Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A Insígnia de Madeira.


Jogando conversa fora.
A Insígnia de Madeira.

- Um escotista recebeu a noticia de que iria receber sua Insígnia de Madeira. Ficou tão eufórico que quase não se conteve. Serei um grande homem agora – disse a um outro escotista.
- Preciso de um novo uniforme imediatamente. Que faça jus a minha nova posição na sociedade, no Grupo Escoteiro e em minha vida.

- Conheço um alfaiate perfeito para você – replicou o amigo, um IM há muito tempo. – Ele o alfaiate é um "Velho" sábio que sabe dar a cada cliente o corte perfeito. Vou lhe dar o endereço. - E o novo futuro IM foi ao alfaiate, que cuidadosamente tirou suas medidas. Depois de guardar a fita métrica, o sábio alfaiate disse: - Há quanto tempo o senhor é IM?
- Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu uniforme? – perguntou o cliente surpreso. – Não posso fazê-lo sem obter esta informação senhor. É que um IM recém fica tão deslumbrado que mantem a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito! Assim sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a de trás.

- Anos mais tarde, continuou – Quando está ocupado com o seu trabalho e os transtornos advindos da experiência o tornam sensato, olha adiante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito a seguir. Aí então eu costuro o uniforme de modo que a parte da frente e a de trás tenha o mesmo comprimento.

- E mais tarde, depois que está curvado pelos anos de trabalho cansativo e pela humildade adquirida através de uma vida de esforços, então faço o uniforme de modo que as contas fiquem mais longas que a frente.
- Portanto, tenho de saber a quanto tempo o senhor foi nomeado para que a roupa lhe assente apropriadamente.


E o novo futuro IM saiu da alfaiaria pensando menos no seu orgulho e mais no motivo que levou seu amigo a mandá-lo procurar aquele sábio alfaiate.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Lendas escoteiras. Só o vento sabe a resposta. Nada a ver com o romance de J.M. Simmel, por sinal um livro que devia ser lido por todos. Esta historia foi no final década de sessenta, eu era o Chefe de um Grupo Escoteiro por estes interiores do Brasil. Uma menina de uns doze anos se adentrou no pátio de reuniões (era um sábado à tarde) e ficou sentada observando a movimentação das tropas escoteiras. Ainda não havia a coeducação. Esta só foi iniciada na metade da década de oitenta. Em dado momento me procurou. Chefe como faço para entrar nos escoteiros? Um olhar profundo, um sorriso espontâneo, um brilho de um sonho e uma vontade de ser e não poder ser. Expliquei a ela. Disse que só como bandeirante. - Mas aqui não tem? Só balancei a cabeça negativamente. Não, respondi. Seus olhos se encheram de lágrimas. Tentei consolar, mas ela me olhou e saiu correndo. Passaram-se alguns anos, acho que uns seis anos se não me falha a memória. Conversava com um chefe e vi uma mocinha adentrando a sede. Pediu para falar comigo e prontamente a atendi. Chefe agora eu tenho dezessete anos. Vou fazer dezoito daqui a três meses. Agora posso entrar? Eu não me lembrei dela e nem sabia se tinha falado alguma coisa. Perguntei a ela. Não lembras quando estive aqui há cinco anos pedindo para ser escoteira? O senhor me disse que só poderia ser bandeirante. Em nossa cidade não tem. Esperei com calma e sonhando a cada dia em ser escoteira. Agora sou quase de maior, posso ou não? Claro, eu disse que sim. Nossa Alcatéia tinha 26 lobinhos. Dois chefes masculinos e duas femininas. Tinha que arrumar um lugar para ela. Uma perseverança em querer, em poder ser e depois de anos e anos nunca esqueceu seus sonhos. Claro que nunca poderia ser recusada. Eu jurei a mim mesmo que seus sonhos seriam realizados. Não foi bem recebida. Uma das chefes da Alcatéia me procurou em particular e disse que não poderíamos aceitá-la no grupo. - Por quê? Disse eu. Porque ela mora no “Ferreirinho” e o senhor sabe, lá é um bairro de má fama. Sua mãe só pode ser uma prostituta. Não sei por que falou aquilo. Era uma jovem educada e prestativa. Nunca deixou de ajudar ninguém. Infelizmente era uma época onde as mulheres que por um motivo ou outro foram parar ali naquele bairro não eram perdoadas facilmente. Não esperava aquela atitude. Pensei que não éramos assim. Éramos sim, uma fraternidade, cheia de compreensão para com o próximo. Ao encerrar a reunião ela pediu um Conselho de Chefes. Na reunião explicou o motivo. Éramos doze. Claro que concordei. Ela expos suas razões. Pelo menos sete chefes concordaram com ela. Vamos colocar em votação disse? Não precisa. Estou entregando meu cargo. Estou envergonhado. Pensei que aqui teríamos outro pensamento. Mas me enganei. Se isso for acontecer novamente prefiro não estar presente. Todos se assustaram com minha atitude e pediram um tempo para pensar. – Não precisa eu disse. Um dia vocês me disseram que o escoteiro é amigos de todos e irmão dos demais. Se não pensam assim, aqui não é o meu lugar! Procuraram-me no meio da semana, inclusive a chefe em questão. - Desculpe chefe. Agi mal. Muito. Peço perdão. Coloquei a mão em seu ombro. Nada de desculpas minha amiga. Estou orgulhoso de você e dos outros. No sábado seguinte a mocinha que pediu para entrar não apareceu. No outro também não. Fiquei preocupado. Será que ele ficou sabendo do que aconteceu e desistiu? Não tinha seu endereço. Não tinha feito por escrito sua inscrição. Não sabia como achá-la. Dois meses depois avistei uma mocinha que achei parecidíssima com ela. Parei e perguntei. Expliquei tudo. Ela com lágrimas nos olhos me contou a mais triste histórias que um dia ouvi. Sabe Chefe, Bea era minha irmã mais nova. Ela se chamava Beatriz. Contou as suas amigas e a todos lá em casa de sua alegria em ser agora uma escoteira. Seu sacrifício em esperar cinco anos agora fora reconhecido. Era seu sonho. Ano após ano ela só falava nisto. O dia inteiro rindo dizendo que um dia seria escoteira. Nós tivemos que ouvir todos os dias durante mais de seis anos. No sábado pela manhã se preparou para ir ter com vocês. Levantou cantando alto para todos ouvirem. Ao sair foi atropelada por um ônibus. Levada ao hospital faleceu horas depois. Fiquei pensando em tudo. Nosso destino, nossos sonhos. Perdidos em minutos. Em segundos. Por quê? Sem retorno. Acho que só o vento sabe a resposta!


