Jogando conversa fora são pequenos post, onde abro um pequeno
comentário de determinado tema escoteiro visando uma discussão mais ampla. São
quatro chefes que após o final da
reunião, tiram o uniforme e vão a uma pizzaria jogar conversas fora. Até
agora fiz oito post. Semana passada publiquei aqui o primeiro agora o segundo. Este
sobre o adolescente. Irei publicar um semanalmente, mas se alguém quiser
receber todos façam o pedido em meu e-mail elioso@terra.com.br – e vão receber em PDF todos
os oito. Lembre-se só no e-mail. Aqui não posso enviar.
Divirtam-se.
Conversa ao pé do fogo. Parte II
Jogando conversa fora. O adolescente.
Os quatro
estavam calados. Bebericavam devagar o chope gelado no ponto e alguém comentou
- Beber a grandes tragos extingue a sede; beber
em pequenos goles prolonga o prazer da bebida. Matheus o garçom e
proprietário trouxe duas pizzas. Uma de calabresa e outra de mozzarella. – Hoje
cheguei à conclusão que preciso me atualizar mais – Por quê? – Tem horas que
não consigo acompanhar o jovem. – Sabe o adolescente para mim sempre foi uma
incógnita. – Dizem que chefes solteiros nada entendem deles. - Acho que
concordo com você. – Me disseram que conseguimos mudar facilmente o comportamento
do adolescente – Claro que sim, todas as transformações físicas que chegam com
a adolescência provocam também alterações comportamentais. – Se prestarmos
atenção aquele menino ou menina agressiva e menos dado a demonstrações de afeto
podem mudar – Sabem, eu acredito que se no primeiro dia pudéssemos fazer uma
visita aos pais, ver o que eles tem a dizer e se soubermos fazermos as
perguntas certas seria meio caminho andado.
-
Interessante, a cada idade ele apresenta uma faceta. Ele quer ser livre, ser
independente e apesar de tudo se sente bloqueado. – Veja os seniores e as
guias. Querem trabalhar e ter responsabilidades para decidir suas vidas. –
Concordo. Tenho lobinhos que não se enturmam e outros que se enturmam demais. -
Olhe eu posso dizer
que sempre conversei com o jovem desde o seu primeiro dia objetivamente. - Não
espero para ver e sentir o seu interesse, assim como seus problemas e
aspirações. Procuro visitar seus pais, mas meu tempo nem sempre permite uma
visita a todos. A confiança tem de ser sentida no primeiro dia. Deixá-lo à
vontade e conversar informalmente é sempre uma forma de compreensão e amizade.
– Beberam o ultimo gole e pediram outra rodada. As pizzas ainda estavam
intactas, pois comeram pouco. Matheus era um cavalheiro. Respeitava aqueles
quatro escoteiros e sabia que todos eles tinham dignidade, caráter e ética.
Desde quando passaram a frequentar sua pizzaria reconheceu que o escotismo
forma cidadãos honestos.
- Mudando um pouco o assunto,
sabe eu descobri qual o problema com a bebida. Enquanto vocês conversavam eu
enchia o copo e pensava: - Se me acontece uma coisa boa eu bebia para
comemorar. Se não eu bebia para ver se acontecia alguma coisa. Gargalhadas gerais.
– Querem saber? Acho que tem muitos que passam a ser pais dos meninos e meninas
no escotismo. Um erro enorme. – O que somos então? – Um líder carismático? Um
irmão mais "Velho"? – Na alcatéia já me policiei muitas vezes –
Quando você começa a gostar deles é impossível separar o papel de irmão mais
velho, líder ou que seja lá o que for sem mostrar um amor de mãe ou de pai. –
Tenho um que só reclama do pai. –
Chegou a dizer que eu é quem deveria
ser seu pai. – E a noite se vai. Calmamente. Sabem? A noite é uma bebida, para
longos e suaves goles...
- Pois é. Parece fácil nosso
trabalho. Fácil? Risos. – Eu costumo realizar a cada três ou quatro meses uma
reunião de pais. Já tentei dar a esta reunião uma conotação diferente. Tentei
até fazer com eles grupos (evitei chamar Patrulha) de discussão. Dava o tema
depois deixei que eles escolhessem o tema. No inicio valeu. Hoje não sei. A
presença não é boa – Eu sei como é. Fazer os pais sentirem suas
responsabilidades no Grupo Escoteiro não é fácil. – Agora eu pergunto a vocês,
se o pai ou a mãe não participa o que podemos fazer para ajudar na formação
dele? – Matheus! A saideira. – Já? – Onze da noite. - Mas vocês mesmo não
disseram que a noite é uma criança para longos e suaves goles? – Acho que o
caminho certo é discutir, aprender e ler tudo que acharmos do assunto. – Eu
mesmo me assusto quando vou acampar e vejo que aquele Escoteiro ou aquela
Escoteira não era o que pensava. – O acampamento é a maior escola para entender
o adolescente.
Matheus trouxe a última rodada.
– Vou dizer uma coisa a vocês, só devemos beber por gosto. Beber por desgosto é
uma cretinice! Gargalhadas gerais de todos. – É isto mesmo. O primeiro dia é o
mais importante para dizer a ele e saber o que espera de nós. – ouvir, ouvir e
ouvir sempre. – Muitos fazem o contrário. Sempre dizem o que esperamos dele. –
É nesta hora que uma Patrulha bem formada pode ajudar e muito. Se ele achar que
foi bem recebido em um clima amigo e sincero, suas esperanças de concretizar
seus sonhos quando resolveu entrar no escotismo é meio caminho andado. – Querem
saber? Ah! Hoje não sei. Mas o chope estava “danadamente” gostoso – Isto mesmo
acho que um pouco de calmante e um bom chope, pode me fazer esquecer os tombos
que a vida resolveu me dar nestes últimos dias.
Agradeceram ao
Matheus – Apareça lá no Grupo Matheus! – Quem dera quem dera. Sábado a tarde é
meu dia mais trabalhoso, mas quem sabe um dia? – Conseguiram um taxi e racharam
a conta. A Akelá foi de ônibus. A lua redonda que nem um queijo no céu brilhava
com fulgor – A Akelá ao subir para o ônibus falou para si mesma – Não devemos
nos achar maior que todos. O “maior exemplo é o sol se escondendo no horizonte
para a lua brilhar”.
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