Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 24 de agosto de 2013

A árvore das folhas rosa.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
A árvore das folhas rosa.

                   Era uma visão incrível. Apareceu assim do nada. Se fez presente para sempre em nossas vidas. Dizem por aí que só os escoteiros têm o privilegio de ver e ouvir coisas, pois eles têm o dom de enxergar de outra maneira a natureza hoje perseguida de maneira implacável pelos homens. Acredito piamente que isto é real. Estava eu em uma pequena trilha, mais quatro amigos escoteiros, todos em fila indiana, tentando cortar caminho para chegar ao Tanque dos Afogados. Desculpem, não morreu ninguém lá e nem é um tanque. Uma represa pequena, dócil, rasa, de águas cristalinas que por duas vezes ali estivemos acampando. Sempre passamos pelo caminho do Marquês mais de doze quilômetros. Não lembro quem deu a ideia de cortar caminho em um vale entre duas montanhas. Nem sempre as boas ideias prevalecem. Passava da uma da tarde. Um sol a pico e queimando. Quase quatro horas de caminhada. O suor escorrendo pelo rosto, os olhos vermelhos e o chapelão de três bicos faziam às vezes de um protetor carinhoso, mas que pouco ajudava.

                  Um local descampado, sem árvores, quem sabe para pasto do gado que ao longe pastava calmamente. Pensei em parar, mas sempre um animando dizia: - Vamos chegar! Vamos chegar! É só encontrar o vale das Vertentes. E esse não chegava nunca. Uma fome brava. Nem um biscoitinho a solta. Já respirava com dificuldade quando avistei o paraíso. Uma árvore. Não uma árvore qualquer. Era enorme. Incrivelmente linda! Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. Só ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de águas claras. Visão maravilhosa. Um oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Incrivelmente maravilhosa. Molhei o rosto calmamente. A sombra da cerejeira nos dava uma sensação de calma silenciosa e gostosa. Uma brisa fresca soprava de este para oeste. Sentamos embaixo próximo ao tronco. Pés levantados. Dizem ser bom para a circulação. Dez minutos, quinze, vinte. Uma hora. Ninguém animava em partir. Estavam todos no mundo dos sonhos coloridos que só os escoteiros possuem.

                 A tarde chegou mansamente. O sol estava se despedindo e prometendo voltar amanhã. Vermelho atrás das montanhas verdejantes. Ainda de olhos fechados lembrei que tinha lido não sei onde – “A flor de cerejeira cai da árvore na primeira brisa mais forte, mas não dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que só dura um dia, não é menos bonita por isso”. Não queria abrir os olhos. Não queria partir. Eu tinha encontrado o paraíso. Não disseram que o tempo é relativo? Que a flor da cerejeira, por exemplo, dura apenas uma semana e mesmo se durasse mil anos ainda seria efêmera? Flor tão bela como ela não merecia durar eternamente? E o que é eterno se não o que dura com tamanha intensidade? Dormi. Não queira acordar. Agora a cerejeira não dava mais sombra. Não precisava, a noite chegou escura, mas logo o clarão das estrelas no céu dava o seu espetáculo a parte.

                Reunião de Patrulha. Partir? Cinco a zero para ficar. Um foguinho. Uma sopa, um café na brasa. Cantando baixinho a Árvore da Montanha. O céu estrelado ainda dando seu espetáculo maravilhoso. Um cometa passou correndo deixando um rastro brilhante. Fiz um pedido. Que a cerejeira em flor durasse para sempre! Aos poucos alguns dormiam. A cerejeira das folhas rosa era nossa barraca. O tempo passou. Ao lado algum anjo velava o sono dos escoteiros. Abri os olhos mansamente, uma réstia de luz aportava lá por trás das montanhas distantes. Era a madrugada chegando. O novo dia chegava sem fazer alarde. O orvalho caia de mansinho. A brisa eterna amiga não nos deixou. Um acalanto para nos dar um novo vigor no dia que chegava sem fazer ruído. O riacho ao lado parecia cantar canções de ninar. Pequenos peixinhos nadavam como a nos dizer bom dia!  Mochila as costas. Olhares e sorrisos entre nós. Escoteiros avante! Pé na estrada, pois o sol agora já estava firme no horizonte. Nosso destino? O Tanque dos Afogados. E lá fomos nós, em marcha de estrada sorrindo, mas saibam que nunca mais, em tempo algum, nós nos esquecemos da árvore das folhas rosa. Cerejeira em flor. Um amor, uma lembrança que ficou marcada para sempre!

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
 (Deste já tão longo andar!) 

E talvez de meu repouso...


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Escotistas – estes abnegados chefes escoteiros



Abnegadas são pessoas que fazem trabalhos voluntários sem esperar reconhecimento ou pagamento pelo serviço feito. Fazem por amor a uma causa ou ao próprio ser humano. Somente pessoas altruístas são capazes de tirar um tempo seu em prol dessa ajuda humanitária.

          Escotistas – estes abnegados chefes escoteiros

Diversas vezes encontro definições sobre o Escotista, definições estas que leio com apreço dizendo o que é ou o que seria um chefe ou uma chefe no Movimento Escoteiro. São situações diversas, comentadas por muitos, pois uma vez no movimento somos compelidos a uma participação que vai além do que daríamos as outras organizações existentes. Parece que nos entregamos de maneira impar, deixando inclusive nossas rotinas do passado, para que a nova rotina seja uma verdade em nossa vida.

Muitos Escotistas, no seu amor ao movimento, sacrificam muitas horas de suas vidas, deixando algumas vezes a família (alguns motivam toda a família a também participar), seus antigos amigos, seu trabalho e colocando suas economias para o desenvolvimento e bem estar dos jovens com que colaboram no desenvolvimento conforme preceitua o método escoteiro. Isto merece aplausos e podemos dizer que sem eles, não seriamos o que somos hoje. Mesmo pequenos em relação a outros países, mantemos fidelidade, amor à causa, abnegação tudo porque achamos que é um movimento sem similar e que pode trazer grandes benefícios a nossa juventude.