Lendas escoteiras.
Só o vento sabe a resposta.

             Nada a ver com o romance de J.M. Simmel, por sinal um livro que devia ser lido por todos. Esta historia foi no final década de sessenta, eu era o Chefe de um Grupo Escoteiro por estes interiores do Brasil. Uma menina de uns doze anos se adentrou no pátio de reuniões (era um sábado à tarde) e ficou sentada observando a movimentação das tropas escoteiras. Ainda não havia a coeducação. Esta só foi iniciada na metade da década de oitenta.

 

            Em dado momento me procurou. Chefe como faço para entrar nos escoteiros? Um olhar profundo, um sorriso espontâneo, um brilho de um sonho e uma vontade de ser e não poder ser. Expliquei a ela. Disse que só como bandeirante. - Mas aqui não tem? Só balancei a cabeça negativamente. Não, respondi. Seus olhos se encheram de lágrimas. Tentei consolar, mas ela me olhou e saiu correndo. Passaram-se alguns anos, acho que uns seis anos se não me falha a memória.

 

            Conversava com um chefe e vi uma mocinha adentrando a sede. Pediu para falar comigo e prontamente a atendi. Chefe agora eu tenho dezessete anos. Vou fazer dezoito daqui a três meses. Agora posso entrar? Eu não me lembrei dela e nem sabia se tinha falado alguma coisa. Perguntei a ela. Não lembras quando estive aqui há cinco anos pedindo para ser escoteira? O senhor me disse que só poderia ser bandeirante. Em nossa cidade não tem. Esperei com calma e sonhando a cada dia em ser escoteira. Agora sou quase de maior, posso ou não?

 

              Claro, eu disse que sim. Nossa Alcatéia tinha 26 lobinhos. Dois chefes masculinos e duas femininas. Tinha que arrumar um lugar para ela. Uma perseverança em querer, em poder ser e depois de anos e anos nunca esqueceu seus sonhos. Claro que nunca poderia ser recusada. Eu jurei a mim mesmo que seus sonhos seriam realizados. Não foi bem recebida. Uma das chefes da Alcatéia me procurou em particular e disse que não poderíamos aceitá-la no grupo. - Por quê? Disse eu. Porque ela mora no “Ferreirinho” e o senhor sabe, lá é um bairro de má fama. Sua mãe só pode ser uma prostituta. Não sei por que falou aquilo. Era uma jovem educada e prestativa. Nunca deixou de ajudar ninguém. Infelizmente era uma época onde as mulheres que por um motivo ou outro foram parar ali naquele bairro não eram perdoadas facilmente.

