Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Chefe Falcão Maltês. Um perfeito cavalheiro.



Lendas escoteiras.
Chefe Falcão Maltês. Um perfeito cavalheiro.

             Não sei quem colocou o apelido. Nunca perguntei. Seu nome correto? Nem pensar. Ele não dizia a ninguém. Eu só sei que foi um grande amigo enquanto estivemos juntos. Disse-me um dia que fora Chefe do Grupo Escoteiro Estrela Cadente. Nunca tinha ouvido falar. Mas não é disto que quero falar sobre ele. Chefe Falcão Maltês era um cavalheiro. Como se diz hoje uma figura que merece um lugar entre os homens de honra deste país. Um digno Escoteiro. Nunca deixou alguém mais velho que ele em pé no ônibus. Ninguém sentava sem antes ele arrumar a cadeira e olhem, as chefes adoravam. Pagar despesas? Nem pensar. Se ele não pudesse pagar não iria. Dizia sempre que os homens devem ser boníssimos com as mulheres, pois são elas que carregam o fardo mais pesado.

             O que eu admirava muito no Chefe Falcão Maltês era seu modo de falar e dar exemplos aos escoteiros. Lembro que uma vez estávamos em marcha de estrada indo acampar no Vale da Tartaruga, e caiu um pequeno papel de bala na trilha onde percorríamos. Ele parou toda a tropa. Chamou a todos. Disse – Sabem que somos invasores? A escoteirada não entendeu nada. – Porque Chefe? Disse um deles. Porque a relva, as árvores, os pássaros, o rio e as montanhas estavam aqui antes de nós. Portanto eles são os donos. Vocês são intrusos. Vocês gostariam que alguém entrasse em suas casas, sem pedir e jogassem papeis de bala na sala? Ninguém disse nada. Um Escoteiro foi até lá e pegou o papel e guardou na mochila. E nos acampamentos? Sua inspeção era rigorosa. Não perdoava nada. Nem fossa mal tampada. – Escoteiros! – dizia ele, porque deixar que a abelha os beija flores, os pássaros do céu sintam o mau cheiro? Não é certo, não é mesmo?

           Um dia estávamos sentados na porta da barraca, um pequeno fogo crepitava e ele começou a cantar uma linda melodia. Todos acorreram para perto dele. Ele parou e os escoteiros ficaram intrigados. – Vou continuar, aguardem. Só quero aproveitar a oportunidade para dizer a vocês, que as músicas, canções tudo que existe é belo. Sabendo cantar e sabendo ouvir. Se um dia vocês ouvirem uma musica clássica, ou mesmo uma ópera em um lugar qualquer sei que não irão gostar. Mas se assistirem a um conserto de uma Orquestra sinfônica ao vivo, ou mesmo a uma ópera em um teatro tenho certeza que irão adorar. A Musica para se gostar tem de ter sentimento. Existem músicas e músicas para cada momento da vida. As clássicas relaxam e fazem sonhar, musicas de trilhas sonoras são lindas. As românticas para quando se tem um grande amor. Temos, continuou ele – Que aprender tudo que possamos absorver. As músicas de hoje cantadas ou não desde que não tenham segundas intenções em suas letras, são válidas. Mas existem outras e um Escoteiro deve estar preparado para descobrir, ouvir e sonhar com todas elas. Não é o barulho estridente da música que nos toca o coração. Ouvir boa música faz parte de nós escoteiros que vivemos nas montanhas acampando.

          Era assim o Chefe Falcão Maltês. Dizia sempre que podia que o Escoteiro é um cavalheiro, um fidalgo. – Lembram-se do que diziam da mulher de César? Assim somos nós, ele dizia. Não basta mostrar que somos, temos que se portar como tal. – Que tal dar a vez a um amigo? Abrir a porta para ele? Que tal dividir o doce, o farnel, seu cobertor, que tal dividir sua alegria, sua felicidade com quem não a tem? – Chefe Falcão Maltês deixou saudades. Sempre acreditei que todos nós chefes escoteiros devemos ser uma espécie de Chefe Falcão Maltês. Alguns dos nossos jovens precisam aprender boas maneiras. Claro, é função dos pais. Mas não estamos ali para colaborar? – Um dia ele me disse – Chefe Osvaldo, hoje muitos se apegam a entender o jovem como ele é e a justificar. Certo isto. Mas existem normas, direitos e deveres que são sagrados. Um pai nunca vai dizer ao filho se ele quer ir escola, se ele quer sentar a mesa para as refeições ou se ele pode escolher a hora para dormir. Isto faz parte da família. É sagrado. Temos de ser assim.