Mas seria esta uma definição correta? Será que não estamos também querendo voltar ao nosso passado e pretendemos realizar algum que por motivo diversos não realizamos quando jovem? Será que é porque neste movimento podemos demonstrar nossa aptidão para dirigir, ser um bom líder, pois até então não tivemos esta oportunidade em nossa vida? Claro, muitos não são assim, mas uma grande maioria pensa o contrário. Somos compelidos a dizer que inclusive alguns se esqueceram de que o escotismo é um movimento de fim de semana e não semanal.

Eu prefiro acreditar que todos estão imbuídos nas melhores das intenções, mas como disse Oscar Wilde “as boas intenções têm sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram qualquer coisa foram as que não tiveram intenção alguma”. Não sei se concordo ou discordo dele. Conversando aqui e ali, desde os meus primórdios no movimento ouço muitos dizerem em conversações diversas sobre o que ele faz e como define seu trabalho voluntário no movimento dizendo sempre “o meu grupo, a minha tropa, a minha patrulha, os meus monitores, os meus lobinhos”. Quando pedem aconselhamento, ouvem, comentam, mas não aplicam a não ser o que já fazem em suas seções. Graças a Deus que estes são minoria. Diferente dos outros que tem o escotismo na mente, na alma e no coração. Um antigo Escotista, hoje falecido me disse em um Avançado para membros da Equipe Nacional de Adestramento que estes não sabem o que dizem. Os que ouvem acham que ele é o dono de tudo. Comprou todas as “Ações” e não divide e nem vendem a ninguém. Deveriam lembrar que somos colaboradores e deviam dizer – Na seção que colaboro, onde sou voluntário, etc.

           Todos os que participam são motivo de orgulho para nós os antigos; e que sabemos que sem eles nada disto existiria. Incorreto seria dizer que muitos não fazem falta. Fazem sim, desde o mais humilde que limpa a sede ao dirigente máximo do Grupo Escoteiro. Eu sempre digo que se fosse um membro da UEB com poderes para tal, faria uma seleção todos os anos pelo registro dos grupos escoteiros, para saber quais os escotistas são merecedores e que alcançaram o tempo necessário para uma condecoração. Não o contrário como é hoje.

               Mas tudo isto tem uma ressalva. A maneira de ser de um Escotista, não é só de amor, da presença, do proselitismo da abnegação e sim de muitas outras que passam ao largo de alguns chefes e que se fossem olhadas com carinho, o nosso movimento daria um salto enorme na diminuição da evasão, que qualifico como o principal mal que nunca nos deixou crescer. Cabe ao Escotista, além de se adestrar, participar de todos os cursos possíveis deste os aplicados pela UEB a outros particulares para conhecer melhor as normas, os regulamentos, a técnica escoteira e o desenvolvimento de métodos na formação dos adolescentes para então aplicar com eficiência aos jovens que em uma seção está colaborando.  

                BP em seu livro O Guia do Chefe Escoteiro dizia que o principio que o Escotismo adota é o seguinte: As ideias dos jovens são estudadas e ele é estimulado a educar-se a si próprio  ao contrário de  ser “ensinado ou instruído”. Todos já pensaram no que significa tudo isto que disse BP? – Estaremos todos fazendo isto? Não sei. Acho que muitos estão, mas a grande maioria não. O sistema de patrulhas, o aprender a fazer fazendo, (vejam outros artigos já publicados) enfim uma série de situações importantes tais como a convivência, a aceitação de ideias (democracia) e o mais importante, dar o reconhecimento e valor a cada companheiro de ideias e de ideais.

            Vejo que em alguns grupos uma pequena minoria, graças a Deus não existe aquilo que chamamos de democracia escoteira que nada difere da democracia plena. Ouvindo aqui e ali, tem alguém que se diz perseguido e mal entendido pelos amigos no grupo, outro diz que não ouvem suas ideias, outro é o dirigente máximo que autocraticamente dirige o grupo como se fosse sua propriedade. Não tem um Conselho de Chefes, não divide tarefas, não dá importância aos seus amigos que colaboram junto com ele, a não ser se são leais a seu modo de ser.

               É comum esta divergência fazer com que alguns escotistas não participem mais do Grupo Escoteiro e ao sair, organizam um novo grupo ou desistem para sempre. No novo grupo irão tentar implantar as suas ideias que antes não era aceita no grupo de origem. Felizmente eles tinham espírito escoteiro e amor ao movimento, fazendo com que não cessasse sua colaboração, ajuda e perda de continuidade. Se no novo Grupo considerarem realmente sua função de líder e do método escoteiro, tudo bem. Conheço alguns que começaram e hoje tem um ótimo grupo, mas outros não. Neles vemos um novo “Chefão” fazendo as mesmas coisas que o anterior fazia. E aí vamos nós, a voltar sempre ao tópico do crescimento quantitativo e qualitativo.

             Sei que você e a maioria dos que estão lendo este artigo não faz assim. Tenho certeza que não, mas conheço alguns que não estão sendo bons escotistas. Procure dentro de o possível ajudá-los e com isto vai fazer com que seu amor, sua abnegação, seu altruísmo seja maior do que ele acredita que seja. Lembre-se, conhece-se um ótimo Escotista, vendo o desenvolvimento dos seus rapazes e moças, aplicação do método escoteiro para que o jovem consiga permanecer pelo menos por dois anos e que no futuro a vida na sociedade seja de retidão de caráter e mostrando que tem um alto Espírito Escoteiro. Isto não é para uma meia dúzia. É para pelo menos 60% dos membros participantes nos últimos três anos que cada um de vocês colaboraram no movimento escoteiro. (media que um Escotista permanece no movimento)i Como dizia BP, o importante é o resultado.


