Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Lembranças de um "Velho" Escoteiro. Era uma vez... No carnaval.



Lembranças de um "Velho" Escoteiro.
Era uma vez... No carnaval.

            Faz tempo. E quanto tempo! Nunca fui de “pular” o carnaval. Sempre aproveitei seus dias de folia para acampar. Houve um carnaval que não esqueci. Carnaval acampando. Misturado. Sacrificado. Corrido. Mas que valeu e valeu mesmo. Melhor contar como foi. – Chefe de Tropa, lá pelos anos de 1960, nosso programa marcava um acampamento de tropa em Vale Feliz. Menos de cem quilômetros da nossa cidade, mas sem estradas a não ser as vicinais. Mesmo assim elas eram interrompidas pelas corredeiras do Rio Doce.  Chegar lá só de trem. Acampei lá uns quatro anos antes. Descíamos na estação e menos de doze quilômetros chegávamos. Na discussão da Corte de Honra eles fizeram planos e planos para este acampamento.

           Seria um programa sui-generis. Um grande jogo que iria virar uma noite inteira atrás da Caveira do Ouro. Fazer uma “caçada” das Galinhas D’Angola selvagens. Outra época. Valia o aprendizado. Isto sem contar levar água até o centro do acampamento por bambus gigantes. Mais de trezentos metros de distancia. Soubemos que as Emas selvagens eram ariscas. Tentar achar sua pista e tirar uma pena foi outro jogo bolado. Os Monitores não saiam de minha casa. Sempre uma ideia nova. Chefe Jessé conseguiu passagens ida e volta. Levaríamos três carrocinhas no vagão de bagagem. Ração B. Na mochila e no bornal trazida de casa. Taxa zero!

           Uma semana antes tudo preparado. As quatro patrulhas vibrando. Fizemos outros, mas este tinha o dedo delas no programa em quase tudo. Estava em casa pela manhã quando parou um veículo na porta. Inusitado. Não tinha amigos com carros e poucos na cidade tinham. Só os bem de vida. Vi que era o Senhor Romualdo. Presidente do Ilusão Esporte Clube. Caramba! O que pretendia na minha casa? Sabia que não me conhecia, nunca me cumprimentou, mas fui até o portão de madeira e ele deu um belo sorriso. Fiquei na defensiva. – Meu jovem Escoteiro, preciso de você! Eu? Você mesmo! Deve estar sabendo que no desfile do carnaval a luta pelo primeiro lugar vai ser difícil. Agora para piorar tudo, o homem contratado da capital para tocar o clarim no desfile adoeceu. Não pode mais estar presente.

            Pisquei um olho, depois outro. Não disse o celebre – “E dai?” nada disto. Deixei-o continuar. – Conto com você nos três dias. Sábado, domingo e segunda. Sei que você tocou por muito tempo corneta e clarim. É o único na cidade que poderá nos salvar. Tocar só no desfile. Menos de uma hora por dia. Fizemos este ano um gasto enorme com a apresentação de Nero, aquele que botou fogo em Roma! Sem o clarim para anunciar o desfile e a entrada de Nero tudo perderá o valor. Estou disposto a lhe pagar o mesmo do moço da capital. Mil reais. “E agora José”. Expliquei não ser possível. Falei dos meninos dos seus sonhos e não podia faltar. Ele insistiu. Sumiu para dois mil e chegou aos cinco mil! Incrível! A quantia ajudaria muito ao meu pai doente na capital. Seria uma salvação que ninguém esperava.

            Tinha que montar um plano. Não tinha assistentes. Tinha sim bons Monitores, mas não poderia ficar de fora com a programação que eles tanto lutaram para fazer. Conversei com os monitores. Aceitaram meu plano. Vir de trem e voltar não dava. Eram dois por dia um cedo e um a noite. Sem condições. Falei com o Chefe Jessé. Preciso levar minha bicicleta no trem. Falei com seu Romualdo. Preciso de quinhentos adiantado. Ele coçou a cabeça. Tudo bem. Conto com você e sei que vocês tem palavra. Viajamos na sexta. O retorno marcado para quarta. Uma hora e meia de viagem. Chegando fui direito na casa do barqueiro. Preciso atravessar o rio seis vezes em três dias em horários impróprios. Pago a você cinquenta por viagem. Ele riu e aceitou na hora.

             Não foi fácil. Às seis e meia corria para o rio com a bicicleta. Atravessa na canoa e aprontava uma correria nas estradas vicinais até minha cidade. O desfile começava as dez. Minha fantasia de Trombeteiro do Rei (que vergonha meu Deus para vestir) levava no bornal. Às onze e meia terminava. Mandava-me pela estrada até o local combinado com o barqueiro. Sempre entre uma e duas da manhã chegava. Foi um acampamento que marcou. Ninguém reclamou quando não estava presente de seis da tarde até duas da manhã. Duzentos quilômetros ida e volta dirigindo uma bicicleta feito um louco em estradas vicinais. No quarto dia desmaiei de sono. Dormi até meio dia. Nonato um Monitor me acordou. – Chefe, não se preocupe. Tocamos tudo. Reunimos os Monitores e combinámos ajudá-lo no programa.

              Falar o que? Nada. Monitores são Monitores. Nosso orgulho. Mas acampei e fui um Trombeteiro do Rei. Toquei como nunca. Dei belas risadas. Fui pessoalmente uma semana depois à capital levar o dinheiro para meu pai. Estava com diabete. Ninguém conhecia esta doença na época em minha cidade. Mas valeu tudo que fiz. As noites mal dormidas. Andar a toda em estradinhas de terra correndo feito um maluco. Escotismo! O que você nos deixou como legado acho que nenhuma outra associação deixaria. Foi bom viver intensamente o escotismo. Outra época. Outra vida. Mas daria tudo para voltar de novo ao passado e fazer tudo de novo!

Sempre Alerta e bom carnaval para quem gosta!        

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