Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 9 de junho de 2013

O inesquecível Chefe Bolota, ele sim era o “cara”!


Conversa ao Pé do Fogo.
O inesquecível Chefe Bolota, ele sim era o “cara”!

                       Nunca esqueci o dia que ele chegou à sede. Todos se assustaram. Eu mais ainda. Quando o Chefe Jessé o apresentou e disse que o Chefe Bolota seria o novo Chefe da tropa todos arregalaram os olhos. Ali na sua frente um homem baixinho, não mais que um metro e cinquenta e cinco ou menos, gordinho, cabelos crespos amarelados e seu rosto era admirável. Duas bochechas vermelhas gordinhas escondidas por uns olhinhos azuis diminutos. Moreno. Bem moreno. – Deu um belo de um sorriso e disse – Vim para aprender com vocês. Nossa! Onde amarrei minha égua? Eu pensei. – Tropa! Disse o Chefe Jesse, infelizmente fui transferido para Aguas do Sul.  Não posso mais continuar com vocês. Sei que sabem como levar a frente às atividades. A cada quinze dia voltará aqui e vamos conversar. Mas a responsabilidade da tropa ficará com o Chefe Bolota!

                       Uma palma mexicana foi dada ao novo Chefe. Ficamos assim meios cismados, pois como o Chefe Jesse tínhamos grandes liberdades. Acampávamos quando decidíamos. E reuniões eram quase todos os dias. Será que ele iria mudar? Chefe Jessé se foi. Chefe Bolota ficou. Sorria, quase não falava. Achamos sua voz um pouco estranha. Porque não o conhecíamos na cidade? Dois meses depois aprendemos a gostar do Chefe Bolota. Mais parecia um de nós. Ia à casa do Pedrinho, na minha, na do Romildo enfim ia à casa de todo mundo. Os pais o adoravam. Passaram-se quase cinco meses quando ele apareceu com o Padre Werner Braum da Paróquia de Santana. Todos conheciam a fama dele.  O chamávamos de alemão de Hitler. Sem conhecer ele e o  Hitler tínhamos um medo danado dele. Foi o Chefe Bolota quem nos apresentou. - Amigos e irmãos escoteiros, vocês não sabiam, mas sou sacristão na Igreja de Santana. Pronto estava explicado.

                     Agora tínhamos de participar da missa do Padre Alemão. Ninguém faltava. Chefe Bolota sorria de alegria. Pegou alguns de nós e fez um coro. Queria que outros se tornassem coroinhas. Chefe Bolota estava mudando tudo. Não era aquilo que fazíamos. Mas o olhar do Padre Werner era mortal. Ninguém dizia não. Um dia tivemos uma enorme surpresa. Um caminhão do Sexto Batalhão da Policia Militar parou na porta da sede. Um sargento pediu ajuda. – São para vocês! Menino! Ficamos espantados! Mais de duzentas mochilas praticamente novas,  quarenta barracas de duas lonas, oito barracas de oficiais, cantis, machadinhas, picaretas nossa! O que era aquilo? – Um pedido do Padre Werner ao comandante para vocês. “Enricamos” estávamos ricos. Por mais de cinco meses não faltamos às atividades da igreja de Santana. Mas nem tudo dura para sempre. As saudades das excursões, dos acampamentos, das atividades volantes, bivaques, tudo agora estava paralisado.

                        Chamamos o Chefe Bolota. Fizemos um Conselho de Tropa. Explicamos. Ele entendeu. Mas não sabia como conciliar com a igreja. O que ele diria para o Padre Werner? – Na semana seguinte chegou ele e o padre Werner no dia de reunião. Ficamos calados. Esperávamos o pior. – Escoteiros, acho que me enganei com vocês! – Putz! A barra ia pesar pensei. – Enganei mesmo. Vocês são escoteiros e a vida que devem levar é no campo e não na igreja. Vamos fazer um trato. Pelo menos uma vez por semana irão à missa. Uma vez por mês irão se confessar. Portanto nos demais dias, façam o escotismo como ele é. Aventuras, nada mais que isto! – Grande padre Werner.

                       Chefe Bolota estava conosco. Precisavam o ver cantando junto à carrocinha quando íamos para o campo. Sede? Uma vez passamos dois meses sem reunião lá. Foi na época que atravessamos as corredeiras do Rio Doce em Derribadinha. Uma aventura e tanto. Chefe Bolota caiu da jangada. Gritou não saber nadar. Vários de nós a ajudá-lo até uma grande pedra no meio do rio. Ele contava para todo mundo sua façanha e seus heróis. Não sei se ele se tornou um grande mateiro, não sei. Um ano e meio conosco nos deu a noticia – Fui aceito em um seminário. Sempre desejei ser um homem de Deus. Partiu assim como chegou. Quatro anos depois apareceu na sede. Apresentou-se como um novo padre no mundo. Rezamos com ele ali na sede uma linda missa escoteira.


                       Partiu para uma paróquia no interior de Pernambuco. Nunca mais o vi. A tropa sempre ao redor do fogo lembrava-se dele. Dávamos risadas, contávamos casos que foram repetidos por muitos e muitos anos nos fogos de conselho da vida. Chefe Bolota era figura central nas enquetes, jograis e histórias que por muitos e muitos anos aconteceram em nossos Fogos de Conselho. Sempre é bom ter boas coisas para lembrar. Chefe Bolota foi Chefe escoteiro. Pouco tempo. Mas acreditem, marcou mais que o nosso antigo Chefe Jessé. Tempos que se foram. Tempos que se dizia – Se tens uma Corte de Honra funcionando, tens uma tropa em ação. Assim éramos nós. Amigos e irmãos uns dos outros. Acampando com a Patrulha ou com todas juntas sempre riamos e dizíamos – “E quem precisa de Chefe”?

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