A vida tem significados maiores quando somos úteis e nos sentimos mais ativos socialmente. Por isso nos tornamos pessoas melhores

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Lendas escoteiras. As aventuras do Escoteiro Chico Landi. Aquele que superou os seus limites. Faz tempo que eu conhecia Chico Landi. Confesso que não tivemos um contato muito próximo, pois eu com meus dezesseis anos e ele com doze havia uma distância muito grande para sermos íntimos. Mas depois que tudo aconteceu seus feitos e histórias foram de conhecimentos de todos. Ele mesmo quando entrou para o restrito Primeiro Grupo de Giwell um dia em um acampamento chamado de Gilwell Park, pois nosso Distrito fazia realizar uma vez por ano com os chefes Insígnias, tive a oportunidade de ouvir dele toda a história que era contada no grupo e que virou mito e lenda o que não era verdade. Ela a história em parte existiu. Disse-me que seu pai era um fã incondicional de Chico Landi, um famoso automobilista brasileiro além de vencer varias provas internacionais e o primeiro brasileiro a participar da Formula um. Este era o motivo de seu nome. Seu apelido de Centelha na Tropa nunca pegou. Chico Landi era daqueles que sempre dizia – Escoteiro não corre, voa! Escoteiro que é Escoteiro não chora da risada! A chuva para o Escoteiro é como pétalas de rosas a cair em seu rosto! Não existe para o Escoteiro a palavra impossível. Sei que ele tinha um caderno onde colecionava estas frases e ele mesmo inventava na hora outras tantas. A Baguira Vera e o Balu Nonato não sabiam como a Akelá Rosinha tinha tanta paciência com Chico Landi. Bem, era um ótimo lobo, mas não parava de reclamar – Kelá! Tem dois meses que fomos ao acantonamento, vamos fazer outro! Kelá chega de reunião na sede. Vamos passear no campo! Chico Landi adorava a natureza. Quando passou para os Escoteiros tudo mudou. Era uma Tropa quase autônoma de chefia. Marcio o Chefe tinha pouco tempo para dedicar e sempre reunia os monitores e subs em sua casa. Trocavam ideias, muitas vezes acamparam juntos e a Tropa seguia sozinha sem adultos. Monty o Guia dizia sempre – Onde tem um Escoteiro tem uma Tropa e onde tem uma Tropa tem aventuras. A vida de Chico Landi se transformou a ponto de Dona Laurinda mandar chamar seus pais para uma conversa. – Chico Landi deixou de estudar, Chico Landi só vive nas nuvens, Chico Landi não pode continuar assim, só fala em escotismo, escotismo e mais nada! Doutor Juvenal pai de Chico Landi era um pai compreensivo. Conversou longo tempo com o filho. Chico Landi adorava o pai. Seguia seus conselhos a risca. Mas Chico amava o campo. Adorava correr pelas campinas, espantar as borboletas coloridas misturando com as flores silvestres os raios de sol de um amanhecer maravilhoso. Ele cantava e como cantava. Sabia fazer qualquer tipo de nós. Reconhecia na natureza qualquer gorjeio, qualquer canto – Olhe! Ouçam! É o pássaro Preto do serrado perdido aqui nas campinas! Pegadas? Chico era um bam, bam. Nos acampamentos sua Patrulha Lobo era a primeira em dar o grito para o almoço, jantar, prontos para inspeção, formaturas e apesar de não ser o Monitor era um motivador sem igual. - Monty, por quê? Monty ria, ora, ora Chico Land, não podemos viver em um acampamento. A sede precisa de nós. Humm! Ele dizia se é assim então vamos fazer um Salcedo? Para quem não sabe Salcedo era um apelido que deram ao Comando Crow. Eles faziam diferente, um de cada lado, ao se encontrarem tinham de passar um pelo outro. Sempre um despencava no chão. A vida era bela para Chico Landi. Uma família que o amava, um grupo Escoteiro respeitado pela comunidade, uma Tropa de aventuras e uma Patrulha sem igual. Bem vamos dar os méritos a Dona Laurinda a professora e o Padre Gabriel. Eles também sem perceber faziam parte da família feliz de Chico Landi. A vida tem destas coisas, quanto menos se espera o destino bate na porta. Não tem jeito. Bateu levou. Desta vez foi uma pancada forte do destino na vida de Chico Landi. Seis bandidos resolveram assaltar o Banco do Brasil. Único na cidade. Prenderam os quatro praças e o sargento Nonô na cadeia. Acharam que a cidade estava dominada. No banco Zé Pinta Cega um vaqueiro da fazenda Luvião não achou graça naquilo. Mandaram todo mundo deitar no chão e um dos bandidos dava chute nas costas e na cara dos clientes. Zé Pinga Cega não levava desaforos para casa. Seu 38 querido estava lá onde sempre esteve. Dentro do bolso comprido de seu paletó feito exclusivamente para carregar seu amigo de tanto tempo. Nenhum dos bandidos reparou nele. Pudera um anão não mais que um metro e cinquenta magro e um bigodinho a lá Charles Chaplin. Com três tiros Zé Pinga Cega matou três, mais um tiro e um caiu estrebuchando no chão, dois correram e Zé Pinga Cega correu atrás. Eles abriram fogo e o Zé Pinga Cega recebeu um balaço nos quadris, mesmo caído ainda atirou. Não acertou ninguém e desmaiou. Os bandidos fugiram sem levar nada. Levaram Zé Pinga Fogo para o Hospital de Eldorado a vinte quilômetros dali. O povo alegre dançava na praça festejando o acontecido. Ninguem notou que atrás de um pé de Jabuticaba centenária Chico Landi gemia e cantava. Um canto triste. Ele cantava o Rataplã. Ninguem ouviu a principio. Dona Modesta foi quem viu. Deu um grito de susto. Chico Landi sangrava e muito. Seu rosto branco como cera. Mais um para o hospital de Eldorado. Ele tentou imitar o seu herói. Aquele que disse que um Escoteiro caminha com suas próprias pernas. Não deu nem um passo. Ainda estava vivo. Alguém o viu correr para a pracinha quando o tiroteio começou. Uma bala perdida. Chico Landi ficou entre a vida e a morte vinte dias. A escoteirada, a lobada e os chefes todos os dias pegavam o caminhão do seu Rangel e iam para Eldorado visitar Chico Landi. Dona Neném sua mãe dia e noite ao seu lado. Seu Pai o Doutor Juvenal fez tudo que podia. Chico não iria morrer, mas estava tetraplégico. Nunca mais iria andar. A noticia caiu como uma bomba na cidade. A lobada e a escoteirada chorava em todos os cantos. O Padre Gabriel convidou toda a cidade para uma grande missa e pedir a Deus por Chico Landi. Era o menino mais alegre da cidade. Vivaz, grande Escoteiro, amante da natureza, era uma infelicidade ele ficar assim. A praça tomada, quase toda a cidade estava lá. Muitos Escoteiros eram coroinhas e estavam no altar a espera do início da missa. A maioria dos presentes tinham os olhos cheios de lagrimas, A Akelá Rosinha, a Baguira Vera e o Balu Nonato choravam como bebês. Monty o Guia da Tropa estava firme com seu bastão em pé ao lado do altar. Não chorava, mas seu coração estava sangrando. Ninguem podia acreditar no que estava acontecendo. O carro do Doutor Juvenal e dona Neném estava chegando à praça. Traziam Chico Landi em uma cadeira de rodas meio caído do lado. Todos olharam para ele com uma pena enorme. Os soluços aumentaram. Alguém gritou – Uma palma para Chico landi! A praça ribombou de cima em baixo. Chico olhava aquilo sem acreditar. Ele não podia estar tetraplégico. Não podia. Deus não ia dar a ele este caminho. Um grito enorme na multidão. Um silêncio sepulcral. Chico Landi se esforça e fica em pé. Impossível diziam os médicos que o assistiram. Chico sorria. Cambaleando foi até o altar. O padre Gabriel ajoelhou e gritou – Um milagre! Um milagre! Louvado seja Deus! Um coro de palmas durou bem uns vinte minutos. Sorrisos em profusão. Os seis patrulheiros da Lobo o carregaram dando uma volta pela praça. Chico Landi ria e chamava em alto e bom som – “Monty, Monty”! Eu quero acampar! Eu quero voltar ao campo nesta primavera, eu quero ver as flores no monte Sariel, eu quero beber a água da fonte do roncador. Monty, Oh! Monty. Papai e mamãe estão sorrindo eles não vão dizer não! Eu e Jota Maro um Chefe novato, mas já Insígnia escutávamos aquela história absurda, mas tão bem contada que a gente chorava. Um choro simples de alegria, de saber que o final foi feliz. Chico landi levantou do banquinho de madeira que ele mesmo tinha feito. Eu juro por Deus que é verdade. Eu juro por tudo neste mundo. Chico landi ficou em pé, atrás dele um enorme raio de sol, seria o sol da meia noite. O fogo que estava quase acabando se alastrou. As fagulhas da noite iluminaram aquela clareira onde estávamos. Uma brisa gostosa vindo do norte nos pegou de pronto. Olhei para Jota Maro, ele sorria. Olhamos de novo para Chico Landi, ele olhava para o céu. Uma grande estrela brilhante estava lá. A maior estrela que eu já vira até então. Parecia que ela e ele eram um só. Paro por aqui. Para muitos seria uma história impossível. Para mim a verdadeira história de um Escoteiro que acreditou. Ele era o protetor da natureza. Viveu sua vida em função dela. Como dizia meu amigo Chico Xavier - Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante das minhas fraquezas!... “E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre.”.



