Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 13 de abril de 2013

Verdade seja dita Antônio. O sonho não acabou!



Lendas escoteiras.
Verdade seja dita Antônio. O sonho não acabou!

                           Quando lonyalto me procurou eu fui franco com ele. – Desculpe meu amigo, mas escotismo não é minha praia. – Vi que ele ficou chateado, claro tinha feito a sua promessa na semana anterior e estava todo empolgado. Ele achou que eu ia me interessar e entrar na tropa dele – Mas Antonio! Você está pré-julgando! – Não estou não meu amigo. O Alex foi franco comigo. Prometem a você uma coisa, te engabelam e depois você descobre que foi tudo um engodo. Ele contou tudo. E eu acreditei nele. Disse-me que o escotismo era um movimento de jovens, onde eles decidiam seus programas, claro sob a supervisão de um adulto, que eles aprendiam a fazer fazendo, que eram espetaculares suas atividades ao ar livre, que lá acampados a Patrulha fazia tudo para montarem uma réplica rústica de suas casas. Contou ainda que lá aprenderiam a subir e descer em árvores com nós que se desmancha que iriam fazer travessias em córregos e lagos por uma ponte pênsil. Quantas promessas.

                          - Não foi nada disto Antonio, Disse-me ele. Cheguei lá e vi um chefe mandão, em lugar de um irmão mais velho encontrei um sargento que achava que éramos militares. Demoramos para ir ao campo e que decepção, ele só sabia mandar correr, a dizer que o Escoteiro não corre, voa e um monte de coisas que em vez de ensinarem a gente ele é que fazia. Desisti em dois meses. Não volto lá nunca mais. Lonyalto não me respondeu de pronto. – Bem Antonio, sei de sua amizade com o Alex, mas você sabe que eu também sou seu amigo. E amigo nunca mente para outro. O Alex teve uma experiência em um Grupo Escoteiro que se esqueceu do método do nosso fundador. Nosso grupo não. Porque não vai neste sábado fazer uma visita? Passo aqui para irmos juntos. – Não podia negar o pedido de Lonyalto. Afinal éramos da mesma sala de aula e morávamos na mesma rua, acho que a idade dele era a mesma da minha. Doze anos.

                            No sábado ele passou em minha casa à uma da tarde. Disse a minha mãe aonde ia – Você vai? Ela disse. Não comentou que o escotismo não era sua praia? – Mamãe, é um pedido de um amigo. Não posso negar. A reunião começava às duas e meia da tarde. Chegamos às duas. A maioria das patrulhas já estavam lá. Cada um em um canto do pátio da sede. Fui para a Patrulha de Lonyalto, ele me presentou ao Monitor. Disse que eu estava ali para ver como era os escoteiros. Vou ser sincero, gostei do que vi. A Patrulha era de todos. As opiniões também. Vi que havia ali uma grande amizade.   O Chefe Capistrano era gente boa. Sempre com um sorriso nos lábios, sempre com a palavra nós. Nunca eu. Consultava os Monitores, deixava por conta deles alguns jogos e treinamento das patrulhas. Ele sempre junto sem interferir. Sempre com aquele sorriso. Depois da reunião me procurou – Gostou? Disse. É Chefe. Gostei.

                            Fomos para a sede. Ele me explicou tudo que deveria fazer para se matricular. Perguntou-me o que eu esperava em encontrar ali. – Amizade, fraternidade e aventura! – Ótima escolha. Se você entrar é isso que vai encontrar. Depende de você. Quando começa sua responsabilidade também começa a nossa para lhe atender. A tropa é de todos nós. Na sua Patrulha a união faz a força e todas as quatro juntas é uma força descomunal. – Só tem um porem, disse. Seu pai e sua mãe tem de vir juntos aqui fazer sua inscrição. – Não serve só um deles? Não ele disse. E olhe, é melhor preveni-los, quem vai entrar no grupo são eles, você vai ser aceito se eles estiverem juntos e cumprindo os deveres de sócio.

                           Uma pedreira. Meu pai? Ir lá? Nem que a vaca tussa! Mas não desisti. A principio disse que não iria. Insisti. Nada. Insisti novamente. Insisti a semana inteira. – Você venceu! Disse. Para ficar livre de você vou lá no sábado com sua mãe. – Comentei com Lonyalto. Ele me disse – Confie no Chefe Capistrano. Depois me conte às mudanças que vai haver em sua família. Dito e feito. Meus pais e o Chefe conversaram por horas. Até se inscreveram em um informativo para pais que durava cinco horas. – Meu pai chegou em casa e rindo disse – Agora sou mais que um pai, sou um Chefe. E deu boas gargalhadas. Enfim fui aceito no grupo. Toda aquela burocracia demorou três semanas.

                           Naquele sábado eu meu pai e minha mãe fomos apresentados a todos do Grupo Escoteiro depois do cerimonial de bandeira. Não havia como escolher a Patrulha. Só na Quati tinha uma vaga. O Monitor veio alegre me cumprimentar. Disse aos meus pais que eu estava bem “guardado” na Patrulha, eles não precisavam se preocupar. Convidaram meu pai e minha mãe a participar do grito da Patrulha em minha homenagem, pois agora começava minha nova etapa como noviço. Eu já sabia que iria demorar dois ou três meses até estar devidamente preparado para a promessa. Sabia também que só após ela iria vestir o uniforme. Sonhava com isto.

                             Após a reunião o Chefe Capistrano me chamou em particular e me disse – Antonio, você começou nova vida conosco, vai aprender a ser homem de uma maneira diferente, vai aprender a ter honra, ética vai aprender a Lei do Escoteiro. Você será outro na escola, e seu procedimento vai mudar você agora é um Escoteiro. Representa milhões de outros irmãos espalhados pelo mundo. Eles confiam em você. Espero que você seja também mais um irmão nosso. Sua Patrulha é sua segunda família. Mantenha o respeito para com eles e assim todos o respeitarão.  Estarei em qualquer hora e qualquer dia a sua disposição. Precisando, não importa se é dia ou noite, eu seu irmão mais "Velho" não vou abandonar você nunca!