             Entendi perfeitamente seu recado. Não é porque os tempos mudaram que as boas maneiras, a educação, o cavalheirismo deve deixar de existir. O respeito aos mais velhos, o respeito ao meio ambiente, o respeito com as pessoas, o direito de um e o de outro nunca devem ser olvidados. Seria bom, seria bom mesmo que existem muitos chefes Falcão Maltês por aí. Acho que tem muitos jovens que se chamam de escoteiros e escoteiras que poderiam ouvir suas palavras e aprender.


               Já faz anos que não vi mais o Chefe Falcão Maltês. Soube que ele resolveu abrir um Grupo Escoteiro nos garimpos do Suriname. Um país perdido nas fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Porque a escolha? Ninguém me disse. Quem sabe ele seria lá um novo Cavaleiro da Tavola Redonda? Quem sabe um Sir Lancelot filho do rei Ban de Benwick e da rainha Elaine? Afinal ele foi primeiro cavaleiro promessado pelo rei Arthur e nunca falhou em gentileza, cortesia e coragem. O Chefe Falcão Maltês não teve uma armadura de aço mas tinha um coração eorme. Acho que ele foi para aquelas paragens para dizer aqueles garimpeiros rústicos que não existe hora e nem lugar para ser educado e ter honra. Que ele seja feliz. Ensinou-me muito. Tem chefes que são e tem outros que dizem ser. Eu até hoje ainda não me situei. Que Deus me ajude a cumprir minha missão, claro se eu tiver uma para cumprir.  

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Você pode escolher se quiser o caminho da felicidade.



Conversa ao pé do fogo.
Você pode escolher se quiser o caminho da felicidade.

Ei rapaz, você mesmo, para onde vai? Está não é a estrada certa. Procure outra. Quem sabe aquela que ficou lá atrás, pois tinha flores azuis e amarelas na entrada do bosque florido. Não percebestes? Era lá que você devia olhar e quem sabe encontrar o que procuras. Eu vi na curva do caminho centenas de jovens sorrindo. Notou que eles brincavam de gente grande? Viu como eles eram solícitos quando perguntas-te se eles gostavam do que faziam? Sei que você gostou deles e porque não permaneceu lá? Todos insistiram para você ficar. Não se lembras daquele pequenino que lhe deu um aperto de mão esquerda e disse que ali morava a felicidade eterna? Então porque titubeaste? Porque não aceitou o convite feito de forma alegre e fraterna? Eles são assim, divertidos, amigos de todos e irmão daqueles que estão com eles nas veredas do bom caminho. Sabe quem são? Não sabe? Eles são Escoteiros, entusiastas joviais briosos brasileiros que vão se tornar homens brincando de aventuras.

Volte! Não siga nesta trilha que está cheia de espinhos. Ela não vai levar você a lugar nenhum. Não acredite que os outros que vais encontrar serão seus amigos. Eles estão perdidos como você. Eles não pensam mais, são mortos vivos a vagar por aí. Esqueceram seu passado, suas vidas seus sonhos. Eles não sonham mais. Sentam em qualquer lugar onde alguém lhe oferece o néctar do veneno que mata. Você não pode desejar isto. Ainda tens tempo. É só voltar nas passadas do tempo. Lembre-se daqueles que te amam, que desejam seu retorno. Eles imploram seu retorno. Volte, não fique na duvida. Você tem ainda vastos caminhos a percorrer. Não peço para acreditar no criador. Muitos que estão aí com você hoje duvidam que ele exista. Mas cada um tem o direito de criar seu próprio destino e você não precisa criar um onde um dia irá ver só a escuridão, quem sabe um raio solto no céu mostrando o lamaçal onde irás viver. Isto seria vida? Não escolha este caminho. Não é um bom caminho.