Lendas escoteiras.
Lendas escoteiras.
As aventuras do Escoteiro Chico Landi.
Aquele que superou os seus limites.

       Faz tempo que eu conhecia Chico Landi. Confesso que não tivemos um contato muito próximo, pois eu com meus dezesseis anos e ele com doze havia uma distância muito grande para sermos íntimos. Mas depois que tudo aconteceu seus feitos e histórias foram de conhecimentos de todos. Ele mesmo quando entrou para o restrito Primeiro Grupo de Giwell um dia em um acampamento chamado de Gilwell Park, pois nosso Distrito fazia realizar uma vez por ano com os chefes Insígnias, tive a oportunidade de ouvir dele toda a história que era contada no grupo e que virou mito e lenda o que não era verdade. Ela a história em parte existiu. Disse-me que seu pai era um fã incondicional de Chico Landi, um famoso automobilista brasileiro além de vencer varias provas internacionais e o primeiro brasileiro a participar da Formula um. Este era o motivo de seu nome. Seu apelido de Centelha na Tropa nunca pegou.

          Chico Landi era daqueles que sempre dizia – Escoteiro não corre, voa! Escoteiro que é Escoteiro não chora da risada! A chuva para o Escoteiro é como pétalas de rosas a cair em seu rosto! Não existe para o Escoteiro a palavra impossível. Sei que ele tinha um caderno onde colecionava estas frases e ele mesmo inventava na hora outras tantas. A Baguira Vera e o Balu Nonato não sabiam como a Akelá Rosinha tinha tanta paciência com Chico Landi. Bem, era um ótimo lobo, mas não parava de reclamar – Kelá! Tem dois meses que fomos ao acantonamento, vamos fazer outro! Kelá chega de reunião na sede. Vamos passear no campo! Chico Landi adorava a natureza. Quando passou para os Escoteiros tudo mudou. Era uma Tropa quase autônoma de chefia. Marcio o Chefe tinha pouco tempo para dedicar e sempre reunia os monitores e subs em sua casa. Trocavam ideias, muitas vezes acamparam juntos e a Tropa seguia sozinha sem adultos. Monty o Guia dizia sempre – Onde tem um Escoteiro tem uma Tropa e onde tem uma Tropa tem aventuras.

