Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 8 de fevereiro de 2014

E quem precisa dos pais dos Escoteiros?


Conversa ao pé do fogo.
E quem precisa dos pais dos Escoteiros?

                Muitos escotistas comentam comigo sobre as dificuldades encontradas quando procuram os pais para colaborarem em diversas situações no Grupo Escoteiro. Claro, sabemos que vários grupos não têm este problema, portanto nos dirigimos àqueles que nos lêem e gostariam de algumas sugestões a respeito. Os demais eu sei que já fazem assim ou até melhore que estas sugestões. Vejam alguns dos comentários recebidos:

               - Alguns jovens participam com idealismo, mas nunca vi seus pais e quando peço uma reunião com eles, poucos aparecem. - Em época das Assembleias de Grupo e principalmente quando da eleição da diretoria é uma luta para que alguém se ofereça para ajudar, e isto nos poucos que comparecem. - Para qualquer atividade que for necessário uma taxa, isto sem falar na mensalidade, a maioria (os pais) não colaboram e não ajudam em nada. Quando algum Escotista pretende participar de alguma atividade ou cursos para aprimorarem seus conhecimentos, sempre arcam com todas as despesas de transporte e taxas, com isto muitos desistem de prosseguirem na trilha escoteira. - Enfim, sem eles ficamos sem condições de manter o Grupo Escoteiro, e até o registro anual é prejudicado. Ou fica sem fazer ou se registra poucos membros do Grupo.

              É, é uma situação constrangedora. Claro tudo isto não existiria se na entrada do jovem, algumas providencias tivessem sido tomadas. Já vi chefes pagando do próprio bolso taxas para seus Escoteiros, comprando material de campo e muitas vezes deixando seus familiares prejudicados. Depois que eles se acostumaram com este estado de coisas existem poucas as soluções para consertar. Como disse o Chico Xavier não podemos voltar atrás no tempo, mas podemos fazer um novo começo. Vejam alguns exemplos de vários grupos escoteiros que são exigentes na admissão do jovem. Eles são taxativos. Sabem que quem entra no grupo são os pais. A família. Os filhos vem juntos.

               - Em hipótese nenhuma se abre mão para uma inscrição sem os pais. Não importa se ele é amigo do fulano ou sicrano. A ficha de inscrição só deve ser preenchida na presença do responsável e muitos grupos o Diretor Técnico se encarrega disto. Não se abre mão em hipótese alguma para uma admissão. Abriu para uma abriu para todos. Neste dia os pais devem vir acompanhados dos filhos interessados. Eles ficaram a par do que é o escotismo (pai, mãe e filhos) – Eles devem passar por um cursinho ou algumas horas aprendendo o que é escotismo. Este cursinho é feito uma vez por mês. Pais que não participarem não tem a inscrição assegurada. Só após eles são convidados para em um dia posterior a participarem de uma reunião onde serão apresentados ao grupo. Sempre após o cerimonial. Eles os pais e os filhos ficam fora da ferradura), Os pais e os filhos são apresentados a todo o grupo e os filhos ao Chefe da sessão que irão participar.

               - Os chefes da sessão em que foi destinado o jovem ou a jovem já estarão ao par, pois foram informados pelo diretor técnico. Eles discutirão na tropa ou alcateia qual matilha ou patrulha eles irão ficar. Claro que a recepção ao jovem deve ter um destaque especial. Gritos, Grande Uivo (claro que eles não participam e só assistem). Neste primeiro dia os pais são convidados a permanecerem na sede enquanto os filhos estão em atividade. Aproveita-se para uma conversa amigável e quem sabe uma mesinha com café, biscoitos podem ser servidos. É nesta hora que se entrega o programa do grupo (o programa geral, o de sessão é entregue ao jovem ou a jovem pela patrulha). Ficar sabendo em que eles podem ajudar principalmente na preparação de especialidades. É importante que pelo menos uma vez por mês um dos chefes ou membros da diretoria ligue para sua casa para dar um boa noite e dizer que o grupo se sente honrado com a presença da família.

                 O mais importante é que a falta de duas ou três atividades marcadas nenhum deles comparecerem, e após contato telefônico sem resultados é bom ligar e dizer que ficaram triste com sua ausência. Sejam taxativos, lembre-os da conversa no primeiro dia.  Se persistir alguns chefes costumam ir pessoalmente outros mandam por escrito lamentando a ausência, pois as normas são claras para os faltosos. Os filhos infelizmente não poderão mais participar até que a família prestigie as atividades do grupo. Claro, vocês podem dizer que isto é muito radical, mas é bom lembrar que somos um movimento voluntário, sem fins lucrativos e nosso intuito é colaborar com os pais, a escola e a igreja. Nós também somos voluntários, estamos ali ajudando aos pais e eles precisam saber que são eles quem deve agradecer e não o contrário.

