Conversa ao pé do fogo.
O belo do escotismo está em sua simplicidade.
Faça
escotismo não faça a guerra. Uma metáfora interessante. Hoje me questionei
sobre muitas coisas. – Quanto tempo nós escotistas ficamos com nossos jovens? –
Duas horas por semana? Três? Poderíamos somar as atividades extra sede, mas sei
que na maioria dos grupos elas não são tanto assim. Nestas horas procuro ver se
nosso caminho percorrido foi ou está sendo realmente frutífero. Gosto muito de
ver o vídeo de Ian Hislops, detalhando o Escotismo para Rapazes de Baden
Powell. (Youtube Escotismo para Rapazes
segundo Ian Hislops-Ficheiro único (pt-pt)). Claro ele faz uma analise
subjetiva do escotismo de BP. Disseca de uma forma simples e deliciosa o livro
Escotismo para rapazes. Pergunto-me se o passado e o presente não podiam andar
na mesma trilha. Muitos acham que não e dão centenas de exemplos. Então me
pergunto novamente – Quanto tempo ficamos com os jovens por semana? Porque a
pergunta?
Estamos
hoje com uma preocupação constante com o Escotista. Seja na Alcatéia seja na
tropa. Desenvolveu-se uma parafernália de cursos, visando aprimorar e
qualificar o adulto para que possa desenvolver bem suas funções de líder
Escoteiro. São centenas de formadores por todo o Brasil dando todo apoio aos
chefes na sua labuta na Alcatéia e na tropa. Mas eu me pergunto. Será isso
excencial? Tantas informações, técnicas, para apenas duas ou três horas por
semana? É necessário mesmo? Eu me pergunto quanto deles leram os três livros
básicos de Baden Powell. Convenhamos que se olharmos um simples professor de
uma escola secundária ele não recebe tantas informações assim para desenvolver
sua atividade. Bem não cabe aqui comparar, mas vejam onde quero chegar. Nos
primórdios do escotismo BP sentiu que não poderia deixar os jovens ao “Deus dará”,
sem ter pessoal qualificado para ajudá-los no seu novo sonho aventureiro. Nos
bosques, matas via-se meninos a correrem como se estivessem fazendo tudo àquilo
que leram nos fascículos que ele escrevia. Ansiavam aventuras. Viver na
natureza. Fazer o que ele descreveu tão bem de atividades aventureiras.
Para
testar as habilidades e conhecimentos BP fez acontecer o primeiro acampamento
Escoteiro em Browsea. As bases para deixá-los fazer fazendo foram assentadas. O
tempo foi passando. Até alguns anos atrás (acredito até a década de oitenta)
tínhamos três cursos básicos para que o adulto pudesse adquirir conhecimentos e
chegar a Insígnia de Madeira. Nestes cursos ele vivenciava muito a vida ao ar
livre, os acampamentos, vida em equipe, e com isto o método e o programa foram
mantidos na formula que BP acreditava. Aconteceu que muitos jovens começaram a
abandonar o escotismo. Os adultos começaram a mudar para atraí-los. Não havia
mais uma continuidade nas tropas chefes advindo da própria tropa. Começou-se a
criar uma estrutura burocrática que sem perceber dominou todo o movimento
escoteiro. Os cursos foram alterados. Experiências e experiências foram feitas.
Muitas sem esperar os resultados e implantadas como fato consumado.
Criamos sem perceber uma
oligarquia que decide em nome dos jovens, fala pelo jovem e acredita piamente o
que eles os jovens desejam e sonham. Claro, não esqueceram as belas coisas do
método Escoteiro. Mas sem querer alienaram o jovem. É comum escotistas
exaltarem seus feitos dizendo que a atividade foi linda! Que isto foi ótimo,
que “meus” escoteiros adoraram. Esqueceram-se de perguntar os interessados e
muitas vezes até perguntaram, no entanto a maneira usada para a pesquisa não
deixa dúvida que o jovem vai dizer que gostou. A prova sim ou não o tempo
mostra. A saída de muitos das fileiras escoteiras. Vejam o uniforme. Muitos
escotistas dizendo o que o jovem vai ou não dizer a respeito dele. Outros até
comentam que agora a procura será bem maior com o novo uniforme. Então não
precisamos mais do método e do programa Escoteiro não?
Não
sei, posso estar enganado, mas estão a cada dia complicando mais a estrutura
Escoteira. Esqueceram que não somos profissionais, somos voluntários, temos
nossas obrigações familiares e profissionais e o escotismo devia ser uma
atividade que não assoberbasse tanto nosso tempo. Tentam toda sorte de dar
conhecimentos nos cursos de formação. Para que? Duas ou três horas por semana? Não
vou me iludir, sei que a responsabilidade é grande, mas o objetivo é um só.
Formar jovens com ética, amor, fraternidade, honra respeito tudo isto
vivenciado na Lei e na Promessa Escoteira. Mas afirmo se não estivéssemos
complicando, se pensarmos como BP pensou, em deixar que o jovem aprenda a fazer
fazendo, que lá na Patrulha ele vivencie sua turma de amigos e amigas, que eles
pudessem fazer seu próprio programa baseado na orientação do adulto conforme
prescreveu Baden Powell.
São duas
ou três horas por semana. Só. O que precisamos? Simples. Motivar ao jovem
participar espontaneamente, sentir que ele gosta de sua “turma”, que ele foi lá
em uma tarde de sábado sabendo que ele seria mais um. Que ele poderia dar
opinião, que ele fizesse o que gostaria de fazer. O Sistema de Patrulhas é
simples. Na escola e em seu bairro ele vivenciou outras atividades, agora
gostaria de encontrar outras. Muitas vezes nós mesmo complicamos tudo. O jovem
na sede quer ver e sentir tudo aquilo que não vivencia fora de lá. Ficar em
forma por mais de quinze minutos com alguém falando para ele, com alguém
pegando em sua mão para ensinar, com Monitores brigões, com exigências
descabidas, com ameaças gerais que costumam acontecer ele logo vai desistir.
Ainda acho que dois ou três
cursos de formação seriam suficiente. Estamos enchendo os fins de semana com
cursos e cursos e os resultados ainda não foram animadores. Escotismo não tem
segredo. Qualquer um que entenda os objetivos do método e do programa, do fazer
fazendo, do Sistema de Patrulha vai sem nenhum problema atingir o sucesso
esperado. Já disseram e eu torno a repetir alguns temas que John Thurman disse em seu artigo os sete perigos: (os que não
leram podem pedir o artigo completo).
Seriedade Demasiada. O Escotismo é algo sério, contudo, uma das
grandes coisas é a alegria de participar dele, isso tanto para os dirigentes
como para os rapazes. Em alguns países, há o perigo de se pensar em termos
educacionais ou psicológicos e, enquanto fazemos isso, perdemos muito da nossa
condição de "amadores". E vocês todos sabem que como amadores somos
bons, mas como profissionais somos péssimos. Somos uma parte complementar na
vida do rapaz; complementar na escola, dos pais, da igreja, e, mais tarde, do
trabalho.
Sem dúvida, Baden-Powell
tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os
rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os
rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da
simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. Ele termina dizendo
– Os únicos capazes e possíveis de pôr o escotismo a perder são os próprios
chefes e dirigentes. Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos
passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas -
poderemos arruinar o Movimento.
Feliz palavra de John
Thurman. O mundo está mudando, e a mudança que o escotismo tem feito pode não
está dando certo. Muitos rapazes e moças estão saindo. Reclamam das atividades.
Precisamos meditar.