Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação o que fazer?
É
difícil aconselhar. Quem não passou por isto? Tem hora que você desanima. Dá
vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o
caminho que estão seguindo não leva ao sucesso. Se procurarmos um serviço de
autoajuda teremos vários. As belas frases de efeito pululam por todos os lados.
Todas com belas palavras, mas que não nos fazem sentir revigorados como antes.
O escotismo é interessante. No início tudo são flores, sorrisos, promessas, alguns
até deixam as amizades que tinham em troca de novas que conquistaram. Nos
primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais chegados que não foram
catequisados espantam com tanto carisma, com tanta alegria e demonstração de
que ele alcançou um novo patamar, uma nova vida. Seria assim mesmo?
Dizem os
poetas que o que mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em
superá-la. Não é a provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o
fracasso e sim a teimosia de não reconhecer os próprios erros. Mas o maior poeta já tinha dito que tudo isto
são palavras e palavras nada mais são que palavras. Eu já passei por isto.
Inúmeras vezes. Os problemas são diversos. Familiar, profissional, falta de
ética, de amor, de sinceridade dos que se dizem irmãos de todos e que vontade,
que vontade meu Deus de encontrar um buraco e se enfiar nele. Claro tem os mais
fortes. Eles não transmitem para ninguém seus desânimos. São fortes. Tem sempre
uma explicação para tudo. Mas será que dizem a verdade?
Se
notarmos bem a matemática Escoteira é simples. Trinta e poucas reuniões por
ano. Somando as reuniões de sede, acampamentos e excursões que sabe podemos
chegar a aproximadamente quinhentas horas anuais. Claro, prevendo quatro
atividades (e aí considerei às vinte horas do dia) e considerando também nove
meses de atividade, pois muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se
estiver certo dedicamos cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem
aqueles mais abnegados com o dobro de horas trabalhadas. Para uns uma
eternidade para outros muito pouco. Mas porque então o desanimo? Olhem, existem
vários motivos, mas para mim o principal deles é a decepção com o ser humano.
Querer abancar o mundo e dizer que o líder é aquele que sabe liderar e ser
liderar é fácil. Mas nem todos pensam assim. Tem os déspotas, que com o tempo a
gente se sente ameaçado por uma força opressora mesmo vindo de alguém que se
diz amigo de todos e irmãos dos demais.
Nestas
horas é que todos nós sentimos falta de um aperto de mão carinhoso sincero. De
um abraço, de um sorriso de uma palavra de carinho principalmente daqueles que
convivemos em ambiente que achamos familiar no grupo Escoteiro. Tem aqueles que
nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos,
mas não é assim a maioria. Estes nos veem como indesejáveis, subservientes,
dispensáveis, e se pudesse diriam: - Vocês estão aqui para servir e mais nada!
E então vem aquele desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às
favas. Nem sempre fazemos na hora. A promessa que fizemos é um nó que nos atou
nos sonhos escoteiros. Insistimos e alguns dão a volta por cima, mas outros,
estes não conseguem. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos
de adultos que estão nos ajudando como voluntários, mas foram desconhecidos
como tal.
Não é o
programa somente que nos afeta. Não são quem sabe nossa finanças que apertam a todos
os escotistas nas suas atividades. Não sei e até posso estar enganado, mas se
todos que labutam na lides escoteiras, do mais alto escalão a aquele que está
dando tudo de si pensando que faz o certo e cada um deles pudessem quando a
gente se encontrar dizer:
- Meu amigo ou minha amiga, que alegria em te ver novamente!
- Meu amigo ou minha amiga, aceite aqui meu aperto de mão
sincero!
- Meu amigo ou minha amiga, posso te dar um abraço?
- Meu amigo ou minha amiga, quero que saiba que você é muito
importante para nós, não nos deixe nunca, pois sem você iremos perder muito na
expansão do nosso Movimento Escoteiro.
E aí
quem sabe, seu desânimo seria guardado lá bem no fundo do bornal, pois você passou
a acreditar que agora estava vivendo entre irmãos escoteiros. E você iria
acreditar que não haveria mais os superiores, não haveria mais aquele sorriso
de desdém, não haveria mais a conversa de esquina, a conversa de comadre. Ninguém
iria desmerecer seu trabalho. Mas olhe, de vez em quando é bom dar um passo a
frente. Faça um pouco a sua parte. Como dizia o nosso fundador e repetido por
muitos, a felicidade só é completa quando você também conseguir fazer a
felicidade dos outros!
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