Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Em algum lugar do passado. A Canção da Despedida.



Lendas Escoteiras.
Em algum lugar do passado. A Canção da Despedida.

                                Porque não? Quem não gosta de lembrar-se do passado? Colocar a mente em uma máquina impossível e dizer, vamos lá, vamos ver o que aconteceu. Você sabe, é um abençoado por Deus por ter entrado neste maravilhoso movimento de jovens. Claro, sabemos que seu amor é grande por ele. Quantas coisas boas ele te proporcionou. E a fraternidade? Grandiosa. Amigos sinceros, irmãos escoteiros.       
             
                       Lembra-se do seu primeiro acampamento? Quanto tempo eim? Inicio da década de cinquenta, Novo na patrulha, onze anos, lobinho de coração. Estranho no ninho. Medo, receio. Uma nova etapa. Sem sua Aquelá e o Balú para lhe proteger. Lágrimas brotaram quando fez a passagem. Aos poucos foi acostumando. Lembra-se do Ângelo o Monitor? Grande companheiro. Até quando casou lá estava ele ao seu lado como padrinho. Algumas excursões, mas nada como este acampamento. Seis dias. Mata fechada. Selva inóspita, Pânico no primeiro dia. Depois, barracas montadas, cozinha coberta, fogão suspenso, sala de refeições, fossas, Até WC vocês fizeram. Quando a noite chegava, você estava em pandarecos. Mas orgulhoso. Era mais um deles. Dizia para si: - Ajudei, colaborei e dormia o sono dos justos. Só acordava com alguém o chamando ou puxando seu pé. E de novo, vivendo com seus amigos, fazendo, construindo, aprendendo, brincando, aventuras maravilhosas. Escaladas (você tremia) balsas, pistas de animais, mosquitos, predadores, escorpiões, cobras (que medo!), colher goiabas, mangas, abacate, nas mais altas árvores.

                            Quinto dia. Você orgulhoso daquela patrulha, irmão das demais. Amigos fraternos, uma chefia maravilhosa. Então a surpresa. Um Fogo de Conselho só da tropa. Senhor! Olhe, ficou marcado para sempre. Você ria, cantava, batias palmas, pulava, corria, e então... E então... Todos deram as mãos em volta do fogo e começaram a cantar. A princípio você não conhecia a letra, aos poucos foi entendo. Meu Deus! Que musica maravilhosa! Tocou-lhe fundo no coração. Impossível aguentar a emoção. A primeira emoção. Onze anos e chorando. Lágrimas descendo no seu rosto. Mãos entrelaçadas, apertando uma as outras. Parou a canção. Final, fogueira crepitando, estrelas no céu. Vento frio, brisa no rosto, cheiro da terra, do capim meloso, grilo saltitando, vagalumes aqui e ali querendo mostrar seu brilho. Silencio. Lagrimas caindo, uns olhando para os outros, tentando disfarçar. Trombeta tocando. Reunir! Boa noite, Corte de Honra, oração. Você foi para a barraca com um sorriso enorme! Deitado colocou as mãos debaixo da cabeça, olhava para o teto da barraca, ele desaparecia. Agora via estrelas piscando no céu. Você chorava. De alegria, de saber que tinha encontrado amigos, irmãos e que agora pertencia a uma grande Fraternidade Escoteira. Agora você era um deles, um escoteiro, um privilégio de poucos!

                              E você foi crescendo. Adulto. Agora era chefe, Dirigindo cursos, Acampamentos Nacionais, regionais, internacionais viagens, indabas, fóruns, congressos nacionais e internacionais. Conhecendo centenas e milhares de irmãos escoteiros. E em todos eles lá estavam os chorões dos fogos de conselho. Choravam quando se despediam alguns querendo ser durões, mas sempre uma pequena lágrima caindo, descendo devagar pelo rosto... Sempre cantando que não iriam perder a esperança de tornarem a se ver... Porque não era mais que um até logo, não é era mais que um breve adeus...

                 Lembra-se daquele Fogo de Conselho? No México, 1963? Convite para participar de uma festividade de grupo, feito pelo seu grande amigo, escotista de coração enorme, amizade de encontros internacionais, Jamborees. Um amigo de verdade. Claro vocês sabem que pertencem à fraternidade mundial. Seu nome? Sei que não esqueceu. Juarez Benito Santos. Da cidade de Hermosillo, capital do estado de Sonora. 50 anos de fundação do Grupo Escoteiro. Vários outros grupos irmãos. Achou que dava para enrolar no idioma deles? Que nada. Um paspalho você era para entender o que diziam. Mas que disse que em acampamentos escoteiros precisamos disto? Parece que falamos um só idioma. Claro, somos iguais em todas as nações.

                              Nossa! Marcou mesmo em você. Incrível a amizade dos escoteiros mexicanos. Simples, leal, honesta, sem altivez, soberba. Que amigos! Tocaram seu coração. Mas quando chegou à hora da despedida! Ah! Não, não, você não queria sair dali. Chorava copiosamente. Um marmanjo. Vinte e seis anos! Abrindo a boca, lagrimas e lagrimas descendo pelo rosto. E o pior foi quando terminou a Canção da Despedida, eles vieram todos lhe abraçar, chorando também, dizendo, - No te vayas, te queremos, quédade nosotros... Você disse para você mesmo - Quem agüenta? Diga-me quem? E o pior, no dia seguinte, ao tomar o trem para a cidade do México, lá estavam eles na estação, barulhentos, amigos, abraçando, cantando canções típicas, e quando o trem foi se afastando, cantaram de novo a Canção da Despedida. Rapaz achei que você ia pifar. Foi incrível suportar! Impossível! Enquanto o trem saia da estação lá estavam eles na janela repetindo: – No te vayas, te queremos, quédade nosotros! Marcou você meu amigo. Marcou. Passageiros ao seu lado não entendendo. Um deles se aproximou. - Be Prepared! Los Angeles, boy Scouts. Incrível! Que movimento meu Deus!

                            O tempo passa. Tudo passa, só não passam as lembranças. Dizem que quem não as tem não viveu. Lembranças de tudo, do passado, de um grande amor, da perda de um amigo, de pais, irmãos, lembranças, lembranças... E claro, dos seus bons e velhos tempos de escoteiro, bandeiras ao vento, para o acampamento de todo Brasil! Tempos que não voltam mais. Sorrisos, quando lembra. Ainda bem que as tristezas sumiram como as folhas levadas com o vento da primavera. São lembranças lindas, maravilhosas de um tempo que já se foi... Hoje, como sempre acontece às tardes, você está aqui sentado nesta sua cadeira, na varanda da sua casa, vendo edifícios de pedra, uma garoa, chuva miúda, caindo, molhando o asfalto, um transeunte ali correndo outro ali se escondendo para não molhar. Um pequeno cobertor nas suas pernas, que tanto lhe ajudaram. Levou você a lugares nunca antes imaginados e hoje resolveram se aposentar.

                             Desculpem-me os leitores, vou parar de contar. Estou ouvindo Auld Lang Syne a Canção da Despedida e chorando. Minhas lágrimas não molham a terra, para mim não há mais florestas onde posso ir cantar ir viver. Mas olhem, sinto um enorme orgulho, fui Escoteiro! E serei escoteiro até morrer. Uma vez Escoteiro sempre Escoteiro não é assim que dizem? Felicidade de poucos e eu sou um abençoado por Deus! Deu-me mais do que merecia! Minha mente vai apagando. Deve ser sono. Meus olhos piscam querendo fechar. Uma dor aguda de saudades e uma pontada no coração. Lembranças, eternas lembranças... 

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