                                 Nunca mais esqueci aquele dia. Meu começo no escotismo. Até hoje me sinto como um pesar de minha vida profissional não me dar muito tempo. Conto para todos os meus amigos o orgulho de ter sido um. – Um o que perguntam? – Ora, um Escoteiro meu caro, meu sonho de menino nunca acabou. Ele mantém viva a minha chama Escoteira, que como dizia meu Monitor: de BP trago o espírito, sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Uma lobinha no Vale das Flores Cinzentas.



Lendas Escoteiras.
Uma lobinha no Vale das Flores Cinzentas.

                     Sempre o dia de reunião era dia de sorriso. Quando entrou sonhava com os sábados. Dona Florência sempre a inquiria: Tininha! Volte para seu mundo! Estamos na sala de aula! – Tininha se transportava. Não importa onde estivesse. Via-se na Bandeira, no Grande Uivo. E sempre sonhando em ser chamada para hastear ou harrear a Bandeira. Ela tremia de alegria. Seu coraçãozinho batia mais forte. Mas precisava voltar para a escola. Seu espírito vinha correndo, pois quando Dona Florência dizia era melhor tomar cuidado. Tininha sentia no ar o perfume das flores. Sempre se imaginava em uma colina cheia de flores coloridas a correr junto com o vento. Seu rosto sempre desabrochando um sorriso. Na Alcatéia não era diferente. A Akelá Norminha, o Balu Gilberto e a Baguira Francisca para ela era um sonho que virou realidade. Nas reuniões ela vibrava. Cantava, sorria, pulava. E os amigos? Não eram amigos, eram irmãos lobos, pois não foi assim quem disse Kaá? – Somos do mesmo sangue tu e eu?

                      Mas um dia notaram um rosto sério, não havia mais sorriso, a alegria de Tininha desapareceu. Era como se seu lindo jardim cheio de flores coloridas tivessem todas elas se tornadas cinzentas. Esta era uma vantagem dos chefes da Alcatéia. Eles conheciam seus lobos um por um. Nunca quiseram ter uma grande Alcatéia. Mesmo assim eram dezoito. Oito meninas e dez meninos. A alegria de participar era tão grande que dificilmente alguém saia e faltar então? Os pais vinham até a sede para pedir aos chefes ajudarem, pois precisavam fazer uma viagem ou então umas férias e eles não queriam de forma alguma abandonar as reuniões, as excursões e os acantonamentos.  O que tinha acontecido com Tininha? Esperaram duas reuniões para investigar. A Baguira conversou com Tininha. Ela abaixava os olhos e não dizia nada. Só dizia que iria sair dos lobinhos.

                      Tentaram tudo para saber dela o que aconteceu. O que a fez mudar. A Baguira Francisca que morava mais perto da casa dela ficou encarregada de ir lá. Estava passando da hora. Uma função de chefes escoteiros e eles não podiam fugir. Tinham de saber o que estava havendo. Dona Helena, mãe de Tininha não foi muito educada no telefone. Alegou falta de tempo. Mesmo assim a Baguira Francisca insistiu. – Tininha não tem nada – respondeu. Ela anda meio triste e taciturna, mas vai ser por pouco tempo. – Toda criança é assim. Não havendo abertura na mãe a Baguira Francisca ligou para o Senhor Wantuil seu pai. Ele foi mais simpático. – Olhe deve ser por que eu e a Helena vamos nos divorciar. Infelizmente não temos mais condição de ficar juntos. – Pronto. Alí estava o motivo do procedimento de Tininha.

                      A Baguira Francisca sabia. Tinha sofrido na própria pele tal tipo de situação. Ainda estava sofrendo. Seu marido a deixou por outra. Não brigou, não gritou. Dizia para sí própria que tinha de levar sua vida sem ficar se lamentando. Era difícil, mas a vida era dela e de seu filho agora escoteiro. Ela sabia que as crianças são as mais vulneráveis nestas situações. Nunca entendem as situações mais complexas e ficam confusas perante o que acontece na família. Emocionalmente a consciência desabrocha e tendem a culpar-se pela ruptura familiar. Ela sabia que Tininha pensava que se tivesse se portado bem, o seu pai não teria saído de casa. A Baguira Francisca sabia que nem todas as crianças reagiam assim. Mas este devia ser o caso de Tininha.

                      Conversou longas horas com a Akelá Norminha e o Balu Gilberto. Interferir, dizer para Tininha que o mundo era assim, que ela precisa aceitar a separação, que seu pai e sua mãe a amavam e outras explicações do gênero ficaram em duvida. O melhor era deixar o tempo passar. Não podiam de maneira alguma entrar no problema da família. Não deviam nunca. O pai e a mãe dela eram adultos, sabiam o que iriam fazer. Muitos parentes e amigos já devem ter interferido e nada se resolveu. Sabiam que o escotismo é uma maneira de colaborar com os pais e não os substituir. O melhor era tentar levar Tininha de novo para o Jardim das flores coloridas. Esta era a visão dela e esta visão tinha de voltar.

                        Aos poucos o sorriso voltou nos lábios de Tininha. Aos poucos ela começou a sorrir e a ser aquela Tininha de sempre. O Balu Gilberto disse que tinha visto ela com o pai em um parque de diversões e ela gritava de alegria nos brinquedos. A separação houve. Cada um sofreu muito, mas o tempo cura feridas. No dia que Tininha recebeu o Cruzeiro do Sul só sua mãe compareceu. Mas quando ela passou para as escoteiras seu pai estava lá. A vida continuou. Tininha cresceu. Soube mudar quando preciso. Os chefes souberam agir. Sabiam que não poderiam nunca ser pai e mãe de lobos. Não era a função deles. Isto é que fez da Alcatéia uma família feliz. Todos os lobos se respeitavam, pois seus chefes eram mais que chefes, eram seus irmãos e amigos por todas as horas.

                       Nem sempre todas as situações são assim. Tem aquelas que não se muda a trilha que foi determinada pelo destino. Mas não podemos pensar em termo de desânimo em tudo. Como dizia Day Anne, planto flores no caminho, para que não me falte borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo não é o fim. É o começo!
    

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Ilha de Brownsea – o primeiro acampamento Escoteiro.



Hoje não vou postar historias, lendas e contos mas um condensado de como iniciou o movimento Escoteiro através do primeiro acampamento em Brownsea. Espero que aqueles que ainda não sabiam destes detalhes aproveitem e se divirtam.

Lembranças de Baden Powell
Ilha de Brownsea – o primeiro acampamento Escoteiro.
Ilha de Brownsea é uma pequena ilha na costa meridional da Grã-Bretanha.
“Ao lado da barraca de BP ele encravou seu bastão usado na caça ao javali e pendurou a bandeira britânica que tremulava em Mafeking”.

                          De 29 de julho a nove de agosto de 1907, vinte rapazes e Robert Baden-Powell participaram do primeiro acampamento escoteiro da história. O lugar era a Ilha de Brownsea, na baía de Poole na costa sul da Inglaterra. Sir Percy Everett, um participante do acampamento, recorda-se deste evento “Durante o verão de 1907, o Chefe gradualmente foi completando seus planos para o acampamento”. Ele teve sorte bastante para conseguir com um amigo, Sr. Charles van Raalte a cessão de uma porção da Ilha de Brownsea. A Ilha era ideal para a proposta. Ela tem aproximadamente duas milhas (3,22 km) de comprimento e uma milha (1,61 km) de largura, com muitos bosques e com dois lagos no centro e bastante do que nós chamávamos agora de “bom terreno escoteiro” e com um litoral no sudeste arenoso, onde o campo foi montado.

                      "Eu proponho", escreveu Robert Baden-Powell, "fazer uma acampamento com 18 meninos escolhidos para aprender "scouting" por uma semana nas férias de agosto... O acampamento, por gentil permissão de C. Van Raalte, será realizado na Ilha de Brownsea...".

                     Como qualquer chefe escoteiro depois dele, continuou sua carta destacando o adestramento que pretendia dar aos meninos e assegurando aos pais que "todo o alimento, cozinha, higiene, etc..., seria cuidadosamente observado". Incluiu uma lista de roupas e do material necessário para acampar. Pediu que cada menino viesse para o acampamento sabendo o uso de três nós simples - nó direito, escota e volta do fiel - e providenciassem esboços dos nós que pudessem não saber. Baden Powell com jovens na Ilha de Brownsea. Em conclusão ele escreveu: "Se você deseja enviar seu filho para o acampamento nestas condições, por favor, avise-me e enviarei detalhes de como treiná-los, etc.".

                    Poucos dias mais tarde - em 17 de junho de 1907 - ele enviou convites semelhantes para as Companhias das Brigadas de Meninos de Bournemouth - para escolher seis de seus membros, e para as Brigadas dos Meninos de Poole - 3 de seus membros, para juntar-se a ele - meninos de escolas secundárias, meninos de fazendas, filhos de famílias da classe operária.
Os convites para ir acampar com o famoso general Robert Stephenson Smyth Baden-Powell foram aceitos com entusiasmo. Quem não gostaria de passar uma semana com o "Herói de Mafeking"? - O apelido que Baden-Powell ganhou como defensor da sitiada Mafeking durante a guerra dos Boers, na virada do século!
Ele convidou um de seus velhos companheiros de armas, o Major Keneth McLaren para que o acompanhasse como assistente.

                 O Chefe escolheu os rapazes, vinte no total, filhos de amigos de Eton, de escolas públicas, garotos pobres da zona leste de Londres e alguns alunos da escola secundária das vizinhanças de Bourenmouth, que foram recrutados pelo Sr. G. W. Green, de Poole, um homem que por anos trabalhou com escoteiros na sua cidade natal. Os jovens foram divididos em quatro patrulhas: Corvos, Lobos, Maçaricos e Touros (assim estes foram os primeiros nomes usados por patrulhas escoteiras).

                As patrulhas acampavam por sua conta, sob a direção de seus próprios monitores, com total responsabilidade pela sua honra de levar adiante os desejos do Chefe e com grande eficiência. Mas as memórias mais vividas de todas eram os fogos de conselho, antes das orações e do apagar das luzes. Ao redor do fogo à noite o Chefe nos contava algumas histórias assustadoras, conduzia ele mesmo o canto Eengonyama e com seu jeito inimitável atraia a atenção de todos.

Eu ainda posso vê-lo como ele ficava diante da luz, alerta, cheio de alegria e de vida, um momento grave, outro alegre, respondendo todas as questões. Imitando o chamado dos pássaros, mostrando como tocaiar um animal selvagem, contando uma história curta, dançando e cantando ao redor do fogo, mostrando uma moral, não apenas em palavras, mas usando histórias e convencendo a todos os presentes, rapazes e adultos, que estavam prontos para segui-lo em qualquer direção”.


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Quinzinho, um amigo de verdade.



Conversa ao pé do fogo.
Quinzinho, um amigo de verdade.

                           - Eu juro palavra de Escoteiro que não fui eu! – Mas você estava lá, disse que não podia ir conosco, pois estava com o pé doendo, se ofereceu para tomar conta do campo na nossa ausência. Nós confiamos em você e agora disse que dormiu? – Tico, por favor, eu dormi um soninho de nada! – Tico olhou para os outros Monitores e para o Chefe Darli. Ele mesmo como presidente da Corte de Honra não sabia que atitude tomar. Estavam em reunião da Corte há mais de uma hora. Marlon sempre foi um bom Escoteiro. Mais de dois anos na tropa, mas por duas vezes em um acampamento na fazenda do Seu Jorginho alguém entrou no acampamento e roubou todos os víveres. Tiveram de voltar. Na primeira vez Marlon deu a mesma desculpa, mas duas vezes é demais. – Espere lá fora Marlon. Vamos deixar a Corte de Honra decidir. Chefe Darli não dizia nada. Deixava que os Monitores tomassem as decisões a não ser quando ele via que alguém poderia ser prejudicado o que não era o caso.

                              Meia hora depois Marlon foi chamado. – Foi Tico quem deu a sentença – Marlon, infelizmente você foi suspenso por trinta dias. Achamos que não foi você quem tirou os mantimentos, mas alguém foi e por sua culpa. A tropa Escoteira ficou desolada. Acharam que Marlon não merecia a suspensão. Mas o Chefe Darli explicou que cada um de nós temos que assumir nossas responsabilidades e se algum acontecer não podemos fugir as nossas  culpas. Eu estava como Sênior na época. Tinha seis meses que fizera a passagem. – Quem seria o culpado? Quem tirou os mantimentos? – Metido a detetive, pois naquela época começaram a pipocar nas bancas livros de bolso e eu um leitor inveterado achei que tinha por obrigação de descobrir. Primeiro – Os roubos foram todos na Fazenda do Seu Jorginho. Segundo -  Marlon acampou em outros lugares e nada aconteceu. Terceiro - O local era longe da fazenda e impossível alguém de lá ir ao campo para isto. Quarto, melhor ir lá acampar e ver. Dito e feito. Mochila nas costas eu e o Gentil partimos em uma sexta a noite com as nossas bicicletas.

                            Combinamos eu e o Gentil o que fazer. Barraca armada, intendência pronta, toldos nos lugares e o Gentil partiu como se fosse fazer uma jornada de Primeira Classe. Eu fiquei encostado em uma seringueira a dormitar. Ou seja, fingia dormitar. Caramba! E não é que dormi mesmo? Acordei com tudo mexido na intendência. As linguiças, a farinha, meia dúzia de bananas, quatro laranjas, feijão cozido (levamos de casa) tinham desaparecido. Gentil não deu trégua. - O detetive de araque dormiu? - Fazer o que. Em volta da intendência nenhuma pista. Procurei até o bosque e nada. Voltamos para a cidade. Na semana seguinte voltamos. Eu não era de desistir fácil. À tarde, sonolento (fingindo) fui deitar na sombra da seringueira. E foi então que avistei o famigerado ladrão de comida. Desta vez ele não ia escapar. Atrás do bosque ele veio de mansinho, cabeça baixa, levantando e abaixando como se estivesse cansado. Nada mais nada menos que um Macaquinho carvoeiro. Um pobre coitado, magro pelagem caindo e um olhar triste, pois só andava de cabeça baixa.

                            Não caminhava em linha reta. Parecia não ver o caminho ou como se estivesse com sono. Entrou na intendência e eu atrás. Peguei-o pelo rabo. Guinchou alto. Um berreiro tremendo, tentou correr e se soltou da minha mão. Correu a esmo e bateu a cabeça em uma árvore na entrada do bosque. Porque não subiu em uma árvore? Pensei. Ele ficou grogue. Levei-o no colo até ao acampamento. Gentil chegou e deu belas risadas do ladrão de comida. – Melhor soltá-lo, veja – disse – está sozinho e seu bando? Realmente ele estava só. Nessa hora acordou. Levantou e vi em seus olhos manchados de vermelho que ele não olhava para mim. Só para os lados se virando sem parar. – Cego! Isto mesmo. O macaquinho era cego. Abandonado pelos seus. No bando se não podia se virar não podia ficar.

                            Resolvemos ajudar. O levei para minha casa. Foi sem reclamar. Dócil muito dócil. Havia uma seringueira enorme. Ele adorou. Todos os dias dava para ele um pouco de arroz e feijão, bananas e laranjas. Ele adorava. No sábado na reunião comuniquei ao Chefe Darli quem era o ladrão. Ele sorriu – Olhe Vado, eu sabia que o Marlon não tinha roubado comida. Isto não. Mas ele foi negligente. Isto um dia poderia prejudicar muitas pessoas. Melhor ele aprender agora a ser responsável com suas obrigações. Concordei com o Chefe. Levei Quinzinho (novo nome que eu e o Gentil colocamos nele) o macaquinho para a sede. Nós os seniores construímos um ninho de águia para ele em duas mangueiras que existiam lá. Paradoxo, um macaco em um ninho de águia. Todos nós levávamos comida para ele. Precisavam o ver nas reuniões, pulava, guinchava, gruía e fazia mil piruetas. Mesmo cego sabia que tinha amigos protetores. O seu bando o deixou e o bando dos escoteiros o adotou.

                        Aprendeu de tudo. Ensinaram-no a fazer a saudação. Vinham pessoas da cidade só para o ver fazendo a saudação, marchar, pular nos gritos de Patrulha. Ele conquistou um amigo, o maior amigo que já teve. Nada mais nada menos que Marlon. Sei que no Grupo Escoteiro ele ficou até morrer quinze anos depois. Nunca voltou a enxergar, mas agora sabia que seriam seus amigos. Estava em casa. Vivia feliz. Tinha uma nova família. Eu mesmo fiquei pouco tempo no Grupo Escoteiro. Meu pai doente foi para a capital e eu fui também. Mas sempre recebia uma carta, um telegrama falando de Quinzinho. Soube que ele não perdia um acampamento ou atividade extra sede. Acredito que todos que o conheceram nunca o esqueceram. Assim como foi comigo acredito que ficou gravado no coração de todos os escoteiros que o conheceram.

                       Ops! Não posso esquecer. Marlon juntou dinheiro, muito na época e comprou uma macaquinha fêmea que dizem jurou fidelidade para sempre a Juquinha. Que os digam o Prince, Caledônio, Naninha e a própria esposa Juquita, quatro macacos carvoeiros que pelas noticias que recebo estão morando na sede até hoje!     

terça-feira, 9 de abril de 2013

É impossível dizer adeus!


Conversa ao pé do fogo.
É impossível dizer adeus!