                   É importante que o Grupo Escoteiro mantenha algumas atividades para os pais em seu programa, a fim de motivá-los e sempre acontece que muitos deles passam a se interessar mais pelo movimento, oferecendo seu tempo para colaborar como escotistas. Existem exemplos diversos do interesse dos pais pela chefia e há casos de se ter um grande número de chefes advindo dos pais. Isto muitas vezes resolve de vez a falta de adultos tão reclamados por muitos.
Algumas atividades sugeridas:

                 Uma vez por ano, com ajuda de alguns pais, escolher um local onde todos possam passar um dia inteiro, em confraternização (se possível um sítio fora da cidade, que tenha instalações necessárias para os participantes). Nesta confraternização executar um programa nos moldes escoteiros, formando patrulhas de pais junto com os filhos, competições entre elas, com grito próprio, cerimonial de bandeira e encerramento com fogo de conselho (lampião) e a Cadeia da Fraternidade.

                Nas atividades de Alcatéia, sempre ver com a chefia quantos pais serão necessários e convidar aqueles que se propuseram a isto. Comissões internas para em conjunto com a Comissão Executiva (diretoria) desenvolver tarefas tais como: Arrecadação de fundos compras para acampamentos – transporte para atividades de seções – instrutores de especialidades e outras de comum acordo com o Conselho de Chefes e Diretores do Grupo Escoteiro.

                  Alguns grupos costumam se organizar quinzenalmente, com revezamento em uma noite de confraternização na casa de um pai previamente sorteado. Cada família deve levar salgados e doces. Claros que eles ficam para a limpeza, pois o anfitrião cedeu sua casa e não pode arcar sozinho com a limpeza. Bebidas também são de responsabilidades dos pais. Já conheci casos onde os casais aproveitavam para um Karaokê divertido, baile informal etc. Sem caráter de obrigação é uma forma de arregimentar os pais em um ambiente escoteiro onde se conversa temas de interesse de todos.


                 Lembramos que o grupo é uma grande família. Os pais participam dela também. Uma perfeita sincronização com o Conselho de Chefes mensal deve haver para que a troca de ideias, sugestões e outros, poderão tirar duvidas e aprimorar mais e mais o aproveitamento dos pais. Espero ter colaborado, mas se quiserem mesmo ter os resultados esperados, mãos a obra. Um poeta já dizia: Quem quer anda, quem não quer manda! E não deixe para amanhã o que pode fazer hoje!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A arte do aconselhamento tem técnica?


Conversa ao pé do fogo.
A arte do aconselhamento tem técnica?

                     A primeira vez que conheci Pataxó foi há muito tempo. Ele era Sênior. Encontramo-nos em um acampamento distrital de patrulhas. Escolheram-me como Chefe do subcampo Sênior. Ele não era Monitor, mas uma tarde me procurou na barraca de chefia – Chefe! Pode me dar um tempo? – Claro meu jovem, o tempo que você quiser. – Por favor, não me ache infantil. Nada disto. Mas vim aqui para fazer escotismo e o que vejo são as guias e seniores conversando aqui e ali. Não quero que mudem nada, mas não é o que eu queria para uma confraternização distrital. – Assim sabe Chefe estou querendo ir embora. Sei que meu Monitor não vai entender, ele está namorando uma menina de outro grupo. Sei também que quando chegar ao grupo na primeira reunião eles irão fazer um Conselho de Tropa e claro, irão claro me punir de alguma forma. Se acontecer prefiro sair do movimento Escoteiro.

                        Sou um homem vivido. Sempre achei que tinha as respostas para tudo. Naquela hora não tinha. Não sabia o que dizer. Falar o óbvio, os mesmo aconselhamentos sabia que não ia atingir o objetivo. – Pataxó, me faça um favor, chame seu Monitor até aqui na chefia? – Ele me olhou espantado e foi. Desculpem-me eu me esqueci de dizer Pataxó não tinha descendência indígena. Era loiro magro e alto. Interessante um olho azul claro e outro castanho. Em menos de cinco minutos o Monitor chegou com ele. Estava preocupado. – Sempre Alerta Chefe! Monitor da Antares se apresentando. – À vontade meu amigo. Sente-se aqui. Vou lhe fazer um pedido. Claro você só atende se for possível. – Diga Chefe! Você já viu que estou sozinho aqui. São mais de quinze patrulhas seniores. Preciso de ajuda não para liderar vocês, mas para dar uma arrumação na bagunça do programa. Não quero desfalcar nenhuma Patrulha com um Monitor. Como sei que vocês estão em seis que sabe você poderia me ajudar deixando o Pataxó aqui comigo até amanhã tarde?