Volte! Procure a serra do amor perfeito. Encontre outros amigos, aqueles do sorriso franco, do abraço sincero, aqueles que te dizem para cantar com eles o Rataplã. Abriram-lhe uma vaga na patrulha da felicidade. Deixarão para você uma flor de lis para lhe indicar o caminho. Deixarão você um dia escolher se quer ou não ser mais um destes milhões de jovens amigos que o mundo abraçou. Sei que se tentar vai gostar. Vais sentir o cheiro da terra, do capim molhado, do doce cantar do riacho cristalino, onde na cascata da nevoa branca as borboletas dançam e cantam nas ondas que o vento sopra sobre elas. Encontre o novo mundo, um mundo de jovens que querem o seu bem. Vá com eles. Suba nas mais altas árvores, escale a montanha da alegria e volte depois para os seus que com os olhos cheios de lágrimas pois eles o receberão de braços abertos.

Escute por favor o chamado dos Escoteiros que insistem que você seja mais um deles. Abandone esta estrada que não tem fim. Abrace com eles a felicidade, a sede da aventura, a vontade de ser mais um, de ter amigos, de saber que agora tem com quem contar. Escotismo é isto. Um caminho certo para que você um dia possa orgulhar do seu caráter. Onde todos dirão que você é um homem de honra e não importam o que digam mais, importa sim o que você vai sentir no seu coração. E como diz o velho poema: Quem afinal se anima a escalar das serranias as alturas? Quem são aqueles que uma bandeira arvora nas asas da imaginação? Contemplais e vereis, são jovens Escoteiros, entusiastas, joviais briosos brasileiros que lá vão brincar ao léu de uma aventura.

“Já viste por acaso, a luz das madrugadas,
Uns veleiros azuis singrando mar afora,
Ou em marcha, a cantar patriótica toada,
Um grupo que na serra alcantilada
Em plena mata acampa e uma bandeira arvora?

Desta flotilha azul quem são os marinheiros,
Que se animam a escalar as serranias e alturas?
Contemplais que vereis, são jovens Escoteiros,
Entusiastas, joviais briosos brasileiros

“Que lá vão brincar ao léu de uma aventura”

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O estranho funeral do Chefe Gafanhoto



O ESTRANHO FUNERAL DO CHEFE GAFANHOTO.

Dia 17 passado, terminado o meu terceiro livro O ESTRANHO FUNERAL DO CHEFE GAFANHOTO fiz meu primeiro marketing em diversas redes sociais. A sinopse da história chamou a atenção. Um Chefe Escoteiro, morto covardemente em um linchamento, em uma delegacia onde estava preso e acusado por ser um estuprador, pedófilo e assassino. Seus antigos Escoteiros na cidade, seus amigos todos o abandonaram deixando a própria sorte.

Um antigo Escoteiro quando ficou sabendo de sua morte embarca para a cidade onde viveu e movendo céus e terra prova que ele era inocente. Junto a um Chefe Sênior seu amigo, detetive e antigo policial Federal e da Interpol em poucos dias desvendaram a trama urdida por membros da comunidade. Uma trama policial se desenvolve nos moldes dos contos de Arthur Conan Doyle e Agatha Christie culminado nas ultimas páginas com a descoberta do verdadeiro assassino e dos seus comparsas.

Em dezoito dias 350 escotistas, seniores e amigos civis receberam em sua caixa postal o pedido feito e muitos já deram retorno fazendo comentários positivos.
Se você ainda não recebeu e gostaria de ler esta história de trinta páginas, é só pedir por e-mail e recebe em PDF e sem ônus. Faça seu pedido pelo meu e-mail:


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Minha incrível e saudosa Cascavel da pele vermelha.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Minha incrível e saudosa Cascavel da pele vermelha.

        Não se enganem. Foi mesmo uma grande amiga. Não falo do ser humano, por favor! Falo de uma cascavel que morava nas Colinas do Pastor. Acho que foi em um inverno rigoroso que a conheci. Foi assim subitamente e não esperava. Andando na mata espessa fiquei preso com o pé direito entre dois galhos secos. Tentava sair e não conseguia. Não era longe do nosso campo de patrulha. Porque saí só? Quer saber mesmo? Fui procurar um lugar mais calmo para falar com o Miguel. Risos. Acho que vocês sabem quem é o Miguel e não dá para levar companhia. Estava eu lá olhando a folhagem de uma bela Aroeira Pimenteira, enorme, parecendo ter mais de duzentos anos de idade quando ouvi o chocalho. Nem deu tempo para fazer os “entretantos”. Sabia que o chocalhar de um chocalho é pernas para quem vos quero. Não deu outra dois passos e fiquei preso com o pé direito e o esquerdo ali se oferecendo para uma mordidinha que iria me fazer feliz para sempre lá no céu.

