Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pensamentos de Lord Baben-Powell

Pensamentos de Baden-Powell


Estes pensamentos de BP já são conhecidos de grande parte dos nossos jovens e adultos Escoteiros. Escrito por Lord Somers está intacto na sua escrita ouvida diretamente do nosso fundador. A tradução sofre em diversas passagens, mas acredito que são perfeitamente compreensíveis. Que as palavras do nosso Mestre Escoteiro nos ajude a perseverar no adestramento dos nossos jovens.


Prefácio
Em 1941, quando esta seleção de pensamentos do Fundador foi publicada pela primeira vez, Lord Somers1 era Chefe Escoteiro da Comunidade Britânica e do Império. Ele tinha sido escolhido por B-P para substituí-lo, e sua morte prematura foi motivo de tristeza para os Escoteiros em todos os lugares, por isso nós achamos que a introdução de Lord Somers deveria permanecer nesta edição.
Por trinta anos B-P contribuiu para “The Scout”, com notas e comentários na seção “Outlook”. O leitor ia direto à página da seção, pois sabia que encontraria encorajamento, conselhos e inspiração, tudo escrito num estilo muito pessoal que parecia uma conversa. Era deste modo que B-P treinava aqueles que estavam tentando por em prática o Scouting for Boys. Até mesmo quando um sistema de treinamento foi iniciado em Gilwell, estas notas continuaram sendo um dos meios principais para passar as idéias e sugestões de B-P ao grande contingente de Escoteiros em todos os lugares.

Agora que ele se foi, é desejável que algum registro permanente de suas palavras esteja disponível, não somente para aqueles que se lembram dele com gratidão por sua ajuda, mas também para benefício dos que virão. Embora as circunstâncias possam mudar no futuro, os princípios e métodos.
1 Tenente-coronel Arthur Herbert Tennyson Somers-Cocks, 6º Barão Somers, KCMG (Knigth Commander da Ordem de Saint Michael e Saint George), DSO (Distinguished Service Order, Condecoração Militar do Reino Unido) , MC (Military Cross, Condecoração da Forças Armadas Britânicas) nasceu em 20 de março de 1887, em Freshwater, Ilha de Wight, e faleceu em 14 de julho de 1944, no Castelo de Eastnor, Hereford. Filho de Herbert Haldane Somers-Cocks e Blanche Margaret Standish Clogstoun foi um Administrador Britânico e serviu como o 16º Governador do Estado de Victoria, Austrália entre 1926 e 1931. Ele foi designado como Chefe Escoteiro do Império britânico em março de 1941, após a morte de Lord Baden-Powell, o fundador do Movimento Escoteiro, que tinha sido o Chefe Escoteiro Mundial, onde serviu até sua morte, em 1944, sendo sucedido pelo Lord Rowallan. Em 1929, reuniu adolescentes de diferentes origens e fundou o Lord Somer´s Capm and Power House, uma organização de jovens que funciona até hoje.

Fundamentais do Escotismo resistirão, e as palavras de B-P nunca serão obsoletas.
Reimprimir todas suas palavras teriam exigido um livro maior do que a maioria de nós poderia dispor, ou que poderia ser produzido nestes tempos de guerra. Ao fazer uma seleção, então, os seguintes pontos foram levados em conta: assuntos que B-P teria incluído em um de seus livros e foi omitido (ele freqüentemente experimentou suas idéias em “The Scout”); registros de suas viagens pelo Império e pelo mundo que foram omitidas ou não pareciam úteis incluir em referências passadas ou dificuldades menores.
Os extratos foram organizados em ordem cronológica, pelo especial interesse de acompanhar o desenvolvimento das idéias ao longo dos anos. Porém, um índice completo dos assuntos foi acrescentado, para facilitar a leitura de algum assunto específico.
Uma seleção dos desenhos de B-P também foi incluída, porque ele usou sua habilidade artística para ilustrar suas palavras, às vezes para zombar de alguma extravagância, outras para colocar suas idéias na forma de um memorável esboço. Nos primeiros anos estes desenhos eram raros, mas posteriormente fez uso deles cada vez mais, e eles são típicos de sua visão, e serão bem vindos aos leitores.
Este é um livro para mergulhar nele pelo tempo bastante para compreendê-lo; ele será como um companheiro recordando para muitos de nós os bons tempos, e a voz do líder ao qual seguíamos tão alegremente.
Lord Somers

Objetivos do acampamento

Os objetivos de um acampamento são:
(a) satisfazer o desejo do jovem pela vida ao ar livre do Escotismo e
(b) coloca-lo completamente à disposição do Chefe Escoteiro por um período definido para o treinamento do caráter, iniciativa, desenvolvimento físico e moral.
Estes objetivos se perdem em grande parte quando o acampamento é grande. A única disciplina que pode ser aprendida é a forma militar de disciplina coletiva, que tende a destruir a individualidade e iniciativa, invés de desenvolvê-las. Como há muitos jovens no terreno, o treinamento militar é extenso, ocupando o lugar das práticas escoteiras e estudo da natureza.
Assim resulta que os acampamentos escoteiros devem ser pequenos – não mais que uma tropa acampando juntos, e cada patrulha deve ter sua barraca a alguma distancia da outra (no mínimo 100 jardas - 90 metros) dos outros. Isto tem em vista desenvolver a responsabilidade dos líderes de patrulha com sua unidade em particular. A localidade do acampamento deve ser escolhida para estas instalações Escoteiras.
Outubro de 1909

