Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O último duelo ao por do sol.



Lendas escoteiras.
O último duelo ao por do sol.

                     Pedalando sobre o sol forte da manhã, eu me mantinha na fila que fora organizada pelo Chefe Rildo na Estrada do Quinzinho. Quatro patrulhas indo acampar na Garganta do Rio Mimoso. Iriamos ficar na área mais larga onde nunca tinha acontecido uma enchente. Ficava entre as Montanhas do Roncador e a Montanha da Lua. Eu conhecia muito bem. Acampei diversas vezes com a Patrulha. Agora melhor, todas as patrulhas presentes. Chegamos por volta das onze da manhã. Corre- corre para montar campo e fazer o almoço. Eu tinha uma predileção pelo local. Tinha muitos amigos lá. Habitantes da floresta e da garganta do Rio Mimoso. Já contei a vocês que eu tinha um dom. Entendia e conversava com os animais e pássaros da floresta. Eram todos meus amigos. Esperava encontrar lá A Coruja de Olhos Verdes, O Tatú Bola que jurava ter mais de cem anos. A Família Zuarte deveria ter crescido. Antes eram quinze macaquinhos prego e muitos deles esperavam filhotes.

                     Sabia que na calada da noite a Onça Parda e o Lobo Guará iriam me esperar na curva da tartaruga. Um local onde sempre a bicharada se reunia. Meus amigos da Patrulha sabiam do meu dom. Mas nem todos acreditavam. Nem mesmo quando o Gavião Maltes veio avisar que o rio formava uma enchente enorme na cabeceira. Foi à conta de desarmar as barracas, pegar as tralhas que o rio começou a subir. Questão de minutos. Dei falta da Coruja de Olhos Verdes. Só apareceu por volta do lusco fusco do entardecer. – Oi Escoteiro, como vai? Olhei e lá estava ela na grande árvore onde fazia sua morada. Disse ao Monitor que ia tentar achar umas bananas e ele riu matreiramente. Sabia que ia procurar a Coruja de Olhos Verdes. Ela já chegou? Sim. Ela não quer vir aqui. Muitos das outras patrulhas não iam entender.

                       - Sabe Escoteiro, amanhã vai ser um grande dia, dizia a Coruja de Olhos Verdes. Toda a bicharada da garganta, da mata do Jambreiro e acho que até das Montanhas da Lua e roncador já confirmaram presença.  Vão vir para a luta mortal! - Luta? Que luta Coruja dos Olhos Verdes? Perguntei. – A luta das cobras venenosas. – Mas porque vão lutar? Sempre foram de paz e  respeitavam até os humanos que passavam por aqui! – Sempre foi assim, respondeu. Mas ontem começaram a discutir na Prainha do Melão quem era mais forte, quem era mais valente, quem tinha o veneno mais poderoso e quase saíram às raias de fato ali mesmo. A cascavel Mor e a Surucucu Papaia gritaram tão alto que a bicharada que foi lá beber água se assustaram e correram. Quando cheguei os olhos das duas estavam vermelhos. Chispas azuis, vermelhas e douradas salpicavam em todas as direções. Vi que iam se engalfinhar, mas o Quati da Floresta Negra separou e deu ideia para o duelo.

                          Fiquei pensativo. Não iam duelar e sim entrar numa luta de mortal. Eu conhecia a Chefe da Tribo das Cascavéis. Uma ou duas vezes conversei com a Surucucu do Rabo cortado. Nunca me fizeram mal. Eu sabia que ali e nas matas distantes existia uma lei. Não escrita, mas que todos obedeciam. A Lei da Selva. A própria Coruja de Olhos Verdes que era considerada a mais sabia já dizia que “uma coisa não é justa porque é lei, mas deve ser lei porque é justa”. Ali o respeito existia. Sabiam todos que um dia iriam servir de antepasto para um mais forte, mas só quando sentiam fome. Achei que devia interferir. A Coruja dos Olhos Verdes achou que não. Não disse nada, mas iria estar presente. – Onde iriam duelar? Perguntei. – Na Pedra Cinzenta do Papo Amarelo. Sabia onde era. Fui lá varias vezes. Escolheram bem. Todos ali seriam vistos.

                          Combinei com o Monitor para me liberar entre quatro e sete da noite do dia seguinte. Ele um grande companheiro não se fez de rogado. Cheguei por volta das cinco da tarde. Quase toda a bicharada estava presente. Lá estava o Tamanduá Bandeira, O peixe-boi, a Arara azul-de-Lear. Várias onças pintadas, Jaguatiricas, quatis, gaviões, águias coloridas e falcões de todo o tipo. Era bicho que não acabava mais. Iam chegando e procurando o melhor lugar para ver a luta mortal. A Cascavel chegou acompanhada de duas aranhas negras. Logo chegou a Surucucu com mais de vinte escorpiões amarelos ao seu redor. Não houve conversa, não houve apito e nem gongo. Elas logo se engalfinharam. Eu sabia que não seria uma luta de morte. Não tinham veias e nem sangue, portanto os venenos das mordidas não fariam efeito. Lutaram-se, engalfinharam-se, tentaram enroscar uma na outra até que cansadas cada uma se estirou em um canto.

                          Houve um silencio momentâneo e depois uma vaia infernal. Os Macacos Prego guinchavam e urravam nas arvores. Outros rugiram, aves cantavam gritantes no ar. – Uma lutinha! Uma lutinha de nada! Diziam. Resolveram fazer uma Indaba ali na hora. Fizeram oito comissões. Tema – Castigo para as cobras venenosas que não eram de nada. Cada comissão fez um relatório e apresentou para a Coruja de Olhos Verdes. Esta no alto da árvore gritou alto – Que se lavre em ata, que hoje, 12 de fevereiro, ano santo, Foi dado uma punição a Dona Cascavel e a Dona Surucucu por seis meses. Elas ficarão proibidas de morder quem quer que seja. Nem poderão caçar o sapinho do lago dourado. Iram se alimentar de folhas e tomates verdes!

                          Um urra! Mais um e outro. A bicharada cantou alto a Arvore da Montanha e foram cada um para suas casas. Cheguei ao campo era mais de oito da noite. O Monitor disse que o Chefe perguntou por mim na hora do jogo. Deu uma desculpa de dor de barriga. No ultimo dia após o cerimonial a Surucucu e a Cascavel vieram me pedir desculpas. Pediram para eu interceder por elas na Corte de Honra das Corujas Buraqueiras. Mandei uma carta por escrito e parti com a escoteirada para minha cidade. Devo voltar lá no próximo domingo. Só eu e o Monitor. Vou tentar ver se ele vai ser aceito na comunidade dos bichos e animais da floresta. E também saber se perdoaram as cobras venenosas.

E acreditem se quiser... Mas é bom saber que eu falo com eles. Eu Juro pela Alma do Jumento Cinzento que morreu de tanto comer capim. Que assim seja!

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