Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 11 de agosto de 2012

As crônicas de um Chefe Escoteiro. O Escoteiro do Rio.



As crônicas de um Chefe Escoteiro.
O Escoteiro do Rio.

          Corria o ano de 1953. Levantei cedo. Não precisava, mas era terça feira. E as terças e quintas eram sagradas para mim. Estava em férias do colégio e poderia dormir até tarde. Mas repito, hoje era terça, dia de ver e namorar a Dorita. Entrando nos treze anos e apaixonado por Maria das Dores para ser mais específico. Tomei um café correndo e fui para a Rua Peçanha, logo no início da praça de esportes. Encostei a bicicleta no muro e fiquei esperando. Sabia que todas as terças e quintas ela chegava à janela de sua casa, me olhava uns minutos, jogava os cabelo loiros encaracolados de um lado e outro, dava uma piscada de olhos para mim e fechava a janela. Isto me encantava. Era lindo isto. Já namorava assim com ela por quatro meses. Eu sonhava com ela, mas primeiro o escotismo. Sempre foi assim. Quando a janela abriu o Israel chegou a toda velocidade com sua bicicleta.
         Espavorido chegou logo dizendo que estava na cidade um Escoteiro do Rio de Janeiro. Alguém já tinha levado ele para a sede Escoteira. Caramba! Pelas barbas do profeta. Meu namoro com a Dorita ficaria para a próxima quinta. E lá fomos nós em desabalada carreira para a sede. Mais de trinta Escoteiros e lobinhos lá se encontravam. Todos nós vibrávamos quando aparecia um Escoteiro ou Chefe de outra cidade. Ninguém ficaria de fora sem olhar e conversar com ele. No centro da roda ele chamava atenção. Uniforme diferente. Calça azul, camisa de mescla azul clara, meiões pretos e uma boina preta tipo Montgomery. E na boina tinha um lindo distintivo de metal em forma de asas com uma flor de lis.
         Cheguei e entrei na roda. - Sempre Alerta disse! Ele sorriu para mim. Sentei e ele continuou conversando com todos. Dizia que morava próximo a praia do Arpoador (não fazia a mínima ideia). Era Escoteiro do Ar. Já tinha viajado em diversos tipos de avião. Seu pai era Piloto da Panair do Brasil. Contou que fazia mil coisas como Escoteiro do Ar. Seu pai tinha um teco-teco e ele por diversas vezes dirigiu o monstro. Acamparam em Paquetá, em Niterói, na região dos lagos, já fora na Alemanha, nos Estados Unidos. Lindo! Que Escoteiro feroz. Um autentico acampador! Ficamos ali por horas. Todos ouvindo o Escoteiro do Rio contando suas aventuras.
         Lá pelas duas da tarde convidei a ele para ir almoçar comigo em minha casa. Agradeceu, pois estava na casa da avó e se não fosse lá almoçar teria que ouvir poucas e boas. Bem, durante a semana ficávamos o dia inteiro com o Escoteiro do Rio. Passeamos com ele em vários lugares e depois de consultar o Romildo nosso Monitor o convidei a ir a uma excursão noturna no Pico do Papagaio no próximo sábado. Iriamos logo após a reunião terminar e voltaríamos no dia seguinte à tarde. Ele aceitou só não tinha mochila. Sem problemas. Tínhamos guardado na sede várias ganhas da polícia militar. As demais patrulhas sabendo que ele iria resolveram ir também.
        Sábado, sete da noite. Lá íamos nós em fila indiana as quatro patrulhas e o Guia Zenir seguia em frente. Eu ia ao lado do Escoteiro do Rio. Orgulhoso. Iria contar para muitos que ele ficou do meu lado e subiu a serra comigo. O Pico do Papagaio era próximo a nossa cidade. O duro era a subida. Treze quilômetros que matava qualquer um. Eu já tinha ido lá varias vezes e jurava sempre quando ia que seria a última vez. Eram onze e meia da noite. O Escoteiro do rio começou a chorar. Paramos. Quem sabe um espinho? – Eu quero mamãe! Eu quero mamãe! – Deus do céu! O que era aquilo? Só então ele nos contou que tinha onze anos e passou para a tropa vindo dos lobinhos no mês anterior.
         Foi demais para mim e todos da Patrulha. Rimos a mais não poder. Achávamos que junto a nós estava um Super Homem e era um lobinho crescido e que nunca fez atividade em Patrulha. Estava morrendo de medo e de cansado. Distribuímos sua mochila entre nós, e voltamos à cidade. As demais patrulhas continuaram. Eram uma da manhã quando o deixamos na porta da avó dele. Os olhos cheios de lágrimas. Chorava de fazer dó.
         Bem, lá se foi o nosso herói. Mas sabíamos que ele iria crescer. Aprender e ser um bom mateiro, mas que servisse de lição para não ser gabola, mentir dizendo o que não era. Nunca mais ouvi falar no Escoteiro do Rio. Para dizer a verdade nem o nome dele ficamos sabendo. Quem sabe ele está aqui a ler esta história e vai lembrar? Alô Escoteiro do Rio, (hoje beirando os setenta anos) Sempre Alerta para você! Apesar dos pesares você significou muito para nós. Sempre Alerta! E meu namoro com Dorita continuou por mais alguns anos. Ela lá naquela janela encantada a piscar para mim e eu encostado no muro a sonhar!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Crônicas de um Chefe escoteiro. Vontade de acampar.