Líderes de Patrulha

Alguns poucos Chefes Escoteiros estão atrasados no tempo, e por conseqüência suas Tropas ficam abaixo da média, não fazendo uso suficiente dos Líderes de Patrulha.
Eles deveriam dar aos seus auxiliares tanta liberdade quanto a que gostariam de obter de suas Associações ou de seus Comissários. Devem se assegurar que os Líderes de Patrulha sejam responsáveis por tudo de bom ou de ruim que aconteça em suas patrulhas.
Devem dar-lhes responsabilidades, deixar que façam seu trabalho, e se cometerem erros, deixem-nos fazer assim, e depois mostrem onde e o que estava errado – só desse modo ele aprende.

Metade do valor do nosso treinamento sobrevém de colocar responsabilidades nos ombros dos jovens. É especialmente valioso para domesticar os espíritos mais selvagens, pois isto lhes dá algo que podem levar adiante em lugar das atividades arruaceiras, igualmente aventureiras, mas menos desejáveis.
Abril de 1910
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Distintivos de eficiência

Nós aprovamos recentemente vários distintivos de eficiência, e esperamos que isto sirva como incentivo aos Escoteiros se qualificarem como pessoas úteis, seja em casa ou em uma colônia.
Enquanto estavam sendo considerados, chegou a nós uma reclamação: em certos centros a dificuldade de passar nos testes para qualquer distintivo era tão grande que o que tinha sido uma medida atraente para os jovens estava se tornando rapidamente um exame “bicho-papão”2.
Temo que isto seja devido a falhas na aplicação da idéia.
Estes distintivos são planejados meramente como um encorajamento para que o jovem tenha um passatempo ou ocupação e obter algum progresso com isto; eles são um símbolo para um jovem que conseguiu conquistar.

2 - No original “bugbear”, também chamado " boogerbear ", é uma criatura legendária comparável com “bogeyman”, “bogey”, “bugaboo”, “hobgoblin” e outras criaturas do folclore, todas historicamente usadas em algumas culturas para amedrontar as crianças desobedientes. Na Inglaterra medieval, por exemplo, o “bugbear” era um urso arrepiante e gigantesco que espreitava nos bosques; as crianças eram advertidas para não vaguear longe de casa ou não se portar mal, senão o “bugbear" iria pegá-las. Em um contexto moderno, o termo “bugbear” serve como uma metáfora para algo que está aborrecendo ou está irritando. ““ De acordo com o Dicionário Webster, um “bugbear” é” um duende imaginário ou espectro usado para amedrontar”, " um objeto ou fonte de medo ", ou " uma fonte contínua de irritação” (Wikipédia) pessoa de fora de que ele faz algo. Não se pretende que signifique que ele é especialista na arte na qual é testado. Por isso os examinadores não devem exigir padrões excessivamente elevados, especialmente no primeiro distintivo.

Alguns são inclinados a insistir que seus Escoteiros sejam de primeira classe antes que possam obter algum distintivo. Na teoria isso é muito certo, você consegue alguns jovens muito proficientes, mas nosso objetivo é fazer com que todos sejam interessados, e que cada um inicie um ou dois hobbies, de modo que ele possa descobrir o que mais lhe é adequado e que pode lhe oferecer uma carreira na vida.
O Chefe Escoteiro que criteriosamente coloca para seus jovens um ou dois desafios fáceis, faz com que eles passem com confiança e entusiasmo, enquanto que colocando um muro de pedra os fará recuar e deixar de fazer tudo.
Ao mesmo tempo não recomendamos o outro extremo, isto é, quase dar os distintivos com um conhecimento muito superficial dos assuntos. É uma questão que os examinadores devem usar o bom senso e critério, mantendo o objetivo em vista.
Abril de 1910.

Nosso Objetivo

No Exército temos alguns pontos que almejam o treinamento de nossos homens, mas ao longo dos anos os passos do treinamento se tornaram tão absorventes e importantes que em muitos casos a visão do objetivo se perdeu.
Por exemplo, veja o exercício da espada. Neste, vários recrutas são instruídos no uso da espada para se tornarem bons esgrimistas. Eles são colocados em uma quadra e treinados para permanecer em certas posições e desenvolver certos ataques, defesas e esquivas, conforme um plano estabelecido. Tão logo façam isto com perfeição em conjunto – e isso é trabalho de meses para conseguir – são declarados eficientes espadachins, mas não podem enfrentar um inimigo mais do que minha botina. O objetivo da instrução foi negligenciado pelo desenvolvimento dos passos em si.

Espero que este mesmo engano nunca seja cometido por nós nos Escoteiros. Nós temos sempre que manter nosso grande objetivo diante de nós e fazer nossos passos conduzirem a ele. O objetivo é fazer de nossa raça uma nação de trabalhadores energéticos e capazes, bons cidadãos, seja para a vida na Inglaterra ou ultramar.
O melhor princípio para este fim é conseguir com que os jovens aprendam por eles mesmos dando-lhes um currículo atraente, em lugar de martelá-los com alguma forma de instrução de “moer os ossos”. Temos de lembrar que a maioria dos jovens estão cansados com horas de escola ou seminário, e o nosso treinamento deve, portanto, ser em forma de recreação e ao ar livre sempre que possível.