                        Olhe, vou lhe contar, se fosse em outra ocasião ou lugar eu tinha partido para a ignorância. Aquele Chefe merecia uns tabefes, ah! Se merecia. Afinal não adianta dizer – Vocês são escoteiros, mesmo sendo chefes tem uma promessa cumprir. Existe uma lei, uma norma de conduta! – Bonito isto, eu mesmo acho, mas o Chefe estava passando da conta. Fiz o que consegui fazer. Virei às costas e fui embora. Juro são irmãos palavras e mais palavras. Por Deus chefe me deu vontade de sair do escotismo. A gente lê tantas palavras bonitas, uma filosofia que encanta e vem um “Zé Ninguém” e joga tudo por terra. - O pior chefe é que eu tenho o escotismo na mente, na alma e no coração e o Senhor sabe, assim é muito difícil, ou melhor, impossível dizer adeus!

                        - Mas o que houve? Perguntei. Estava boiando. Ele ali na minha frente vermelho, abrindo o verbo contra alguém que pelo que já tinha ouvido devia ter aprontado poucas e boas com ele. Não tínhamos muita amizade a não ser um cumprimento ou um abraço fraternal. Sempre quando voltava do meu trabalho, o ônibus da empresa me deixava no centro da cidade. Dava uma passada rápida no Escritório Regional e no caminho do ônibus do meu bairro não deixava de dar uma parada no Bar do Grilo. O melhor chope da cidade e uma empada de camarão sem igual. Sentei e logo ele sentou ao meu lado. Cumprimentos de praxe e ele soltou o que estava preso. Precisava desabafar. Sou bom ouvinte. Falo pouco. Deixo a própria pessoa achar sua conclusão. Muitas vezes isto não acontece e então dou meus pitacos.

                          - Pois é Chefe, continuou- Eu nunca fui com a cara dele. Parece saber de tudo mais que os outros. Quando conversava era o meu grupo, os meus chefes, os meus Monitores, os meus lobinhos os meus escoteiros. Caramba Chefe parecia que ele era o dono de tudo. Um dia perguntei quanto custou tudo isto e se pagou a vista ou cartão de crédito. Foi um Deus nos acuda. A rusga vinha de longe. E olhe, ele não é único em nosso movimento. Sempre dou um “tropicão” em um ou outro igual a ele por aí. Nosso movimento tem cada tipo de tirar o chapéu. Quando eu sabia que ele estaria presente em alguma atividade eu evitava ir. Encontrar com ele seria o fim do mundo. Um “garganta” e que “garganta”. Dono da verdade. Só ele sabia. Era daqueles de dizer “a verdade dói”.  Um dia me perguntei: E se ele terminar sua Insígnia? E se ele for convidado para ser um Assistente distrital ou regional? – Até pensei nos pobres coitados que entram e ele passa a ser seu assessor pessoal. Chefe, juro, se isto vier a acontecer saio do escotismo na mesma hora!

                            Tudo piorou no ultimo encontro de chefes escoteiros do distrito no Grupo Escoteiro Vale do Amanhecer. O distrital queria discutir algumas atividades Inter tropas e eleger um Assistente Escoteiro. Reunião simples sem pompa. E não é que o Talzinho foi de uniforme? Todo cheio de si e colocou todas suas estrelas de atividades. 12 anos. Sim Chefe a figura tinha doze anos de movimento. Putz Chefe verdade! Este tempo todo e não aprendeu nada. Que reunião minha nossa! Só ele falava, só ele sabia, queria dar ordens, dizia o que tínhamos de fazer. Uns jovens da tropa dele já tinham reclamado. O “Moço” Chefe só sabia dizer: Suspenso por uma semana. Suspenso por três meses. Quem chegar atrasado vai pagar cem joelhos quebrados. Não quero ver sua cara mais aqui! Coitados dos jovens daquela tropa. Muitos amavam o escotismo e não queriam sair. Mas eram menos de dez participantes ativos.

                             Já tinha terminado o meu chope e minhas duas empadas. Deliciosas. Não dava para escapulir. Queria chegar cedo em casa. – Escotismo! Ah! Escotismo o que você nos faz sofrer eim? – E ele nem desconfiou, nem pediu um chope, nada só falava e reclamava. – Pois é Chefe. Todos querendo dar sugestões e ele não deixava. Quando um começava ele pedia a palavra e mudava tudo. Não aguentei mais. Levantei-me e fui até ele: - Meu caro, só você é o dono da verdade? Só você conhece? Só você sabe? Fomos convidados para debater e não ouvir você com esta voz de jacaré azedo e estilo de Pavão empanado! – Chefe, foi à conta. Ele levantou e veio para cima de mim. Preparei-me. Sabia que aquilo iria acontecer. Ele se encostasse a mão em mim ia receber o dele. Olhe, não sou lutador, mas ele ia ver quem eu sou!

                           - Mas Chefe, quer saber? Todo mundo queria que eu desse uns sopapos nele. Eu sabia que ninguém aguentava mais participar com ele presente. Quem sabe iria sair do escotismo e nós ficarmos livres deste pamonha? – Mas não Chefe. Sabe o que aconteceu? Não vai acreditar ele levantou de um salto, foi bem em cima de mim, me ofereceu a mão esquerda, e me pediu desculpas. Desculpas Chefe! Isto mesmo! Não sabia o que falar, dizer e nem esconder minha cabeça naquela hora. Precisa de uma areia para cobrir tudo! Depois ele se dirigiu a todo mundo e pediu perdão. Prometeu que ia mudar. Jurou fazendo a saudação escoteira! E agora Chefe? E agora? Quase dez anos aturando sua soberba e seu estilo de mandão o que eu devo fazer?

                            - Dê tempo ao tempo. O tempo é nosso melhor amigo. Quem sabe você tem muito a dar ao escotismo e ele também? Um homem que chega ao ponto de pedir desculpa e perdão não merece mais uma oportunidade? Pedi desculpas a ele dizendo que a família me esperava. Nos demos as mãos, sempre alerta e ele para um lado e eu para outro. Pensei comigo. Acho que valeu a pena minha conversa a pedido do distrital com o talzinho dono de tudo. – Quer ser um dos nossos? É bem vindo! Quer ajudar os meninos? É bem vindo. Mas não me leve a mal, se alguém reclamar de você em uma reunião onde estiverem outros escotistas e este alguém perder as estribeiras com você, não tem perdão. Vou pedir para você sair. Se não vou tomar outras providencias!

