A
TODOS OS PAIS AMIGOS OU NÃO.
Gostaria
de escrever a história de cada um. Impossível. Impossível também colocar a foto
de todos. Sei o que é ser pai Escoteiro, viver o escotismo e dar aos filhos o
amor que eles esperam de nós. Não é fácil. Minha homenagem a todos que aqui no Facebook
compartilham de minha amizade. Sinto-me honrado em ter tantos amigos pais. FELIZ
DIA DOS PAIS CAROS PAIS ESCOTEIROS!
Ele era o meu pai
Não
tivemos um relacionamento muito próximo. Talvez pela época, onde o respeito e a
palavra senhor fazia parte do nosso vocabulário. Pequenos momentos talvez. Ele
me contou diversos fatos de sua vida. Não muitos porque se fosse hoje eu queria
saber muito mais. Não foi um pai diferente dos outros e nem tampouco
excepcional. Mas para mim foi aquele que admirei e admiro até hoje.
Quando
pequeno, não sabia o que se passava não me preocupava com o dia, a semana, o
ano. Ia à escola e depois era só brincar. Na minha casa morava eu, minhas duas
irmãs, minha mãe. Achava que éramos uma família feliz apesar de pobre. De uma
pequena cidade só lembro-me de uma casinha branca, próximo ao cemitério. Por
dentro não me lembro de nada. De outra cidade, lembro-me da casa, de madeira,
fundos para o rio e embaixo em um porão com piso de terra, alguns pobres
aproveitavam a seca do rio para ali morarem. Quando chovia o rio invadia tudo. Também
éramos muito pobres, pois em volta de uma pequena mesa, sentávamos em caixotes
para as refeições.
Graças
a Deus que nunca passamos fome. Dificuldades sim. Elas existiam e eu pequeno
não tomava conhecimento. O café da manhã, o almoço e o jantar sempre existiram.
Meu pai nesta época era Seleiro, aquele que fazia selas para cavalos e outros
apetrechos afins. Eu pequeno, 06 para 07
anos não ajudava a não ser aos sábados e domingo. Nestes dias ajudava a
engraxar os sapatos de vários clientes do meu pai. Tornei-me um excelente
engraxate. Lembro-me do Grupo Escolar, do colégio, mas não me lembro de meu pai
em momento algum me chamando a atenção ou brigando comigo. Era calmo e
ponderado. Nunca em tempo algum me encostou a mão e por muito poucas vezes
falou mais alto.
Sei
que as manas e ele com muito sacrifício compraram um terreno e construíram um
barracão em um bairro na periferia da cidade. Nele tinha o meu quarto próprio. Eu
gostava de morar ali. Apesar de não ter ainda água encanada da rua, havia uma
cisterna com uma bomba manual. Todos que tomavam banho teriam que usar a bomba
por mais de 100 vezes. Assim, mantínhamos a caixa cheia e o serviço feito por
todos. Meu pai alugou um salão próximo ao centro. Ali montou uma oficina de
rádio. Tinha estudado por correspondência e já era um perito no assunto. Achava
que meu pai era muito inteligente. Tentei fazer o mesmo curso, mas não deu
certo. Talvez porque não era bom aluno ou quem sabe não era o que queria fazer.
Após as aulas ia trabalhar com ele e ver se aprendia alguma coisa na prática.
Ele
me deixava ficar com a quantia dos serviços que realizava. Muito poucos por
sinal, mas dava para ir ao um cinema, acampar e namorar. Nesta época já trocávamos
idéias e ele com sua sapiência me mostrava algumas diretrizes da vida. Conversamos
pouco. Foi ali que alguns fatos de sua vida me foram relatados, com parcimônia
é claro. Uma de quando moramos em uma fazenda de um tio meu, eu ainda com três
para quatro anos, (não me lembro de nada a não ser da casa, pois posteriormente
passei algumas férias lá) e o que ele fazia nunca soube.
Uma
vez comentou comigo sobre a revolução de 32 (constitucionalista). Ele jovem
ainda se alistou. No inicio tudo era festa para ele e seu amigo um tal de Sebastião
Barrigada. Andaram por aqui, por ali, até que foram levados de caminhão a uma
pequena cidade já dentro do território paulista. No primeiro confronto, foi só
correria. Os paulistas inventaram uma matraca que imitava perfeitamente o
pipocar de uma metralhadora ponto 30. Quando começou o barulho foi um Deus nos
acuda. Depois virou rotina, ninguém mais tinha medo, pois já sabiam o que era. Estavam
em uma tarde em uma trincheira, deitados e o matraquear das metralhadoras
pipocavam ali e lá. Seu amigo ficou em pé e começou a chingar os paulistas e
rindo dizendo que com a mineirada eles não eram de nada. Meu pai gritou para o
Bastião deitar. Ele não obedeceu. Achava que era mais uma piada dos paulistas. Em
dado momento o Bastião deitou de vez. Meu pai disse para ele, você deita ou não
deita? E olhando viu que ele tinha um grande buraco na testa e do outro lado
pedaços de seu miolo jaziam por todo o lado. Foi de estarrecer ele disse.
Não
contou mais de sua luta, da sua militância política da revolução enfim de
muitas outras coisas que eu gostaria de saber.
Sabia que ele gostava do partido da UDN e odiava o PSD. Porque não sei. O
tempo passou. Ele ficou doente, quase morreu. Minhas irmãs o levaram para a
capital. Lá achavam que ele teria melhores chances. Depois ficamos sabendo que
era diabete. Pouco conhecida na época. Muitos anos depois, morando na mesma
cidade, aos domingos me dirigia a casa dele, passava lá o dia inteiro, mas
conversávamos pouco. Acho que não havia assuntos, mas quanta coisa poderia ter
sabido se tivesse perguntado.
Sua
vida foi sem sobressaltos. Doente, andava aqui e ali fazendo pequenas
caminhadas. O que sentia não perguntei. Devia ter perguntado. Ele nada dizia. Morreu
em uma semana qualquer há muitos e muitos anos. Fui ao enterro e chorei.
Pensava no meu pai e o quanto poderíamos ter conversado. Hoje, espírita que sou
acho que ele não deve ter tido dificuldades para alcançar um lugar melhor para
ficar. Senti e sinto falta do meu pai. Hoje com quatro filhos e muitos netos,
me pergunto por que não ficamos mais próximos. Ele era assim e eu também. Ainda
sou meio taciturno com os meus filhos. Herança? Não sei. Quero me aproximar e
não consigo. O mundo é assim. O livre arbítrio nos faz escolher caminhos que
nem sempre são aqueles que deviam ser escolhidos. Faz parte do nosso
crescimento.
Um
dia vou me encontrar com ele. As perguntas que não fiz a farei. Se as respostas
forem a que espero ótimo se não forem paciência. Este era o meu pai. Um homem
calado, bondoso, amigo que me deixou fazer o que queria. Nunca em tempo algum
me fez qualquer admoestação. Que ele seja feliz onde quer que esteja e que na
sua próxima encarnação encontre de novo a felicidade que merece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário