Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 20 de abril de 2013

As mil e uma noites de um acampamento de verão.



Conversa ao pé do fogo.
As mil e uma noites de um acampamento de verão.

                              Chefe! Oh Chefe! Galo não tem dente! Eu falava e morria de rir. – Aquele tinha e olhe uma dentadura de fazer inveja. Dentes enormes. Eu ria todos nós riamos. Alí na beira do Riacho Grande nos encantávamos com as historias do Chefe Joe. Na cidade o chamavam de Comandante. Todos o respeitavam muito. Meu pai disse que ele foi piloto da F.E.B (Força Expedicionária Brasileira) e pilotava um P.51 – Mustang. Meu pai dizia que ele tinha muitas histórias para contar das esquadrilhas e ele ria quando diziam para ele – “Senta a Pua”. Ele sabia que isso significava que o piloto tinha coragem e que na hora da disputa aceleravam o avião o mais rápido possível. Tudo mudou depois que ele chegou. A tropa pequena, muitos escoteiros saindo, o nosso Chefe de grupo não sabia o que fazer. Chefe Nelson não quis mais ficar e não tínhamos ninguém. Nem sei como convidaram o Chefe Joe. Ele já estava entrando nos seus cinquenta anos. Loiro, alto e magro, cara lisa sem bigodes, cabelos embranquecendo, andava meio curvado apesar de ainda ser bastante esperto.

                                Naquela noite de verão a nossa Patrulha de Monitores estava acampada ha dois dias as margens do Riacho Grande. Cada dia mais nos divertíamos. O Chefe Joe tinha tudo para nos atrair. Ele era demais. Isto não existia antes. No grupo o Doutor Mamede o Chefe do Grupo estava preocupado. O Chefe Joe deu férias para todos os escoteiros, ou melhor seis deles pois ficou com oito. Dizia que sem bons Monitores e subs não podia haver uma tropa escoteira. Eu estava lá, não era Monitor nem sub mas fui escolhido. Adorava o Chefe Joe. Chegava a sonhar com ele. Mudou tudo na tropa. Pouco ficávamos na sede. Era excursão, jornadas, bivaques e acampamentos. Cada um mais gostoso que o outro. Aprendemos com ele cada técnica mateira que nunca sonhávamos. A arte do uso do cipó foi por nós absorvida a ponto de abandonarmos inteiramente o sisal.

                               Passava das dez da noite. Uma brisa gostosa e o fogo se mantinha aos trancos e barrancos. Um céu estrelado mas nossos olhos estavam fixos no Chefe Joe. – Continuando, Ventania tinha dentes, tinha mesmo. Podem acreditar. Ele me olhou e eu olhei para ele. Precisava dos ovos e ele era o dono do galinheiro. Ficamos encarando um ao outro. Caminhei até o primeiro ninho e ele me deu uma mordida na perna e uma esporada no braço com sua perna direita. Sua espora era enorme – Olhei para ele e disse - Quer briga? Vais ver com quem está se metendo! Sou um Comandante! Estive na guerra! Um galinho de nada me desafiando? Levantei os dois braços, preparei para lhe um soco e ele de novo me deu outra esporada. A galinhada no galinheiro fazia uma anarquia danada. Galo maldito! Josenilton devia saber aonde ia me meter. Ele érea o dono do galinheiro. Comprei duas dúzias de ovos e ele disse estar com pressa – Vá lá ao galinheiro. Tem muitos ovos. É só pegar.

                              A Patrulha rolava de rir. Precisavam ver como o Chefe Joe contava a história. Sempre fora assim. Durante o dia em um jogo ele fantasiava de tal maneira que a gente se achava mocinho, polícia, soldado, índio, ou seja lá o que for. Nossos acampamentos eram demais. Ele para nos adestrar a cada atividade trocava o sub. Monitor, dizia que ele era o Monitor dos Monitores. O sub precisava aprender a liderar. Quando foi minha vez tremi. Um medo enorme. Mas achei que me dei bem. Nas Conversas ao Pé do Fogo ele balançava a cabeça ficava em pé como se estivesse bêbado e dizia: - Tenho que liderar, tenho que liderar. Meu corpo depende de mim! Em pé! Firme! Então ele ficava ereto e andava em linha reta indo e voltando. – A gente não entendia mas aos poucos seus exemplos e explanações nos  fizeram aprender a liderar com amor, com respeito e um belo dia ele disse:

- O Dia chegou. Vocês estão preparados. Mandei chamar os meninos que dei licença. Não voltarão todos mas alguns virão. Agora se vocês fizerem com eles o que fiz com vocês teremos em breve quatro patrulhas das melhores que existem. Dito e feito. Agora era outra reunião, outra motivação. Claro que não era só nós os responsáveis. Afinal o Chefe Joe era único. Ele sabia como dirigir a tropa. Só que ele dizia que não dirigia, nós os Monitores sim. Ele acompanhava e orientava. – Mas Chefe! E o Senhor, conseguiu ou não os ovos no Galinheiro do Josenilton? – Ele ria, seu sorriso era contagiante. – Achei melhor deixar os ovos lá. Se o Ventania defendia com tanto vigor seu lar não seria eu quem iria obrigá-lo a fazer o que não queria. Quando sai do galinheiro, ele se reuniu com outros galos, chamou as galinhas e deram uma tremenda vaia em mim! Kkkkkkk!

                - Isto é mesmo verdade Chefe? – Claro ele dizia, quando voltei lá no galinheiro outro dia com o Josenildo ele se posicionou para briga. Eu não entrei. Não ia de novo brigar por uns ovos. Josenildo me trouxe três dúzias e um pintinho. – Como recordação Comandante. Se tiver um lugar pode criar sem susto. É filho do Ventania. E não é que era verdade? Com dois meses os dentes começaram a nascer.  Vendaval mora comigo até hoje. É meu amigo, meu companheiro e toma conta de minha casa como ninguém! – Pensei em pedir a ele para conhecer o galinho Vendaval mas achei melhor que não. Ele ia se sentir insultado pela dúvida. Durante cinco meses a tropa cresceu, já estávamos com quatro patrulhas completa. Ninguém faltava.