                      Pataxó franziu a testa e levantou as sobrancelhas. Não disse mais nada. Fiquei conhecendo o rapaz. Educado, prestativo e pelo que me contou era esforçado para atingir um objetivo que matinha em sua mente. Queria ter uma boa fábrica de móveis, pois era aprendiz em uma e lá estava aprendendo o ofício com amor e abnegação. Estudava também à noite. Era corrido para ele. Foi por dois anos escoteiro, mas quando conseguiu a vaga na marcenaria os sábados foram cortados. Voltou a menos de um ano para os seniores. Seu Marcondes dono da Marcenaria passou a fechar ao meio dia de sábado. Ele gostava do escotismo. Gostava de atividades aventureiras, de acampamentos e excursões. Fizera amigos na tropa. Agora era tudo diferente, as moças chamadas de guias estavam juntas nas patrulhas.

                     Em dois acampamentos ele se sentiu um peixe fora d’água, mas acostumou. Ficar o dia inteiro com elas – Na Patrulha somos seis, três são guias disse. Porque estranhou? Perguntei. – Bem Chefe, o Senhor sabe correr para o matinho e ficar de olho nelas se não estão por ali, subir em arvores, falsa baiana e construir um ninho de águia com elas juntos não é fácil. Concordo que elas eram animadas, esforçadas e até em certos casos eram superiores a nós seniores. – Pataxó contou, contou e ficamos até altas horas da noite conversando. Ou melhor, ele falando. Eu só ouvia. No dia seguinte ele estava alegre, brincalhão, foi em sua Patrulha várias vezes e até me perguntou se podia voltar. – Você quer? Perguntei? – Sim Chefe, o Senhor não vai acreditar, mas a Franciele disse que sentiu saudades de mim! – Problema resolvido. Este escotismo moderno não é fácil. De vez em quando deixar falar e ficar calado é o melhor caminho. 

                    Passou-se mais de dez anos quando encontrei novamente Pataxó. – Uma surpresa. Estava em meu Grupo Escoteiro em atividade num sábado à tarde com os escoteiros e uma Assistente da Alcatéia me procurou – Chefe tem outro Chefe da Bahia querendo falar com o Senhor. Olhei e lá estava Pataxó. Nos seus vinte seis anos. Um homem formado na família escoteira. Ao seu lado uma linda moça. – Olá Chefe, ele disse, lembra-se de mim? – Nunca o esqueceria. – Esta é Franciele. Minha noiva. Vamos nos casar no ano que vem. – Sabe Chefe, nunca o esqueci. O Senhor foi o único que me mostrou o caminho sem dizer nada. Sou eternamente grato. Ainda estou no Grupo Escoteiro. Hoje sou Chefe de Tropa Escoteira. Minha noiva me ajuda, pois temos duas Patrulha femininas. Mas separadas! E riu a vontade.

                    Nada como ver um final feliz. São coisas que encontramos sempre no escotismo. Tem fatos que nos marcam, ficam gravados na mente. Alguns amarrados com grandes amarras no coração. Naquela noite, levei Pataxó e Franciele em uma churrascaria. Passei em casa e convidei minha esposa. Que noite gostosa. Que noite linda em saber que Pataxó venceu seus temores. Que hoje é dono de uma grande loja de móveis em sua cidade – Chefe! – disse Pataxó - Eu sonho em ver nossos filhos de uniforme, sorrindo, juntos e aprendendo a ser alguém nas belas coisas que BP nos deixou! – Isto mesmo Pataxó eu pensei. Claro, Pataxó foi um vencedor. Nem sempre encontramos escoteiros como ele. Meu alerta a você Pataxó esteja onde estiver, pessoas como você fazem do escotismo o maior movimento de formação do caráter em todo o mundo!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Fuligem, o meu cinto Escoteiro brincalhão.



Lendas escoteiras.
Fuligem, o meu cinto Escoteiro brincalhão.