                           Cochilei no ônibus. Cheguei a casa era mais de dez da noite. Celia me olhou de cara feia. Ela tinha razão. Disse para mim mesmo: se chegar a casa tarde mais uma vez vou pedir para você sair do escotismo, se não vou tomar outras providencias. Ah! Esta vida de comissário não é fácil. Mas cada um escolhe seu caminho e eu escolhi o meu! E cá prá nós, como é difícil no escotismo dizer adeus!          

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Micoçar o Charreteiro e o Comissário Escoteiro Viajante.



Lendas Escoteiras.
Micoçar o Charreteiro e o Comissário Escoteiro Viajante.
(uma história baseada em fatos reais)

                Tem dias que a gente fica assim meio “paradão”, vontade de fechar os olhos e não fazer nada. E o pior é que nestes dias as lembranças surgem e até a gente dá boas risadas com o passado. Micoçar tinha uma charrete. Transportava pessoas. Naquela época eram chamadas de “freguês”. O termo cliente surgiu tempos depois. Se não me engano eram uns vinte charreteiros. Viviam disto. Quase não existia taxi na minha cidade. Eles eram educados. Na estação da estrada de ferro formavam uma fila educadamente e ninguém atravessava o outro. Eu nos meus dezesseis anos conhecia todos eles. Micoçar era o mais conhecido por oferecer rosas às moças que alugavam sua charrete.

                 Um dia ele apareceu na sede Escoteira. Na sua charrete um “freguês”, ou melhor, Chefe Escoteiro. Desceu e garboso se apresentou: - Sou o novo Comissário Escoteiro Viajante nesta região. Chame seu Chefe. Caramba! Nosso Chefe era o Chefe João. Só ia a sede uma vez por mês. Sargento da policia militar. Gente boa. Um segundo pai para mim. Mas nossas reuniões não são como hoje. Sem aqueles programas de Bandeira, oração, inspeção, chamada, jogos. Éramos duas patrulhas sêniores a Gavião e a Elefante. Só bem mais tarde foram alterados os nomes de patrulhas seniores para pessoas ou locais históricos. Não sei se o que fazíamos era o certo, mas dos treze seniores só um tinha entrado como escoteiro os demais vieram dos lobinhos. Romildo Monitor pediu ao Chiquinho para leva-lo a casa do Chefe João.

                  À tarde daquele sábado fomos chamados a casa dele. Ele estava sério. - O Comissário quer fazer uma reunião para mostrar como se faz. Disse que o que viu vocês fazendo estava errado. Exigiu que eu estivesse presente. Se não fosse Escoteiro eu teria mandado prendê-lo. Arrogante o moço. Eu não vou, mas vocês todos devem ir. A reunião ficou marcada para domingo pela manhã. Em frente à sede e atrás do Cine Pio XII. Havia um campinho de futebol onde nos reuníamos. Ele queria a tropa Escoteira, mas ela estava acampando na Caverna do Macaco próximo ao Rio Doce. No domingo lá estávamos. Ressabiados. Não sabíamos o que ele ia aprontar. Chegou como sempre com o Micoçar. Ele alugava a charrete pelo dia inteiro. Apresentou-se a nós – Sou Chefe Escoteiro do grupo tal. Como hoje viajo muito como representante comercial (conhecíamos como caixeiro viajante) fui nomeado Comissário Viajante para ensinar aos grupos da minha área como fazer escotismo e exigir o registro de cada um de vocês!

                 Assim ele começou a reunião. Tudo nos padrões que hoje conhecemos. Eu mesmo dei muitas sessões em cursos falando sobre isto. Não estava errado. Mas aprontou uma correria que nos deixou perplexos. Queria a todo custo fazer uma competição entre nós. Éramos amigos. Nunca gostamos disto. Nenhuma Patrulha era mais que a outra. Até ai tudo bem. A missa acabou e um mundão de gente ficou ali nos olhando. Nesta hora ele resolveu cantar uma canção. Hoje muito apreciada e até adoro cantar. Mas naquela época? A Piaba. Sai, sai, sai oh piaba saia da lagoa. E quem entrava na roda dava uma umbigada e tinha que rebolar. O povo todo em volta dando risadas. Nós vermelhos de vergonha. Na minha vez entrei rebolei um pouco e sem querer olhei para o Micoçar que ria a valer e gritava baixinho; - Telirio! Telirio! Para quem não sabe esse coitado (desculpe o termo) era o único Gay conhecido da cidade. Quer comprar uma briga? Chame o outro de Telirio. Desisti. Romildo também. O povo morrendo de rir. O chefão gritando: - voltem todos. Não dispensei ninguém!

                 Coitado. E quem obedeceu? Ficamos ali de braços cruzados morrendo de vergonha por ficar rebolando. O pior que hoje quando lembro penso comigo como eram os tempos passados. Hoje adoro cantar a Piaba e rebolar. Risos. Ele saiu com Micoçar e foi direto a casa do Chefe João. Micoçar olhou para trás rindo e falou baixinho para mim – Telirio! Oh! Vontade de esmurrar o Micoçar. Só sei que ele falou cobras e lagartos com o Chefe João. Ameaçou fechar o grupo. Ameaçou tanto que o Chefe João o pegou pela camisa, o arrastou até a Charrete de Micoçar e disse – Suma! Se aparecer na minha frente de novo deixo você uma semana no xilindró! Dia seguinte o Chefe João nos contou toda a conversa. Disse que não tínhamos seniores. Sim um bando de indisciplinados (até certo ponto com razão). Exigiu que se fizesse um Conselho de Tropa e destituísse ambos os Monitores. Disse que enquanto não fizermos tudo isto o grupo nunca seria registrado.