 

              Não esperava aquela atitude. Pensei que não éramos assim. Éramos sim, uma fraternidade, cheia de compreensão para com o próximo. Ao encerrar a reunião ela pediu um Conselho de Chefes. Na reunião explicou o motivo. Éramos doze. Claro que concordei. Ela expos suas razões. Pelo menos sete chefes concordaram com ela. Vamos colocar em votação disse? Não precisa. Estou entregando meu cargo. Estou envergonhado. Pensei que aqui teríamos outro pensamento. Mas me enganei. Se isso for acontecer novamente prefiro não estar presente.

 

               Todos se assustaram com minha atitude e pediram um tempo para pensar. – Não precisa eu disse. Um dia vocês me disseram que o escoteiro é amigos de todos e irmão dos demais. Se não pensam assim, aqui não é o meu lugar!  Procuraram-me no meio da semana, inclusive a chefe em questão. - Desculpe chefe. Agi mal. Muito. Peço perdão. Coloquei a mão em seu ombro. Nada de desculpas minha amiga. Estou orgulhoso de você e dos outros.

 

               No sábado seguinte a mocinha que pediu para entrar não apareceu. No outro também não. Fiquei preocupado. Será que ele ficou sabendo do que aconteceu e desistiu? Não tinha seu endereço. Não tinha feito por escrito sua inscrição. Não sabia como achá-la. Dois meses depois avistei uma mocinha que achei parecidíssima com ela.

 

                Parei e perguntei. Expliquei tudo. Ela com lágrimas nos olhos me contou a mais triste histórias que um dia ouvi. Sabe Chefe, Bea era minha irmã mais nova. Ela se chamava Beatriz. Contou as suas amigas e a todos lá em casa de sua alegria em ser agora uma escoteira. Seu sacrifício em esperar cinco anos agora fora reconhecido. Era seu sonho. Ano após ano ela só falava nisto. O dia inteiro rindo dizendo que um dia seria escoteira. Nós tivemos que ouvir todos os dias durante mais de seis anos. No sábado pela manhã se preparou para ir ter com vocês. Levantou cantando alto para todos ouvirem. Ao sair foi atropelada por um ônibus. Levada ao hospital faleceu horas depois.

 

            Fiquei pensando em tudo. Nosso destino, nossos sonhos. Perdidos em minutos. Em segundos. Por quê? Sem retorno. Acho que só o vento sabe a resposta!   


             Nada a ver com o romance de J.M. Simmel, por sinal um livro que devia ser lido por todos. Esta historia foi no final década de sessenta, eu era o Chefe de um Grupo Escoteiro por estes interiores do Brasil. Uma menina de uns doze anos se adentrou no pátio de reuniões (era um sábado à tarde) e ficou sentada observando a movimentação das tropas escoteiras. Ainda não havia a coeducação. Esta só foi iniciada na metade da década de oitenta.

 

            Em dado momento me procurou. Chefe como faço para entrar nos escoteiros? Um olhar profundo, um sorriso espontâneo, um brilho de um sonho e uma vontade de ser e não poder ser. Expliquei a ela. Disse que só como bandeirante. - Mas aqui não tem? Só balancei a cabeça negativamente. Não, respondi. Seus olhos se encheram de lágrimas. Tentei consolar, mas ela me olhou e saiu correndo. Passaram-se alguns anos, acho que uns seis anos se não me falha a memória.

 

            Conversava com um chefe e vi uma mocinha adentrando a sede. Pediu para falar comigo e prontamente a atendi. Chefe agora eu tenho dezessete anos. Vou fazer dezoito daqui a três meses. Agora posso entrar? Eu não me lembrei dela e nem sabia se tinha falado alguma coisa. Perguntei a ela. Não lembras quando estive aqui há cinco anos pedindo para ser escoteira? O senhor me disse que só poderia ser bandeirante. Em nossa cidade não tem. Esperei com calma e sonhando a cada dia em ser escoteira. Agora sou quase de maior, posso ou não?