Crônicas de um Chefe escoteiro.
Vontade de acampar.

                    Tem dias que me vem uma vontade imensa de acampar. Vontade de pegar minha mochila e sair por aí. Você levanta, põe os pés no chão. Olha pela janela o sol entrando, dá um sorriso e diz! Bom dia a todos que não vejo e desejo que tenham um ótimo dia. E então começa a lembrar dos tempos passados, quando abria a porta da barraca, sorria e era hora de enfrentar um novo dia. Aí você cantava alto para todos ouvirem – Alô! Bom dia! Como vai você, um olhar bem amigo, um certo sorriso um aperto de mão! E a gente fica sem saber como e porque, e passa a sorrir e passa a cantar, alegre canção!
                    Eu adorava esta musica. Era um bálsamo quando me levantava e olhe que era antes das seis da manhã. Bem, agora não dá mais. O jeito é tomar um café e botar o pé na estrada mesmo tropeçando aqui e ali com minha bengala. Andar um ou dois quilômetros voltar e sentar para a respiração voltar ao normal. Ver um vizinho passar e dar bom dia e então fazer o que faço sempre. Sonhar acordado. Adoro isto. Sabem como fazer? Fácil. Fecho os olhos e deixo minha mente solta em busca dos meus desejos. Assim eu faço meu acampamento. Imagino que pego no meu baú minha mochila, meu cantil, minha faca, minha machadinha, minha bússola, minha lanterna, meu cabo solteiro de vinte metros e minha capa preta que nunca abandonei. Uma muda de roupa, shorts, cuecas, meias, material de higiene, uma toalha pequena alguns comprimidos, uma caixinha pequenita de primeiros socorros e lá vou eu. Não esqueci meu canivete suíço, meus talheres fixos, e duas caçarolas sem alça que se encaixam. Não levo barracas. Não precisa. Sou mestre mateiro, faço de olhos fechados uma boa cabana para dormir.
                 No bornal levo meu “farnel” para três dias. Ração B. Tudo muito simples. Nos meus sonhos sei que vou pescar uns lambaris e os adoro fritos no fubá. Acredito que aonde vou encontrarei algumas mandiocas, quem sabe uns inhames, ou mesmo mamão verdes para uma deliciosa sopa. Pode ser que dou sorte e encontro uns pés de maracujá. Não vou me apertar. Vou sozinho. Adoro acampar sozinho. Sozinho o silêncio me faz muito bem. Adoro acampar ouvindo a passarada. Quem sabe sentar a moda índia em uma campina, ou uma relva fresca e esperar que um lobo guará venha comer sementes ou mesmo venha lamber minha mão. Não é impossível. Já aconteceu antes.
                Lá naquela clareira onde estou, tem uma cascata. Linda. Aguas claras, límpidas, borbulhando na queda como se estivesse fazendo o sinal de pista – Agua boa para beber! Durante o dia, nada de novo no front. Quem sabe viria um quati para me fazer companhia. Quem sabe uma capivara me olharia com aqueles olhinhos maravilhosos. E depois de tudo pronto em meu campo de fantasia, eu iria sentar em frente ao remanso e iria ver os peixinhos a nadar. E à tardinha depois de um jantarzinho simples e iria ver o sol se por lá no alto do morro, seria uma visão fantástica. Que coisa maravilhosa. Adoro isto.
                 Quando a noite chegar, uma pequena fogueira. Claro, minha poltrona do Astronauta estaria pronta. Minha gaita de fole importada da Escócia iria tocar e lembrar belas músicas escoteiras. A árvore da montanha. Guinganguli. Toadas da serra. Terra do belo Olmeiro. Avançam as patrulhas e porque não a Canção da Promessa e antes de tocar a Canção da Despedida iria ouvir o som da floresta que é imperdível à noite. O doce farfalhar do orvalho veria se misturar às fagulhas da fogueira que de maneira faceira vão viajar ao sabor do vento. Se tivesse sorte, Veria a Coruja Buraqueira, com aqueles olhos enigmáticos e incrivelmente belos a piar para mim como estivesse dizendo – Meu amigo, boa noite. Seja feliz como eu sou vivendo aqui nesta floresta encantada.
                 Não sei se teria sono. Não sei. Mas lá pelas tantas, após deitar na relva e admirar as estrelas, o firmamento com aquele brilho próprio de um universo fantástico ia me perguntar por que ainda alguns duvidam da existência de Deus. Então iria me dizer boa noite. Ainda de olhos abertos através da porta da minha cabana eu sabia que os insetos noturnos fariam seu bailados e quem sabe vaga-lumes iriam dançar para me mostrar como estavam contentes em me fazer companhia.  Podem acreditar não ia faltar o grilo falante, pois sempre esteve presente para me desejar boa noite. Mas tudo que é bom dura pouco. Uma vez calma e linda me chama. Meu marido, hora do almoço. Acorde! Caramba! E lá se foi meu sonho acordado. E a tarde, quem sabe volto de novo as minhas viagens por este mundo de Deus como fazia antes? Como é bom sonhar! Adoro sonhar! 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Associações Escoteiras no Brasil.