           A vida de Chico Landi se transformou a ponto de Dona Laurinda mandar chamar seus pais para uma conversa. – Chico Landi deixou de estudar, Chico Landi só vive nas nuvens, Chico Landi não pode continuar assim, só fala em escotismo, escotismo e mais nada! Doutor Juvenal pai de Chico Landi era um pai compreensivo. Conversou longo tempo com o filho. Chico Landi adorava o pai. Seguia seus conselhos a risca. Mas Chico amava o campo. Adorava correr pelas campinas, espantar as borboletas coloridas misturando com as flores silvestres os raios de sol de um amanhecer maravilhoso. Ele cantava e como cantava. Sabia fazer qualquer tipo de nós. Reconhecia na natureza qualquer gorjeio, qualquer canto – Olhe! Ouçam! É o pássaro Preto do serrado perdido aqui nas campinas! Pegadas? Chico era um bam, bam. Nos acampamentos sua Patrulha Lobo era a primeira em dar o grito para o almoço, jantar, prontos para inspeção, formaturas e apesar de não ser o Monitor era um motivador sem igual.

           - Monty, por quê? Monty ria, ora, ora Chico Land, não podemos viver em um acampamento. A sede precisa de nós. Humm! Ele dizia se é assim então vamos fazer um Salcedo? Para quem não sabe Salcedo era um apelido que deram ao Comando Crow. Eles faziam diferente, um de cada lado, ao se encontrarem tinham de passar um pelo outro. Sempre um despencava no chão. A vida era bela para Chico Landi. Uma família que o amava, um grupo Escoteiro respeitado pela comunidade, uma Tropa de aventuras e uma Patrulha sem igual. Bem vamos dar os méritos a Dona Laurinda a professora e o Padre Gabriel. Eles também sem perceber faziam parte da família feliz de Chico Landi. A vida tem destas coisas, quanto menos se espera o destino bate na porta. Não tem jeito. Bateu levou. Desta vez foi uma pancada forte do destino na vida de Chico Landi.

           Seis bandidos resolveram assaltar o Banco do Brasil. Único na cidade. Prenderam os quatro praças e o sargento Nonô na cadeia. Acharam que a cidade estava dominada. No banco Zé Pinta Cega um vaqueiro da fazenda Luvião não achou graça naquilo. Mandaram todo mundo deitar no chão e um dos bandidos dava chute nas costas e na cara dos clientes. Zé Pinga Cega não levava desaforos para casa. Seu 38 querido estava lá onde sempre esteve. Dentro do bolso comprido de seu paletó feito exclusivamente para carregar seu amigo de tanto tempo. Nenhum dos bandidos reparou nele. Pudera um anão não mais que um metro e cinquenta magro e um bigodinho a lá Charles Chaplin. Com três tiros Zé Pinga Cega matou três, mais um tiro e um caiu estrebuchando no chão, dois correram e Zé Pinga Cega correu atrás. Eles abriram fogo e o Zé Pinga Cega recebeu um balaço nos quadris, mesmo caído ainda atirou. Não acertou ninguém e desmaiou. Os bandidos fugiram sem levar nada.

           Levaram Zé Pinga Fogo para o Hospital de Eldorado a vinte quilômetros dali. O povo alegre dançava na praça festejando o acontecido. Ninguem notou que atrás de um pé de Jabuticaba centenária Chico Landi gemia e cantava. Um canto triste. Ele cantava o Rataplã. Ninguem ouviu a principio. Dona Modesta foi quem viu. Deu um grito de susto. Chico Landi sangrava e muito. Seu rosto branco como cera. Mais um para o hospital de Eldorado. Ele tentou imitar o seu herói. Aquele que disse que um Escoteiro caminha com suas próprias pernas. Não deu nem um passo. Ainda estava vivo. Alguém o viu correr para a pracinha quando o tiroteio começou. Uma bala perdida. Chico Landi ficou entre a vida e a morte vinte dias. A escoteirada, a lobada e os chefes todos os dias pegavam o caminhão do seu Rangel e iam para Eldorado visitar Chico Landi. Dona Neném sua mãe dia e noite ao seu lado. Seu Pai o Doutor Juvenal fez tudo que podia. Chico não iria morrer, mas estava tetraplégico. Nunca mais iria andar. A noticia caiu como uma bomba na cidade. A lobada e a escoteirada chorava em todos os cantos. O Padre Gabriel convidou toda a cidade para uma grande missa e pedir a Deus por Chico Landi. Era o menino mais alegre da cidade. Vivaz, grande Escoteiro, amante da natureza, era uma infelicidade ele ficar assim.

          A praça tomada, quase toda a cidade estava lá. Muitos Escoteiros eram coroinhas e estavam no altar a espera do início da missa. A maioria dos presentes tinham os olhos cheios de lagrimas, A Akelá Rosinha, a Baguira Vera e o Balu Nonato choravam como bebês. Monty o Guia da Tropa estava firme com seu bastão em pé ao lado do altar. Não chorava, mas seu coração estava sangrando. Ninguem podia acreditar no que estava acontecendo. O carro do Doutor Juvenal e dona Neném estava chegando à praça. Traziam Chico Landi em uma cadeira de rodas meio caído do lado. Todos olharam para ele com uma pena enorme. Os soluços aumentaram. Alguém gritou – Uma palma para Chico landi! A praça ribombou de cima em baixo. Chico olhava aquilo sem acreditar. Ele não podia estar tetraplégico. Não podia. Deus não ia dar a ele este caminho.

         Um grito enorme na multidão. Um silêncio sepulcral. Chico Landi se esforça e fica em pé. Impossível diziam os médicos que o assistiram. Chico sorria. Cambaleando foi até o altar. O padre Gabriel ajoelhou e gritou – Um milagre! Um milagre! Louvado seja Deus! Um coro de palmas durou bem uns vinte minutos. Sorrisos em profusão. Os seis patrulheiros da Lobo o carregaram dando uma volta pela praça. Chico Landi ria e chamava em alto e bom som – “Monty, Monty”! Eu quero acampar! Eu quero voltar ao campo nesta primavera, eu quero ver as flores no monte Sariel, eu quero beber a água da fonte do roncador. Monty, Oh! Monty. Papai e mamãe estão sorrindo eles não vão dizer não!