                  Uma tarde de verão Chefe Joe chegou à sede. Abriu o porta mala do seu carro, fez uma saudação Escoteira. Ninguém entendia, saltou de lá um galinho. Cheio de dentes. Era o Vendaval. Tal pai tal filho. Ninguém podia se aproximar. Mas nós riamos a valer. O livro de Atas da Corte e de todas as patrulhas ficou cheio com os relatos dos escribas. – Olhava para o céu. Um cometa passou brilhando deixando um rastro de pedras preciosas. Estávamos todos em silêncio. Até o Chefe Joe agora estava calado. Ele também vidrado no céu brilhante. Pensei comigo que ele voltava ao passado, pilotando seu Mustang nas lutas infernais que participou. O Laranja dos foguetes zumbindo no ar, a cor purpura explodindo em um céu que iluminava o piloto tentando escapar com seu paraquedas. Seu avião uma bola e fogo a cair em meio da metralha da noite.

                       Lembro que em uma noite, estamos todos na porta de sua barraca, onde ele prazerosamente fez para nós, bancos baixos e nunca ficávamos sem um café na brasa um biscoito uma bala de hortelã. Nesta noite ele olhava para o céu estrelado e nos disse pensativo, voz baixa, olhos fixos no céu: – Sabem, quando precisarem compreender melhor uma situação, um problema, é preciso ver as coisas com certo distanciamento. Se tiverem aborrecimento, injustiças, desgostos, sonhem que estão em um Mustang, subam com seu avião às alturas e olhem lá embaixo as pessoas. Tão minúsculas. Pequeninas e nós somos tão grandes! Porque nos preocuparmos com pequenas coisas? Eu fazia isto e olhe, meu equilíbrio emocional voltava e a raiva desaparecia. Eu nunca tinha visto um Mustang. Eu forjava um na minha mente. Mas era um Teco-Teco o único que conhecia. Mas me sentia um verdadeiro piloto. Ria de mim mesmo ao me chamar de Comandante!

                   Deus sabe e o que faz. Trouxe-nos o melhor Chefe do mundo. Olhe não existe nenhum Escoteiro da Tropa Senta Pua que não se orgulha do nosso Chefe. Quando chega às noites de verão, Ele chama a Patrulha, e lá estamos nas montanhas verdejantes, nas campinas mais distantes em ravinas ou vales floridos a acampar com o Chefe Joe. A Patrulha de Monitores sempre está em ação. Gosto disto. Adoro ser Escoteiro e ter um Chefe como o meu Comandante me faz vibrar e me orgulhar do nosso querido movimento. E quer saber mesmo? Amo de montão o meu Comandante. O meu querido Chefe Joe.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O lobisomem de Onda Verde e o valente Escoteiro Pedrito.



Lendas Escoteiras.
O lobisomem de Onda Verde e o valente Escoteiro Pedrito.

            Debora Bottcher uma poetiza sintetizou de uma maneira estupenda como seria as lendas que correm pelo mundo. Ela tem um poema lindo, que parte dele diz: - “Sou lenda, porque a lendas correm livres junto ao vento, buscando as vozes da memória para que alcancem as histórias perdidas no tempo”. Não que Pedrito o cozinheiro da Patrulha Coruja fosse o “faloreiro”, ou melhor, um garganta na cidade de Onda Verde. Afinal Onda Verde no interior de Goiás era considerada uma cidade com o melhor ar do mundo. Onde se podia sentir o aroma das flores, onde se podia ver a relva verde como se fosse uma onda espalhada sem mar. Calma, pacífica, menos de vinte mil habitantes era um paraíso para os que nasceram lá. Mas o Escoteiro Pedrito nascido e criado lá não era fácil. Contava “patacas”, valentias e até criava histórias impossíveis, e que ele sempre era o herói. Seu Chefe de tropa sempre disse a ele do primeiro artigo da lei. Uma só palavra. – Pedrito deixa de ser garganta! Dizia sempre. Ainda bem que todos sabiam que sua imaginação era fértil, e compreendiam.
   
            Mas eis que um fato aconteceu e tudo mudou de repente. Um boato surgiu do nada e serviu de motivo para que todos habitantes não saíssem à noite. Contava-se a boca pequena que alguns moradores juraram ter visto um lobisomem rondando a cidade na ultima semana. Até os escoteiros que tinham o costume de ir à sede a noite na Rua Garça ficaram com medo e só saiam em patrulhas e nunca sozinhos. Sempre tinha os mais entendidos que diziam que o perigo era só nas noites de lua cheia e em uma encruzilhada. “Aí então era um Deus nos acuda” O monstro passava a atacar animais e se não tivesse atacava os homens ou as mulheres. Diziam que ele adorava sangue humano. Só volta ao normal quando vem o raiar do sol.

            Naquela quinta a lua era quarto crescente. Na sede da Rua Garça todas as patrulhas estavam reunidas com o Chefe Naldinho e o Assistente Renato. Lá estavam os águias, os corujas, os touros e os elefantes. Ninguém faltou. Sabiam do grande jogo e ninguém queria perder. Seria uma “Busca ao Tesouro Perdido” na cidade. Achavam que seria um jogo estupendo. Seis pistas espalhadas pelos quatro cantos de Onda Verde. A primeira seria uma espécie de carta prego. Cada Patrulha deveria abrir em determinada hora em um ponto da cidade. O que não estava agradando a todos era o horário do jogo. O Chefe tinha determinado que fosse de seis da tarde às dez da noite. Assim ele disse o jogo seria mais difícil e para encontrá-lo seria preciso olhos de coruja. Claro os Corujas também não ficaram muito animados. A conversa de esquina do lobisomem amedrontava a todos. Menos Pedrito.