Esse é o objetivo de nossos distintivos e jogos, nossos exemplos e padrões.
Se você ler do princípio ao fim o Scouting for Boys mais uma vez, com o Grande Objetivo diante de você, verá o significado mais claramente.
E o grande objetivo significa não só a prática de “contribuir e fazer” com seus próprios dirigentes, mas também com outras organizações que trabalham no mesmo sentido.
Em um grande movimento para um grande objetivo não há lugar para pequenos esforços pessoais, temos que afundar idéias menores e nos abraçar em uma grande associação para lidar efetivamente com o todo.

Nós Escoteiros somos jogadores de um mesmo time com a Boys’s Brigade (Brigada de Rapazes, Church Lads (Jovens da Igreja), YMCA (Young Man Chisthian Association – Associação Cristã de Moços), Departamento de Educação e outros). Cooperação é o único modo de se obter sucesso.
Maio de 1910.


Treinamento de Escoteiros

Quando eu visito um distrito para inspecionar Escoteiros, uma grande parada é formada, com o máximo possível deles, pois esta é a única maneira de um grande número ser visto de uma só vez. Penso que precisamos ter todo o tato – os Escoteiros, Escotistas e eu – quanto a isto, afinal de contas, uma parada formal realmente não dá oportunidade de testar as qualidades individuais dos jovens e chefes.
Sempre que posso dispor de uma hora ou duas, faço questão de assistir os Escoteiros em suas atividades fora das luzes de uma inspeção formal.
Tenho feito bastante isto ultimamente, sem o conhecimento formal da Tropa interessada, e notei um ou dois pontos interessantes.

Em geral fiquei bastante contente com o que vi, mas não preciso discorrer sobre isso. Quero mostrar pontos onde penso que melhorias podem ser feitas, e estou certo que os Chefes Escoteiros não pensarão que estou escrevendo com espírito de crítica, mas com o desejo exclusivo de ajudar em suas tarefas.
Em primeiro lugar, muitos Chefes Escoteiros parecem ter lido o Scouting for Boys uma vez, deixando-o então por outras formas de treinamento, algumas não muito boas para os jovens. Como escrevi antes, o grande objetivo deve ser mantido antes de tudo, considerando que alguns chefes partiram para treinamentos os quais estavam mais familiarizados, mas que não tem nenhuma referencia com a formação do caráter individual dos rapazes.

Muito treinamento, pouca atividade de campo é uma falha comum. Fazer os rapazes disciplinados utilizado suas próprias capacidades é o nosso objetivo – muito no princípio da habilidade do marinheiro e não tanto na máquina - à semelhança da vida rotineira do soldado. Adote as linhas do manual e se desenvolva nelas.
Junho de 1910.

Acampamentos

Como estamos agora na estação dos acampamentos, eu gostaria de falar que um ou dois acampamentos que vi infelizmente estavam no caminho errado, entretanto outros eram muito satisfatórios.
Eu recomendo fortemente acampamentos pequenos, com cerca de meia dúzia de patrulhas, cada patrulha em uma barraca separada e em um terreno separado (como sugerido em Scouting for Boys), de forma que os Escoteiros não se sintam parte de um grande rebanho, mas membros responsáveis de uma unidade independente.
Grandes acampamentos fazem com que os Escoteiros tenham trabalho e necessitem de treinamento militar. Um dos que visitei outro dia, excessivamente pensado e realizado como uma pequena organização Militar me agradou muito pouco, não somente porque estava inteiramente na linha militar, mas também as Patrulhas – a essência do sistema – foram quebradas para ajustar os membros às barracas.

Patrulhas devem ser mantidas intactas em todas as circunstâncias. Se mais de seis ou sete patrulhas estiverem fora ao mesmo tempo, devem ser separadas preferencialmente em dois acampamentos distintos e separados por, digamos, duas milhas ou mais (3,2 quilômetros).
Junho de 1910.

Líderes de Patrulha

O melhor progresso é feito naquelas tropas em que poder e responsabilidades são realmente colocados nas mãos dos Líderes de Patrulha. Esse é o segredo do sucesso de muitos Chefes Escoteiros, quando uma vez que tenham meia dúzia de Líderes de Patrulhas, realmente os fazem agir como se fossem Chefes Assistentes. Os Chefes Escoteiros encontram os capazes de, por si mesmos, seguir adiante e aumentar suas tropas, seja iniciando uma nova patrulha ou adicionando recrutas a uma existente.
Espere bastante de seus Líderes de Patrulha, e nove em dez vezes eles superarão suas expectativas, mas se você sempre lhes der comida na boca e não confiar neles, você nunca conseguirá que façam qualquer coisa por iniciativa própria.
Junho de 1910.