           Nem vem que não tem. – Não tem o que Fuligem? – ele me olhava com aquela cara de “besta” que eu conhecia há muitos e muito anos. – Pode tirar o cavalinho da chuva. Não vou para a reunião com você hoje nem que a vaca tussa! – O que é que eu fiz Fuligem? – O que fez? Só um paspalho escoteiro como você faz uma pergunta desta. Seja homem meu caro. Aceite que você é um idiota! – Fiquei a olhar o Fuligem. Nem sabia ao certo quando ele falava sério ou estava-me gosando. Pensei com meus botões o que tinha feito. Olhei bem para fuligem. Estava limpo. Na quarta usei metade da pasta Kolynos para fazer a melhor limpeza que tinha feito. O couro estava perfeito. O que ele queria agora? – Olhei para ele e o “pestilento” começou a rir. – Fuligem! São quase uma hora, você sabe que não gosto de chegar atrasado! Tá bem! Desta vez eu vou, mas na próxima se não engraxar o sapato não conte comigo. Só ando com Escoteiros que se orgulham do uniforme!

          Sempre foi assim. Desde que comprei o Fuligem na loja da capital pelo correio. Eu tinha um ano de promessa e custei a juntar o dinheiro para comprá-lo. Assim foi como meu chapéu de três bicos, com meu bastão de ponteira de aço, com meu cantil francês, com meu canivete suíço e com minha faca mundial. Meu uniforme e lenço mamãe fazia, mas o resto eu ralava para comprar. Engraxando sapatos, limpando quintais, ajudando seu Manezinho no Armazém fazendo entregas. Olhei para meu Vulcabrás e ele não estava sujo. Não o engraxei na semana, achei que não precisava. Fuligem não perdoava. Ele gostava de massacrar. Não esqueço o dia que fui para a sede, já nos meus treze anos e ao passar na vendinha do Seu Nestor para comprar balas de hortelãs um freguês dele olhou minhas pernas e disse – Lindas! Se você fosse uma moça a gente ia conversar! Fuligem virou bicho. Tire-me logo e dê uma surra neste filho da mãe! - Não Fuligem é o Vadico meu amigo de escola.

          E quando mamãe fez um uniforme novo? As passadeiras ficaram estreitas. Ele não conseguia passar. – Meu pai do céu! Ele dizia. Nesta casa só tem Jerico ou Asno? Tal mãe tal filho? Naquele dia fechei a cara para ele. Ele sabia que tinha ido longe demais. Abaixou cabeça como se estivesse envergonhado. Fui na caixa de sapato e retirei outro cinto Escoteiro que tinha de reserva. Não era tão bonito como Fuligem, mas ele precisava de uma lição. Quando coloquei o cinto ele gritou – Não, por favor! Perdoe-me, eu falei demais! – Desta vez nem liguei e fui para a sede escoteira. Fui triste mesmo sabendo que o Segunda Mão era um bom cinto. Calmo, educado e ponderado, pois tinha sido de um Escoteiro antigo que me presenteou. Acho que tinha mais de quarenta anos, falava pouco, não reclamava não chingava e nem me desafiava como Fuligem.

      Fuligem quando chegou da capital ficou todo prosa. Novo em folha, couro brilhante com flor de lis, metal com um brilho de dar inveja e Foi logo dizendo - É melhor saber antes que não gosto de Escoteiro babão! Ou você está bem uniformizado ou não está. Sou exigente, meião nos trinques, calça e camisa bem passada, o lenço bem dobrado e o anel até na gola. Chapéu meu amigo tem de estar com as abas largas. Se torto me esqueça! – No início não liguei para ele. São coisas de novatos ainda sem aquela fleuma de um bom mateiro. Eu já conhecia este tipo de prosa. Foi com meu chapéu, com meu lenço e meu bastão. Mas o tempo foi passando e fuligem aprontando. Era minha calça sem passar, meu lenço mal dobrado, meu chapéu torto, Fuligem não deixava nada passar. Nos acampamentos se chovia ele gritava – Corra seu idiota, se o couro molhar vai doer prá dedeu!

       Lembro de um fato interessante em Santa Mônica uma cidadezinha lá pelas bandas do Rio Tico-Tico. Nem lembro o que fui fazer lá. Armamos barraca em um campinho de futebol na entrada da cidade e fora alguns garotos olhando de longe não vi mais ninguém. O dia acabava e escurecia. Depois do jantar fomos dormir, pois no dia seguinte iriamos dar uma chegada em Campos Gerais. Dormi feito um anjo, mas ao acordar cadê meu cinto? Mãe de Deus levaram o fuligem. Não me dei por vencido, pois sabia que ele ia berrar feito um bode preso no toco da porteira. Não deu outra, com meu cavalo de aço (bicicleta) rodei a cidade rua por rua. Em uma delas ouvi a voz dele – Socorro! Vado sua besta, me tire daqui! A mãe do menino ficou envergonhada e pediu desculpas. Fuligem ria a mais não valer. “Num” falei que ele ia me encontrar, menino dos infernos! Saí dali correndo.