           Para mostrar coragem ele dizia que ia achar o tesouro e “caçar” o lobisomem. Mostrava os braços estendidos fazendo pose de como ia derrubar o Lobisomem com um soco somente. No meio da testa. A Patrulha se reuniu para discutir sobre o jogo. Mas Lavério um Escoteiro antigo entrou com o assunto do lobisomem. Disse que fizera uma pesquisa sobre Lobisomens e que ele se originou de uma lenda antiga. Segunda a lenda, o lobisomem seria o sétimo filho após uma sequência de filhas mulheres. Ele seria um homem normal, que se transforma em meio lobo meio homem durante as noites de lua cheia. A lenda dizia que as Quartas feiras de cinzas e a Sexta feira santa seriam os dias mais propícios para o aparecimento do lobisomem. Quando ele aparece para se saciar de sangue humano, dizia Lavério.

          Todos deveriam tomar cuidado, continuou Lavério, quando os cães ficassem agitados, não parassem de latir, pois eles poderiam ter avistado o Cachorro grande que nada mais nada menos seria o lobisomem. A Patrulha ficou muda. Ninguém dizia nada. Pedrito logo se levantou. Se ele aparecer me chame, dou um jeito nele! Todos riram. Naquela noite foram para casa juntos. O ultimo a chegar seria Pedrito. Quando Nando ficou na casa dele ele sozinho, começou a ficar com medo. Agora sem ninguém na esquina da Peçanha ele pensava se topasse com o Lobisomem. Nem pensar! Que Deus me ajude! Saiu correndo virou a próxima esquina e entrou em sua casa espavorido.

           Os dias foram passando. A Patrulha se encontrando e se preparando para o grande jogo. Na sexta feira seria entregue aos Monitores uma carta prego dando a primeira pista. Sabiam que no envelope só estaria escrito o local e o horário aonde eles os Corujas deveriam abrir. As instruções só quando abrissem. Conheciam as cartas prego. Não era segredo, mas ninguém sabia como era a primeira pista. Naquele dia era noite de lua cheia. Não ficaram na sede até tarde como era costume. Só comentaram sobre a carta que tinham recebido e “diabos” o local para abrir seria na Rua Balalaica, em frente ao portão do cemitério! Caramba! Pedrito não gostava dali. Claro seria às seis da tarde, mas mesmo assim ele não gostava do cemitério. Jurava ter visto um dia uma alma do outro mundo voando baixo em cima das catacumbas.

               Pedrito naquela noite não pensava em assombração, capetas, ou mesmo o tal lobisomem que por sinal estava sendo esquecido por toda a cidade. Assoviava baixinho uma linda canção Escoteira que aprendera no último acampamento e pensava como seriam lindos as montanhas e lagos existentes na canção. Disseram que assim cantavam os caçadores de peles daquele país, no passado, quando não conseguiam caçar nada e voltavam em seus caiaques cantando tristonhos e saudosos de suas famílias que há tempos não viam. Ao virar a esquina da Rua do Papagaio, viu um vulto correndo em direção ao Matadouro do seu Luizão. Para dizer a verdade em outras épocas Pedrito teria corrido sim em direção a sua casa, mas, como estava sem histórias para contar, resolveu correr atrás do vulto. Nem olhou para trás e quando olhou era tarde de mais.

                 Viu o vulto passar pelo matadouro e entrar no cemitério. Nove da noite ele começou a tremer e deu meia volta. Deu de cara com o Lobisomem. Enorme, parte de cima peluda, dentes enormes, olhos vermelhos chamejantes, unhas dos pés e das mãos enormes. O bicho o pegou pelo lenço Escoteiro e o levantou no ar. – Quem é você magrelo papudo? Perguntou. – Pedrito tremendo e já molhando sua calça curta respondeu chorando – Sou o Pedrito Senhor Lobisomem! – Pare de borrar de medo e seja homem! Falou o Lobisomem. – Mas sou um menino Senhor Lobisomem, bom Escoteiro da Patrulha Coruja, bom filho, bom aluno. Solte-me pelo amor de Deus! – O lobisomem chegou sua boca fedida no seu rosto e disse – Vou lhe dar uma mordida na orelha, se gostar vou tirar todo seu sangue, se não gostar quebro seu pescoço e o deixo ir embora! – Pedrito estava quase desmaiando de medo. Sem perceber quando o Lobisomem ia morder a sua orelha ele foi mais rápido. Deu uma dentada na orelha dele. O bicho berrou! Maldito disse. E o soltou levando a mão na orelha.

                Ninguém soube explicar, mas a Patrulha toda apareceu para ajudar Pedrito, estavam com seus bastões e o Lobisomem tentou correr e caiu na calçada bem em frente ao portão do cemitério. Ao cair a mascara de lobisomem se soltou e todos viram que era “Seu” Chulápio, o coveiro do cemitério. – Então é o Senhor o Lobisomem não “Seu” Chulápio, fingindo e assustando todo mundo. “Seu” Chulápio choramingando pediu pelo amor de Deus que não contassem para ninguém. Ele não tinha diversão nenhuma no cemitério. Nem mesmo uma alma do outro mundo ou um fantasma aparecia mais. Deixaram-no sozinho, pois tinha mais de seis meses que não morria ninguém na cidade.

                  A patrulha ficou com pena do “Seu” Chulápio. Prometeram não contar nada. Mas o Pedrito, ora, ora. O Pedrito contava para todo mundo da mordida que deu na orelha do Lobisomem. Todos riam e olhe, Pedrito fazia questão de passar em frente ao cemitério todas as noites de lua cheia. A cidade passou a admirar sua coragem. O Lobisomem apareceu outras vezes e não deixou de fazer alguns habitantes correrem feito loucos. Alguns juraram de pé junto que viram muitas vezes em noite de lua cheia, o Lobisomem abraçando Pedrito. Quem não gostou foi à mãe de Pedrito. Teve que dar muitas lavadas na calça de Pedrito. O jovem Escoteiro valente tinha “borrado” ela de tal maneira que quase teria sido melhor comprar uma nova.