         Eu sabia que muitos falam mal das cobras. Dizem que são animais traiçoeiros e devemos ter o máximo de cuidado. Eu nunca tive medo delas. Sabia que só nos atacam quando se sentem ameaçadas ou algum infeliz pisa em cima delas. Até aquele dia tinha visto inúmeras Cascáveis. Nossa patrulha tinha um convenio com o Instituto Butantã em São Paulo. Eles nos mandavam as caixas de madeiras apropriadas e era só entregar ao Chefe da Estação da Vitória Minas e ele enviava. Em troca nos mandavam soro antiofídico que era doado para o hospital local. A Cascavel sempre foi a mais temida. Seu chocalho arrepiava os mais valentes dos Escoteiros e até o Zé Morto Vivo quase morreu quando foi picado e olhe, estava com um trinta e oito, um fuzil Mauser, duas facas e dois punhais. Não morreu, pois o humilde Zé Morto Vivo tinha uma reza “braba”. Portanto vamos dar um crédito as Cascavéis. Elas avisam e muito. Só um idiota e um imbecil não foge do seu chocalho.

       Falando em chocalho dizem que a gente pode saber quantos anos ela tem. Comentam a boca pequena que cada anel, ou melhor, cada guizo é formado quando ela troca de pele. A pele sai no sentido da cabeça para a cauda e ai, uma parte fica presa formando um dos anéis. Comentam também que a vida útil (ou inútil para quem já foi mordido e não foi desta para melhor) troca de pele três ou quatros vezes por ano. Portanto uma cobra com nove anéis no chocalho tem provavelmente entre dois e três anos. Mas vamos com a história da minha querida Cascavel da Pele Vermelha. Ela sim já me avisara que estava ali. Que eu me mandasse rápido pela trilha que tinha vindo. Mas o pé direito preso e ainda colocando as calças no lugar certo só me cabia rezar. Foi então que um Sapinho-cururu passou por mim e não viu a linda cascavel de bote armado. Bela refeição ela comeu.

         A cobra se esticou toda. O pobre do sapinho tentava mesmo vivo sair da barriga dela. Não conseguia. Fiquei com pena do sapinho. Tão miudinho e servindo de lauta refeição para Dona Cascavel. Consegui me desvencilhar e me mandei dali. Uma hora depois vi de novo a Cascavel da pele vermelha na porta do nosso campo de patrulha. Todos gritaram – Mata! Mata! E só vi o tripé de bastões balançar e servir aos valentes patrulheiros. Ela é claro deu no pé ou no rabo não sei. Passou meia hora e lá estava ela de novo a me olhar. Não olhava para nenhum dos big boys Scouts, só para mim. Caramba, pensei. Será que se apaixonou? Eu namorar uma Cascavel? Eis que neste interim vai a passos de tartaruga uma grande e deliciosa lesma. Pluf! Uma bocada e lá foi a lesminha para o fundo do poço da Cascavel.

           Estava agora entendendo a jogada da Dona Cascavel da pele vermelha. Ela sabia que ao meu lado um lauto almoço sempre aparecia. Fazer o que com sua escolha em me ter como Mestre Cuca Cobreiro? Melhor explicar a patrulha e deixá-la vaguear pelo campo. Ela não ia morder ninguém. Foi à conta. A Cascavel da pele vermelha virou o xodó da patrulha. Alguns até brincavam de pique esconde com ela. Boca Larga subiu em uma arvore e gritou – Você não me pega! Você não me pega! Coitado, só viu quando a Cascavel da pele vermelha começou a se enroscar no troco e ele pulou de uma altura de mais de dez metros. Nada demais. Apenas uma luxação que nós grandes socorristas que éramos o tratamos melhores que os médicos importados do estrangeiro.

          Durante os quatro dias de campo nossa amiga permaneceu lá. Quando fazíamos o sinal Escoteiro para ela, em troca balançava seu chocalho. No último dia vi que ela tinha engordado e já nem ligava mais para os girinos, sapinhos e outros bichos e insetos e só queria dormitar na minha barraca. Ficava lá horas e horas e até acostumei com ela à noite dormindo no pé da minha cama. Isto mesmo. Uma cama! Naquela época sempre fazíamos uma para nós. Época boa, bom recordar. Mas enfim, o último dia chegou. Formada a patrulha em frente onde estava arvorada a bandeira, chegou a hora do adeus. – Lobos! A Bandeira em saudação! No pé da arvore onde estava arvorada a bandeira a Cascavel da pele vermelha acompanhava a cerimonia. Tudo desmontado e já ensacado nas bicicletas era se despedir do local e se mandar. Seriam mais de vinte e cinco quilômetros a percorrer. Saindo às cinco da tarde no mais tardar às oito da noite estaríamos em casa.