Associações Escoteiras no Brasil.

                  Tinha cinco artigos para serem publicados aqui. Hoje inclusive separei um deles. Mas um jovem amigo me fez uma pergunta e achei por bem responder aqui, pois acho que alguns dos meus amigos da minha página e do grupo gostariam de saber o que penso. Perguntou-me o que eu achava das outras organizações escoteiras existentes no Brasil. Inclusive citou outros países onde isto acontece. Não tenho nenhuma dúvida sobre isto. Sou totalmente a favor. Ninguém é obrigado a ficar onde não se sente bem. Todos tem o mesmo direito perante a lei. Não é assim que dizem? Inclusive o direito a associação. Ninguém é dono de uma ideia. Baden Powell (BP) não disse que A ou B tem prioridade.
                  Se eu não me sinto bem na UEB tenho o direito de ir para onde quiser, pois cada um de nós fizemos uma promessa e ela não vale só para quando pertencemos a uma organização. Claro que existem direitos e deveres para cada uma, tais como, distintivos, literatura entre outros. O nome escotismo não. Ele é mundial. O nome Escoteiro para alguns dicionários não dizem que são jovens dentro da metodologia de BP pertencentes a UEB. Nas ferrovias as locomotivas sem vagões são denominadas escoteiras – Aquela que anda só. Se cada organização tem seu sistema de distintivos e eles tem sua literatura e sei de algumas que tem, não tenho o porquê ser contra. Alias conheço alguns escotistas destas organizações, pessoas de caráter, boa formação e tenho por eles o maior apreço e respeito.
                Sei que muitos que estão nelas saíram da UEB porque tiveram motivos. Eu mesmo no final da década de oitenta, quase saí e deixei tudo para trás. Infelizmente apesar de não ser a maioria, temos muitos dirigentes que se colocam em uma posição ditatorial, não aprenderam a tratar como se deve um irmão Escoteiro e ele por não aceitar as imposições abandonam as fileiras da UEB, mas querem continuar a fazer o escotismo. Lembro que isto passou a acontecer no final da década de oitenta. Estes lideres acham que devemos ser subservientes e os que não concordam com as normas existentes são considerados “traidores” a causa e em alguns casos tomam medidas antipáticas que em vez de ajudar só aumentam o número dos insatisfeitos.
                 Em alguns países europeus existem duas ou mais associações escoteiras e elas convivem entre sí harmoniosamente. Claro que isto hoje não é possível entre nós, pois as paixões se deixaram levar e medidas tomadas não agradaram ambas as partes. Eu adoto como norma o sistema democrático. Acredito nele. Luto por ele. As normas atuais da UEB não me satisfazem. É um sistema viciado onde o privilegio de uns poucos se sobrepõe a maioria. Não posso admitir que menos de 0,5% decidam em nome de todos os membros registrados. Mas isto é outra história é bom saber que do outro lado, algumas destas associações não diferem muito da UEB.
                Sou um Escoteiro. Nasci na UEB. Nela fiz a promessa em 1947. Considero-me como um membro dela apesar de não estar registrado. Já disse aqui que não o fiz, pois centenas de convites já me fizeram. Luto para um escotismo participativo. Nunca em tempo algum vou mudar de lado. E como oposição destas normas sei que se fosse registrado teria sanções aplicadas e quem sabe até julgamentos cujas medidas não iam me agradar. Os que entendem os transmites legais da nossa mãe UEB sabem do que estou falando.
                   Quero que saibam que eu sonho no dia em que isto pode acabar. Sonho em estar vivo ainda para ver todas elas fazendo um escotismo harmonioso e respeitando a individualidade de cada um. Democracia é isto. Países europeus que já estão maduros poderiam ser nosso exemplo. Quem sabe um dia? Meu abraço a todos meus amigos de todas as associações escoteiras no Brasil e em outros países. Sempre Alerta!  