                  Bem, deixa o Lobisomem para lá. O jogo da Caça ao Tesouro Perdido foi um sucesso. Melhor para Pedrito que junto a sua Patrulha acharam a sexta pista fácil. Claro, com a ajuda do “Seu” Chulápio que viu o Chefe colocando o tesouro no Mausoléu da família Crispim. Ninguém soube da ajuda e nem Pedrito contou para ninguém. O Tesouro? Oito canivetes suíços. Lindos. Valeu. Certo ou errado, Pedrito era um bom escoteiro. E como caçador de Lobisomens e Vampiros sua fama correu mundo. Mundo? Claro, mundo de Onda Verde, a cidade que ele viveu e morreu amando para sempre. 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Conversa ao pé do fogo. Utopia – Parte III



Conversa ao pé do fogo.
Utopia – Parte III

A doação inesperada

                   - Por intermédio de uma amiga, fiquei sabendo que dirigentes da Região Escoteira local, receberam a visita de um Advogado muito conhecido, e que a principio desconheciam o assunto que o mesmo trazia a uma reunião marcada com antecedência. Para surpresa de todos, um conhecido empresário, conhecido pela magnificência e trabalho comunitário, fizera questão de doar uma bela quantia ao movimento escoteiro, pois quando jovem fora escoteiro e trazia dentro de si as raízes de uma época áurea, que o marcou durante toda a vida futura.

                    Ele, o empresário achava estranho nunca ter sido procurado, pois o contrário não aconteceu devido ele não ter conhecimento de como estava o movimento e quem o dirigia. Sua colaboração através de doação, também colocaria esta região escoteira no seu testamento com anuência de suas família e quando ele como dizia folgadamente, passasse desta para a melhor. Ele somente exigia que houvesse relatórios mensais, enviado a sua empresa, para que fosse analisado onde estaria sendo empregado sua colaboração financeira.

                 Tudo isto aconteceu devido a um número elevado de profissionais escoteiros, que estavam fazendo um excelente trabalho na comunidade e o havia visitado no mês anterior. Também ele fizera sua parte, comunicado a outros amigos e indicando a cada um como provável doador ao movimento escoteiro. O marketing era uma marca toda especial feita pela região escoteira e os resultados começaram a aparecer.

                  Dias antes durante a comemoração de uma data especial, tinham eles conseguido que a direção nacional fosse entrevistada em um programa de alcance nacional e o entrevistador que era um antigo escoteiro e grande admirador disse que nada colaborou antes por não ter sido procurado. Agora ali, junto às autoridades escoteiras nacionais ele via que um grande salto foi dado para o crescimento do escotismo em nosso país. Com a consequente diminuição da evasão e a aplicação correta do método escoteiro, houve uma melhoria significativa na formação de adultos que consequentemente era transmitida aos jovens.

                Nota-se que um grande número de profissionais escoteiros trabalhavam a todo vapor, nas diversas regiões escoteiras, distritos e até em grupos escoteiros. A quantidade e qualidade deram um salto enorme para que o escotismo fosse reconhecido. Esta amiga inclusive me contou um fato acontecido em sua empresa, que na busca de um profissional executivo, o diretor deu preferência a um antigo escoteiro que  recebeu em sua juventude os maiores distintivos especiais tais como o Liz de Ouro e Escoteiro da Pátria.

                 Ele, sabendo que na história de outro pais dava-se grande valor aos ex-escoteiros, tomou conhecimento que em determinada época, para ser aceito como candidato a astronauta da NASA, era preciso ter sido escoteiro e recebido “o eagle scout” o maior distintivo entregue aos jovens americanos.

Sonhar não é bom?

"A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Rosas brancas e perfumadas para Dona Noêmia.



Lendas escoteiras.
Rosas brancas e perfumadas para Dona Noêmia.

                      Ela morava bem no final da minha rua. Sua casa tinha fundos para o Rio Mimoso. Lembro que no final da cerca havia um belo pesqueiro. Mas ninguém tinha coragem para pescar ali. No quintal havia pés de manga, goiaba e cheio de cana Caiana. Na frente de sua casa centenas de rosas brancas. Só rosas brancas. Porque não outras cores ninguém sabia. Enfrentar o olhar de Dona Noêmia? Nunca. Um medo danado. Não era só eu e sim a cidade inteira. Morava sozinha, acho que tinha uns cinquenta ou sessenta anos, não sei. Diziam que era viúva, mas ninguém conheceu seu marido. No Grupo Escolar Mascarenhas de Moraes ela era a diretora. Alí ninguém dava um pio. Respeito é bom e eu gosto ela dizia. Todos entravam em silêncio e saiam calados. Onde ela passava se fazia silencio. Alguns adultos diziam – Boa tarde Dona Noêmia. Ela olhava e seus olhos pareciam sair chamas de fogo.

                    A escoteirada passava longe. Os lobos endiabrados ouviam sempre da Akelá Maísa – Querem que chame Dona Noêmia? Quem fala muito paga pecado, assim dizia minha mãe. Chefe Onofre naquele sábado disse que infelizmente ia mudar de cidade. Estava tentando achar alguém para ficar no seu lugar. A tropa ficou chorosa. Todos gostavam dele. A semana inteira o comentário correu em todas as patrulhas. Fazia-se reunião na Touro, nos Morcegos, na Águia e durante o dia na loja do Martinho. Seu filho da Raposa trabalhava com ele. – Quem seria o novo Chefe? Será o Nonato pipoqueiro? O Sacristão Isaias? Ou o Professor Clementino? Ninguém sequer imaginava. O jeito era esperar o sábado.

                   Interessante, uma hora antes todos estavam na sede. Nem nos cantos de Patrulha foram. Estavam a espreita na porta da sede, no portão e vi dois apinhados em um abacateiro enorme olhando a rua da sede. Chefe Onofre chegou sozinho dez minutos antes do horário. Chamou para a bandeira.  Ninguém com ele. Um frenesi corria de um para o outro. Depois do cerimonial fizemos um jogo estupendo. E assim a rotina da reunião continuou. Até esquecemo-nos do Chefe novo. Quem sabe ele desistiu e vai ficar conosco? A surpresa veio no arreamento. – Chefe Onofre assumiu uma pose de “pobre coitado” e apresentou o novo chefe. Ou melhor, a nova Chefe. Dona Noêmia! Incrível! Ninguém estava acreditando. Ela chegou séria com seu cabelo branco amarrado em um coque, um chalé em cima de uma blusa de manga comprida marrom, uma saia azul simples abaixo do joelho e um sapato aberto em cima de uma meia fina que parecia tirada do fundo do baú. Nunca em minha vida olhei para Dona Noêmia. Aquele foi o primeiro. Um medo danado. Era magra. Magra mesmo. Um palito em pé. Alta pelo seu porte. Nariz afilado pontiagudo, uma boca pequena e entre o nariz e a boca um bigode ralo.