           Olhei para trás e vi a Cascavel tentando nos acompanhar. Não deu. Pegamos uma descida que dava para fazer até cinquenta quilômetros por hora. Nem lembrava mais da Cascavel da pele vermelha e na segunda quando voltava da escola uma surpresa. No portão da minha casa lá estava a minha querida amiga a Cascavel da Pele vermelha. Como ela achou a minha casa não sei explicar. Expliquei a mamãe e ao papai como ela era. Minhas duas irmãs sorriram. Para dizer a verdade nunca dei alimentação para ela. Morou conosco por muitos anos. Seu Zé Carapinha nosso vizinho foi quem comentou que outra cascavel estava junto a ela. Partiram em um domingo de verão. Tempos depois passei a receber a visita dela e seus novos familiares. Uma dezena de cascáveis ali na porta de casa chocalhando como se estivessem nos cumprimentando. Fizeram isto por muitos anos até que nunca mais a vi. Por onde anda? Se estiver aqui no bairro é melhor esquecer. Todos tem medo dela. Se alguém a visse enquanto não a mandasse para a terra das Cobras Mortas não ficaria satisfeito.


          Cobras. E quem tem medo delas? Eu nunca tive. Sabia como evitar, como pegar, como correr mesmo com as calças na mão saindo em disparada do Miguel. Faz parte da vida de nós Escoteiros acampadores. De vez em quando sonho com ela, trocando a pele, engolindo um sapinho que gemia para sair de sua barriga. Sonho bobo não? É de vez em quando sinto saudade da minha amiga a Cascavel da pele vermelha. Que onde estiver que esteja feliz e que viva para sempre se é que não se reencarnou novamente. Risos!

domingo, 6 de outubro de 2013

Açu Pintassilgo, o Jacaré chorão do Lago Ness.



Lendas escoteiras
Açu Pintassilgo, o Jacaré chorão do Lago Ness.

       Ele não era um jacaré comum. Nunca foi. Não se enturmava. Morava na beira do Lago Ness. Não saia dali para nada a não ser um mergulho ou outro. Achou próximo aos coqueiros uma enorme pedra. Seu local preferido. Metade da pedra afundava na água escura e ele ali ficava o dia inteiro.  Metade fora d’água e a outra dentro d’água. Seus pais disseram que ele era um legítimo Jacaré-Açu, uma linhagem de muitos e muitos anos. Açu Pintasslgo nunca se importou com isto. Um dia um Escoteiro sentou ao seu lado e conversa vai conversa vem ele disse – Açu Pintassilgo, você sabe o que significa Jacaré para os homens? Dizem que seu nome deriva dos tupi-guaranis, Iakaré ou Yacaré, aquele do olho torto, encurvado e que vê pelos lados. Açu Pintassilgo não achou graça. Olhou para o Escoteiro e disse: E daí? Eu tenho orgulho da minha linhagem. Tanto orgulho que aprendi a ser amigo de todos. Você me conhece bem, sempre fui um cavalheiro com todos os Escoteiros e escoteiras.

        O Escoteiro não disse mais nada. Poderia ter dito que ele era o maior chorão do Lago Ness. Poderia ter dito que ele era motivo de piada para todos na patrulha. Poderia ter dito que nos fogos de conselhos era falar nele e todos morriam de rir. Mas o Escoteiro era leal. Não ia desfazer do Açu Pintassilgo. Isto não. Só que nenhum Escoteiro sabia que lágrimas de jacarés são falsas. Conta uma lenda que seus bisavós os crocodilos quando iam comer uma presa, eles engoliam sem mastigar. Assis para abrir a mandíbula ele precisava comprimir a glândula lacrimal e elas abertas começavam a lacrimejar. As lagrimas lubrificam o olho. Mas Açu Pintassilgo gostava de ver os outros dizer que ele era um Jacaré Chorão.

