Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O admirável Cinto Escoteiro.



Conversa ao pé do fogo.
O admirável Cinto Escoteiro.

                       Olhei de novo. Não havia erro. Meus olhos fixaram com mais carinho. Sem dúvida, era ele mesmo. O velho amigo de sempre. Agora um pouco descuidado. Sem brilho e a sem a mesma imponência de outrora. Fiquei com pena do couro. Desbotado e carcomido em algumas partes. O homem que o portava era moreno, quem sabe entrando nos sessenta anos. Os cabelos quase brancos. Um ar de cansaço talvez pela subida da rampa do Pronto Socorro. Pensei em interpelá-lo para saber a história dele. Quem sabe ele fora Escoteiro? Ou quem sabe o ganhou de alguém que foi Escoteiro? Eu sabia que aquele cinto deveria ter história. Muitas. Esqueci-me de dizer, eu hoje estava em uma sala de recepção, esperando a chamada para fazer um exame de pulmão e coração. Nada demais. Rotina. Já fiz tantos! A sala cheia. Pessoas indo e vindo. Interessante, sempre quando a espera é longa e eu sei que ser atendido pelo INSS não é fácil eu dou um cochilo. Sentado mesmo. Adoro cochilar e pensar. Não noto as pessoas ao meu redor, mas quis o destino que eu estivesse de olho aberto para ver a entrada no meio daquele mundaréu de gente, de um maravilhoso, um admirável Cinto Escoteiro.

                       Minha memória gosta de trabalhar. Sempre procurando aqui e ali um motivo para funcionar os neurônios e os maravilhosos chips do cérebro. Fui buscar o passado. Lá muito alem de antigamente. Chegava da escola e pegava minha caixa de engraxate. Era rotina. Cinco quarteirões e chegava com minha bicicleta em frente à Casa Abil. Na rua principal. O Senhor Nestor proprietário sempre me deixou trabalhar ali. Cada tostão suado era guardado com carinho. Sabia que juntar quarenta e cinco reais aos preços de hoje não era fácil. Mas precisava do cinto para fazer a promessa. Minha mãe fez a calça e a camisa. O meião comprei na Dona Leonor, da casa de tecidos. Ela era mãe de Eduardo, um lobinho meu amigo. Paguei a vista. Ela me deu um bom desconto. Sempre gostei de negociar. Sabia que o lenço o grupo dava para nós com o anel de couro. Lembro que foi numa tarde que fui ao correio. Comprei um vale postal de quarenta e cinco reais e fiz o pedido na loja Escoteira no Rio de Janeiro. Tinha o endereço. Agora era esperar a chegada do cinto. Poderia demorar vinte ou quarenta dias. O correio não era um primaz como hoje.

                       Demorou exatamente trinta e dois dias. Eu passava todos os dias no correio. De manhã e a tarde. E aí seu Neneco, chegou? Ele balançava a cabeça e eu decepcionado ia para casa ou trabalhar na porta da Casa Abil. Quando pela manhã passei por lá seu Neneco me disse que tinha chegado, um sorriso enorme eu dei para ele. Peguei a caixa e fui correndo para casa. Abri. Que cinto lindo meu Deus! Ensinaram-me na Patrulha como engraxar o couro e fazer brilhar a fivela. Meu pai era seleiro. Fazia selas para cavalos. Chamou-me e disse – Olhe, recebi semana passada esta vaqueta de couro marrom, uma das mais lindas de um curtume de São Paulo. Quer ver? Se quiser troco o couro do seu cinto. Dito e feito. Troquei. Com uma boa graxa durou para sempre. Era meu orgulho. Mas não era só eu. Todos os escoteiros daquela época davam um enorme valor ao seu cinto.

                    Meus pensamentos voltaram ao presente. Não vi mais o homem do cinto Escoteiro. Desapareceu na multidão que ali esperava uma consulta ou um exame. São coisas assim que marcam muito nós escoteiros. O cinto é imutável. Tentam mudar e eu triste me pergunto. Por quê? Para ficarmos mais modernos? Não sei. Já mudaram tanto que nossa marca desaparece no tempo das egocentricidades dos modernos homens escoteiros de hoje. Brincando na internet, achei um pequeno trecho, que nada explica e conforme diz o já falecido Chacrinha só “estrumbica”. Vejamos:

            “Dizem que mudanças são para os loucos”. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os que são peças redondas nos buracos quadrados. Os que veem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de regras. E eles não têm nenhum respeito pelo status quo. Você pode citá-los, discorda-los, glorificá-los ou difamá-los. A única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas.
Eles inventam. Eles imaginam. Eles curam. Eles exploram. Eles criam. Eles inspiram.
Eles empurram a raça humana para frente sem saber o que é o certo e o errado.
Talvez eles tenham que ser loucos”.

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