                   A cidade em peso não acreditou. Ninguém acreditava. Ela só disse oi e que nos veríamos na próxima reunião. Bragg! Que medo. Achei que ninguém ia aparecer na reunião. Até “sapo de fora” estava lá para ver. Ela chegou. Deus do céu! De uniforme caqui calça curta abaixo das canelas secas, sem o lenço e um chapéu que parecia ser maior que sua cabeça. Dirigiu o cerimonial com perfeição. Depois foi até o meio da ferradura, fez a saudação, disse a Promessa colocou o lenço e virou para tropa dizendo – Confiem em mim como eu irei confiar em vocês. Foi o início. Chamou os Monitores. Falou com eles por cinco minutos. Vou dizer uma verdade foi a melhor reunião de tropa Escoteira que já participei. Onde ela aprendeu? Era Escoteira? Onde? As mulheres não só eram autorizadas na Alcatéia? Um mistério.

                   Dois anos com a Chefe Dona Noêmia. Ninguém tirava o dona. Um medo danado. Mas aos poucos fomos aprendendo a admirá-la, a gostar dela. Uma noite em um Fogo de Conselho ela nos contou uma bela história. De uma menina perdida cuja mãe morrera e ela não tinha ninguém. Sua luta, sua vontade em acertar, criou em redor de sí uma aureola de rigidez, para que ninguém pudesse aproveitar. Uma história linda e triste. Só mais tarde é que a história se explicou para mim, era a história dela. A tropa passou a amar a Chefe Dona Noêmia. Todos tinham a maior admiração. Antes poucos sorrisos agora em profusão. A cidade não entendeu nada. Ainda no Grupo Escolar e entre seus alunos hoje crescidos o medo existia. Na tropa adorada pelos escoteiros.

                Dois anos e quatros meses de felicidade na tropa Escoteira. Cheguei a tirar minha Primeira Classe. Pensava triste quando fosse passar para os seniores. Não queria. Mas sabia que não podia continuar com quinze anos. Um sábado a Chefe Dona Noêmia não apareceu. Preocupação geral. Nunca faltou. Toda a tropa resolveu ir saber o que ouve. Fomos juntos a sua casa. Medo de bater na porta. Mas eu fui. A porta estava encostada. Tremendo abri. Chefe Dona Noêmia caída no chão. Ainda respirava. Pedimos ajuda. Levada ao hospital foi constatado um ataque cardíaco. Ficou entre a vida e a morte dois meses. Na tropa não sabíamos o que fazer. A Corte de Honra se declarou em sessão todos os sábados. Numa quinta Chefe Dona Noêmia se foi.

               O escotismo para mim nunca mais foi o mesmo. Mesmo nos seniores uma saudade “danada” de Chefe Dona Noêmia. Ainda lembro até hoje o mutirão que fizemos a procura de rosas brancas para suas exéquias. Nunca vi tantas em seu tumulo. Todos os escoteiros acharam que eram suas preferidas. Ate hoje uma vez por mês ainda vou lá. Em frente ao seu tumulo coloco um buquê de rosas brancas. Dou um sorriso. Na minha mente faço uma oração. A única que aprendi e que me disseram ser Escoteira.
"Senhor, ensina-me a ser generoso, a servir-te como mereces, a combater sem temor das feridas, a dar sem contar, a trabalhar sem descanso. A sacrificar-me sem esperar. Outra recompensa, que há de saber que faço a tua santa vontade”.

terça-feira, 16 de abril de 2013

O escotismo e a religião.



Conversa ao pé do fogo.
O escotismo e a religião.

                  A ideia não era de escrever o que seria o escotismo sem a religião, ou então sobre como deveria ser este contato e aproximação. Nada disto. Acredito mesmo que não sou bastante douto neste introito bem difícil para meus parcos conhecimentos. Talvez o título devesse ser outro. Quem sabe a Religião e eu. Mas não é isto também. Melhor não complicar. Hoje pela manhã quando ia percorrer meus mais de mil metros me preparando para a São Silvestre de São Nunca, vi que chovia copiosamente. Nada feito. Peguei minha cadeira e sentei. Dei uma lida no jornal e logo estava cochilando. Eu tenho facilidades para cochilar onde sento ou deito. Uma vantagem de estar na terceira idade. Mas eis que me veio à memória os contatos que tive no passado com pastores, padres e outros religiosos.

                   Nestas lembranças não quero desmerecer nenhum líder religioso. Nada disto. Mas tenho que reconhecer que apesar dos pesares, dos ditos e não ditos, das acusações de pedofilia e outras “tantas cositas más” a Igreja Católica com seus quase cento e vinte milhões de adeptos no Brasil praticantes ou não, trouxe uma enorme contribuição ao escotismo. Acredito mesmo que ela ainda não foi devidamente homenageada por isto. Lembro mais uma vez que no passado poucas religiões evangélicas se interessavam pelo escotismo. Tirando uma que já tinha os Desbravadores, cuja história vou me abster de comentar (nada que a denigra) as demais exceto a católica tinham em seu seio o escotismo como meio de atingir a formação da juventude naquilo que se propôs Baden Powell.

                  Sei que podemos ter dezenas de exceções. Claro que sei que hoje mudou muito. Casos contraditórios, mas eu na minha vida Escoteira só tenho boas lembranças dos meus amigos religiosos. Quantos e quantos padres foram meus amigos. Os tive em minha humilde morada. Fizeram refeições junto a mim e aos meus filhos. (adoravam a comida da Célia) Até o batismo de dois deles foi feito em minha residência por um deles. Vi dezenas deles de uniforme, calças curtas, orgulhosos, lutando em uma sessão ou dando cursos em estados ou cidades distantes. Dormi em barracas com vários. Juntos nós fizemos toda espécie de altares nos acampamentos. Pioneirias do mais alto escalão. Ajudei no possível quando celebravam as missas, fiz tudo para ter juntos lideres de outras religiões em cursos ecumênicos. Foram poucos que aceitaram. Se um dia tirar o chapéu eu vou tirar para aqueles que deram tudo de sí ao escotismo. Sou prova viva disto.