 

              Claro, eu disse que sim. Nossa Alcatéia tinha 26 lobinhos. Dois chefes masculinos e duas femininas. Tinha que arrumar um lugar para ela. Uma perseverança em querer, em poder ser e depois de anos e anos nunca esqueceu seus sonhos. Claro que nunca poderia ser recusada. Eu jurei a mim mesmo que seus sonhos seriam realizados. Não foi bem recebida. Uma das chefes da Alcatéia me procurou em particular e disse que não poderíamos aceitá-la no grupo. - Por quê? Disse eu. Porque ela mora no “Ferreirinho” e o senhor sabe, lá é um bairro de má fama. Sua mãe só pode ser uma prostituta. Não sei por que falou aquilo. Era uma jovem educada e prestativa. Nunca deixou de ajudar ninguém. Infelizmente era uma época onde as mulheres que por um motivo ou outro foram parar ali naquele bairro não eram perdoadas facilmente.

 

              Não esperava aquela atitude. Pensei que não éramos assim. Éramos sim, uma fraternidade, cheia de compreensão para com o próximo. Ao encerrar a reunião ela pediu um Conselho de Chefes. Na reunião explicou o motivo. Éramos doze. Claro que concordei. Ela expos suas razões. Pelo menos sete chefes concordaram com ela. Vamos colocar em votação disse? Não precisa. Estou entregando meu cargo. Estou envergonhado. Pensei que aqui teríamos outro pensamento. Mas me enganei. Se isso for acontecer novamente prefiro não estar presente.

 

               Todos se assustaram com minha atitude e pediram um tempo para pensar. – Não precisa eu disse. Um dia vocês me disseram que o escoteiro é amigos de todos e irmão dos demais. Se não pensam assim, aqui não é o meu lugar!  Procuraram-me no meio da semana, inclusive a chefe em questão. - Desculpe chefe. Agi mal. Muito. Peço perdão. Coloquei a mão em seu ombro. Nada de desculpas minha amiga. Estou orgulhoso de você e dos outros.

 

               No sábado seguinte a mocinha que pediu para entrar não apareceu. No outro também não. Fiquei preocupado. Será que ele ficou sabendo do que aconteceu e desistiu? Não tinha seu endereço. Não tinha feito por escrito sua inscrição. Não sabia como achá-la. Dois meses depois avistei uma mocinha que achei parecidíssima com ela.

 

                Parei e perguntei. Expliquei tudo. Ela com lágrimas nos olhos me contou a mais triste histórias que um dia ouvi. Sabe Chefe, Bea era minha irmã mais nova. Ela se chamava Beatriz. Contou as suas amigas e a todos lá em casa de sua alegria em ser agora uma escoteira. Seu sacrifício em esperar cinco anos agora fora reconhecido. Era seu sonho. Ano após ano ela só falava nisto. O dia inteiro rindo dizendo que um dia seria escoteira. Nós tivemos que ouvir todos os dias durante mais de seis anos. No sábado pela manhã se preparou para ir ter com vocês. Levantou cantando alto para todos ouvirem. Ao sair foi atropelada por um ônibus. Levada ao hospital faleceu horas depois.

 


            Fiquei pensando em tudo. Nosso destino, nossos sonhos. Perdidos em minutos. Em segundos. Por quê? Sem retorno. Acho que só o vento sabe a resposta!   

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Mochila ame-a ou deixe-a.



Conversa ao pé do fogo.
Mochila ame-a ou deixe-a.

       Já tive várias na vida. Tentei guardar a primeira, mas uma enchente me deixou órfão. Quase chorei. Na sede escoteira tinha um baú cheio delas. Presentes do Batalhão Militar da cidade.  Com o tempo fui comprando outras. Uma delas ficou comigo por quinze anos. Uma que me deu dor de cabeça, ou melhor, nas costas foi a com armação de metal. Uma jornada de vinte quilômetros acabou comigo. Jurei nunca mais usar. Aprendi desde pequeno que mochila não é armário ou guarda roupa. Aprendi usando. O Akelá disse – Não vou dar lista. Levem o que acharem necessário para um acampamento de três dias. - Penei. A mochila não deu. Levei mais um bornal e uma sacola. Fui alvo de gozação. Lobinho pata tenra só aprende assim. Mas aprendi. E como aprendi. Afinal subir montanhas, quilômetros e quilômetros em vales e gargantas, atravessar rios ou andar em lombos de burros ou de trem foi lição para nunca mais esquecer.

