Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Tigre dente-de-sabre da Gruta das Esmeraldas.



Lendas Escoteiras.
O Tigre dente-de-sabre da Gruta das Esmeraldas.

               Tem certas histórias que não deviam ser contadas. São aquelas que fazemos papel de bobo, e nos chamam de idiotas escoteiros. Lembro que os seniores viviam se gabando de suas aventuras que faziam em seus cavalos de aço. Eu também tinha um. Belo, cor vermelha, pneu balão faixa branca, Phillips importada e na Patrulha todos tinham a sua. Eu andava lá pelos meus doze anos. A Patrulha já acampava sozinha. Tonhão o Monitor era Primeira Classe e Vadico o sub. monitor Segunda Classe. Os demais Joventino e Clarinho também tinham sua Segunda Classe. Eu sabia que ia receber no mês seguinte. Não devia nada a ninguém nos meu conhecimentos escoteiros. Afinal já ia longe o dia que completei minhas vinte e cinco noites de acampamento.

                Acho que foi em uma reunião de Patrulha, em uma quarta na casa do Moreno o socorrista que surgiu a ideia. Conversa vai, conversa vem lancei um desafio – Afinal porque os seniores saem por aí, fazem grandes jornadas, voltam contando “patacas” e nós escoteiros não fazemos nada? Todos me olharam espantados. – Vadinho você sabe que sem autorização da Corte de Honra não podemos fazer nada. Disse Tonhão. Portanto vamos ficar na nossa. Não concordei. Continuei martelando. – Olhe eu tenho uma ideia fantástica. Já preparei tudo. Como nossos cavalos de aço sairemos em um sábado rumo a Lagoa dos Peixes. Lá vamos fazer um exploração na Gruta das Esmeraldas. Até hoje ela é pouco explorada. Levamos quatro carreteis de linha dois. Cada um tem mais de 300 metros. Amarramos na entrada e vamos até onde possamos chegar dentro da gruta. Voltar é fácil. Só seguir a linha e já pensaram quando souberem que fomos lá?

                Vi nos olhos de cada um o desejo da aventura.  – continuei – Não falamos aonde vamos. Quem sabe diremos que fomos fazer uma exploração no Riacho Vermelho? Não comentamos de ir lá um dia para conhecer? – Tonhão coçou a cabeça. – Façamos o seguinte no sábado vamos nos reunir aqui em casa depois da reunião. Cada um tente pesquisar na Biblioteca Central sobre a gruta. Vamos conversar, mas nada de tomar posição. Dito e feito. Eu já tinha tudo preparado. – A gruta como sabem fica próximo a Lagoa dos Peixes. Já foram explorados mais de 511 metros de extensão, mas dizem que são mais de 5.000 metros com tantas cavernas que é fácil se perder. Feita de Rocha Calcária foi formada no passado por restos marinhos do fundo do mar raso, da bacia do Rio das Velhas. O primeiro homem a explorar a gruta foi o dinamarquês Peter Wilhelm Lund em 1835. Sei que depois muitos foram lá. Descobriram restos de fósseis pré-históricos dentre eles o Tigre dente-de-sabre e a Preguiça gigante.

              Não teve jeito. Duas semanas depois em um sábado partimos bem cedo. Nossos Cavalos de Aço (bicicletas) levavam o que precisávamos. Sem barracas, pois dentro da gruta não precisava. Lanche e ração C. Quatros horas depois chegamos a sua entrada. Fácil. Sem vigia e toda a entrada coberta por uma vegetação rasteira. Começamos a entrar na gruta. Levamos duas lanternas, usamos mais nossos três lampiões a querosene. Joventino e Clarinho tomavam conta dos carreteis de linha. Andamos mais de 600 metros. Uma escuridão total. De vez em quando saiamos em belos salões que mesmo com pouca iluminação eram de tirar o folego. Lindo demais. Paramos por volta das duas da tarde em um salão gigantesco. Na parte baixa um belo de um lago que além de raso tinha lindos peixes vermelhos e azuis a nadar em sua superfície.

              As cinco Tonhão sugeriu que não fossemos adiante. Dormir no salão e voltar no dia seguinte. Claro tudo era marcado pelo meu relógio e do Tonhão. Os demais não tinham. Na escuridão não sabíamos se era dia ou noite. Não foi fácil encontrar gravetos para o fogo. Mal deu para fazer uma sopa e um cafezinho. Todos cansados nem bate papo ouve. Nem uma conversa ao pé do fogo. Estava dormindo quando fui acordado por um grito de Vadico. Levei o maior susto. Do outro lado do lago um enorme Tigre dente-de-sabre que nos olhava com enormes olhos negros. Tinha mais de dois metros de altura. Ficou andando de um lado a outro pensando como atravessar o lago e fazer o seu banquete. Não deu outra. Ninguém ficou para trás. Aprontamos uma correria e nos perdemos de nossa linha que iria nos trazer de volta a entrada da gruta.

                 Ficamos parados no fim de um corredor que não nos levava ao lugar algum. Não ouvíamos nenhum barulho. O ar parecia que estava acabando. Resolvemos voltar. Para onde? Não tínhamos nenhum senso de direção. Bussola? Elas ali não funcionavam. Por sorte já era umas oito da noite de domingo achamos a linha. Para a direita ou esquerda? Votos e votos. Para a direita. Duas horas depois chegamos à entrada. Cacilda!  Que alegria. Lá escondida em uma moita de capim colonião estava nossos cavalos de aço. Chegamos a nossa cidade as duas da manhã. Normal ninguém deu por nossa falta. Sábado, tropa reunida, depois do cerimonial de bandeira Tonhão pediu a palavra. Contou tudo. A Corte de Honra nos proibiu de sair só por seis meses! E o Tigre dente-de-sabre? Melhor calar. Contar para que? Para os seniores fazerem gozação?

                  Hoje eu sei que a Gruta das Esmeraldas é visitada por turistas que podem ver sua beleza de seus 511 metros que são abertos ao público. 16 salões fantásticos. O salão da Noiva e o Salão da Catedral pode-se ver imagens formando santos, púlpitos e nichos. Quem sabe foi um destes que achamos ser um tigre dente-de-sabre e pensamos que estava vivo?   Melhor parar por aqui. Sei que não acreditam que foi verdade. Que seja. Mas eu nunca mais esqueci a Gruta das Esmeraldas. Em minha vida Escoteira estive em várias outras. Mas além desta em nenhuma das demais teve o sabor de aventura da primeira. Pelo menos aprendi a não ser tão afoito. Não fui bom Escoteiro tentando fazer tudo escondido. Mas aprendi a lição. Isto nunca mais aconteceu!

(os nomes aqui citados foram alterados para evitar familiares tristes, pois sei que todos já foram para o outro lado da vida. Breve estarei junto a eles e quem sabe teremos lindas grutas a explorar nas lindas estrelas perdidas da via láctea?).

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