Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

terça-feira, 9 de abril de 2013

É impossível dizer adeus!


Conversa ao pé do fogo.
É impossível dizer adeus!

                        Olhe, vou lhe contar, se fosse em outra ocasião ou lugar eu tinha partido para a ignorância. Aquele Chefe merecia uns tabefes, ah! Se merecia. Afinal não adianta dizer – Vocês são escoteiros, mesmo sendo chefes tem uma promessa cumprir. Existe uma lei, uma norma de conduta! – Bonito isto, eu mesmo acho, mas o Chefe estava passando da conta. Fiz o que consegui fazer. Virei às costas e fui embora. Juro são irmãos palavras e mais palavras. Por Deus chefe me deu vontade de sair do escotismo. A gente lê tantas palavras bonitas, uma filosofia que encanta e vem um “Zé Ninguém” e joga tudo por terra. - O pior chefe é que eu tenho o escotismo na mente, na alma e no coração e o Senhor sabe, assim é muito difícil, ou melhor, impossível dizer adeus!

                        - Mas o que houve? Perguntei. Estava boiando. Ele ali na minha frente vermelho, abrindo o verbo contra alguém que pelo que já tinha ouvido devia ter aprontado poucas e boas com ele. Não tínhamos muita amizade a não ser um cumprimento ou um abraço fraternal. Sempre quando voltava do meu trabalho, o ônibus da empresa me deixava no centro da cidade. Dava uma passada rápida no Escritório Regional e no caminho do ônibus do meu bairro não deixava de dar uma parada no Bar do Grilo. O melhor chope da cidade e uma empada de camarão sem igual. Sentei e logo ele sentou ao meu lado. Cumprimentos de praxe e ele soltou o que estava preso. Precisava desabafar. Sou bom ouvinte. Falo pouco. Deixo a própria pessoa achar sua conclusão. Muitas vezes isto não acontece e então dou meus pitacos.

                          - Pois é Chefe, continuou- Eu nunca fui com a cara dele. Parece saber de tudo mais que os outros. Quando conversava era o meu grupo, os meus chefes, os meus Monitores, os meus lobinhos os meus escoteiros. Caramba Chefe parecia que ele era o dono de tudo. Um dia perguntei quanto custou tudo isto e se pagou a vista ou cartão de crédito. Foi um Deus nos acuda. A rusga vinha de longe. E olhe, ele não é único em nosso movimento. Sempre dou um “tropicão” em um ou outro igual a ele por aí. Nosso movimento tem cada tipo de tirar o chapéu. Quando eu sabia que ele estaria presente em alguma atividade eu evitava ir. Encontrar com ele seria o fim do mundo. Um “garganta” e que “garganta”. Dono da verdade. Só ele sabia. Era daqueles de dizer “a verdade dói”.  Um dia me perguntei: E se ele terminar sua Insígnia? E se ele for convidado para ser um Assistente distrital ou regional? – Até pensei nos pobres coitados que entram e ele passa a ser seu assessor pessoal. Chefe, juro, se isto vier a acontecer saio do escotismo na mesma hora!

                            Tudo piorou no ultimo encontro de chefes escoteiros do distrito no Grupo Escoteiro Vale do Amanhecer. O distrital queria discutir algumas atividades Inter tropas e eleger um Assistente Escoteiro. Reunião simples sem pompa. E não é que o Talzinho foi de uniforme? Todo cheio de si e colocou todas suas estrelas de atividades. 12 anos. Sim Chefe a figura tinha doze anos de movimento. Putz Chefe verdade! Este tempo todo e não aprendeu nada. Que reunião minha nossa! Só ele falava, só ele sabia, queria dar ordens, dizia o que tínhamos de fazer. Uns jovens da tropa dele já tinham reclamado. O “Moço” Chefe só sabia dizer: Suspenso por uma semana. Suspenso por três meses. Quem chegar atrasado vai pagar cem joelhos quebrados. Não quero ver sua cara mais aqui! Coitados dos jovens daquela tropa. Muitos amavam o escotismo e não queriam sair. Mas eram menos de dez participantes ativos.

                             Já tinha terminado o meu chope e minhas duas empadas. Deliciosas. Não dava para escapulir. Queria chegar cedo em casa. – Escotismo! Ah! Escotismo o que você nos faz sofrer eim? – E ele nem desconfiou, nem pediu um chope, nada só falava e reclamava. – Pois é Chefe. Todos querendo dar sugestões e ele não deixava. Quando um começava ele pedia a palavra e mudava tudo. Não aguentei mais. Levantei-me e fui até ele: - Meu caro, só você é o dono da verdade? Só você conhece? Só você sabe? Fomos convidados para debater e não ouvir você com esta voz de jacaré azedo e estilo de Pavão empanado! – Chefe, foi à conta. Ele levantou e veio para cima de mim. Preparei-me. Sabia que aquilo iria acontecer. Ele se encostasse a mão em mim ia receber o dele. Olhe, não sou lutador, mas ele ia ver quem eu sou!

                           - Mas Chefe, quer saber? Todo mundo queria que eu desse uns sopapos nele. Eu sabia que ninguém aguentava mais participar com ele presente. Quem sabe iria sair do escotismo e nós ficarmos livres deste pamonha? – Mas não Chefe. Sabe o que aconteceu? Não vai acreditar ele levantou de um salto, foi bem em cima de mim, me ofereceu a mão esquerda, e me pediu desculpas. Desculpas Chefe! Isto mesmo! Não sabia o que falar, dizer e nem esconder minha cabeça naquela hora. Precisa de uma areia para cobrir tudo! Depois ele se dirigiu a todo mundo e pediu perdão. Prometeu que ia mudar. Jurou fazendo a saudação escoteira! E agora Chefe? E agora? Quase dez anos aturando sua soberba e seu estilo de mandão o que eu devo fazer?

                            - Dê tempo ao tempo. O tempo é nosso melhor amigo. Quem sabe você tem muito a dar ao escotismo e ele também? Um homem que chega ao ponto de pedir desculpa e perdão não merece mais uma oportunidade? Pedi desculpas a ele dizendo que a família me esperava. Nos demos as mãos, sempre alerta e ele para um lado e eu para outro. Pensei comigo. Acho que valeu a pena minha conversa a pedido do distrital com o talzinho dono de tudo. – Quer ser um dos nossos? É bem vindo! Quer ajudar os meninos? É bem vindo. Mas não me leve a mal, se alguém reclamar de você em uma reunião onde estiverem outros escotistas e este alguém perder as estribeiras com você, não tem perdão. Vou pedir para você sair. Se não vou tomar outras providencias!

                           Cochilei no ônibus. Cheguei a casa era mais de dez da noite. Celia me olhou de cara feia. Ela tinha razão. Disse para mim mesmo: se chegar a casa tarde mais uma vez vou pedir para você sair do escotismo, se não vou tomar outras providencias. Ah! Esta vida de comissário não é fácil. Mas cada um escolhe seu caminho e eu escolhi o meu! E cá prá nós, como é difícil no escotismo dizer adeus!          

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