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O céu que nos protege.



O céu que nos protege.

                Lorraine tinha duvidas se era feliz. Um dia num passado muito distante fora sim, muito feliz. Agora o presente e o passado se alternavam em sua mente e hora sim hora não ela sorria ou chorava. Ela estava com os olhos semicerrados no ônibus que retornava para a sede após mais um acantonamento com os lobinhos. Todos dormiam. Fora uma atividade cansativa e muito divertida. Não tanto para Lorraine. Como sempre duas mães da equipe de apoio só foram para ficar ao lado dos seus filhos. Lorraine não gostava disto. Mas não eram só elas. Muitos chefes no Grupo Escoteiro faziam o mesmo. A própria Akelá não era exceção. Uma proteção que ela achava errado. Mas falar o que? Ela também entrara por causa do Tony seu filho de sete anos. Tentava sempre manter uma distancia quando em atividade. Seja na sede ou no campo. Explicou a ele. Tony era muito adulto e isto a fazia se orgulhar. Mas o mesmo não acontecia com os outros.
               Agora uma lágrima descia dos olhos de Lorraine. Uma tristeza infinita invadiu sua mente e seu coração machucado batia descompassadamente. Ela sabia que Alfeu tinha outra. Não tinha mais dúvida. Ele de uns tempos para cá não tinha mais aquela sintonia de almas gêmeas do passado. Os beijos, os abraços e o “eu te amo” não existiam mais. Ela acreditava que este fora um dos motivos por ter entrado no escotismo. No começo nem pensou em ajudar. Achava que seu filho ali devia ter vida própria. Devia crescer interna e externamente, pois isto era uma das finalidades do escotismo que tinha lido. A vida com Alfeu agora lhe trazia inúmeras tristezas. Lembrou de que por duas vezes alcançou a felicidade plena. A primeira quando casou, quando entrou na igreja num belo vestido de noiva. Era uma tarde esplêndida na primavera e a igreja lotada. Sorria de plena felicidade. Felicidade que em pouco tempo estava acabando. A segunda foi quando Tony voltou da sua primeira reunião com a Alcatéia. Seu sorriso não tinha preço. Ela sorria também com sua enorme felicidade.
               Dois grandes problemas martelavam em sua mente como se fossem insolúveis e a machucavam muito. Ela não sabia o que fazer. O primeiro sua vida conjugal e o segundo a permanência nas fileiras do escotismo. Ela sabia que Alfeu tinha outra. Chegava tarde, não a procurava mais no leito, deixou de ser carinhoso e mesmo sendo uma mulher calma e ponderada ficou completamente sem ação. Devia ter tomado à iniciativa, mas isto não fazia parte de suas ações que sempre eram bem calculadas e pensadas. Mais dia menos dia ela e Alfeu iriam se separar. Não era o fim do mundo, não era. Muitos casais se separam, mas ela nunca imaginou que isto pudesse acontecer entre eles. E Tony? Como reagiria? Alfeu sempre foi um bom pai. Apesar de não ter sido Escoteiro não a proibia e até alimentava ilusões que um dia ele também pudesse participar. Era um companheirão de Tony. Quando não havia atividades escoteiras saiam para passear, ir a jogos de seu time preferido, e ver algum filme próprio para a idade dele. Nestas horas sentia que ela não fazia parte da família. Ele não a convidava mais.
              No Grupo Escoteiro ainda se sentia uma intrusa. Dois anos lá. Alguns cursos de formação. O Diretor Técnico se autonomeou como seu assessor pessoal. Nunca foi seu amigo. Sentia que havia um distanciamento entre ele e a diretoria com os demais chefes. Eram muito formais. Diziam para ela que o Grupo Escoteiro era uma grande família, mas o exemplo que sentia na pele não demonstrava isto. O grupo para ela era como se fosse sua antiga empresa quando ainda trabalhava onde tudo era feito de maneira harmoniosa, mas formal. Muito formal. Eu aqui e você aí, faça sua parte que eu faço a minha. A própria Akelá não era diferente e mantinha um distanciamento com seus assistentes. Ela se sentia uma intrusa na Alcatéia. Ela resistiu e continuou por causa de Tony. Ele sentia orgulho em ver sua mãe de uniforme e isto era para ela um bálsamo pelos dissabores que estavam acontecendo em sua vida.
            Ao chegar em casa cansada da atividade e colocar Tony para dormir após o banho e um lanche, ela sentou na sala e ficou pensando em sua vida. Ainda não era onze da noite e Alfeu chegou. Bêbado. Ela sabia que ele estivera na farra.  Como sempre não disse nada. Nunca dizia. Ele foi quem puxou o assunto. - Lorraine, eu vou me separar de você! – Lorraine ficou estática. Sua voz sumiu. Não sabia o que dizer. Seu pensamento não dizia qual palavra deveria pronunciar naquele momento...
Continua num futuro próximo. Aguardem. 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

