Crônicas Escoteiras
Cursos escoteiros, para que servem?
Estou
ficando “gagá”. Sempre batendo na mesma tecla. Lembrei-me de um amigo no
Facebook que comentou comigo sobre os cursos escoteiros. Diz ele que muitos são
cancelados por falta de alunos. Brilhantemente ele diz que a evasão de jovens e
adultos no movimento Escoteiro se deve aos chefes que não se adestraram
suficientemente. Não estranhem por usar a palavra adestrar. Desde 1970 que os
sábios da Equipe Nacional de Adestramento queriam mudar. Eles entendiam que a
palavra adestrar se adequava mais ao treinamento de animais que de homens.
Beleza! Então mudaram para formação. Interessante que nas forças armadas até
hoje este termo é usado para adestrar os soldados, a tropa. Bem, o exercito
moderniza seus arsenais adaptam tecnologias, mas não abandonam seus métodos e
tradições. Diferente do que acontece conosco. Mas o tema não é este.
Hoje os
cursos estão aí em profusão. Só não aprende quem não quer. Claro uma vez comentei
sobre as taxas. Um formador me respondeu que era mais barato que um hotel cinco
estrelas! Arre! Meu Deus, que comparação! Comecei na minha lide de adestrador
(formador desculpe) em locais inóspitos, pois campos escolas na época era um
luxo. Quando dirigi meu primeiro Insígnia, me deram uma apostila mimeografada
em inglês! Em cima uma tradução mal feita e a caneta, mas que dava para fazer
do curso um aproveitamento nota dez. Era uma época diferente. De vez em quando
leio aqui e ali que os novos formadores se reúnem sempre para aprimorar e
conhecer novas técnicas de ensino. Bom isto. Outro dia vi uma foto onde a
equipe tinha mais de 14 formadores contra 12 alunos. Beleza! Sobrando
formadores e faltando chefes. Lindo isto!
Lembro
uma vez que fui convidado para colaborar em um curso fora do meu estado e o
diretor chamou a equipe e disse – Aqui tem um despertador. Ele vai tocar sempre
quando terminar o tempo de vocês. É sinal de parar. Deus do céu! Quase cai de
costas. Já pensou? Dando uma palestra e prim, prim, prim! Não sei não. O pior
foi que a ideia disseminou. Nunca gostei disto. Só uma vez éramos mais de seis
formadores nos cursos sob minha responsabilidade. Sempre meu número ideal eram
quatro. Hoje alegam falta de tempo e muitos só vão lá para dar uma palestra ou
sessão. Também não gosto disto. Difícil desenvolver um tema sem conhecer os
chefes/alunos. Também tínhamos uma maneira de baratear cursos. Nada
sofisticado. Não estou agora sabendo como estão dando os cursos. Eu mesmo fiz
diversos e dois deles pagamos passagens para chefes que morassem a mais de
quatrocentos quilômetros do local. Hoje só vejo comentários aqui e ali. Antes
conversávamos com os alunos sempre, fazíamos mais discussões em grupos que
propriamente falando e falando.
Como os
cursos eram dados em regime de acampamento, nos tempos livres (almoço e jantar)
sempre íamos às patrulhas bater papo. Surgiam assim amizades entre cursantes e
diretores que duravam para sempre. Não esquecendo que nossas taxas eram
mínimas. Eram cursos diferentes. Um grande acampamento onde todos saiam
conhecedores do método, do programa e do aprender a fazer fazendo. Os horários
eram elásticos. Nada de despertador ou Chefe fazendo sinal para encerrar. Como
trabalhávamos em equipe cada um sabia o tempo que precisava sem prejudicar a
próxima sessão. Depois, ao final da década de setenta iniciaram uma cruzada por
cursos menores, feitos em fins de semana, acantonados e surgiram ideias de
cursos por correspondência. Estavam já naquela época aparecendo os modernistas.
