Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 1 de dezembro de 2012

Os anjos também são escoteiros.



Lendas escoteiras.
Os anjos também são escoteiros.

                      Ela nasceu em dezembro, dizem que foi no dia vinte e cinco não sei. Nasceu prematura com sete meses. Dona Esmeralda sorriu quando ela nasceu. Dizem também e eu não posso afirmar que no céu um clarão enorme, como se vários arcos íris cruzassem o espaço iluminando a cidade de Espera Feliz. As pessoas correram para a rua e viram lá ao longe uma estrela brilhante desaparecendo no espaço. Na maternidade ninguém sabia explicar. Rosa Maria sorria. Incrível! Seu pai quando a colocou no colo ela piscou seus olhos negros grandes, como se dissesse – sou eu, Rosa Maria. Você sabe quem eu sou! Nasceu com dois quilos e meio. Ela ficou na maternidade por duas semanas e foi liberada a ir para casa.

                   Foi um dia que Espera Feliz recebeu uma revoada de pássaros. Tinha canários dourados, bem-te-vis azuis da cor do céu, araras verde e amarela fazendo acrobacias no céu azul. De novo o povo saiu às ruas. Ninguém sabia o que acontecia. O Padre Rosaldo teve uma visão. Um anjo chegou a terra. Na sua cidade. Quem seria o anjo? Ele se lembrou de uma frase de Augusto dos Anjos – “A esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe à crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança”. Rosa Maria cresceu como uma jovem menina sonhadora. Não tinha forças para brincar como as outras. Na escola só fazia o bem, dizia amar a todos e ela tinha o mais lindo olhar que uma criança teria. Não era a primeira da classe e nem tinha super poderes. Mas os amigos e amigas sabiam que ela era especial.

                 Naquele ano, quando ela completou sete primaveras, o Grupo Escoteiro Estrela Verde foi fundado. Rosa Maria se inscreveu. Sua mãe não foi contra só preveniu os chefes sobre sua fraqueza. Na primeira excursão não quiseram que ela fosse. Iam andar muito a pé. Ela insistiu. Foi. Todos acharam muito estranho, ela parecia flutuar no ar mesmo que andando em passos largos. Todos na Patrulha amavam Rosa Maria. Mesmo a Patrulha querendo fazer tudo ela não deixava. Na sua promessa um fato significativo aconteceu. Um lindo casal de Tuiuiú, enormes, pousou no mastro da bandeira. Não era comum. Principalmente naquela região. Quando ela recebeu o distintivo, eles fizeram uma revoada e pousaram em seu ombro. Deste dia em diante uma serie de estranhos acontecimentos começaram a acontecer.

                  A filha de Dona Matilde tinha quatro anos e estava entre a vida e a morte. Rosa Maria indo para sua casa após a reunião, viu varias pessoas na porta. Entrou. Colocou sua mãozinha na dela e a beijou. A menina sorriu e sentou na cama. Ninguém entendia. As duas começaram a cantar e brincar de roda. A cidade ficou sabendo. Sempre alguém querendo milagres de Rosa Maria. Não houve outros. Não até ela fazer doze anos. Já Escoteira. Espera Feliz sofria uma enorme seca. O gado nas fazendas morria de sede. Os rios estavam secando. Muitos abandonavam a cidade em busca de sonhos que ali não se realizaram. Pela manhã viram Rosa Maria, uniformizada, em pé e em cima de um banco da praça, mãos abertas, olhando para o céu. Nuvens negras apareceram. Uma chuva fina começou a cair. Os rios voltaram. Os pastos ficaram verdes. Houve dezenas de casos. O Padre Rosaldo escreveu para o Bispo. Anjo ou Demônio? Ele se lembrou de uma frase de Michele – “Amigos são anjos que não só nos ensinam a voar como também nos mostram a hora de pousar na realidade”. Um padre de Roma chegou à cidade. Um pouco tarde. Uma tosse frenética tomou conta do corpo de Rosa Maria. Disseram que ela estava com leucemia. Ficou entre a vida e a morte por três meses. Um dia pediu sua mãe que lhe trouxessem seu uniforme. Com dificuldade o vestiu. Contra os desejos dos médicos foi à reunião. Deixaram. Seria sua ultima vontade.

                        Na sede todos a receberam com abraços e beijos. Ela pediu para falar no cerimonial de Bandeira. Não falou muito. Disse que ia para o céu. Lá também é lindo, lá também os anjos são escoteiros e escoteiras. Eles acampam nas estrelas distantes. Fazem jornadas na Grande Nuvem de Magalhaes, dormem na Via Láctea e adoram passear em Andrômeda. Todos estavam em silencio. Ela tossiu um pouco e continuou. – Deus um dia muito ocupado resolveu criar anjos pra auxiliá-lo. Esses anjos chamam-se amigos. Vocês são meus amigos. Que vocês escoteiros e escoteiras cumpram sua missão. Ajudem uns aos outros. Não chorem por mim, vocês são meus amigos e amigos são como anjos sem asas. Mas que com um único sorriso nos proporcionam tamanha alegria que nos levam até o céu. Eu vou embora logo, não quero que chorem. Devem sorrir e cantar canções alegres quando eu me for. As tristes machucam.

                        Rosa Maria morreu numa tarde de dezembro. Dizem que foi no dia vinte e cinco de dezembro. Não sei. Morreu sorrindo. Na Necrópole da cidade, lá estavam todos. Os escoteiros e escoteiras foram dar seu último adeus. Não estavam chorando, mas seus olhos marejados de lágrimas era difícil de esconder. Cantaram varias canções. Todas alegres como ela queria. Eles lembraram-se de suas últimas palavras no Grupo Escoteiro. Quando alguém nos vê chorar é como se despencássemos de uma alta nuvem. Vocês são meus amigos. São anjos. Foram escolhidos por Deus. Devemos nos alegrar, consolar e compartilhar os momentos que criamos para nós mesmos. Amo todos vocês!

                       Dizem, eu não sei que aquela noite milhares de cometas passavam brilhando no espaço sideral sobre a cidade deixando um rastro colorido enorme, com cores azuis, brancas, amarelas, alaranjadas e vermelhas. Dizem também e eu não posso afirmar que o brilho das estrelas se superaram. E acho que não posso acreditar no que me disseram. Nasceu uma nova estrela no céu. Brilhante. Um brilho que quase ofuscava a lua quando aparecia. Ficou lá, no céu de Espera Feliz para sempre!

** - algumas frases são do poeta Bruno Ciquetto.

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