Pátria
Minha.
A minha
pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vinicius
de Moraes.
Crônicas de um Chefe
Escoteiro.
Um fantástico desfile de
Sete de Setembro.
Semana da
Pátria. Sempre foi uma semana importante na vida de um Escoteiro. Quem um dia
não sonhou em participar de um desfile? Mochilas cheias de capim, sem ninguém
saber, mas pareciam carregadas das “coisas secretas” dos Escoteiros. E o
bastão? Hoje sei que não foi suprimido, mas naquela época... O Chefe dizia –
Todos muito bem uniformizados, afinal vocês terão a cidade inteira observando e
tirando conclusões. A gente olhava com orgulho o Pelotão das Bandeiras. Lindo
de morrer. Eles colocavam os bastões sobre um cinto prezo ao pescoço, elas
ficavam desfraldas todos de luvas brancas, sapatos engraxados, cintos polidos,
chapéus de abas retas, ufa! Pose de herói!
As reuniões de
sábados continuavam como sempre, mas as terças e quintas eram dias de
treinamento para o desfile. Sabíamos marchar com orgulho. A continência a
autoridade era perfeita. E a banda? Ah! A banda! Linda de morrer. A melhor da
cidade. O Grupo Escoteiro se orgulhava dela. Em cada instrumento uma bandeirola
do Brasil e olhe todos afinados. O Mestre tinha ensinado e todos sabiam o que
fazer. Coitado de quem tocasse uma nota errada ou deixasse cair uma baqueta. Se
o seu talabarte estivesse sujo ouvia poucas e boas claro, se não fosse
defenestrado da banda. Mau exemplo para o público nunca! A ordem do desfile
nunca mudou. Primeiro a Guarda de Honra das bandeiras. No meio a Nacional, à
direita a do estado, a da esquerda da cidade. Atrás mais três a do grupo, do
Clube onde funcionávamos e de vez em quando a da Igreja.
A cidade em peso
corria para ver os desfilantes. O Tiro de Guerra, um Batalhão da Policia
Militar e claro os Escoteiros. Palmas e palmas. No palanque o Chefe do Grupo
orgulhoso com suas estrelas de atividade brilhando. Quando saiamos da rua
transversal, sempre na Frente o Pavilhão Nacional em seguida a banda, depois os
lobos, os Escoteiros, os seniores e pais. Estes eram poucos, não mais do que
vinte ou trinta. O trecho do desfile não era mais que oitocentos metros. A
apoteose era em frente ao Palanque das autoridades e sempre fazíamos evoluções,
malabarismo e nosso caminhão com a carroceria aberta estava lá à barraca
armada, uma mesa e um fogão suspenso que na hora exata quando passava pelo
palanque o café está sendo coado. Já tinha um Escoteiro preparado com uma
bandeira, xicaras e ia servir o café para o Prefeito, O doutor Juiz, O padre, o
delegado e o comandante militar e do exercito.
Quando
terminávamos sempre dávamos uma volta em algumas ruas. As famílias saiam de suas
casas e vinham aplaudir. Ao chegar à sede, mesas cheias de salgados e você
podia escolher – Coxinha de galinha, bolinhos de carne, empadinhas da dona
Armênia, croquete, bolinhos de bacalhau, pastei de carne, de queijo, pasteis de
mandioca, e você ainda tinha suco de uva, de limão de groselha, de laranja
todos naturais a disposição de todos. Ainda não existiam os copos plásticos,
mas todos tinham sua caneca guardava no almoxarifado do grupo. Em volta da mesa
os comilões se regozijavam, cantavam, contavam causos e alguns sonhando.
Sonhando com sua bela que lá foi para aplaudir e piscou um olho para ele.
Piscada que nunca seria esquecida.
Sete de
Setembro. Sonhávamos o ano inteiro com ele. Uma época de amor à pátria,
respeito à bandeira, cidadania levado ao extremo. Época em que nós meninos
acreditávamos no brilhantismo de uma data, de lembrar-se de um Don Pedro I em
seu cavalo branco mesmo que não seja a insurgir-se com Portugal. E antes de ir
embora, um cerimonial de bandeira diferente. Ela já tinha sido hasteada antes
pela patrulha de serviço. Todos formados. Cantamos com dignidade de um infante
o hino Nacional, depois os lobinhos cantavam o da Bandeira e por último o grupo
cantava orgulhosamente o Rataplã. Nunca esqueci. Os chefes vinham em fileira
cumprimentar a cada um. – Parabéns lobinho/Escoteiro pela sua contribuição com
a pátria. Sempre Alerta!
E a gente saia
da sede com os olhos brilhando e sonhando. Sonhando com um novo Sete de
Setembro. Quanto tempo, quantos Sete de Setembro eu vivi. E hoje nas capitais
não querem os lobos desfilando. Tem base a proibição, mas a culpa é de quem?
Das autoridades que deixam os meninos por último enquanto os fortes e guapos
rapazes da pátria vão primeiro. Mas a vida é assim mesmo, o moderno está aí e
as mudanças não param de acontecer. Viva o Sete de Setembro. Para ele o meu
amor.
Não te
direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama”...
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama”...