         O tempo passou, um dia tive de dizer a ele que precisa trocar o couro. Ele berrou, gritou e disse que preferia morrer. Manfredo um sapateiro disse que podia fazer um recauchutagem sem mudar seu estilo anterior. Deixei-o na sapataria e um dia depois Manfredo veio me procurar dizendo que eu levasse o cinto urgente. Ele não aguentava mais a faladeira dele. Nunca viu um cinto falante e igual aquele ele queria distancia. Fuligem envelheceu o couro. Pediu para aposentar, pois preferia morrer a trocar o couro. Foram mais de quarenta ano com Fuligem. Está comigo ainda, guardado no meu quarto e pendurado em um local gostoso, onde ele pode ver a janela e os passarinhos cantarem no Pé de Oliveira que tenho no meu quintal.


       Hoje já Velho eu lembro dos meus amigos. Amigos que foram meus companheiros de aventuras, meu bastão com ponteira, meu chapéu de três bicos, meu lenço verde e amarelo encantado, meu lampião vermelho e Fuligem. Deixo minha faca meu cantil e meu canivete suíço sem comentar. Eles não falavam muito, mas também foram companhias de aventuras que nunca mais os esquecerei. Pelo menos uma vez por semana abro minha caixa de guardados. Lá estão todos eles menos fuligem e o chapéu de três bicos que sempre estrão pendurados na parede. Nunca durmo sem rezar e eles sempre me acompanham. Sei que durmo pesado. Sei que eles conversam a noite toda. Sei que relembram o escotismo do Vado o Escoteiro que eles fizeram parte. Mas todos eles fizeram parte da minha vida. Se um dia me for já pedi a minha querida Celia que os guarde com ela. Não coloque no meu túmulo. Se eles estiverem de acordo que os doem para um Escoteiro jovem, que tem amor as suas tralhas escoteiras como eu tive e que os ame como eu os amei! 

Jogando conversa fora. Mística/Cerimônias.



Quatro chefes jogando conversa fora. Três chefes e uma Akelá. Grandes amigos. Foram escoteiros quando criança. São jovens. Solteiros e prontos a colaborar com os jovens dentro de suas limitações. Tomam sua cervejinha. E nesta idade quem não toma? Mas observem, eles tem uma norma. Bebem pouco. As onze em ponto param e vão embora. Sempre de taxi ou ônibus.
Todo sábado ao terminar a reunião, eles tiram o uniforme vestem uma roupa comum e saem os quatro alegres para mais um bate papo gostoso.
Seus temas são interessantes. Divirtam-se discordando ou concordando. A ideia é levantar o assunto sem entrar profundamente nele.

Conversa ao pé do fogo. Parte I
Jogando conversa fora. Mística/Cerimônias.

                      - Nunca pensei deste modo. Para dizer a verdade, eu vou levando na base do feijão com arroz – Na Alcatéia nós temos. Ainda não como você expôs, mas a temos – Estou cansado. Vim aqui hoje para não faltar. Mas acho que só vou beber um chopinho e mais nada – Porque isto meu irmão? Não foi Benjamim Franklin quem disse que a cerveja é a prova viva de que Deus nos ama e nos quer ver felizes? Confia – Vamos tomar nossos quatro chopes e pronto. Ei Matheus! O de sempre – Ele já acostumou conosco (Matheus o garçom e proprietário da Pizzaria). – Então as cerimonias que fazem são sempre as rotineiras? – Bandeira, oração – Inspeção – Jogo e etc.? – Mas existe maneira de mudar? Afinal as nossas cerimonias não são uma espécie de tradição?

                     - Não sei, andei pensando. Li sobre isto ano passado – Os jovens gostam de cerimonias místicas – Gostam mesmo? – Acho que sim. Só não confundir misticismo com fenômenos sobrenaturais. Eu sei que existem tradições místicas que os que fazem se orgulham de sua junção ao pensamento racional. Quem sabe as ligadas à filosofia de uma tradição – Não estou entendo nada – Expliquem-se – Depois. Agora vamos saborear, pois a cerveja me faz sentir da forma que gostaria de me sentir sem cerveja – risos. Matheus caprichou nos chopes. E acompanhado por ótimas empadas de camarão. Este Matheus é demais – Me disseram que existe uma tropa Sênior que criou tradições em várias cerimonias escoteiras. Mesmo com a Rota Sênior é preciso fazer uma serie de provas para ser aceito – Fáceis? – Dizem que sim. Depois o recruta participa de uma cerimonia mística onde é recebido pelos Monitores encapuzados, e em local de difícil acesso. Dizem que tem bandeira, espada e comes e bebes. As fazem em Vales, picos, montanhas etc. – E isto é bom?