                    Quantos e quantos grupos iniciaram suas atividades sob o auspício da igreja católica. Sei que sobem aos milhares no Brasil. Sei de muitos que lá cresceram. Sei de tantos outros que deram de tudo para que os escoteiros não ficassem ao relento. Sei de centenas de outros que o próprio pároco vestiu a calça curta e saiu por aí de lenço e mochila nas atividades aventureiras cantando a pleno pulmões como era belo ser Escoteiro. Lembra Chefe Padre Henrique quando chegamos ao topo do pico da Bandeira? Lembra Chefe Padre João quando naquela jornada ciclística fomos bem recebidos pelo prefeito e ele não sabia que o Senhor era padre? E quando soube foi aquela festa! E o Senhor meu caro Chefe Padre João Fagundes, naquele CAB Escoteiro no terceiro dia descobrimos que oito chefes se mandaram do curso sem avisar? Só porque a temperatura desceu a dois graus e ficaram com medo de congelar!

                    Eu sei que não fui muito simpático a alguns. Mas em pouco tempo ficaram meus amigos. Aqui em São Paulo quando cheguei e comecei a dar cursos os convidava para ajudar na equipe e claro não esquecer da parte religiosa. – dizia aos alunos: Amanhã pela manhã, teremos missa no campo. Os que forem de outras religiões estarão dispensados para junto a outros ou sós fazerem suas orações. Interessante. No outro dia estavam todos na missa. Se me permitirem dizer pois não gosto de discutir religião, desde a idade de 17 anos que sou espírita. Espiritualista por assim dizer. Mas o que dizer destes homens de Deus, que deram tudo pelo escotismo e ainda continuam dando? Em 1966 participava de um Grupo Escoteiro no alto da serra em Belo Horizonte em um convento acho que dos Franciscanos. Frei Marcolino era nosso benfeitor. O prior de lá sempre escondia lideres ou não procurados pela policia politica.

                   Um dia de reunião, estávamos lá com os lobinhos, escoteiros e seniores formados para o cerimonial um policial do DOPs chegou e gritou: Com que direito? Aqui só tem subversivo e comunista. Nada dissemos. Frei Marcolino foi até ele e pausadamente disse – Meu irmão, são escoteiros, jovens que aprendem a ter honra e civismo. São filhos de Deus como você. Ele nada disse e foi embora. Claro não antes de revistarem todo o convento e acharam quatro que chamaram de subversivos e os levaram presos juntos com o prior e mais dois freis. As batidas lá eram frequentes e os freis não desistiam.  Lembro que logo após a revolução de sessenta e quatro, voltava de uma folga de oitenta horas do meu trabalho na Usiminas, e junto com a minha esposa chegamos vindo de Belo Horizonte e ao chegar a Melo Viana próximo a minha casa o Padre da paróquia veio correndo – Chefe Osvaldo. Alguém denunciou o Senhor e o Chefe Carlos. Por causa do lenço vermelho o chamaram de comunista. Já vieram aqui atrás do Senhor. Ele me defendeu. O padre. A história é longa. Fica para outra ocasião.

                      E é por isto que louvo a Igreja Católica. Sei que tem casos diferentes, sei que muitos darão exemplos mil de erros cometidos. Eu não. Não importa o que dizem. Para mim os meus amigos padres e hoje até um que é bispo e veste o uniforme, (Dom Lara) e tantos outros que em cursos, excursões e acampamentos juntos que os louvo como homens de Deus e protetores do Escotismo. Nunca tiveram duvidas em vestir o uniforme de calças curtas. Dois deles assim uniformizados foram três vezes ao Palácio da Liberdade junto comigo em audiências com o Secretário da Educação e mesmo o Governador do Estado na década de setenta. Aqui em São Paulo participei de um grupo em uma Paróquia. Sempre prestigiados mesmo com o falecimento do titular. Não tenho o que reclamar da igreja católica.

                      Só posso afirmar que o escotismo deve muito a igreja católica. A estes padres que fizeram de tudo para o crescimento do movimento Escoteiro. Nenhuma religião ou mesmo outra organização no Brasil fez tanto. A eles, meus amigos padres que já se foram e os que ainda estão vivos, me desculpem por não colocar o nome de cada um. Foram muitos. Aceitem meu Anrê, meu bravo, meu aperto de mão e meu Sempre Alerta fazendo uma reverência com meu chapéu de três bicos!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Cisne Negro da asa partida.



Lendas escoteiras.
O Cisne Negro da asa partida.

                   Beth Blue era muito amiga da Celia desde os tempos que ambas foram coordenadoras bandeirantes. Beth Blue me visitava uma ou duas vezes por ano. Eu a conheci em cursos, pois sempre recorria a ela pela sua vasta experiência com lobinhos. Era Akelá em um grupo do outro lado da cidade. Infelizmente pela idade poucos a convidavam. Não dá para entender. Lembro que ha alguns anos atrás ela me contou esta história. Era uma tarde linda. Junto com a Célia ela nos fazia companhia na varanda e o sol ia aos poucos se pondo no horizonte. Beth Blue sabia contar histórias. Narrava com perfeição. Prendia a todos nós com seus gestos, seu timbre de voz que mudava de acordo com o desenrolar da história. Ela me garantiu que era uma história verdadeira. Como duvidar de Beth Blue?