De novo?



De novo?

                   Sim. De novo. Podem falar o que quiserem. Não me importo. Vou defender meus ideais até o fim da minha vida e que não está tão longe. Até lá como diz o Zagalo voces vão ter de me aguentar. Risos. E podem escrever o que quiserem. Não mudo de opinião. Dizem que sempre fui “turrão”. E acho que é por isto não sou bem considerado pelos nossos dirigentes. Paciência. Sou Escoteiro de coração e não por causa deles. Que eles sejam felizes no que fazem. Não ia tocar neste tema novamente, mas estava eu no domingo sentado na varanda da minha casa e eis que o vizinho duas casas abaixo da minha sai para trabalhar. Ele é um simples motorista de ônibus, mas que orgulho tem aquele motorista. Sua camisa azul mescla bem passada, a calça de tergal no ponto certo. Os cabelos bem penteados e o calçado preto. Dá gosto de olhar. Ainda ontem vi o Toninho das Mercês se dirigir ao seu trabalho. Um simples vigia/porteiro noturno em um edifício na cidade. Que gosto vê-lo ir pegar o ônibus. Que orgulho do uniforme que vestia. Sorriso nos lábios e tudo muito bem limpo e bem passado.
                  Tenho uma neta que estuda em um colégio exigente. Usam um uniforme a muitos e muitos anos. Dizem que desde quando o colégio iniciou suas atividades. O inspetor de disciplina é implacável. Ou se está uniformizado ou não. E vá lá para ver se entra sem ele. Silmara e Jonas são dois jovens que moram a duas quadras da minha casa. Estudam em escola pública. São exigentes lá onde estudam. O uniforme é obrigatório. Claro foi fornecido pelas autoridades do município. Lamartine é um jovem que foi Escoteiro. Está servindo o exercito. Vai e vem de uniforme. Sempre o mesmo há décadas. O verde oliva fica bem nele. Lauriano é sargento da Polícia Militar. Gente boa. Sempre para quando está em Patrulha para bater um papo. Seu uniforme sempre bem apresentável. Não vai vê-lo com a aba do boné virada. Nunca. Ele sabe que representa uma organização centenária. E para chacoalhar meu coração, saio para caminhar no domingo e vejo quatro adultos, duas moças um jovem de 20 anos e um senhor de idade. Estavam saindo de uma casa próxima a minha rua para entrar em um veiculo estacionado. Iam para uma reunião Escoteira. Todos de camiseta com dizeres escoteiros, uma amarela, uma azul e outra branca. Calçados de todas as cores, uns de bermudas outros não e o lenço? Na mão. Acho que iam colocar no pescoço quando chegassem ao grupo.