                      - Sei que muitos que assim o fazem juram segredo. Não contam para ninguém – Veja os heróis do passado – Mantem segredo de muitas organizações e as ordens carismáticas que participaram. Eles criaram um conjunto de regras e etiquetas para que os noviços possam fazer corretamente. – Eu também já ouvi falar nisto. Criaram costumes, tradições, lendas, danças que se tornaram um mito na vida da tropa – Sei de uma que as promessas só podem ser feitas em fogo de conselho. E só lá podem fazer o juramento – Dizem que a bandeira vem através de um cabo, já desfraldada, iluminada pela chama do fogo, e o Chefe grita alto – Quem vem lá? Um patrulheiro que deseja ser um valente Escoteiro! E assim começa a promessa terminando com um Anrê gritado enquanto ele salta na fogueira de um lado a outro por três vezes – Parece interessante. Matheus! Outra rodada! E não se esqueça da empadinha. Está deliciosa.

                      - Pode até ser que nas tropas funcione, mas na Alcatéia não sei. – Mas e a mística da Jângal? Ela é tão extensa para ficar presa a uma pedra do conselho, um grande uivo, um totem, danças e uma Roca. – Pode até ser. Os lobos têm mais sonhos que os escoteiros. Quando contamos para eles o que aconteceu na Jângal prestam a maior atenção. – Mas não sei como fugir do cerimonial inicial e final das reuniões e até não sei se é válido – Eu faria uma experiência. Pelo menos uma vez a cada quatro reuniões – Já pensou a surpresa? Começar uma reunião sem o cerimonial? E na tropa? – Acho que vale a pena pensar. Pensar firme, pois dizem que toda mudança deve ser feita paulatinamente. - O que fazemos hoje virou um hábito de comportamento – Pois é. Mas não sei não, toda rotina cansa.
                                                                                                                          
                        - Matheus! A saideira! - Já? – Onze horas meu amigo. E hoje não sei se eu aproveitei bem do álcool ou se foi ele quem se aproveitou de mim. – todos riram – Vamos com calma, se Deus soubesse que nós beberíamos cerveja, nos teria dado dois estômagos – Risos e risos. – Mas encerrando, acho que vou pensar sobre isto. Precisamos criar raízes em tropas e alcateias. Raízes com tradição, com cerimonias interessantes que marcam. – Acho que eu também vou pensar – Eu soube que uma tropa fez do livro de Atas da Corte de Honra a mais secreta de todas – Mandou fazer uma proteção com vidro, onde o Livro de Ata fica guardado e fechado a cadeado. Fica exposto na parede da sala. Quem entra vê o livro e não pode ler - Segredo! Segredo! As Cortes de Honra são secretas. Quantos meninos sonham em ser Monitor só para descobrir aquele segredo?

                           Boa noite Matheus. Não esqueça, você é nosso convidado. – Quem sabe? Quem sabe? – Gosto de ver vocês aqui todo sábado à noite – Gosto de ver vocês tomarem os chopes, calmos, sem gritos, alegres sem serem espalhafatosos. Vocês sempre serão bem vindos aqui – Olhe Matheus, sem duvida a maior invenção da história da humanidade foi à cerveja – Eu admito que a roda também foi, mas a roda não desce tão bem como uma cerveja e uma Pizza! – todos riram e se foram – Três deles racharam um taxi a Akelá foi de ônibus. Hoje mais alegre, nos disse que agora estava assim por ter terminado com o noivo – Amor! Estranho amor! - Durma-se com um barulho desses!          


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Troféu eficiência. Desistir dele? Jamais!


Conversa ao pé do fogo.
O Troféu eficiência. Desistir dele? Jamais!

          Nunca liguei se perdia ou se vencia. Para mim o escotismo era só diversão. Sentia-me bem na patrulha Condor e nunca parei para pensar o porquê ela se deixava levar como o vento sem ter uma direção firme, uma abordagem um leme seguro para chegar ao porto escolhido. Quando comecei o ano passado tentei mudar o estilo. – Meu nome é Zito e o seu? Perguntei. Ninguém respondeu. O Monitor me olhou e disse que se fosse bom logo todos aprenderiam o me nome.  Eram quatro patrulhas e cada uma a seu modo tinha sua maneira de viver. Os Pintassilgos e os Mergulhões sempre foram os primeiros. Era normal e ninguém se incomodava. Parecia um jogo de cartas marcadas e que não incomodava ninguém. Claro que a Patrulha Uirapuru de vez em quando conseguia um troféu, um elogio mas a Condor? Ninguém se preocupava. Jerônimo o Monitor arrastava o bastão quando corríamos, Jader e Pepeu na fila da patrulha não se entendiam. Agora tinha duas meninas que só sorriam e mais nada. Paty e Vilminha. Bill já estava fazendo a Rota Sênior e durante o tempo que participou da Patrulha nunca se preocupou em ganhar ou vencer.