         Eu e Jota Maro um Chefe novato, mas já Insígnia escutávamos aquela história absurda, mas tão bem contada que a gente chorava. Um choro simples de alegria, de saber que o final foi feliz. Chico landi levantou do banquinho de madeira que ele mesmo tinha feito. Eu juro por Deus que é verdade. Eu juro por tudo neste mundo. Chico landi ficou em pé, atrás dele um enorme raio de sol, seria o sol da meia noite. O fogo que estava quase acabando se alastrou. As fagulhas da noite iluminaram aquela clareira onde estávamos. Uma brisa gostosa vindo do norte nos pegou de pronto. Olhei para Jota Maro, ele sorria. Olhamos de novo para Chico Landi, ele olhava para o céu. Uma grande estrela brilhante estava lá. A maior estrela que eu já vira até então. Parecia que ela e ele eram um só.

          Paro por aqui. Para muitos seria uma história impossível. Para mim a verdadeira história de um Escoteiro que acreditou. Ele era o protetor da natureza. Viveu sua vida em função dela. Como dizia meu amigo Chico Xavier - Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante das minhas fraquezas!... “E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre.”.

       Faz tempo que eu conhecia Chico Landi. Confesso que não tivemos um contato muito próximo, pois eu com meus dezesseis anos e ele com doze havia uma distância muito grande para sermos íntimos. Mas depois que tudo aconteceu seus feitos e histórias foram de conhecimentos de todos. Ele mesmo quando entrou para o restrito Primeiro Grupo de Giwell um dia em um acampamento chamado de Gilwell Park, pois nosso Distrito fazia realizar uma vez por ano com os chefes Insígnias, tive a oportunidade de ouvir dele toda a história que era contada no grupo e que virou mito e lenda o que não era verdade. Ela a história em parte existiu. Disse-me que seu pai era um fã incondicional de Chico Landi, um famoso automobilista brasileiro além de vencer varias provas internacionais e o primeiro brasileiro a participar da Formula um. Este era o motivo de seu nome. Seu apelido de Centelha na Tropa nunca pegou.

          Chico Landi era daqueles que sempre dizia – Escoteiro não corre, voa! Escoteiro que é Escoteiro não chora da risada! A chuva para o Escoteiro é como pétalas de rosas a cair em seu rosto! Não existe para o Escoteiro a palavra impossível. Sei que ele tinha um caderno onde colecionava estas frases e ele mesmo inventava na hora outras tantas. A Baguira Vera e o Balu Nonato não sabiam como a Akelá Rosinha tinha tanta paciência com Chico Landi. Bem, era um ótimo lobo, mas não parava de reclamar – Kelá! Tem dois meses que fomos ao acantonamento, vamos fazer outro! Kelá chega de reunião na sede. Vamos passear no campo! Chico Landi adorava a natureza. Quando passou para os Escoteiros tudo mudou. Era uma Tropa quase autônoma de chefia. Marcio o Chefe tinha pouco tempo para dedicar e sempre reunia os monitores e subs em sua casa. Trocavam ideias, muitas vezes acamparam juntos e a Tropa seguia sozinha sem adultos. Monty o Guia dizia sempre – Onde tem um Escoteiro tem uma Tropa e onde tem uma Tropa tem aventuras.

           A vida de Chico Landi se transformou a ponto de Dona Laurinda mandar chamar seus pais para uma conversa. – Chico Landi deixou de estudar, Chico Landi só vive nas nuvens, Chico Landi não pode continuar assim, só fala em escotismo, escotismo e mais nada! Doutor Juvenal pai de Chico Landi era um pai compreensivo. Conversou longo tempo com o filho. Chico Landi adorava o pai. Seguia seus conselhos a risca. Mas Chico amava o campo. Adorava correr pelas campinas, espantar as borboletas coloridas misturando com as flores silvestres os raios de sol de um amanhecer maravilhoso. Ele cantava e como cantava. Sabia fazer qualquer tipo de nós. Reconhecia na natureza qualquer gorjeio, qualquer canto – Olhe! Ouçam! É o pássaro Preto do serrado perdido aqui nas campinas! Pegadas? Chico era um bam, bam. Nos acampamentos sua Patrulha Lobo era a primeira em dar o grito para o almoço, jantar, prontos para inspeção, formaturas e apesar de não ser o Monitor era um motivador sem igual.

           - Monty, por quê? Monty ria, ora, ora Chico Land, não podemos viver em um acampamento. A sede precisa de nós. Humm! Ele dizia se é assim então vamos fazer um Salcedo? Para quem não sabe Salcedo era um apelido que deram ao Comando Crow. Eles faziam diferente, um de cada lado, ao se encontrarem tinham de passar um pelo outro. Sempre um despencava no chão. A vida era bela para Chico Landi. Uma família que o amava, um grupo Escoteiro respeitado pela comunidade, uma Tropa de aventuras e uma Patrulha sem igual. Bem vamos dar os méritos a Dona Laurinda a professora e o Padre Gabriel. Eles também sem perceber faziam parte da família feliz de Chico Landi. A vida tem destas coisas, quanto menos se espera o destino bate na porta. Não tem jeito. Bateu levou. Desta vez foi uma pancada forte do destino na vida de Chico Landi.

           Seis bandidos resolveram assaltar o Banco do Brasil. Único na cidade. Prenderam os quatro praças e o sargento Nonô na cadeia. Acharam que a cidade estava dominada. No banco Zé Pinta Cega um vaqueiro da fazenda Luvião não achou graça naquilo. Mandaram todo mundo deitar no chão e um dos bandidos dava chute nas costas e na cara dos clientes. Zé Pinga Cega não levava desaforos para casa. Seu 38 querido estava lá onde sempre esteve. Dentro do bolso comprido de seu paletó feito exclusivamente para carregar seu amigo de tanto tempo. Nenhum dos bandidos reparou nele. Pudera um anão não mais que um metro e cinquenta magro e um bigodinho a lá Charles Chaplin. Com três tiros Zé Pinga Cega matou três, mais um tiro e um caiu estrebuchando no chão, dois correram e Zé Pinga Cega correu atrás. Eles abriram fogo e o Zé Pinga Cega recebeu um balaço nos quadris, mesmo caído ainda atirou. Não acertou ninguém e desmaiou. Os bandidos fugiram sem levar nada.