       Você pode dar uma relação de itens para eles levarem. Não vai adiantar. Mamãe, titia ou Vovó sempre tem mais um item. Não são elas que vão carregar, mas se preocupam com você. Nunca ri de Escoteiros noviços ao chegarem à sede parecendo uma árvore de natal. Mas que dava vontade de rir dava. Ele chegava vermelho. Sonhando com o acampamento. Eu só dizia – Vai precisar mesmo de tudo isto? Ele orgulhoso respondia - Claro Chefe. Afinal não foi o senhor quem disse que quem vai para o mar avie-te em terra? Tá bom. Aprender a fazer fazendo. Um quilômetro e o pobre bufando. Dois quilômetros desmaia na sombra de uma árvore. – Aprendeu? Claro que sim. Sem ajuda. Nunca deixei ajudar. Levou tem de carregar. Faz parte do crescimento.  

        Eu aprendi assim. Cortava isto, cortava aquilo e não fazia falta. Não faz mesmo. Nunca levei saco de dormir, ou melhor, em inglês sleep. Um trambolho. É isto mesmo? Não importa. Carregar um nas costas? Nem pensar. Se quiser conforto fico em casa. Sempre tive dois sacos de linhagens. Era só encher com folhas secas ou capim e meu colchão estava pronto. Uma cueca, um par de meias, uma camiseta, um short, minha manta e os dois sacos de linhagens. Clara higiene e um bom livro. Mais? Não precisava. Se apetrechos individuais sujassem eu lavava. Tinha técnica até para passar com dois arcos de madeira. Tive uma mochila que adorava. Simples, verde, gostosa. Nas costas não machucava. Nas laterais colocava meu facão, uma chaleira e um caldeirão. Não precisava de mais. Viajei mundo com ela. Subi serras e picos, lugares que nunca mais esqueci.

       Mas dei boas risadas com as mochilas dos outros. Eu sempre fui um gozador às escondidas. Nos acampamentos nacionais, regionais e internacionais era que eu dava gargalhadas mil. E nos Jamborees? Meu Deus! Cada tipo de fazer inveja. Eles chegavam posudos. Como se fossem os melhores do mundo. Mochilas enormes. Cheias de balangandãs. – Por que esta rindo? Perguntavam. – Por nada, desculpe. Mas lá no fundo eu sabia que ele era um eterno pata tenra. Você conhece. Você sabe. Só de olhar o Chefe ou o Escoteiro você sabe ate onde ele é um bom mateiro. E a Patrulha então? Só o Monitor formar e lá está. Grande ou pequena Patrulha. Não tem erro. Adorava ver um Chefe tentando me explicar sua mochila machucando na subida da serra. - Aprendeu papudo? Claro que sim. Ele aprendeu. Achou que sabia tudo e não sabia nada. Mas não é assim que se aprende?

        Quando Escoteiro e Sênior era bom andar com meus companheiros. Ninguém reclamava. Todos sabiam o que fazer. Mochilas bem postas, somente o necessário. Hora de falar, hora de cantar e hora de prosseguir o caminho das nuvens. Andei por alguns lugares com chefes mateiros. Aprendi muito com eles. Muitas vezes as barracas ficavam. Prá que? Em meia hora sabíamos fazer uma cabana para dois ou três. Chuva? Uma capa plástica simples e mais nada. E ela nunca durava para sempre. Mas voltemos às mochilas. Cada um sabe o que quer. Cada um compra a quem mais lhe chamou a atenção. Mas cuidado. Muito cuidado! Nem tudo que reluz é ouro. Olhe para ela. Se sinta confortável subindo uma montanha por dois dias, sol a pino, nenhuma sombra. Como ela está nas costas? Dói? Então não compre. Veja aquela mais simples, mais leve. Sei que é feinha, mas vai lhe dar um alivio enorme nas grandes atividades a pé. Lembre-se você não vai mudar de cidade ou tirar férias de vinte dias. Vai acampar ou excursionar e voltar para casa.


        Ainda sinto saudades. Muitas. Em ver todos chegando à sede. Dia do grande acampamento. Pais e mães brigando para ver seus lindos filhinhos colocarem a mochila e dar adeusinho. Os mateiros rindo e pensando na bela atividade pela frente. Os pata tenra vermelhos maldizendo as vovós e as mamães que lhe entupiram de material. Mas não adianta. Só se aprende fazendo. Feliz Baden Powell que nos ensinou e muitas vezes esquecemos. Bom acampamento!