        Não tenho certeza, mas acredito que foi no verão passado que apareceu nadando uma linda Jacaré. Açu Pintassilgo apaixonou só de olhar. Amor à primeira vista. Naná Verdes Mares olhou Açu Pintassilgo e nem prestou atenção. Foi nadando e ao passar por ele deu um sorrisinho maroto. Açu Pintassilgo pulou na água e quando a procurou viu que ela sumiu. Agora Açu chorava mesmo. Perdeu seu amor e não sabia como fazer. O Escoteiro a tarde apareceu e ouviu sua história. Deixe comigo Açu, você sabe, vou espalhar aos quatros ventos do Lago Ness. Vamos encontrar sua amada custe e o que custar. Dizem que quem tem boca vai a Roma. Sei não. Meu fogão tem quatro bocas e nunca saiu da cozinha. Risos. Durante cinco dias os Escoteiros rodaram céus e terra atrás da amada de Açu Pintassilgo. Até duas patrulhas de Escoteiros do Mar vieram ajudar com seus botes.

          Foi uma luta, mas como os Escoteiros não desistem fácil eles encontraram Nana Verdes Mares tomando sol na Praia do Paco-Paco. Orelhudo era um Escoteiro calmo. Sabia conversar e nunca perdia a “fleuma”. Chegou devagar onde estava Nana Verdes Mares. Ela com seu olhar sonhador fixou Orelhudo e pensou – Que diabos este Escoteiro quer de mim? – Orelhudo não se fez de rogado. Contou tudo devagar, elogiando Açu Pintassilgo, dizendo que era um ótimo partido e ela seria feliz com ele para sempre. Nana Verdes Mares riu. – Olhe Orelhudo, eu já tenho namorado. Ele passa luas e luas sem me procurar e assim fica difícil para começar tudo de novo com outro. Você sabe que as femeas jacarés são as mais fieis que existem entre os repteis. Se vocês acham que podem ajudar procurem Dente Grande o meu amado e digam para ele o que pretendem. – Orelhudo pensou e pensou. Agora a barra pesou. Se o cara-jacaré tem dente grande o melhor é saltar de banda.

           Orelhudo contou para a tropa o que aconteceu. Infelizmente Açu Pintassilgo ficaria solteiro por muito tempo. Neneco Risadinha deu uma opinião. Somos vinte e oito e o tal de Dente Grande é só um. Quem sabe poderemos chamá-lo e fazer um acordo? Assim era Neneco Risadinha e logo contou mais uma de suas piadas – Amigos! Porque o Jacaré tirou o jacarezinho da escola? E rindo respondeu – Porque ele “réptil” de ano. E riu a valer. A tropa de Escoteiros percorreu todos os cantos do Lago Ness e deixou um aviso para Dente Grande. – Cinco Jacarés vindo do Japão estavam à procura dele. Souberam que ele era valentão e precisavam de um Jacaré durão para uma luta de Sumô de vida ou morte. Quando Dente Grande soube disto atravessou dois continentes até o Japão. Lutar era com ele. Mas um navio pesqueiro japonês o viu e o confundiu com uma orca negra. Dito e feito. Dente Grande foi pescado e dizem que hoje é o prato mais delicioso nos restaurantes japoneses. Eles acharam o Sushi de jacaré o melhor do mundo.

            Agora Nana Verdes Mares estava livre. Açu Pintassilgo deitou a correr sobre as águas do lago Ness até onde ela estava. Fez à corte, ela aceitou. Casaram-se e no dia do casamento Toda a Tropa Escoteira presente. Milhares e milhares de peixes, jacarés, crocodilos e centenas de passados enormes. Palmas, foguetes e a festa durou uma semana. Até o Monstro do Lago Ness esteve presente. Bonachão ria a valer das piadas de Neneco Risadinha. A que ele mais gostou foi a do peixe que estava nadando no mar e de repente veio uma onda tão forte que ele morreu afogado! E o monstro do Lago Ness riu a valer e riu mais quando Risadinha contou que conheceu uma loira e ela estava brava, muito brava com um peixe. De repente ela berrou para o peixe – Seu peixe desgraçado! Você vai ver! Vou afogar você!


            Bem apenas uma lenda e não dizem que lenda é lenda? Mas me contaram que enquanto durou o casamento de Açu Pintassilgo com Nana Verdes Mares, o lago Ness ficou infestado de jacarezinhos. E por muitos e muitos anos os dois viveram felizes para sempre!