                  Interessante. Nunca fomos registrados. Nosso grupo tinha mais de trinta anos de atividade e nunca fizemos registro. “Belle Époque”, outros tempos. Uma Segunda Classe suada. Primeira Classe? Não era para qualquer um. Um orgulho do caqui curto. Orientar com os ventos, com a lua, com as estrelas e as constelações. Pescar para comer na hora, armadilhas de pássaros para um bom assado. Comer mandioca do mato, aipim. Uma sopa de capim gordura. Bananas verdes fritas na brasa. Bundinhas de Tanajura na panela estouravam como pipocas. Risos. Nunca desistíamos do escotismo. Tinha pena dos novatos. Quase não havia vaga. Trinta e seis lobinhos onde só podia ficar vinte e quatro. Cinco Patrulha de oito onde deveriam ser quatro. Sênior? Este sim. Não era para qualquer um. Duas Patrulhas só. Cidade pequena. Nesta idade a maioria dos rapazes estouravam a idade na tropa e tinham de trabalhar. Serem aprendizes. Não existia a Semana Inglesa. (parar aos sábados ao meio dia).

                   Outro escotismo? Pode ser. Escotismo do campo. Sem chefes. Só os monitores indo e vindo. Viver na natureza. Olhando as flores desabrocharem. Colocando os pés na água fria e cantar baixinho – Ah! Que gostoso! Olhar o sol caminhando para o oeste e dizer – É para lá que vamos! Hoje não dá mais. GPS, ele lhe mostra tudo. O Chefe ali com você. Alguns fazendo tudo. Você não precisa pensar. Nem calcular mais se precisa. O Google lhe dá as respostas de tudo. Tabuada? Ficou na história. Um celular ou um smartphones para quando der uma parada na jornada entrar no Facebook. Ver os e-mails. Isto sim é moderno. Olhar os pássaros? Os animais? Descobrir novos caminhos? Quem sabe olhar a abóboda celeste e descobrir as estrelas? Ver um cometa riscando os céus e saber de qual constelação estavam vindo ou indo? Nada disto. Tudo mudou e para melhor. Nesta época moderna não cabe mais um Romildo, um Jessé, um Taozinho um Israel ou mesmo um Micoçar ou eu mesmo. Belos taxis hoje. Uma charrete só como peça de museu.

E sabem? Eu e Micoçar anos depois nos tornamos grandes amigos. O tal Comissário alugou sua charrete por dois dias e não pagou. Foi embora e deu o cano. As patrulhas fizeram uma “vaquinha” e pagaram em suaves prestações. Sua charrete me levou a belos lugares por vales e rios desconhecidos. Charretes! Também foram engolidas pela modernidade. Pelos novos tempos!

Ei você? Ainda não é Escoteiro?


                                 

Ei você? Ainda não é Escoteiro?

Hoje acordei nostálgico. Vivo falando e comentando sobre o movimento escoteiro. Sempre foi assim desde que entrei nos longínquos anos de mil novecentos e quarenta e sete. Passaram-se muitos anos. Eu ali firme. Setenta e dois anos! Tanto tempo assim? Tantas mudanças! Mas o amor ao escotismo? Continua o mesmo. Isto faz parte de todo nós que nos orgulhamos do que somos. Leio aqui e ali alguém dizendo que “não tenho vergonha de ser Escoteiro!”. Vergonha? – Nunca! Eu tenho é orgulho e alardeio aos quatros ventos: - “Escoteiros de todo o mundo! Que os ventos do norte, que os ventos do sul do leste e do oeste, façam com que eu e todos os meus amigos escoteiros possam ir como os pássaros a buscar o sol na montanha desconhecida”. Será lá que iremos mais e mais nos orgulhar do nosso passado escoteiro.
Sempre quando leio aqui algum parecido, dando a impressão que somos um movimento arredio, gosto de publicar o artigo que fiz há muitos e muitos anos. Este é o escotismo que amo e tenho certeza todos os escoteiros do mundo!

Amigo, o que é isto? Você é Escoteiro? - Não diga!
    
       Ah! Meu amigo sou sim, com muito orgulho. Estou aprendendo a ser alguém, para que todos que me amam possam um dia orgulhar. Aprendo que o caráter é importante em cada um de nós. Que ser leal é ponto de honra, e minha palavra? Sim é sagrada. Estou aprendendo que a honra faz parte dos honestos. Que a ética é mais que tudo. Aprendo tantas coisas que cada dia que passa mais me orgulho de pertencer ao escotismo.

       Acho que você não sabe, mas são tantas coisas maravilhosas que acontecem comigo, que hoje sei que a felicidade pode ser alcançada e eu a alcancei. Sou um privilegiado por Deus em estar aqui. Sabe, já vi um céu estrelado deitado na relva, em volta de uma fogueira cheia de amigos e amigas. Ali vi as constelações, um cometa que passa, e isso mais e mais me leva a certeza que o escoteiro é puro nos seus pensamentos, nas suas palavras e nas suas ações.

      Gostaria que um dia, pudesse junto comigo dormir sob as estrelas! Ver o sol nascer e ele se pôr ainda vermelho no horizonte deixando uma marca profunda em nossos corações. Quem sabe um dia vai poder saborear o cheiro da terra molhada, do perfume das flores silvestres, do som maravilhoso da passarada, do piar da coruja em um carvalho qualquer. Ver o lenho crepitando em uma bela fogueira onde todos riem, cantam e vão vendo as fagulhas subirem aos céus, languidas e serenas até que a aragem leva-as para longe.

      Olhe, é lindo ser do escoteiro. Acho que é um privilégio de poucos. Quando vejo a chuva caindo em uma floresta, sinto o som imperdível aos ouvidos de um velho mateiro. Saiba que temos uma ternura imensa com a natureza. Para nós é fácil encontrar o Norte e o Sul, seguir a sotavento, sentir o vento no rosto, descobrir as flores desabrochando nas campinas verdejante. É, podemos tirar o calçado e molhar os pés nas águas geladas de um belo riacho. Sentar e tirar uma soneca em uma grande e frondosa árvore e podemos olhar em volta e sentir o cheiro da relva cujo vento sopra com amor em nossa face. E nada mais maravilhoso que chegar ao cume de uma montanha e ver o horizonte! Um espetáculo imperdível meu amigo!