Eles são danados. Existem em todas as épocas. Afinal se um Escotista planejar
um curso por ano, como nós fazíamos no passado, não sei por que desmembrar em
dias, pois assim se perderia muito o Sistema de Patrulhas, a mística da Jângal,
enfim discussões que sei muitos não vão concordar comigo.
Mas se
cursos não estão sendo procurados pelos chefes é preciso pesquisar o motivo.
Quem sabe pode ser a taxa, quem sabe é a abordagem dos dirigentes no convite
muita vezes formal demais, quem sabe o receio de não poder sugerir e só ouvir
os palestrantes. Podem ser muitos os motivos. Uma coisa é necessária. Todos os
chefes sem exceção devem procurar ser portador da Insígnia de Madeira. O mínimo
para que possa desenvolver com exatidão seu trabalho em suas sessões. Vejo que
hoje a uma gama enorme de cursos. Não sei se isto é bom. Uma época você Chefe
de lobos só fazia cursos correlatos. Depois foi se abrindo em leque. Eram dois
os principais. O CAB – Curso de Adestramento Básico, e o Insígnia parte campo
(II). Cada um com seu ramo. Depois surgiram cursos técnicos, mas sempre no
intuito de apoio e conhecimento de temas desconhecidos pelos escotistas.
Hoje
soube que existe uma infinidade deles. Mas não acredito que este seja o motivo
da falta de chefes/alunos. Os motivos poderiam ser os que eu já mencionei. Só
digo que o curso Escoteiro devia ser ao ar livre. Este é o método. Este é que
deve assimilado. Técnicas modernas são bem vindas. Mas os cursos tem que ser
diferentes daqueles quer são feitos na vida profissional dos cursantes se não
será maçante e sem graça. Ficar sentado olhando um escotista membro da equipe
falando e falando, não sei. Mas como sou um “sapo de fora” é melhor deixar para
os formadores atuais os problemas que já não são meus.
Mas
sabem, eu gostaria, gostaria mesmo se pudesse, se minhas pernas ajudassem
voltar a dar um curso. A antiga. Quem sabe de oito dias! No campo, bem longe da
civilização, em barracas, com tralhas, intendência, sapa, patrulhas vivendo
escotismo ao vivo. Fazendo seu campo, suas refeições, sem correrias, se
divertindo. Uma boa jornada de vinte e quatro horas. Deixar para conversar com
eles sentados ou deitados na relva em uma boa sombra, jogar com eles jogos
gostosos, conselhos de patrulhas discutindo temas interessantes, reuniões de
tropa para finalizar. E a Corte de Honra para bater o martelo. Acordar todos às
duas da manhã, ver a estrela Dalva no céu, tomar um banho frio, cantar e por os
cavalos para trotar. Quem sabe fazendo um ninho de águia, uma ponte elevadiça, muitos
jogos noturnos vendados, até uma caminhada pela trilha do leão. Vendo todos
sorrirem, pois estão aprendendo sorrindo e fazendo. E depois de uma Conversa ao
Pé do Fogo tirar um tempo, todos deitados na relva, um calorzinho de brasas
adormecidas, recebendo uma brisa gostosa, um ventinho que vem do sul, olhando
as estrelas e ali discutir em um fórum gostoso, as nuances de como é bom ser um
Chefe Escoteiro.
Isto eu sei só ficará na saudade.
É uma história não escrita. Não sou da equipe. Nunca aprovariam um curso
destes. Mas garanto, se os amigos que tenho soubessem que eu daria um curso
assim, não duvidem, eu aposto, aposto sem sombra de dúvida, centenas de flores
silvestres que em menos de uma semana as inscrições seriam encerradas. Coloco
estas flores para quem quiser apostar que haveria uma grande procura dos chefes
e das chefes, que estão querendo aprender a fazer fazendo, de maneira diferente,
sem tantas bugigangas modernas, a mostrar em telas gigantes um escotismo que
não é o seu! Ei você? Quer fazer um curso deste comigo? Entrem na fila, façam
suas inscrições na região do São Nunca. E sonhe quem sabe um dia aparece um
curso assim? Risos.
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