capivaras, vinte tatus, dezena de cobras de todos os tipos – Nesta hora um neto me perguntou: Vovó tinha cobra? Tinha mas elas ali eram mansas.

                     - O “Sarau” ia de vento em popa. A Coruja Buraqueira se revezava com o Uirapuru. Até um Macaco Prego resolveu fazer graça. A floresta em peso compareceu. Nesta hora no melhor da festa uma Ema gigantesca veio gritando: Caçadores! Caçadores! Fujam todos! Gritei alto: Não, deixem comigo, eu dou uma lição neles e com a ajuda de vocês eles nunca mais vão voltar para a Floresta do Ouro Negro. Expliquei meu plano. Tudo combinado fui ao encontro dos caçadores. Os encontrei na Pedra do Menino Malvado. Gritei para eles – Saiam da minha floresta! Aqui não vão matar nenhum bicho! Eles deram risadas. Gargalhavam alto. Eram dois com duas espingardas velhas. – E quem vai nos impedir? Você? Um velhote que mal fica em pé? – Nesta hora eles foram cercados.

                        Centenas de animais. Contei oito onças pardas. Cinco Lobos cinzentos. Dezenas de Gaviões do Bico Vermelho. Quatis, cobras cascavéis, urutu, jararaca. Eles levaram o maior susto. Os bichos começaram a gritar ao seu modo – Hu, hu, hu! Nunca vi gente correr tanto. Sumiram nadando no Lago do Homem Devorado. Vi dezenas de jacarés nadando atrás deles. Risos. Voltamos ao ponto de reunião. O sarau continuou. Fiquei ali acampado por quatro dias. No meu campo sempre tinha meus amigos em minha volta. A Onça Parda da montanha não me abandonou um só instante. Voltei triste prometendo voltar um dia. A bicharada veio despedir.

                        O Gavião Vermelho me disse que preparasse minha manta. Fizesse dela como se fosse um paraquedas. Amarrei muito cipó. Mandaram-me sentar. Centenas de pássaros com seus bicos agarraram nos cipós e me levaram aos céus. Uma visão fantástica. Espetacular. Só quem viveu sabe como é. Deixaram-me próximo ao Túnel do Machado Cego e ali esperei o trem. Eles ficaram comigo até quando o trem apareceu em movimento. Despedi-me deles e com um salto me joguei no vagão de passageiros. Pela janela do trem vi que eles me acompanhavam. Uma pequena lagrima de saudades rolou pelo rosto.  Gritei alto prometendo que voltaria. Seu Delgado o condutor já me conhecia. Parei de contar. Vi que só tinha dois netos. Os demais estavam brincando de esconde, esconde. Risos. Eles não sei por que não gostam de minhas histórias. - Vovô isto é verdade ou mentira? Eu sorrindo disse para eles, olhem, é como nas histórias de Sherazade. As mil e uma noite de um sonho, assim acreditem se quiserem, pois boi não é vaca e feijão não é arroz! E quem quiser acreditar que conte dois! E ri a vontade.

                          E fomos todos para a mesa deglutir aquela ceia de natal maravilhosa que a Celia preparou. Saudades dos meus tempos de acampamentos. Saudades de quantas e quantas vezes acampei só. Saudades do Uirapuru e sua voz maravilhosa, saudades do grande violeiro o Urubu Rei da Floresta do Ouro Negro. Nem sempre as coisas boas duram para sempre. Ufa! Lembranças e lembranças de um tempo maravilhoso que não volta mais. Não acreditam em minhas histórias? Risos. Palavra de Escoteiro! Ora, Ora, sou Chefe, dizem que o Chefe pode tudo não? Risos.  

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O grande amor da Escoteira Nataly.



Lendas escoteiras.
O grande amor da Escoteira Nataly.

                       Nataly não estava acreditando. Nunca pensou em passar por aquela situação. Namorar alguém na tropa? Nunca! O grupo escoteiro Tesouro do Mar já teve experiências que não deram certo. Os chefes se reuniram e fizeram uma norma. Pequena, sem muitos artigos. Aconselhava a não ter namorados entre escoteiros e guias. Na sede e na saída era proibido. Se os pais concordassem desde que dessem testemunho pessoal ao Chefe, o namoro em casa ou em locais devidamente autorizados poderiam acontecer, no grupo não. Ela riu quando viu estas normas. Era Escoteira. Dedicava de corpo e alma a sua Patrulha, suas atividades e em tempo algum pensou em namorar alguém. Quando a norma foi entregue a todos ela mesmo comentou com Norberto da sua Patrulha – Estamos aqui para fazer escotismo e não namorar. Era firme nas suas palavras.