Entrando no jogo

Fazemos de nossos jovens cidadãos, portanto, é essencial esforçarmo-nos para criar neles o hábito da alegre cooperação, de esquecer seus desejos e sentimentos pessoais em prol do coletivo no qual estejam comprometidos, seja no trabalho ou na diversão. Podemos ensinar ao jovem que é exatamente como no futebol. Você tem que jogar na sua posição e participar do jogo; não queira ser o juiz quando você estiver jogando na retaguarda, e não pare de jogar quando se encher do jogo, mas mantenha-se junto, animadamente e esperançosamente, de olho no objetivo, ajudando sua equipe a ganhar, mesmo tomando chutes na canela ou caindo na lama.
Mas a melhor de todas as formas de instrução que o Chefe Escoteiro pode proporcionar é à força do exemplo. Se ele quiser ter sucesso em incutir o caráter correto no jovem, é essencial que pratique o que prega. Jovens são imitativos, e o que o Chefe Escoteiro faz, eles captam e refletem. Instruções e especialmente ordens, costumam ter efeitos diferentes e até mesmo opostos nos jovens, mas se lhes dá o exemplo, mostra que qualquer tolo pode fumar, mas um Escoteiro sábio não o faz, esta é outra questão.

Em conseqüência, é de primordial importância que todo Chefe Escoteiro com esta grande responsabilidade em seus ombros, faça um auto-exame profundo, e suprima quaisquer pequenas falhas que possa ter – é um compromisso de fato – e esforce-se para praticar aquilo que ensina, para dar o exemplo certo aos seus jovens, para formação do caráter e da carreira deles. Consta no nosso manual que um Chefe Escoteiro deveria passar por um período de observação de três meses antes de ser finalmente designado.

O objetivo disto é permitir-lhe descobrir se o Escotismo realmente enquadra-se nele, se é capaz de passar por cima de (ou pisar em) pequenas preocupações ou pequenos aborrecimentos, se pode suportar as muitas dificuldades preliminares e desapontamentos, se pode se ajustar no lugar a ele designado, e lealmente seguir as instruções, pois estas podem não ser exatamente aquilo que gostaria, enfim, em uma frase, se pode ocupar seu lugar no jogo e jogar para o bem de todos.
Se puder fazer isto, estará fazendo o mais valioso trabalho que um homem pode fazer, ou seja, ensinando aos irmãos mais jovens as grandes virtudes da resistência e disciplina, determinação e altruísmo. Se, por outro lado, não puder, seu único caminho honrado é conformar-se com sua escolha em ser alguém covarde - a propósito, típico de homens que falham em qualquer rumo da vida – resmungando sobre seus auto proclamados direitos, e reclamando da má sorte.
Julho de 1910

Programa de treinamento de inverno

Com a chegada da estação do inverno, temos oportunidade de treinar e retreinar nossos jovens em habilidades manuais e eficiência.
Suponho que pessoas mais capazes que eu possam manter seus jovens ocupados e progredindo em conhecimento sem utilizar qualquer sistema em especial, mas eu confesso que não posso. O único meio pelo qual eu, pessoalmente, posso efetuar qualquer coisa é estabelecendo previamente programas definidos e trabalhando neles – um geral para a estação de inverno, um mais particular para cada semana, com detalhamento para cada noite de atividade que acontece habitualmente.

Eu não os faço muito ajustados, mas deixo margens e aberturas para ocorrências imprevistas. Deste modo, uma grande quantidade de preocupações e desperdícios de tempo é economizada. De fato, raramente é exagero dizer que o resultado obtido por um plano sistemático de trabalho tem quatro vezes o valor daqueles com arranjos fortuitos. É bom para o “caráter” dos jovens ensiná-los também a fazer o planejamento antecipado de suas atividades, e, sabendo qual é o objetivo a alcançar, eles se tornam duplamente mais interessantes.

Um ou dois Chefes Escoteiros me disseram que a idéia deles para a estação de inverno é reforçar o treinamento em , digamos, quatro habilidades manuais, por exemplo, cozinha, trabalhos em couro, eletricidade e sinalização. Eles conseguem um expert para vir instruir a Tropa uma ou duas noites, uma semana ou uma quinzena em cada assunto, então conseguem outro para a próxima quinzena, e assim por diante. Deste modo esperam que durante o inverno seus jovens tenham adquirido treinamento suficiente para obter quatro especialidades cada ao final do inverno.
Outro Chefe disse ter feito uma exposição e venda de objetos manufaturados pelos Escoteiros no final do inverno, tendo usado vários indutores para conseguir com que os jovens trabalhassem à noite na sede com ajuda de ferramentas, moldes, armazenamento, etc., e enquanto trabalhavam liam em voz alta livros de aventuras, conversas de fogueiras de acampamentos, etc., com jogos ocasionais e canções para revigorar os trabalhadores.

Qualquer sistema deste tipo é valioso, mas necessariamente tem que variar de acordo com condições locais e criatividade do Chefe Escoteiro, e eu estou feliz de ver tantas boas idéias sendo iniciadas.
Não há nada como dar trabalhos manuais para os jovens para treiná-los com prazer nas atividades, mas esses devem ser do tipo que realmente interessem a eles em primeiro lugar. Isto tudo será melhor se puder ser feito com uma equipe (ou Patrulha) competindo com outra, isto quer dizer trabalho em equipe.
Novembro de 1910.
  