         O Chefe Jean Pierre estava na tropa há mais de dez anos. Não sei se ele prestava muita atenção em tudo que acontecia ou se ele achava que cada um tinha que descobrir o sentido da vida na patrulha. Ele sempre dizia que a vida tem quatro sentidos: amar, sofrer, lutar e vencer. Por isso patrulheiros amem muito, sofram pouco e lutem bastante e claro, vençam sempre. Se isto era uma motivação de nada valia para nós os Condor. Nos acampamentos era comum a cada manhã, após a inspeção de campo e depois do cerimonial de bandeira a eficiência de campo ser entre aos Mergulhões e aos Pintassilgos. E assim os dias de acampamento iam passando, nós ali brincado de Escoteiros valentes, de experientes mateiros e nunca desejando também ser um daqueles que já atingiram o panteão dos vencedores.

          Um dia conversava com meu pai. Eu o adorava. Achei que ele devia ser um Chefe Escoteiro mas nunca tinha tempo. Quando não estava em atividade em um domingo ele me convidava para passear. Não íamos longe. Havia um bosque proximo e ele me levava para me ensinar a crescer, a dar o passo certo e ele colocava as coisas de tal maneira que nunca se tornava enfadonho nossa conversa. – Zito, como vai você nos escoteiros? Antes falava tanto que até aprendi com você a Lei escoteira. Ele ria quando se lembrava dos meus sonhos, das minhas vontades e para ele sempre jurei que nunca deixaria de ser um escoteiro. Um domingo ele tocou com palavras que nunca pensei que ele pudesse falar sobre meu crescimento, sobre a luta pela vida, a respeitar, ser um homem honrado e lutar por tudo que sonhar. – Meu filho, poetas já diziam que bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é “muito” para ser insignificante.

        Paramos na sombra de uma enorme pitangueira e sentamos ali vendo o lago do parque, pessoas nos barquinhos indo e vindo e ele continuou – Você nasceu para vencer, mas para ser um vencedor você precisa planejar para vencer, se preparar para vencer, e esperar vencer. Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Saiba que nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez. E lembre-se que quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente. Naquela noite e naquela semana fiquei pensando se a vida que levava no escotismo era a que queria. Pela primeira vez pensei o porquê os outros ganhavam e nós não. Eu não podia continuar em uma patrulha que nunca venceu, que não tinha sonhos e que a vida para ela era um jogo de cartas marcadas.

       Na semana procurei Jerônimo o nosso Monitor. Abri-me com ele. Disse que precisávamos mudar nosso estilo. Não devíamos continuar sendo uns “Maria vai com as outras”. Tinhamos que aprender a dar os passos certos e também sermos os melhores. Não precisava ser mais que os outros mas tínhamos que igualar. Jerônimo não se interessou muito no que eu disse. A monitoria para ele sempre foi uma maneira de se manifestar com líder e agora eu sabia que ele nunca tinha sido um líder. Mesmo assim ele marcou um Conselho de Patrulha para discutirmos o assunto. Não sei se fui muito loquaz no dia da reunião. Vi os olhos da Paty e Vilminha brilharem. Senti também que Jader e Pompeu se entreolhavam como se a perguntar se eles eram uns derrotados. Até Bill entrando nos seus catorze anos se interessou.

       Foram quatro Conselhos de Patrulha e cinco reuniões de patrulha. Partimos para o acampamento na Mata do Pastor cheios de planos. Podíamos até tirar o segundo ou o terceiro lugar mas o ultimo não. Era questão de honra. Agora cada um sabia o que fazer. O Bombeiro, o Aguadeiro, o Construtor de Pioneirias, o cozinheiro, o Intendente o sub e o Monitor eram como uma máquina afiada. Tudo nos seus conformes. Sempre os primeiros com o grito de campo pronto, de refeições prontas e até o Chefe Jean Pierre se assustou e aceitou o convite para jantar conosco.  Afinal era o primeiro dia e quase todas as patrulhas ainda não tinham dado o grito. Ficou estupefato com o que viu. A mesa com bancos, o fogão de barro na altura certa do cozinheiro. Os toldos bem firmes. O aguadeiro sempre disposto ao lado do cozinheiro. A barraca da intendência perfeita. Nenhuma ferramenta do lado de fora e todas elas bem colocadas na barraca.

