Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Era uma vez... O trem dos Escoteiros.


Conversa ao pé do fogo.
Era uma vez... O trem dos Escoteiros.

             Tonico estava na roça. Ao seu lado Zeca e Alfeu. Seu pai estava mais ao longe e todos capinavam a roça onde iriam plantar milho e feijão. As chuvas de março não iriam demorar a cair e o tempo era curto para o plantio. Não havia nada de novo, era sempre assim, mês a mês, ano a ano. Tonico não sabia sonhar, não desejava o que não tinha. Afinal sonhar com que? Ele só conhecia aquela vida. Uma pequena casa de três cômodos, uma mesa com dois bancos e um fogão de lenha. Não havia luz elétrica. As noites seu pai ligava um radinho de pilha e Tonico ouvia com gosto a Voz do Brasil. Debaixo da Aroeira eles costumavam sentar a noite antes de dormir. Era ali que ele pensava no mundo a sua volta, mundo que não conhecia. Tonico queria estudar, mas a escola mais próxima era em Santo Agostinho. Um vilarejo a mais de trinta quilômetros de distancia. Ele sabia que seria como seu pai, como seu avô. Fazia parte de sua vida do seu destino.

           Era um simples trem. Cinco ou seis vagões de passageiros. Tonico sempre o via pela manhã a passar correndo nos trilhos de aço da estrada de ferro proximo onde trabalhava. Dava uma parada na capinagem, segurava no cabo da enxada e via pelas janelas os sorrisos, as alegrias dos viajantes e até alguns deles diziam adeus com as mãos fora da janela. Seu pai dizia ser o Trem Expresso das onze da manhã. Era por ele que paravam para almoçar. Sua mãe sempre prestimosa levava as marmitas com um pouco de arroz, um ovo cozido e farofa que ele adorava. O trem seguia seu caminho e Tonico voltava à labuta que era sua vida, sua rotina. Com doze anos Tonico não podia ser chamado de um menino triste, não era. Ele gostava de a noite pegar a viola de seu pai, dedilhar uma canção e cantar baixinho com medo de que a noite escura não lhe ouvisse seu cantar tristonho. Sua mãe fazia questão que na hora de dormir ele e ela dessem as mãos quando pediam a Deus para que nada faltasse aquela família.

          Tonico ouviu o apito do trem. Lá vinha ele correndo feito um louco em cima dos trilhos de aço. Desta vez ele diminuiu a velocidade, parou bem em frente onde Tonico, Zeca e Alfeu capinavam. Tonico sorriu quando viu que o trem parou. Não entendia porque ele parou. Da janela de um vagão meninos de chapéu de abas largas acenavam para ele. Quem eram? Tonico sorria sem saber do porque o sorriso. Quem sabe pelos meninos de roupas iguais? De chapéu grande? De lenço no pescoço? Ah! Tonico daria tudo para saber quem eram eles. Lá onde estava ouviu o cantar deles no trem das onze, hora para eles almoçarem, pois sua mãe estava chegando. Mas ele prestou atenção no cantar na letra e sabia que nunca mais iria esquecer: - ¶ “Escoteiros sempre avante, pois nos vamos acampar, bem além do horizonte, lá na serra do além-mar” ¶. Tonico sorria, ele gostou da canção. Aprendeu os primeiros versos e acordes. Sabia que a noite ele iria cantar e seu pai e sua mãe iriam ouvir sem saber o que significava.

        O trem das onze começou a andar devagarinho. Buzinou para o céu azul como a dizer – “Eu quero passagem, eu preciso seguir meu destino”! Tonico sem perceber começou a correr ao lado do trem. Ele corria junto à janela daqueles meninos de roupas iguais com lenço no pescoço e uns chapéus enormes. Os meninos começaram a bater palmas para ele, um deles lhe jogou um lenço e Tonico saltou como uma onça e o pegou no ar. Era seu troféu. Um lenço azul cor de anil. Apertou com suas mãozinhas no peito o presente que ganhou daqueles meninos de roupas iguais, um lenço no pescoço e chapéus grandes na cabeça. O trem foi mais veloz que Tonico e sumiu na curva do Boiadeiro, onde Tonico, Zeca e Alfeu e seu pai voltavam à noitinha para casa após a capina. Tonico parou e nem sabia no que pensar. Tonico chorava e não sabia se de alegria, de tristeza e de saudades daqueles meninos de roupas iguais, de um lenço no pescoço e de um chapelão na cabeça.

            Ouviu seu pai lhe chamando para almoçar. Hoje iriam comer correndo, pois no céu nuvens negras se formavam. Em nenhum momento Tonico não esqueceu o trem das onze, dos meninos de roupas iguais, da canção que cantaram para ele e do lenço que deram a ele de presente. Seria seu troféu por toda a vida. Enquanto almoçava Tonico pensava. O que eles iriam fazer? Para onde iriam? Será que eles conhecem a Mata do Sino? Será que eles algum dia cantaram ao som de uma viola em volta de uma fogueira? Tonico não sabia. Mas Tonico sabia que eles sorriam muito, que eles cantavam que eles eram muitos e que ele nunca mais iria ver aqueles meninos sorridentes de roupas iguais, lenço no pescoço e um chapelão na cabeça. Tonico voltou naquele dia para casa tristonho, e pela primeira vez pensou que ele também poderia ser um deles, pela primeira vez Tonico sonhou. Que sonho lindo, ele no trem das onze, na janela cantando, todos se abraçando e partindo para um lugar maravilhoso, que ele só imaginava, pois nunca esteve lá.

            Nunca mais Tonico viu os meninos de roupas iguais, de lenço no pescoço, com um chapelão na cabeça e dentro do trem das onze. Tonico nunca mais esqueceu aquele dia e hoje, já homem feito, lá na mesma roça que antes era do seu pai, junto ao seu filho Felipinho, ele sempre conta a mesma história, canta a mesma canção, dos meninos de roupas iguais, de lenço no pescoço e de chapelão na cabeça. Felipinho sorri sempre quando ele canta e conta a história do trem das onze. Ele não imagina como devia ter sido e presta muita atenção quando o trem apita, quando o trem passa correndo e não para. Não dá para ver quem vai lá dentro dos vagões. Não dá para ouvir canções e sorrisos. A vida é assim mesmo. Tem aqueles que podem ter e viver um sonho tem aqueles que podem sonhar, mas nunca irão viver o sonho. Mas cada um em sua vida pode ser feliz, pois Deus nos trouxe ao mundo para viver o seu destino. 


- ¶ “Escoteiros sempre avante, pois nos vamos acampar, bem além do horizonte, lá na serra do além-mar” ¶.

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