                      Nataly naquele setembro fez sua passagem para a Tropa Sênior. Eram dezesseis. Seis rapazes e dez moças. Escolheu a Patrulha Pico da Neblina e ali encontrou grandes amigos. Não esquecia sua Patrulha Quati. Sempre que podia fazia uma visita e as amigas que lá ficaram.  O disse me disse de quem gosta de quem havia entre os seniores e guias. Ela nunca deu ouvido para isto. Não era o que queria. Sonhava em ser Escoteira da Pátria e este era seu objetivo maior. Gostava da tropa. Animada, com mais liberdade de ação e de ideias. No Conselho de Tropa Sênior podia-se opinar e sugerir. Junto com eles fora em vários acampamentos regionais e até em um Jamboree. Mas sua preferencia mesmo era os acampamentos da tropa. Se possível longe da cidade, terreno desconhecido e sem casas perto. Nada que pudesse trazer a lembrança de civilização.

                        Tudo aconteceu no Acampamento em Agua Doce. Lindo local bem arborizado, um riacho gostoso para banho, muitos bambus para pioneirias. Seriam quatro dias e poderia ter sido o melhor acampamento de sua vida. Poderia mas não foi. No segundo dia à tarde o Chefe Landinho comentava sobre orientação, percurso de Giwell, leitura de mapa tema já discutido com o Monitor Robson da Patrulha e ele nos dava conhecimento da jornada do outro dia. Sem querer ela olhou para Paulo Roberto. Era um “bonitão” da tropa. Viu que ele olhava para ela e não tirava os olhos de sua direção. Ficou sem ação. Já o conhecia, não tinham muitas amizades fora do grupo e até na ultima “balada” na casa da Guia Marly pouco dançou com ele.

                        A noite ele se aproximou dela durante o jogo dos Feiticeiros da Morte. Perguntou se precisava de ajuda. Obrigada disse. Foi dormir impressionada. Sonhou com ele. Pela manhã acordou pensando nele. O amor chegava. A paixão adolescente florescia. Nataly estava ficando apaixonada. Tentou tirar ele da sua mente e não conseguia. Todo o acampamento para ela deixou de existir. O amor das atividades passou a ser o amor por ele. No terceiro dia só suspirava. Seu coração batia descompassadamente. Sua respiração quando olhava para ele acelerava. Sintomas de uma paixão? Ou de um grande amor chegando? Nunca em sua vida pensou que isto pudesse acontecer com ela. Afinal foram três dias de campo e tudo isso aconteceu tão rápido assim?

                       Na noite de sábado após o Fogo de Conselho as amigas se reuniram com os seniores para um “sarau” (cantigas de roça, desafios, poesias) e sob a supervisão de Chefe Vera ficaram até meia noite se divertindo. Paulo Roberto sentou ao seu lado. Ele a atraia. Irresistível. Seu coração como sempre deu pulos e pulos e sentiu sua mão suada quando ele a pegou. Era uma emoção forte demais. Ficaram rindo, brincando e se divertindo quando foi dada a ordem de recolher. Nataly achou que naquela noite não tinha dormido bem. Esqueceu por completo o acampamento. Esqueceu que ia tirar a especialidade de pioneiria. Esqueceu-se de tudo. Só pensava nele e já em plena madrugada dormiu. Sentiu um calor enorme no corpo e acordou assustada. Rezou. Pedia a Deus para que não se entregasse tanto aqueles devaneios.

                       No último dia após a inspeção e bandeira ele lhe fez um sinal. Ela não entendeu e ele repetiu. Subir o morro e encontrar com ele. E agora? Não sabia o que fazer e seu coração pediu que ela fosse. Atrás do bambuzal lá estava ele. Olhar lindo. Ele era o homem mais lindo que ela conhecera. Ele a tomou nos braços, a beijou e ela quase desmaiou. Ouviu vários jovens rindo e batendo palmas. – Ganhou a aposta Paulo Roberto. Disse que a beijaria e beijou. Nataly ficou vermelha. Aposta? Maldito! E ela acreditou? Saiu correndo e chorou. E como chorou. Sua monitora ficou preocupada. O acontecido logo, logo tomou conta da tropa. Nataly queria morrer. Ali mesmo a Chefe Vera fez um Conselho de Tropa. Pediu a cada um sua opinião do que tinha acontecido. Foi correto? Foi Escoteiro? Leal? Votou-se pela suspensão de Paulo Roberto por dois meses.

                          Ele não voltou mais a tropa. Dizem que sua família mudou para um bairro distante. Nataly aprendeu a lição. Por vários meses detestou todos os homens. Mas depois sentiu que na tropa o apoio moral foi grande. Os que apostaram e fizeram chacota pediram perdão. Eu não gosto de julgar. Sempre não fui a favor de tropas mistas. Mas aceito que tem muitas dando bons resultados. Se esta história serviu de lição para mim não sei. Para Nataly tenho certeza. Ela só foi namorar firme com dezoito anos. Casou aos vinte e dois. Tem dois lindos filhinhos gêmeos. A males que vem para o bem. As coisas ruins que acontecem hoje conosco, podem nos ajudar e muito no futuro. Nada como ter exemplos e experiências para achar a trilha certa. A trilha que conduz ao Caminho para o Sucesso! 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Só escoteiros ainda podem viver e sentir a natureza.