Tempestades em copo d’água e como evitá-las

“Eu não brinco de mais nada em seu quintal”, era o refrão de uma encantadora canção, coisa muito típica de criança que não gosta da maneira que uma brincadeira está se desenvolvendo, e no final das contas, “faz uma cara emburrada” e vai tentar outra brincadeira em outro lugar, ou então vai “contar pra Mamãe”.
Isto faz um expectador adulto sorrir, mas ele mesmo não está livre desse tipo de vaidade egoísta.
Eu freqüentemente estive no papel da “Mamãe”, e é quase inacreditável que pessoas adultas ou quase adultas possam tratar coisas insignificantes tão a sério e tão mesquinhamente como fazem alguns. Se eles tivessem um pouco de senso de humor ou uma visão mais abrangente, poderiam ver o outro lado da questão ou o objetivo maior, e também iriam rir da pequenez dessas coisas.

Faz lembrar o quanto sente uma pessoa ao retornar de nosso grande e vasto Império para uma pequena e velha ilha, e encontrar nossos políticos arrancando os olhos uns dos outros por algum problema bairrista! Eles não percebem que a guerrinha deles é somente uma piada para o expectador externo.
Eles provavelmente se sentiriam bastante magoados se não fossem sepultados na Abadia de Westminster como “Estadistas”, mas somente como “Pequenos Políticos”.
Como a “Mamãe”, fui chamado outro dia num caso que era evidentemente considerado de grande importância pelas partes envolvidas na contenda, mas que pareceria ridiculamente simples para alguém de fora que viu ambos os lados e o objetivo maior que supostamente era o objetivo comum deles.

Minha resposta para eles foi a que poderia ser aplicada a muitos casos semelhantes em que os contendores não enxergam o caminho certo a seguir. A resposta foi:
“É curioso para mim que pessoas que professam serem bons cristãos freqüentemente se esqueçam de, em uma dificuldade desse tipo, fazer a pergunta simples: ‘O que teria feito Jesus Cristo nestas circunstâncias? ’ e se guiar de acordo.”
Tente isto da próxima vez que estiver em alguma dificuldade ou dúvida de como proceder.
Nos primeiros dias do nosso Movimento havia muitas pequenas disputas locais que eram realmente secundárias na maioria dos comitês, e que nunca ocorreriam se os membros pudessem se lembrar de seus deveres e agir de acordo com eles. Ultimamente, porém, essas sociedades contestadoras parecem ter diminuído, dando lugar para conselhos de mútua cooperação e ajuda, e tudo caminha bem.
Março de 1911.

Primeiros Socorros

“Qual é o problema do seu paciente?" Pergunto ao Escoteiro Socorrista que está cheio de distintivos uns em cima dos outros como é a moda hoje.
“Pois não, senhor - clavícula quebrada”.
“Certo. Agora, que osso é este?”
“O fêmur, senhor. Não, não- é - é a tibi... --é...”.
“Bem, como você chamaria ele se levasse um pontapé e estivesse falando a seus amigos sobre isto?”
“Canela, senhor”.
Quando eu perguntei ao instrutor por que é considerado necessário confundir as mentes dos meninos com os nomes latinos para ossos ordinários, ele disse que era necessário para passar no exame do médico para obter distintivos ou certificados.
Espero que todos os Comissários e Chefes Escoteiros expliquem aos instrutores de Primeiros Socorros que nós queremos ensinar aos jovens como lidar na prática com acidentes, e não passar em exames.

Eu dou pouco valor ao sistema moderno de ataduras semi-prontas, onde é informado ao jovem previamente cada ferimento que elas são adequadas, tendo todas as aplicações prontas, bastando somente dobrar e amarrar, e onde o jovem sabe os nomes latinos dos ossos com que está lidando. Eu prefiro muito mais as demonstrações práticas, e fico feliz de ver que estas estão prevalecendo no Escotismo, pois são a imitação mais próxima de acidentes.
Quando um paciente é encontrado coberto com lama e sangue, deve ser lavado suavemente ou com esguicho antes para saber o que fazer dependendo da natureza dos ferimentos (manter o rosto para baixo para prevenir obstruções). O primeiro Escoteiro que o localizou, ou a pessoa designada pelo instrutor ou audiência, se encarrega do caso, executa o trabalho, dirige os outros, e não usa palavras latinas. E será melhor se forem usados materiais improvisados, tratando o ferimento de maneira apropriada, em vez de meramente enrolar uma bandagem sobre ele. Por exemplo, os movimentos deveriam ser rasgar a roupa, tampar uma ferida, ou tudo que possa ser detalhado no caso.
Abril de 1911.
  
O Valor de Vida Campestre

Eu não posso convencer o Chefe Escoteiro o grande valor da vida campestre no treinamento dos Escoteiros, mas de fato creio que sua essência depende disso.
Muitos Chefes Escoteiros que avaliam o lado moral do nosso treinamento estão quase inclinados a subestimar a importância da vida no campo, mas ela é tudo para os jovens. Nós temos que atrair o entusiasmo e gostos deles em primeiro lugar, se tencionamos fazer algo de bom por sua educação.
Uma eminente autoridade educacional assegurou-me que atualmente essa nossa educação escolar está toda no caminho errado. O aprendizado por livros foi introduzido por monges com o fim de neutralizar o treinamento mais varonil em habilidades braçais e de caça que, na Idade Média, ocupava o tempo dos jovens, o que sem dúvida produziu uma grande porção de homens de caráter entre eles. Isto acabou em um objetivo de pouca visão, embora tivesse feito algum bem em certos aspectos, foi infinitamente danoso para nossa raça em outros.