      Mas olhe, não sei se terá a oportunidade de ter o que temos. Aqui aprendemos que o medo é próprio dos fracos. E é preciso ter coragem e amor para conviver em uma vida saudável junto dos demais escoteiros. Se um dia quiser, quem sabe, você pode até entrar em um Grupo Escoteiro. Mas lembro a você que qualquer um pode entrar, mas é importante saber que ser escoteiro não é para qualquer um!

     Se resolver mesmo, seja bem vindo. Espero que você seja mais um irmão de tantos milhões espalhados pelo mundo. E quando for, vai saber que o nosso fundador Baden Powell disse que aqui, somente os valentes entre os valentes se saúdam com a mão esquerda. E pode acreditar que você será muito bem recebido, pois nós escoteiros somos amigos de todos e irmão dos demais escoteiros. Seja bem vindo meu amigo!

Coloque sua mochila, cante uma canção, dê um belo sorriso e parta conosco nesta grande aventura!

domingo, 7 de abril de 2013

Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.



Conversa ao pé do fogo.
Memórias de um Mestre Cuca Escoteiro.

            Eu não sei por onde ele anda agora. Dos sete magníficos da Patrulha Raposa muitos já foram para o grande acampamento. Um deles está vivo, bem velhinho lá pelas bandas do Vale do Rio Doce. Passaram-se anos. Muitos. Lá pelos idos de 1950 quando os conheci. Desculpem só três, pois os demais foram lobinhos comigo. Era uma Patrulha recém-formada. Surgiu uma amizade que marcou a todos nós profundamente. Uma época que o intendente se orgulhava do seu cargo. Do Escriba que não deixava uma ata sem fazer. Do bombeiro e lenhador ali na cozinha não deixando nada faltar. Do socorrista sempre pronto a passar uma pomada “Minâncora”, onde ela anda hoje? Destes todos o mais importante era o cozinheiro. Nenhuma Patrulha neste mundo pode ficar sem ele. Para dizer a verdade é a alma da Patrulha. Faz ela andar, correr, brincar, sorrir e amando como nunca um acampamento mesmo que debaixo de uma tremenda tempestade.

              Fumanchú era seu apelido. Se não me engano seu nome era Sebastião Felisberto da Silva. Era negro. Bem atarracado. Cortava os cabelos rentes e tinha uns enormes olhos negros que podiam observar tudo ao seu redor. Fui a sua casa muitas vezes. Sua mãe trabalhava como cozinheira do Hotel Condor. Acho que foi aí que ele aprendeu. Desde pequeno ficava muito sozinho em sua casa. Eu não sei hoje, mas naquela época a gente ficava pedindo a mãe para nos ensinar a arte da cozinha. – Mãe me ensine a fazer arroz, uma sopa, um feijão, assar uma carne, fritar peixes e assim íamos aprendendo, pois nem sempre poderíamos contar como Fumanchú. Cada um de nós “quebrava o galho”, mas o dono da cozinha mesmo era ele.

             Andam dizendo por aí que nos acampamentos os escoteiros comem matinho, arroz com fumaça, feijão queimado, carne torrada e assim por diante. Brincam e dizem que era e é assim e eles gostam. Lembram-se sempre dos seus célebres almoços e jantas e sorriem quando pensam como era gostoso acampar. Sem sal e sem gordura. Acho que os meus não foram assim. Fumanchú sempre se esmerou. Seu arroz era soltinho, seu feijão inteiro com farinha de milho ou de mandioca não tinha igual. As sopas que fazia então? Era só dar para ele alguns maxixes, uns lambaris gordinhos e pronto. A sopa de maxixe dele era de arromba. Como sabia improvisar. E um guisado de rolinhas? Ou de um tatú? Na brasa Fumanchú era invencível. Fazia um frango no barro como ninguém. Piriá, ariranha tudo ele dominava e nos fazia feliz. Uma vez matamos um Caititu, espécie de porco do mato e Fumanchú nos esperava de uma jornada para buscar frutas na fazenda do Seu Totinho, com o mais gostoso churrasco que já comi. (lembro aos meus leitores que era outra época).

           Cozinheiro não é só cozinhar. Tem de saber improvisar. Fumanchú era assim. Sabia como ninguém fazer um fogão suspenso. Dos bons. Da sua altura nem mais nem menos. Fogão Tripé, estrela, tropeiro e outros eram feitos assim em segundos. Cozinhava em qualquer hora. Em trilhas quando parávamos nas nossas jornadas. Em ribanceiras perigosas, com chuva fina ou não. Acender fogo? Era bamba! Podia contar no dedo até trinta e o fogo logo estava crepitando. Que chovesse canivete, mas o fogão do Fumanchú sempre soltava sua fumaça e fumaça em fogão no acampamento é motivo de alegria e felicidade. Seus bolinhos de chuva, de polvilho, bolinhos de milho, doce de manga, de laranja de goiaba e seu doce de mamão nunca esqueci! E olhe tudo improvisado no acampamento.

            Poderia ficar horas aqui falando do Fumanchú. Das poucas e boas que nos aprontou. Dos causos que contava após o almoço ou jantar e muitas vezes nossos estômagos não aguentavam. No frio ele nem esperava chamar. Seu fogo espelho era nota dez. Podíamos dormir na barracas sem manta ou cobertor. Saudades do Fumanchú. Do seu sorriso enorme, dos seus dentes grandes, do seu pescoço enorme e do seu coração... Grande demais para a gente esquecer. Saudades mesmo. Bela época. Época que já se foi. Agora só a memória para lembrar.  Se você que me lê tem um assim em sua Patrulha, não esqueça, abrace seu cozinheiro. Ele é a razão de um bom acampamento. E depois quando ficar na minha idade, irá lembrar com muita saudade dos tempos que viveu. E para terminar, você meu amigo escute bem, faça assim como eu também. Vá divertir-se o ano inteiro, entrando em um grupo de escoteiros e irás viver o que eu já vivi!