                 Olhe vocês que defendem isto que está aí, não tiro a razão de ninguém. A gente usa o que gosta e o que nos ensinaram a usar. Só não me venham com a velha metáfora que estamos mudando e nos modernizando. Fico orgulhoso quando vejo uma foto de jovens e adultos bem uniformizados. Não discuto se é o azul mescla ou o caqui. Se estão conforme se pede O POR e usam do bom senso meu Sempre Alerta e parabéns. Claro que para mim o caqui deveria ser o único exceto os da modalidade mar e ar. São os três que mantiveram acesa a chama tradicional por muitos e muitos anos. Entra ano e sai ano, muitas organizações tradicionais mantém o orgulho do que vestem. No escotismo não.
                  Mas como exigir se aqueles que deveriam dar o exemplo não dão? Quantas vezes se falou aqui sobre o exemplo pessoal do adulto ao jovem que o segue acreditando que assim é o correto? Por uma questão de economia, criaram o tal de traje. Dizem ser barato. Os grupos humildes agora podem fazer escotismo conforme as normas. Muito econômico. No Jamboree um grande número dos participantes só usavam ele. “Caramba” economia? Uma nota a taxa paga e muitos outros gastos e se fala em economia? Meu pai era seleiro, eu engraxate e tinha meu caqui completo e o vestia orgulhosamente. 28 horas de viagem para tentar comprar um chapéu fazendo economia por seis meses. Um cinto de couro perfeito, uma bela faca mundial, uma linda machadinha, meu cabo trançado e meu sapato Vulcabrás. Então não posso falar que para os pobres está reservado o traje. Garanto que eles não iriam querer se lhes dessem outra opção de escolha.
                 Mas os jovens gostam me dizem. Claro que gostam. Não aprenderam a usar outro. Não ensinaram a eles que a tradição é feita por todos e ela se mantida mostra sempre o valor da organização. Ensinaram outra coisa. Pois é. Estão os dirigentes orgulhosos de tudo isto. Um belo de um Jamboree. Mesmo com as dificuldades enfrentadas todos só elogio. Ninguém criticou. Até escotistas que pagaram para trabalhar estão sorrindo. Não sei, acho que tem um caixa financeiro que vai engordar. Claro, veremos sem dúvida uma apresentação de contas. E dou risadas de uma pequena parcela de dirigentes que vejo por aí. Num curso avançado (avançado?) alguns dos formadores mal uniformizados. Calçado de todas as cores. Exemplo ali? Necas! E meu Deus! Todos IM! Preciso voltar urgente a Gilwell. Preciso de um novo curso:
“Eu era um bom lobo, um bom lobo de lei,
Não estou mais lobeando o que fazer não sei.
Me sinto "Velho" e fraco, a Gilwell vou voltar,
Um curso assim que eu possa eu vou tomar!”“.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

As surpresas da vida! E foi assim que vivi o meu dia de Chefe Escoteiro.



As surpresas da vida!
E foi assim que vivi o meu dia de Chefe Escoteiro.