Ele disse: “Você deve antes de tudo desenvolver o caráter natural do jovem, encorajando-o nos exercícios atléticos naturais, que tendem a fazê-lo mais varonil, valente, obediente e altruísta. Depois lhe incentive o desejo de ler, o que o conduzirá eventualmente ao estudo sozinho. A falácia de tentar forçar o jovem a ler o que o pedagogo quer que ele saiba é o segredo de tanta ignorância e ausência de esforço no estudo entre nossos jovens atualmente”.
Esta mesma autoridade gostaria de ver o Escotismo ou algum esquema similar introduzido em extensão a nossas escolas, e em atenção a isto, tornado obrigatório a todos os jovens entre quatorze e dezesseis anos.
Eu espero que o desejo dele ainda possa ser satisfeito. Eu creio que isso ocorrerá se os Chefes Escoteiros prosseguirem no caminho que começaram e provarem às autoridades educacionais de sua região o valor educativo que lastreia nosso Movimento.
Abril de 1911

No Acampamento

Eu escrevi minhas notas este mês no acampamento. Eu espero que muitos Chefes Escoteiros tenham sido capazes de passar seus feriados deste ano em acampamentos, como eu. Se desfrutou disso tanto ou mais que eu, terá feito uma boa coisa.
Tenho certeza que uma semana ou duas de tal vida é o melhor descanso restaurador e o melhor tônico para o corpo e a mente que existem para uma pessoa, seja ele menino ou idoso. Por acampamento eu quero dizer um acampamento no bosque, não um acampamento militar para alojar um grande número de pessoas sob uma lona. Este não é mais parecido com o tipo de acampamento que eu defendo do que um gafanhoto é parecido com um ganso.
O acampamento Escoteiro deve ser do tipo acampamento de bosque, se quiser ser realmente bem educativo. Muitos acampamentos militares, não a maioria, são responsáveis por causar mais prejuízo do que bem aos jovens, exceto aqueles com boa administração e supervisão rígida. Considerando um acampamento mateiro, se corretamente desenvolvido dará desenvoltura individual e ocupação aos jovens todo o tempo.

Um grande acampamento tem necessidade de ser conduzido com uma quantidade considerável de rotinas disciplinares. Formaturas têm que ser asseguradas para dar ocupação e instrução aos jovens, reuniões fatigantes, inspeções de barracas, listas de chamadas, filas de banho, e assim por diante. Isto não serve para a revigorante vida ao ar livre, esse tipo de acampamento pode muito bem ser feito em barracas na cidade, não ensina aos jovens nada de individualidade, desenvoltura, responsabilidade, conhecimento da natureza, e muito menos (realmente pouquíssima) educação do caráter, para o qual o acampamento mateiro é o melhor, senão a única escola.
Mas um acampamento mateiro só pode ser realizado com um número pequeno de jovens, de trinta a quarenta, sendo este o máximo possível, e somente se o sistema de patrulhas for realmente e inteiramente colocado em uso.

Evidentemente é fácil alguém escrever a partir de um acampamento ideal deste tipo e pensar que todo mundo tem as mesmas possibilidades, mas eu não pretendo pensar dessa maneira. Eu sei as dificuldades daqueles que tem que argumentar com um Chefe Escoteiro na Inglaterra, mas quero colocar o ideal à frente desses que não tem refletido muito cuidadosamente sobre a questão, e são inclinados, por costume ou exemplo, a achar que a forma militar de acampamento é a habitual e correta para os jovens. O ideal deve ser seguido o mais fielmente possível que as circunstâncias locais permitam.

Aqui estou acampado perto de um rio que corre entre colinas revestidas de florestas. É perto de dez da manhã. Levantei-me as cinco, e estas cinco horas foram cheias de tarefas para mim, muito embora fossem não mais que pequenas tarefas de acampamento.
O fogão teve que ser reacendido, café e bolinhos foram feitos. Em seguida foram lavados e areados os utensílios de cozinha; coletada lenha para o dia (para queimar e formar brasa); uma nova barra e ganchos para panelas tiveram que ser cortados e aparados; uma tenaz para o fogo e uma vassoura de galhos para limpeza do chão do acampamento tiveram que ser cortados e feitos. A roupa de cama teve de ser arejada e guardada; as botinas foram engraxadas; o chão do acampamento foi varrido e o lixo queimado; a truta teve de ser destripada e lavada. Finalmente me barbeei e tomei um banho, e aqui estou pronto para as tarefas diárias que possam surgir. Mas levei cinco horas para tudo isso.
Meu companheiro foi ontem para o vilarejo mais próximo e deverá voltar logo com nossas cartas e suprimentos. Ele me encontrará em algum lugar pescando ou desenhando, e juntando amoras para nossa “sobremesa” de compota de frutas ao jantar; mas encontrará o acampamento varrido e guarnecido, fogão pronto para ser aceso, panelas, copos e pratos todos limpos e prontos para uso, à comida à mão.