Crônicas de um Chefe escoteiro.
Só escoteiros ainda podem viver e sentir a natureza.
                      
                            Eu sei que tem muitos de nós escoteiros que tem uma queda por lugares lindos, onde podemos sentar e ficar horas e horas sem piscar, só a observar a paisagem, sentindo o cheiro da terra, o perfume das flores silvestres, criar histórias, lembrar-se do seu passado tudo no mais completo silêncio. Dizem que assim fazem os poetas, os que tiveram grandes amores, os amantes da natureza e claro, aqueles escoteiros especiais que vivem e sonham com as campinas verdejantes e floridas, os vales e bosques, as montanhas, as gargantas enormes, os despenhadeiros longínquos e os picos mais distantes onde um dia assentaram acampamento.
                           
                           Eu sempre amei fazer fotos onde as paisagens se destacavam. Quem sabe foi porque vivi ao vivo e a cores a beleza de um Escoteiro sonhador que aprecia a vida selvagem e a natureza intacta em uma floresta qualquer. Elas as paisagens são para mim uma maneira de me aproximar mais do criador. Sou um Escoteiro privilegiado. Consegui viajar por este mundo de Deus e ver com meus próprios olhos as belas paisagens que ficaram na memória para sempre.

                          Na serra da Piedade, consegui um momento inesquecível. Uma vista de tirar o folego. Estava sentado em uma pedra enorme, bem no seu cume e olhando um infinito horizonte, e uma pequena nuvem deixou cair pequenos pingos de chuva. Misturavam-se com o sol e o vento fazendo enormes arcos íris bem próximo a mim. Difícil esquecer. Que espetáculo. Na floresta do Papagaio levantei cedo, abri a porta da barraca e outro espetáculo maravilhoso. Milhares de borboletas de todas as cores bem próximos faziam seus bailados no ar. Fiquei hipnotizado. No Itatiaia também sentado em uma pedra olhando o horizonte vi ao longe uma águia, enorme, os raios de sol sobre ela e parecia ser dourada e sendo levada pelo vento. Aos poucos ela ia se aproximado e quase próximo fez um bailado impossível e pegou no ar um pequeno tiziu, que esqueceu os perigos que poderia correr ali.

          Uma tarde em um acampamento. Sentado a beira de um lago, vi uma pequena sucuri se aproximar nadando em curva sem fazer barulho e engolir de uma vez só um pequeno sapinho que tomava sol em cima de uma folha qualquer. Mas espetáculo mesmo foi na Cachoeira dos Sonhos. Época da Piracema. Maravilhoso. A tentativa dos milhares de peixes, de todos os tamanhos, os saltos ornamentais sem desistir nunca tentando subir a cachoeira procurando um local onde pudessem cumprir seu destino e eu sabia que muitos não iam conseguir. Fiquei ali por horas e horas. Eu gostava muito de acampar sozinho. Uma ou duas vezes lá ia eu em busca dos meus sonhos. Não existe nada mais belo. Sem vozes humanas, sem barulho, sem telefone, sem televisão e só você a sentir a natureza assumindo e encobrindo você da cabeça aos pés. É nesta hora que se adquire a percepção da visão, do olfato, do tato e do paladar e a audição é perfeita. Ninguém mais para dizer sim ou não. À noite, sem falar, sem se mexer a ver o balet dos vagalumes, os grilos saltitantes no meio deles, as formigas serviçais, um tatu que é iluminado nos seus olhos pela chama da fogueira. É incrivelmente belo.

          Sempre tirei lindas fotos. Tinha 150 slides inesquecíveis. Em 1979, um jovem respondia sobre Baden Powell no SBT. A escoteirada vibrando e torcendo. Alguém me pediu as fotos para o SBT passar durante as perguntas. – Chefe vamos mostrar o escotismo para o Brasil! Fiz minha boa ação. Não me devolveram as fotos. Fui até lá inúmeras vezes. Já nem existem mais. As mais lindas fotos que eu tirei por este mundão onde fui. Gosto de fotos lindas, de paisagens lindas, vistas ao vivo e a cores. Não posso mais ver isto. Não posso. Mas sou feliz, pois tive a oportunidade de ver, de sentir o vento no rosto, de ver o nascer e o por do sol em terras distantes muito alem daqui. Onde fui avistei eu vi o mais lindo por do sol de um monte próximo ao mar. Gaivotas dançando no ar. Coisas fantásticas deste mundo que os escoteiros vivem e sabem apreciar.

           Bem aventurados os que ainda podem fazer tudo isto. Bem aventurados o que militam no escotismo, pois mesmo não sendo anjo e nem profeta eu digo: É deles, só deles esta esplêndida natureza que Deus no deu.