                   Hoje eu acordei cedo. Cinco da manhã. Sentei na cama como faço sempre e pensei se teria alguma ideia para escrever hoje. Nem sempre tenho os rompantes de uma história, de um conto, de um artigo e a inspiração demora a atingir minha mente durante o dia. Não sei como fazem os escritores para criarem seus sonhos encantados dos seus escritos, mesmo sabendo que sou uma péssima copia de carbono deles todos. Nada. Não pensava em nada. Minha rotina de todas as manhãs prosseguiram. O meu inalador com seu indefectível barulho não me deixava pensar. Alguns comprimidos, puxar o ar aqui e ali numa caixinha mágica e eis que me vi caminhando. Sempre nestas caminhadas costumo criar minhas histórias. Estava um vento frio e cortante e mesmo com uma blusa pensei que não devia ter saído.
                   A manhã estava terminando e nada. O vicio gostoso e aconchegante de ligar a internet e ler as mensagens, ver os que os amigos disseram o que falam do escotismo e eis que uma bela surpresa aconteceu. Duas na verdade. Hoje era dia do Chefe Escoteiro! Não sabia. Não sou muito de guardar datas. Então mãos a obra. Vamos escrever sobre este fenômeno surgido em 1910 e tão festejado como um voluntário invencível. Mas escrever o que? Achei que seria fácil. Afinal eu fui um deles. Lembrei-me de tantos artigos que tinha lido, eu mesmo escrevi vários. E nada. E nada. Caramba! Mas é tão fácil falar sobre o Chefe Escoteiro!
                 Afinal ele não é a peça fundamental para a engrenagem do valente motor do escotismo funcionar? Ele não é a pessoa que faz as crianças sorrirem? Ele não é aquele que se sacrifica e parte para uma luta que acredita e não mede sacrifícios? Estava realmente difícil falar do Chefe Escoteiro. Muito. E durante o dia mais e mais mensagens apareciam. Lindas. Formosas! Estupendas! E eu? Falar o que? Liguei meu som. Costumo ter ideias com uma boa música. Lá estava tocando apaixonadamente Nocturne, com Secret Garden.
                Não tinha mais o que falar. Mas então me lembrei! Não houve outra surpresa? E esta segunda não me levou a um passado de alegrias quando era Chefe Escoteiro? Mais atual, mais alegre, mais verdadeiro. Sim, a alegria contagiante não traz para nós a felicidade completa? Não foi o que BP disse? A felicidade dos outros nos fazem felizes? Então? Claro. Valia sim ser um Chefe Escoteiro. Ela aquela jovem linda e que amava o escotismo mostrou que valia. É estes fatos da juventude que nos transforma no que somos. Um belo sorriso, uma demonstração de amor ao escotismo. E então vemos que os problemas nossos não são nada comparados com o dela e de outros tantos que lutam para vencer. Assim são os chefes escoteiros. Fazer os outros felizes. Uma sina verdadeira de vitória, uma batalha vencida, um sorriso franco, um agradecimento. Venci a batalha. Falei do Chefe Escoteiro. Só posso desejar um feliz dia do chefe Escoteiro a todos os valorosos Chefes. Feliz dia. Eu sei que um dia vai haver aqueles de sombra, de tempestades, mas não serão nada diante de um sorriso contagiante.
               Vale a pena sim ser um Chefe Escoteiro. Não vou transformá-lo em um super herói. Ele não é. Não vou transformá-lo em um ser imortal. Também não é. Ele é apenas um ser humano como todos. Mas com uma única diferença, sabe que tem um salário que poucos tem – O SORRISO ESPONTÃNEO E GOSTOSO DE UM OU DE UMA JOVEM Escoteira! Este sim, este foi o que valeu o meu o seu e o de todos nós neste dia maravilhoso dos chefes escoteiros!

domingo, 5 de agosto de 2012

Quando eu voltei a ser criança.



Quando eu voltei a ser criança.