                   Olhe Chefe, no verão passado fomos fazer um acantonamento No sítio Caminho Azul de um pai de um Escoteiro. Local magnífico. Um lago não muito grande, um bosque gramado, um campinho de futebol e um riacho pequeno de águas límpidas. Os lobinhos adoraram. Nossa Alcatéia era composta de dezoito lobos. Dez meninos e oito meninas. Muitos com um ou dois anos de atividade. Pretendíamos ficar lá três dias aproveitando um feriado prolongado. A casa sede tinha dois quartos e mesmo assim levamos quatro barracas. Se o tempo permitisse dormiríamos em casas de lona. Chegamos cedo. Por volta de nove da manhã. Duas mães estavam conosco para ajudar nas atividades e refeições. Eu estava com mais três assistentes. Um Balú, uma Kaá e a Bagheera. A Chill não pode ir.

                   Mas vamos ao que interessa. Após o almoço cuja matilha branca alega que foi ela quem fez (risos) claro sem esquecer as duas mães cozinheiras. Fomos fazer um jogo calmo. Não tão calmo e sabíamos que ele levaria pelo menos uma hora para ser todo desenvolvido. Eram três bases. Uma um Assistente escondia em cima de uma árvore um relógio que devia ser visto de um só na ângulo. Outra um Assistente com duas sacolas e a cada cinco segundos tirava um objeto, o jogava para cima e guardava na segunda sacola. Seriam vinte objetos. A terceira um sisal amarrado entre duas árvores a uma altura de três metros aproximadamente e quatro petecas.

                    O jogo consistia no seguinte: - Uma matilha em cada base. Quinze minutos para cada uma desenvolver sua tarefa individualmente. Na primeira eles deveriam ver no perímetro marcado onde estava o relógio. Avistando não deveriam apontar e nem dizer nada. Iam até o Assistente responsável e em uma prancheta escreviam onde estava e assinava e dizia uma lei do lobinho. Após os quinze minutos um grito longo de Lobo, trocavam-se as bases. Na segunda eles deviam observar por um minuto os objetos que eram jogados ao ar e memorizar. Depois cada um recebia uma caneta e uma folha de papel para escrever o que estava na memória. Em seguida deviam em conjunto cantar alguma canção Escoteira. A terceira base cada um devia usar a peteca, dar uma palmada que devia atravessar por cima do sisal, ante de cair o lobo ia para o lado contrário e dar outra palmada devolvendo. Ai a peteca podia cair ao chão. Se isto acontecesse ele teria feito a prova. Para não demorar a base tinha quatro petecas.

                   Tudo corria tranquilamente, os lobos se divertindo e o tempo foi passado. Pensamos que dez ou vinte minutos por base seria suficiente. Pretendíamos naquela tarde que o banho no riacho fosse feito mais cedo. Foi então que Letícia, uma lobinha de oito anos veio correndo avisar que viu um lindo Cisne Negro. Interessante. Não sabia que ali existiam esses pássaros. Fui até lá com ela. O cisne Negro era um espetáculo. Se abrisse as asas acho que teria bem um metro de envergadura. O cisne tinha os olhos fixos para uma árvore. Não se importava conosco. Nem nos olhava. Logo todos os lobos ficaram em volta. O cisne nem estava aí. Só olhando para a árvore. O Balu tentou descobrir o que tinha na árvore. Conseguimos avistar lá em cima um grande ninho. Só podia ser do Cisne Negro. Observando melhor o Cisne notei que uma das asas estava meio caída. Deduzimos que ele ou ela não podia voar.

                   Deveriam existir filhotes e o Balu subiu na árvore e confirmou. Eram dois e piavam sem parar. Lembrei que eu tinha feito uma pesquisa há tempos sobre Cisnes. Chamei a Alcatéia e aproveitar para falar sobre eles. Enquanto isto o Balu foi até o lago a procura de plantas e pequenos bichinhos para alimentar os filhotes. Os lobos em volta do cisne que não olhava para ninguém. Só para a árvore. – Sabem lobinhos, comecei – O cisne gostas de lagos, brejos e outras áreas de água doce ou salgada. Vivem em bandos. Alimentam-se de plantas aquáticas e parei de falar. Vi que Norminha uma lobinha se aproximou do cisne. Passou a mão em sua cabeça. Ouvimos um cantar diferente. Não identifiquei. Parecia que o Cisne chorava. Toda a Alcatéia começou a chorar.

                   Levei os lobos para a Casa Grande, tentamos mudar o rumo do programa, mas o Cisne não parava de cantar. A noite ele calou. No dia seguinte ainda estava lá em pé olhando para a árvore. O Balu alimentava os filhotes duas vezes ao dia. No dia do retorno, os lobos levantaram cedo. Correram até devia estar o cisne. Não estava mais lá. Como? E a asa partida? E os filhotes? O Balu subiu na árvore e encontrou o ninho vazio. O cisne e os filhotes haviam partido. A lobada começou a chorar. Tentamos mostrar que foi bom, que a mãe e os filhotes agora podiam voar e foram para onde deveriam ir. Eu sabia que quando se aproximava o inverno eles em bandos descolocavam para regiões de clima mais ameno. Mas não adiantou. Os lobos com olhos vermelhos chorando por não verem mais o Cisne Negro da Asa partida.

                 Às quatro da tarde, já com a tralha pronta, fomos para o cerimonia de bandeira. Os lobinhos formados em círculo e em posição para o Grande Uivo. Quando eu ia fazer o sinal ouvimos um barulho de asas. Olhamos para cima, centenas de cisnes voando em direção ao infinito. Três deles desceram até nós, um grande e dois pequenos. Eram eles! Voaram sobre nossas cabeças por alguns segundos e partiram. Todos calados. Um grito explodiu na alcatéia. Uma alegria imensa. Todos gritaram alto – Bravô! Os lobos sabiam que era o Cisne Negro e seus filhotes que vieram se despedir. Ninguém nunca mais esqueceu. Contavam a todos na sede, seus amigos da escola e a história durou muitos e muitos anos.

                  Beth Blue se calou. Olhei para ela, Célia também. E? - Fim Chefe. Nada mais. A noite chegou. Um cafezinho e Beth Blue partiu. Fiquei ainda por longo tempo na varanda. Uma ótima história. Seria verdade? Sei não. E como se diz por aí das histórias escoteiras contadas:
- Feijão não é vaca, boi não é arroz. E quem quiser que conte dois!

domingo, 14 de abril de 2013

Jogando conversa fora. Mística&Cerimônias.