           Levaram Zé Pinga Fogo para o Hospital de Eldorado a vinte quilômetros dali. O povo alegre dançava na praça festejando o acontecido. Ninguem notou que atrás de um pé de Jabuticaba centenária Chico Landi gemia e cantava. Um canto triste. Ele cantava o Rataplã. Ninguem ouviu a principio. Dona Modesta foi quem viu. Deu um grito de susto. Chico Landi sangrava e muito. Seu rosto branco como cera. Mais um para o hospital de Eldorado. Ele tentou imitar o seu herói. Aquele que disse que um Escoteiro caminha com suas próprias pernas. Não deu nem um passo. Ainda estava vivo. Alguém o viu correr para a pracinha quando o tiroteio começou. Uma bala perdida. Chico Landi ficou entre a vida e a morte vinte dias. A escoteirada, a lobada e os chefes todos os dias pegavam o caminhão do seu Rangel e iam para Eldorado visitar Chico Landi. Dona Neném sua mãe dia e noite ao seu lado. Seu Pai o Doutor Juvenal fez tudo que podia. Chico não iria morrer, mas estava tetraplégico. Nunca mais iria andar. A noticia caiu como uma bomba na cidade. A lobada e a escoteirada chorava em todos os cantos. O Padre Gabriel convidou toda a cidade para uma grande missa e pedir a Deus por Chico Landi. Era o menino mais alegre da cidade. Vivaz, grande Escoteiro, amante da natureza, era uma infelicidade ele ficar assim.

          A praça tomada, quase toda a cidade estava lá. Muitos Escoteiros eram coroinhas e estavam no altar a espera do início da missa. A maioria dos presentes tinham os olhos cheios de lagrimas, A Akelá Rosinha, a Baguira Vera e o Balu Nonato choravam como bebês. Monty o Guia da Tropa estava firme com seu bastão em pé ao lado do altar. Não chorava, mas seu coração estava sangrando. Ninguem podia acreditar no que estava acontecendo. O carro do Doutor Juvenal e dona Neném estava chegando à praça. Traziam Chico Landi em uma cadeira de rodas meio caído do lado. Todos olharam para ele com uma pena enorme. Os soluços aumentaram. Alguém gritou – Uma palma para Chico landi! A praça ribombou de cima em baixo. Chico olhava aquilo sem acreditar. Ele não podia estar tetraplégico. Não podia. Deus não ia dar a ele este caminho.

         Um grito enorme na multidão. Um silêncio sepulcral. Chico Landi se esforça e fica em pé. Impossível diziam os médicos que o assistiram. Chico sorria. Cambaleando foi até o altar. O padre Gabriel ajoelhou e gritou – Um milagre! Um milagre! Louvado seja Deus! Um coro de palmas durou bem uns vinte minutos. Sorrisos em profusão. Os seis patrulheiros da Lobo o carregaram dando uma volta pela praça. Chico Landi ria e chamava em alto e bom som – “Monty, Monty”! Eu quero acampar! Eu quero voltar ao campo nesta primavera, eu quero ver as flores no monte Sariel, eu quero beber a água da fonte do roncador. Monty, Oh! Monty. Papai e mamãe estão sorrindo eles não vão dizer não!

         Eu e Jota Maro um Chefe novato, mas já Insígnia escutávamos aquela história absurda, mas tão bem contada que a gente chorava. Um choro simples de alegria, de saber que o final foi feliz. Chico landi levantou do banquinho de madeira que ele mesmo tinha feito. Eu juro por Deus que é verdade. Eu juro por tudo neste mundo. Chico landi ficou em pé, atrás dele um enorme raio de sol, seria o sol da meia noite. O fogo que estava quase acabando se alastrou. As fagulhas da noite iluminaram aquela clareira onde estávamos. Uma brisa gostosa vindo do norte nos pegou de pronto. Olhei para Jota Maro, ele sorria. Olhamos de novo para Chico Landi, ele olhava para o céu. Uma grande estrela brilhante estava lá. A maior estrela que eu já vira até então. Parecia que ela e ele eram um só.


          Paro por aqui. Para muitos seria uma história impossível. Para mim a verdadeira história de um Escoteiro que acreditou. Ele era o protetor da natureza. Viveu sua vida em função dela. Como dizia meu amigo Chico Xavier - Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante das minhas fraquezas!... “E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre.”.

domingo, 18 de agosto de 2013

Ser ou não ser eis a questão! Será que vale a pena?



Crônica de um Chefe Escoteiro.
Ser ou não ser eis a questão!
Será que vale a pena?

Todos os dias em me pergunto. Vale a pena continuar a postar aqui? Sou insistente e não desisto fácil, mas estou ficando cansado. Os resultados por desconhecer não me dão muita consistência. Muitos me chamam de contador de histórias, bem é verdade eu escrevo muitas histórias. Mas só isto? E os meus artigos mostrando novos caminhos? Alguns sugerindo, outros comentando, outros dando palpites como fomos, como estamos e como seremos. Verdade? Não. Como fomos talvez sim. Como estamos sim e como seremos é difícil pensar. Mas voltemos ao contador de histórias. Quem sabe meus artigos também não são histórias? Aí eu me pergunto será que sirvo só para isto? Contar histórias? Risos.