Nós podemos provavelmente “fazer as malas” e viajar em seguida, e ver um pouco mais das belezas da terra, como podemos “carregar nossas coisas” para o próximo local de acampamento com uma agradável paisagem. Então vem todo esse negócio de montar o acampamento, buscar água e lenha, fazer a comida, e buscar seu próprio conforto. Toda uma seqüência de pequenas tarefas cuja soma é importante. Todas elas dão prazer e satisfação ao homem mais velho, enquanto que aos mais jovens trazem prazer, experiência, desenvoltura, autoconfiança, pensamentos para os outros, e aquela excelente disciplina dos costumes campestres, sendo esperado que façam a coisa certa para eles.
Eles não têm nenhum tempo para inatividade, e não há espaço para o ocioso. Mas isto é uma coisa bastante diferente daquelas ruas de lona, onde os suprimentos são entregues por uma empresa, e cozidos e servidos por empregados contratados, com os jovens em rebanhos, fazendo somente o que os mandam fazer.
Setembro de 1911

Disciplina

Em um pequeno acampamento muita coisa pode ser feita pelo exemplo. Você está vivendo com seus jovens, é observado por cada um deles, é imitado inconscientemente, e isto provavelmente passa despercebido por você.
Se você é preguiçoso, eles serão preguiçosos, se você faz da limpeza um hobby, isto se tornará o deles, se você for inteligente e inventar acessórios para o acampamento, eles se tornarão inventores concorrentes, e assim por diante.
Mas não faça muito do que deveria ser feito pelos jovens, deixe que eles façam – “quando você quer uma coisa feita, não faça você mesmo” é o lema certo. Quando for necessário dar ordens, o segredo para obter obediência é saber o que você quer exatamente e expressar isto de maneira muito clara e simples. Se você acrescentar à ordem uma explanação da razão para ela, esta será feita com maior boa vontade e muito maior inteligência.

Se você acrescentar à ordem e à sua explicação um sorriso, você conseguirá que seja cumprida com entusiasmo. Lembre-se: “um sorriso consegue duas vezes mais que um rosnado”.
Um tapinha nas costas é um estímulo mais forte que uma alfinetada.
Espere grandes coisas dos seus jovens e você geralmente obterá.
Setembro de 1911


Treinamento de Inverno para Escoteiros

Estou feliz por ter recebido de alguns Comissários as idéias que propõem no sentido de sistematizar a instrução da Tropa nos meses de inverno.
O inverno logo chegará, e a menos que o planejamento esteja pronto a tempo, encontrará as pessoas responsáveis sobrecarregadas antes de terem colocado em ordem o trabalho.
Uma sugestão é revisar o curso inteiro oferecido em Scouting For Boys, e penso que isso é muito bom, porque Chefes Escoteiros e Escoteiros, depois de ler o livro, executam as idéias de acordo com o que se lembram dele, e adicionam novas idéias em linhas similares (é isto que eu gosto de ver), mas sem muitas referencias fora do livro, e no fim um bom número de detalhes é esquecido no treinamento, entretanto eles podem ser pequenos e aparentemente insignificantes, mas todos eles têm sua importância. Veja, por exemplo, a sugestão de limpar os dentes e fazer uma escova de dente campestre, este é um pequeno ponto que provavelmente é desprezado nas recomendações em algumas tropas, mas é de real importância a seu modo, e há centenas de outros semelhantes. Então “pata tenras” que provavelmente terão entrado para a Tropa, que foi treinada originalmente nas diretrizes do livro antes de sua chegada, e provavelmente só entraram na forma subseqüente de treinamento, saberão pouco do ensino original. Chefes Escoteiros que relêem o livro depois de algum intervalo, com certeza verão alguns desses pontos com uma luz nova. Assim por várias razões, podem-se repassar os ensinamentos do livro durante os meses de inverno.
Outubro de 1911

Fraternidade internacional

Diversos países – cerca de uns doze – que adotaram o escotismo para seus jovens estão agora formando uma aliança amigável conosco para intercâmbio recíproco de opiniões, correspondências e visitas, e assim promover um maior sentimento de solidariedade entre as novas gerações.
A paz internacional só pode ser construída sobre uma base, que é o desejo de paz internacional partindo do próprio povo em sólida união para guiar seus Governos.
Se o valor de um couraçado fosse colocado à nossa disposição para o desenvolvimento dessa amizade internacional e camaradagem entre as novas gerações, creio que nós, Escoteiros, faríamos muito mais para prevenir a guerra do que todos os couraçados reunidos.
Dezembro de 1911


Educação
Uma das mais importantes possibilidades que se encontram diante de nós é a Educação.
Temos, por outros caminhos, chegado às mesmas conclusões que chegaram autoridades educacionais com suas experiências.
Resumidamente, o segredo da educação eficiente é QUE CADA ALUNO APRENDA POR ELE MESMO, EM VEZ DE UM INSTRUTOR CONDUZINDO-O AO CONHECIMENTO ATRAVÉS DE UM SISTEMA ESTEREOTIPADO. O método consiste em levar o jovem a perseguir o OBJETIVO de seu treinamento, e não entediá-lo com os passos preliminares de início. As autoridades educacionais já nos reconhecem como cooperadores na mesma esfera de ação, o objetivo de ambos é produzir cidadãos saudáveis e prósperos. Elas se ocupam do desenvolvimento intelectual, nós caminhamos um pouco mais para o desenvolvimento do “caráter” que, afinal de contas, é o atributo mais importante para prevenir as doenças sociais da inatividade e do egoísmo, e dá melhores oportunidades de uma carreira de sucesso em qualquer direção da vida.
Estamos desenvolvendo esforços para ajudar as autoridades educacionais em todos os aspectos que podemos. Elas estão trabalhando inteiramente de acordo conosco em vários centros importantes.
Janeiro de 1912

