Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

As crônicas de um Chefe Escoteiro. Minha linda Capa Negra e o Orvalho lá do céu.



As crônicas de um Chefe Escoteiro.
Minha linda Capa Negra e o Orvalho lá do céu.

              Recebi um recado do meu Avô. Para ir a casa dele urgente. Não éramos muito chegados, mas ele não pedia mandava. Lá fui eu naquela tarde cinzenta. Parecia que ia chover. Entrei me ajoelhei e beijei sua mão pedindo a benção. Ele me olhou rápido e virou os olhos para outro lado. – Tome esta capa. Foi do meu pai e vem de geração em geração. Seu pai não quis mesmo dizendo da importância que ela teve. Danado de filho o seu pai! E não diga nada. Pode ir embora. Sua vó Cecilia saiu. E calou. Já entendia ele. Mesmo com onze anos. Peguei a capa e a levei para casa. No meu quarto a coloquei. Ficou grande. Arrastava no chão como se fosse o padre Zózimo que usava suas batinas compridas na igreja nas missas de domingo.
              Minha mãe disse que podia fazer a bainha. Tinha lido que os escoteiros usavam uma manta nos Fogos de Conselho. Minha capa poderia ser uma manta. Nos nossos nunca usamos. Mas eu podia ser o primeiro. O Chefe Jessé me explicou que se costuma colocar os distintivos que a gente ganha de outros grupos ou distrito nela. Disse que assim muitos iriam saber que quem estava usando era um Escoteiro acampador e viajado. Bem, lembrei que tinha cinco. Vamos lá. No primeiro acampamento, quando chegou à noite do fogo do conselho coloquei a capa. Vi que ela se mexia muito nos meus ombros. Sempre escorregando e caindo.
             Em casa quando a retirei da mochila ela falou baixinho. – Escoteiro! Posso falar com você? Nossa! A capa falava! Não entendi nada. Mas ela me disse que só podia ser usada durante o dia. Estava boquiaberto. - Você fala? – Claro, seu avô não lhe falou? Puts! E agora? – Gaguejando perguntei por que só durante o dia. Preciso mais de você a noite. – Não dá durante a noite, me desculpe disse ela. Tenho alergia e eu e o Orvalho não nos entendemos. – Você e o Orvalho? O que tem ele? Você o conhece? – De longa data disse. Acho que foi por volta de 1920. Meu dono resolveu me deixar pendurado em um varal e o Orvalho começou a cair, de leve e depois mais forte, frio, insensível me molhando e comecei a tossir. Pedi para ele parar e ele riu. Peguei uma gripe e fiquei mal um ano!
             Fiquei deveras preocupado. Eu adorava o Orvalho. Gostava de senti-lo molhando minha cabeça, a cair em mim de leve e era um bálsamo em minhas atividades escoteiras noturnas. Quantas e quantas vezes ele e eu convivemos pacificamente em acampamentos distantes, em serras e campinas, em colinas verdejantes? Quantos versos eu fiz e quantos poemas e canções eu dediquei ao Orvalho? Quantas histórias de amor foram feitas entre dois namorados e o Orvalho “caindo?”. Não sabia o que dizer e o que fazer. Mas pelo sim pelo não resolvi tomar uma decisão. – Capa Negra, no próximo acampamento você vai comigo. Eu, você e o Orvalho e juntos vamos fazer uma conversa ao pé do fogo, e cada um terá direito de falar e reclamar um do outro. Quem sabe chegaremos a uma conclusão?
             E assim foi feito. Resolvi que a conversa ao pé do fogo deveria ser feita altas horas da noite. Longe da barraca e dos meus companheiros de Patrulha. Escolhi o Vale dos Sonhos, onde vivem os Beija Flores Coloridos. Lá seria um bom lugar. No caminho o Orvalho nos seguia de cabeça baixa. Molhava a relva e se deliciava com a lua cheia mostrando que ele era uma brisa leve e fresca e não poderia fazer mal a ninguém. – Chegamos, sentamos a moda índia. Orvalho disse, vamos conversar. – Tudo bem Escoteiro. Já sei de tudo. Uma noite ouvi você conversando com a Capa Negra. Nunca pensei em fazer mal a ninguém. À noite e a madrugada são minhas companheiras e sabem como sou. Os namorados me adoram. Os escoteiros quando estão jornadeando ao luar em uma montanha gostam do meu frescor. E quando eu estou caindo o vento para de soprar, pois sabe que minha brisa vai encantar os pássaros noturnos e servirá de deleite para matar a sede dos insetos que voam ao meu redor!
              Vi que a Capa Negra estava chorando. – Orvalho ela disse. Perdão. Fui egoísta. Só olhei o meu lado. Esqueci que meu dever é proteger o Escoteiro. Juro que nunca mais irei reclamar e o Escoteiro pode contar comigo sempre! – Bela Capa, linda Capa, se já a amava agora muito mais. Voltamos para o acampamento cantando Noel Rosa – O Orvalho vem caindo, vai molhar o meu chapéu, e também vão sumindo, as estrelas lá no céu...
             E eu e a minha bela Capa Negra vivemos por muitos e muitos anos. Sempre foi minha amiga e companheira. Ainda ontem abri meu baú de “coisas” escoteiras. Lá estava ela, sorrindo, me esperando, pois sabia que eu iria colocar ela no sol, para não mofar e um dia quem sabe, voltar a viver comigo em um delicioso acampamento em uma noite de luar junto ao Orvalho caindo lá do céu! 

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