        É difícil tentar levar aos novos chefes ideias que não sejam as que eles conhecem e fazem agora. Dezenas de cursos dão a eles novos caminhos. Eu sei que os resultados para eles não virá facilmente. Não sei se entendem. São firmes em suas ideias e acreditam no que fazem e olhe não estão errados. Afinal não viveram como era antes e a não ser por ouvir falar e não acreditam que era melhor que hoje. E nem pode. Tudo seria ótimo e formidável no agora, no que fazemos. Quando pergunto quantos tem alcateias completas, se alguém conheceu alcateias masculinas e femininas separadas e também completas comparar com as mistas de hoje? E as patrulhas? Unidas por muitos e muitos anos? Fizeram grandes atividades ao ar livre conforme prescrito no programa e método de Baden Powell? Ou só podem dizer que ouviram falar?

      Fico pensando no contador de histórias que sou. Lobinho por quase quatro anos, Escoteiro por mais de quatro anos, sênior mais ou menos três anos, pioneiro dois anos, Chefe de Alcateia três anos, Chefe de tropa dez anos, de seniores dois, anos, mestre pioneiro... Putz só seis meses. Várias vezes Diretor Técnico, aos trancos e barrancos consegui a IM lobo, Escoteiro e Chefe de Grupo. Dois cursos avançados. Duas vezes Comissário Distrital, Muitas vezes assistente regional, Comissário Regional por sete anos, membro da Equipe de Formação por muito e muito tempo, tendo a honra de dirigir mais de duzentos cursos e ter conhecido mais de cinco mil alunos amigos escoteiros em vários deles. E as cidades e estados e alguns países que visitei? E os cursos, Indabas, Acampamentos distritais que fiz com eles? E hoje? Um aposentado. Como dizem por aí, ele é um simples contador de história. Sabem? Eu gosto disto. Dizem que contar histórias é uma arte. Mas será que sou arteiro? Risos. Mas eu me preocupo com o resultado. Não o seu resultado em seu grupo (detesto esta palavra meu grupo, ninguém é dono de ninguém) e sim o resultado final da formação que estamos dando aos jovens quando eles se tornarem adultos.

      Sabe o resultado que cobro? Este humilde contador de histórias pensa pequeno. Pelo menos quinhentos mil escoteiros em nosso país. Muito? Temos setenta e poucos mil e nossos lideres dão risadas. Isto é motivo de orgulho? A população brasileira que nasceu nos últimos quarenta anos supera em mais de mil por cento os novos que chegaram ao escotismo. Será que temos gente que foi Escoteiro em todas as camadas sociais nos representando e falando bem da gente? Isto não são resultados? Temos? Quantos CEOS (altos executivos) que nos apoiam nas quinhentas maiores empresas brasileiras? Alguns deles visitam o grupo onde nasceram? Alguns deles são escotistas? Isto se eles foram escoteiros que fique bem claro. Quantos professores reconhecidos em seu meio e na sociedade literária falam bem de nós? E na politica? Esta é difícil. Não gosto dela. A maioria deles pelo que fazem não da para acreditar que possam ter sido escoteiros. Ali não se vê nunca o espírito Escoteiro. Pode até ter um e outro, mas são poucos. Mais difícil ainda é ver os resultados que esperamos nos órgãos governamentais. Apesar de sermos apolíticos, vivemos da fonte de renda paga por todos associados. Começando em cinco reais em algum grupo, tanto para a região e o saldo da UEB. Enquanto em outros países grandes ex-escoteiros doam somas valiosas ao movimento e centenas de profissionais Escoteiros trabalham incessantemente na busca de sócios beneméritos aqui nada disto acontece.

       Mas que seja eu sou mesmo um simples contador de história. Meus sessenta e cinco anos de escotismo me deram outra visão. Não as mesmas dos amigos escotistas que tem o mesmo tempo de movimento que tenho. Eles estão em outro patamar. Quem sabe mais elevado que o meu. Mas isto é bom, é democrático. Daria tudo para ver todos pensando e sugerindo dentro dos princípios da democracia. Ficar pensando que minhas ideias são as melhores é formidável. Será mesmo? Não. Não sou o dono da verdade. Já olhou para dentro do grupo em que colabora e viu os resultados dos últimos dez anos? Sei que muitos tem o que se orgulhar e outros não. Meus amigos, minhas amigas, abram um leque, pois o escotismo não é isto que está acontecendo hoje. Não é. Estão esquecendo em muito o que deveria ser. Eu não contento com pouco. Não mesmo. Não sou de bater palmas para dirigentes. Eles tem a obrigação de acertar. Estão representando milhares de associados. O contador de histórias que sou não deve conhecer muito como poderíamos acertar e diferenciar. E eu concordo com quem pensa assim de mim. Nunca em minha vida fui de tomar decisões só. Sempre fiz questão em minha vida escoteira e familiar tomar decisões em conjunto.

         Acho que é por isto que o contador de historias não é bem visto quando escrevo algum que não agrada. Peço desculpas. Já pensei em parar várias vezes. Sempre me perguntando se está valendo a pena. Não sei se vale. Nada mudou e acho que nada vai mudar. Desculpe dizer, mas a aceitação do hoje nunca vai mudar o amanhã e o passado foi enterrado sem homenagens. Seguir a pista é ótimo, mas fazer a pista também. Muitos só sabem seguir a pista. Esqueceram-se de aprender a fazer o caminho a evitar. É certo isto? E sabem? Continuo pensando, será que vale a pena continuar? Ou seria melhor ser somente um contador de historias? Bah! Contador de histórias mais parece um contador de causos nas lindas praças das belas cidades onde os velhos como eu se reúnem. Contar, narrar apenas para divertir. Risos.


         Desculpem mas ainda estou pensando se vale a pena. O corpo esbelto do Chefe Escoteiro do passado (risos) e das fotos de hoje não mostra seu cansaço, sua saúde e até quando tudo isto vai durar. Mas apesar das mil histórias e contos que contei nada tem a ver com Sherazade que para não ser degolada contava uma história atrás da outra para o Rei da Pérsia. As mil e uma noites poderão ser um dia meus contos, mas eu juro que aprendi um pouco de escotismo e como fazê-lo. Afinal nem sei por que estou dizendo isto, todos não dizem que eu sou um bom Contador de Histórias?