Religião

Relacionada muito próximo com a educação, temos a importante questão da religião. Resumidamente não apoiamos qualquer uma das formas de professar a fé mais que outras, procuramos um caminho para colocar este princípio em prática como fazemos em outros ramos da educação, ou seja, colocamos os jovens em contato com seu objetivo de fazer seu dever para com Deus por intermédio de seu dever para com o próximo. Ajudando os outros fazendo diariamente uma boa ação, salvando alguém do perigo, adquire-se a coragem, autodisciplina, cavalheirismo, que se tornam rapidamente parte de seu caráter. Esses atributos, juntamente com o correto estudo da Natureza, devem inevitavelmente ajudar a conduzir a alma do jovem mais próximo à espiritualidade com Deus.

Pessoalmente tenho minhas próprias opiniões quanto ao valor relativo do ensino das Escrituras às crianças nas escolas dominicais, e o valor do estudo da natureza e da prática da religião ao ar livre, mas não vou impor minhas opiniões pessoais aos outros.
Prefiro ser guiado pela opinião coletiva de homens experientes, e aqui uma notável promessa está diante de nós. O Escotismo tem sido descrito por diversas pessoas de respeitável reputação como uma “nova religião” – três vezes li isto nesta semana. Não é, naturalmente, uma “nova religião”, é simplesmente a aplicação na religião de princípios agora aprovados por secular tradição – aquele que dá um objetivo definido e coloca a criança para aprender e praticar para si própria – o qual, imagino que de todas as experiências que terá, será o único treinamento que realmente manterá a pessoa no bem, e finalmente fará parte de seu caráter.
Janeiro de 1912

O ponto de vista dos outros

Nossa atitude no Movimento Escoteiro deve ser de não querermos estar em conflito com quaisquer políticas, sejam educacionais, religiosas, ou de outras entidades, mas de ficarmos felizes com seus conselhos ou sugestões.
É nosso objetivo estar em paz com todos e fazermos o melhor em nossa própria linha.
Provavelmente a maioria de nós está em sintonia com ideais socialistas, embora talvez não vejamos com um mesmo olhar a viabilidade de seus detalhes ou de seus métodos.
Nós, no escotismo, desejamos não somente corrigir os males sociais presentes, como também prevenir sua recorrência nas novas gerações, tentar reduzir o grande desperdício de vidas humanas atualmente existentes nas favelas das cidades onde tantos milhares de seres humanos vivem uma existência de miséria pelo desemprego, isto nem sempre por sua própria culpa, mas simplesmente por nunca lhes terem dado uma chance.

O nosso principal esforço é atrair os jovens e colocá-los em um caminho correto para o sucesso em sua vida, nos empenharmos para equipá-los – especialmente os mais pobres – com “caráter” e habilidades manuais para que cada um possa pelo menos ter um trabalho. Se após isto ele fracassa, então é sua culpa e não daqueles que estão em posição de ajudar nossos irmãos menos favorecidos, como acontece atualmente.
O fato é que a justiça e a honestidade nem sempre fazem parte dos currículos escolares. Se nossos jovens são treinados para enxergarem o ponto de vista de seus companheiros antes do seu próprio no julgamento em um litígio, que diferença faria na maturidade de seu caráter!

Esses rapazes não seriam levados pelo primeiro orador que cativa seus ouvidos sobre qualquer assunto, como comumente acontece atualmente, mas desejariam também ouvir o que a outra parte tem a dizer sobre a questão, refletindo por si mesmos como adultos.
E assim é com quase todos os problemas da vida, o poder de julgamento individual é essencial, quer seja nas escolhas políticas, religião, profissão, esportes – metade dos fracassos e três quartos dos sucessos parciais entre nossos filhos são devidos à carência disto.
Queremos que nossos homens sejam homens, e não cordeiros. E na grande proposição da Paz Internacional, tenho para mim que antes de abolir armamentos, antes de se fazer tratados de paz, antes de construir palácios para os delegados das nações se reunirem, o primeiro passo é a formação de todas as novas gerações – em cada nação – guiadas por um absoluto sentimento de justiça. Quando os homens tiverem como instinto na condução das tarefas da vida, olhar as questões com imparcialidade de ambos os lados antes de se tornarem partidários de um deles, então, ao surgir crise entre duas nações, estariam naturalmente mais dispostos a reconhecer a justiça de cada caso e adotarem uma solução de paz, o que é impossível enquanto seus espíritos estiverem acostumados a entrar em guerra como único argumento.

No movimento escoteiro temos a nosso alcance grandes oportunidades para introduzir treinamento prático em justiça e honestidade, como jogos e competições de campo, e através de arbitragens, cortes de honra, ensaios e debates na sede.
Julho de 1912.




FIM


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