              Uma máquina do tempo me levou ao passado. Que coisa boa. Nesta viagem os ETs apagaram da minha mente minha velhice e me fizeram sonhar de novo com os meus sete anos! Um sonho distante. Que lindo! Voltar de novo a ser criança e era como um cinema na minha frente e eu vendo...
              - Me vi acordando pela manhã, ouvi novamente os pardais no pé de manga no quintal da minha casa, que bom. Sabia que não ia à escola, pois era sábado, e ficaria ali a olhar para o teto e sorrir. Meus pensamentos eram tantos e nem sabia o que iria fazer hoje, lá fora pela janela o sol forte. E gostava do sol mais que da chuva. Lindo o sol brilhante. Me via colocando as mãos sobre a nuca pensando nos meus problemas. Muitos. Sabia que mamãe ia pedir para bombear água para a caixa logo cedo. Não tínhamos água da rua e uma cisterna resolvia. Ela sabia que quando saísse não tinha hora para voltar. Seriam cento e cinquenta bombadas. Nada menos que meia hora e lá ia eu após tomar café com bolo de aipim que minha fazia sempre. Eu adorava.
              - Me vi sentado na linha do trem, adorava colocar os ouvidos no trilho e ver se alguma locomotiva ia passar. Dava para ouvir o plac plac ao longe. Os outros meninos estavam jogando bolas de gude. Eu sempre tinha vinte ou trinta biroscas. Gostava de jogar. Três panelinhas, correr uma por uma, ganhar ou perder minha birosca. Mais meninos chegavam. Mais panelas eram feitas. Se tivesse chovido na véspera era a vez do finquinho. Entretanto hoje neste sábado não teria tempo. Mamãe conseguiu com a costureira dez carreteis de madeira. Tinha guardado uma lata de marmelada. Iria dar um belo carrinho para minha coleção.
              - Minha casa, depois da linha da estrada de ferro, tinha uma varandinha, nos fundos um quintal enorme. Vavá meu primo mais velho comprou uma mesa de ping pong.  Eu me virava jogando com minha irmã Cecéia. A mais velha. Bem próximo ao morro lá no fundão do quintal era minha cidade. Nela eu sempre fazia estradas, pontes, um posto de gasolina e algumas casinhas. Lá eu guardava minha frota de caminhões. Todos de lata com carreteis de linha. Difícil decisão. Minha mente tinha de resolver, não era fácil. Jogar birosca, fazer meu carrinho ou soltar meu papagaio que papai fez? Quantos problemas eu tinha. Afinal ele além de fazer um lindo papagaio fez também uma manivela enorme! Eu tinha prometido aos meus amigos de levar o papagaio aos céus, bem alto e se voltasse com pingos de nuvens seria uma alegria que iria durar para sempre! Eram poucos que conseguiam. Só a alegria de voar, sem destruir os dos outros!
             - Um sábado. Quantas coisas eu ia fazer. Mas a turminha da birosca insistia para eu participar. Já ia caminhando rumo a eles e passou um menino de azul. Quem era? Nunca o vi. Um boné e um lenço verde e amarelo no pescoço. Nos meus gibis já tinha visto os caubóis assim. Mas ele era diferente. Estava sorrindo. Orgulhoso de seu uniforme! Meu Deus! Que lindo menino. – Oi, você, quem você é? – Sou lobinho. – Lobinho? – Sim, dos escoteiros. - Minha nossa! Onde voces ficam? Atrás do cinema Pio XII. – Mamãe! Vou lá perto do cinema, volto logo. Vou ver os escoteiros! – Não demore, o almoço está quase pronto.
             - Uma turma enorme. Mais de cem. Todos brincando. Que lindo! Sentei numa pedra próxima e fiquei ali o tempo todo vendo. Sabia que mamãe ia ficar “braba”, pois não queria sair dali. Meus olhinhos brilhavam. Meus lábios sorriam toda vez que davam um grito esquisito! - Um lobinho me chamou. – Quer participar? Falta um na minha matilha cinza. Um jogo difícil. Precisamos de mais um! – Que bonito foi. Esqueci tudo. Meus carrinhos de lata, minhas biroscas, meus finquinhos e até meu lido papagaio que ia voar nas nuvens. Agora estava nos lobinhos. Meu Deus! Que coisa maravilhosa!
            - Mamãe! Venha comigo. Tem de me matricular nos escoteiros! Ela riu e disse hoje não. Chorei. Chorei muito. Mas filho amanhã não pode? Não mamãe, tem de ser hoje. E lá foi ela de mãos dada comigo. Minha mãe. Minha linda mamãe. E o começo da jornada começou ali. Ela sempre me apoiou. Meu pai ria quando contava minhas histórias de lobinho. Grande papai. Senti alguém me puxando, era a máquina do tempo. Trouxe-me de volta ao meu mundo, a minha velhice, as minhas lembranças. Quando tempo, quantas coisas boas e quantas recordações. Um dia quero a máquina do tempo de volta. Ver novamente fatos marcados que ficaram para sempre na minha memória. Como foi bom voltar a ser criança, valeu. Nunca esqueci aquele menino de azul. Foi quem me trouxe a esta vida que sempre amei. Obrigado. Não sei mais quem é. Não lembro o seu nome. Onde estiver, obrigado mesmo!