Jogando conversa fora são pequenos post, onde abro um pequeno comentário de determinado assunto visando uma discussão mais ampla. São quatro chefes que após o final da  reunião, tiram o uniforme e vão a uma pizzaria jogar conversas fora. Até agora são oito post. Neste primeiro o tema é da Mística& Cerimonias. Irei publicar um semanalmente, mas se alguém quiser receber todos façam o pedido em meu e-mail elioso@terra.com.br – Lembre-se só no e-mail. Aqui não posso enviar.
Divirtam-se.

Conversa ao pé do fogo. Parte I.
Jogando conversa fora. Mística&Cerimônias.

                      - Nunca pensei deste modo. Para dizer a verdade, eu vou levando na base do feijão com arroz – Na Alcatéia nós temos. Ainda não como você expôs, mas a temos – Estou cansado. Vim aqui hoje para não faltar. Mas acho que só vou beber um chopinho e mais nada – Porque isto meu irmão? Não foi Benjamim Franklin quem disse que a cerveja é a prova viva de que Deus nos ama e nos quer ver felizes? Confia – Vamos tomar nossos quatro chopes e pronto. Ei Matheus! O de sempre – Ele já acostumou conosco (Matheus o garçom e proprietário da Pizzaria). – Então as cerimonias que fazem são sempre as rotineiras? – Bandeira, oração – Inspeção – Jogo e etc? – Mas existe maneira de mudar? Afinal as nossas cerimonias não são uma espécie de tradição?

                     - Não sei, andei pensando. Li sobre isto ano passado – Os jovens gostam de cerimonias místicas – Gostam mesmo? – Acho que sim. Só não confundir misticismo com fenômenos sobrenaturais. Eu sei que existem tradições místicas que os que fazem se orgulham de sua junção ao pensamento racional. Quem sabe as ligadas à filosofia de uma tradição – Não estou entendo nada – Expliquem-se – Depois. Agora vamos saborear pois a cerveja me faz sentir da forma que gostaria de me sentir sem cerveja – risos. Matheus caprichou nos chopes. E acompanhado por ótimas empadas de camarão. Este Matheus é demais – Me disseram que existe uma tropa Sênior que criou tradições em várias cerimonias escoteiras. Mesmo com a Rota Sênior é preciso fazer uma serie de provas para ser aceito – Fáceis? – Dizem que sim. Depois o recruta participa de uma cerimonia mística onde é recebido pelos Monitores encapuzados, e em local de difícil acesso. Dizem que tem bandeira, espada e comes e bebes. As fazem em Vales, picos, montanhas etc – E isto é bom?

                      - Sei que muitos que assim o fazem juram segredo. Não contam para ninguém – Veja os heróis do passado – Mantem segredo de muitas organizações e as ordens carismáticas que participaram. Eles criaram um conjunto de regras e etiquetas para que os noviços possam fazer corretamente. – Eu também já ouvi falar nisto. Criaram costumes, tradições, lendas, danças que se tornaram um mito na vida da tropa – Sei de uma que as promessas só podem ser feitas em fogo de conselho. E só lá podem fazer o juramento – Dizem que a bandeira vem através de um cabo, já desfraldada, iluminada pela chama do fogo, e o Chefe grita alto – Quem vem lá? Um patrulheiro que deseja ser um valente Escoteiro! E assim começa a promessa terminando com um anrê gritado enquanto ele salta na fogueira de um lado a outro por três vezes – Parece interessante. Matheus! Outra rodada! E não se esqueça da empadinha. Está deliciosa.

                      - Pode até ser que nas tropas funcione mas na Alcatéia não sei. – Mas e a mística da Jângal? Ela é tão extensa para ficar presa a uma pedra do conselho, um grande uivo, um totem, danças e uma Roca. – Pode até ser. Os lobos tem mais sonhos que os escoteiros. Quando contamos para eles o que aconteceu na Jângal prestam a maior atenção. – Mas não sei como fugir do cerimonial inicial e final das reuniões e até não sei se é válido – Eu faria uma experiência. Pelo menos uma vez a cada quatro reuniões – Já pensou a surpresa? Começar uma reunião sem o cerimonial? E na tropa? – Acho que vale  a pena pensar. Pensar firme pois dizem que toda mudança deve ser feita paulatinamente. - O que fazemos hoje virou um hábito de comportamento – Pois é. Mas não sei não, toda rotina cansa.

                        - Matheus! A saideira! - Já? – Onze horas meu amigo. E hoje não sei se eu aproveitei bem do álcool ou se foi ele quem se aproveitou de mim. – todos riram – Vamos com calma, se Deus soubesse que nós beberíamos cerveja, nos teria dado dois estômagos – Risos e risos. – Mas encerrando, acho que vou pensar sobre isto. Precisamos criar raízes em tropas e alcateias. Raízes com tradição, com cerimonias interessantes que marcam. – Acho que eu também vou pensar – Eu soube que uma tropa fez do livro de Atas da Corte de Honra a mais secreta de todas – Mandou fazer uma proteção com vidro, onde o Livro de Ata fica guardado e fechado a cadeado. Fica exposto na parede da sala. Quem entra vê o livro e não pode ler - Segredo! Segredo! As Cortes de Honra são secretas. Quantos meninos sonham em ser Monitor só para descobrir aquele segredo?

                           Boa noite Matheus. Não esqueça, você é nosso convidado. – Quem sabe? Quem sabe? – Gosto de ver vocês aqui todo sábado à noite – Gosto de ver vocês tomarem os chopes, calmos, sem gritos, alegres sem serem espalhafatosos. Vocês sempre serão bem vindos aqui – Olhe Matheus, sem duvida a maior invenção da história da humanidade foi à cerveja – Eu admito que a roda também foi, mas a roda não desce tão bem como uma cerveja e uma Pizza! – todos riram e se foram – Três deles racharam um taxi a Akelá foi de ônibus. Hoje mais alegre, nos disse que agora estava assim por ter terminado com o noivo – Amor! Estranho amor! -  Durma-se com um barulho desses!