        No dia seguinte levantamos cedo. Nem esperamos o toque do Chifre do Kudu que o Chefe fazia para a alvorada. As nove em ponto estávamos formados em frente ao campo. Tudo limpo. Tudo arrumado. Cada um se esforçou ao máximo. O Chefe se aproximou com os monitores. Fizemos o melhor grito de patrulha do mundo. Estava tudo perfeito. Fomos para a bandeira cantando. Perder ou ganhar já não era tão importante. Dizem que o medo de perder tira a vontade de ganhar. Não era o nosso caso. Bandeiras ao vento. O Chefe após a oração se aproximou do meio da ferradura com A bandeirola de Couro da eficiência geral já nossa conhecida só de olhar. – Patrulha Condor, se aproxime. Um frenesi. Meu corpo tremeu. Todos se olharam. Vocês tiraram o primeiro lugar! Falar o que? Jerônimo virou para a tropa e disse: Na vida vocês tem duas opções perder ou ganhar. Se apaixonem por alguém e percam, faça as pessoas se apaixonarem por vocês e ganhem. Obrigado a todos e espero que possamos nestes quatro dias de campo dividir nossa alegria com a alegria que teremos sentido a ver vocês ganharem.

        Nós os Condor daquela época nunca mais nos esquecemos daquele dia. Dia que se multiplicou por toda a vida que fui um honroso patrulheiro da Condor. Meu pai me deu uma lição, meu Chefe me ajudou a completar a tarefa. Meu Monitor mudou sua maneira de pensar. “O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer”.


Neste conto alguns temas foram tirados de frases de: Augusto Branco, Abraham Lincoln, Zig Ziglar, Mahatma Gandhi, Thomas Edison, Giulia Staar.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Marie, a escoteira que sempre aceitou desafio.



Lendas escoteiras.
Marie, a escoteira que sempre aceitou desafio.
(esta é uma história de ficção, nada mais que isto).

          A história de Marie sempre me fez lembrar o ensaio escrito por Elbert Hubbard no seu celebre conto que ficou conhecido no mundo inteiro como a “Mensagem a Garcia”. Muitos explicam a sua maneira o que ele quis dizer, mas eu sempre penso que todos nós Escoteiros deveríamos ter também um pouco do teor desta mensagem. Hubbard disse que ele o homem chave da história deveria ser imortalizado em bronze e a sua estátua erigida em todos os colégios da terra. Uma história para lideres que não perguntam onde é o acampamento, não tem dificuldades para chegar lá seja onde for. Quando você menos assusta ele bate a sua porta. É uma história conhecida, mas faço um pequeno resumo, pois a história toda é bem maior. O ensaio relata a história de "um camarada de nome Rowan" que heroicamente, contra todas as adversidades, entregou uma mensagem do presidente estadunidense McKinley ao general Calixto Garcia Íñiguez, líder das forças rebeldes cubanas durante a Guerra Hispano-Americana. Em síntese a história ficou famosa porque Rowan diferente de todos os outros não perguntou ao Presidente quem era Garcia, onde ele estava e como chegaria lá. Pegou a mensagem, colocou em seu bornal e partiu. Dias depois a mensagem foi entregue apesar de todas as adversidades.

           Marie a escoteira não ficou famosa só por isto. Acho que poucos ficaram sabendo dela. Mas desde que nasceu mostrou uma extraordinária força de vontade. Aos cinco anos lia perfeitamente. Conversava qualquer assunto e seu lugar preferido era a biblioteca da cidade. Aos sete entrou para os lobinhos. Gostou tanto que nunca mais saiu do movimento Escoteiro. Sua fama de líder iniciou quando uma forte Tromba D’água caiu sobre a cidade. Muitos desaparecidos e muitos desabrigados. O prefeito não sabia o que fazer as autoridades só reclamavam da falta de verbas estaduais e federais. Marie com seus onze anos reuniu sua patrulha. As outras a seguiram. Lobo é com vocês conseguirem comida para todos. Morcegos põe a cuca para funcionar. Leve quantos for possível para a Escola Estadual. E assim as patrulhas começaram a trabalhar. Marie não parava. Estava em todo lugar. O prefeito vendo seu trabalho correu a ficar do lado dela. Ela riu e deu uma enxada para o prefeito. Excelência! Ela disse, comece limpando a lama que entrou na casa do senhor Amadeus.

            O prefeito não gostou. Seus auxiliares corriam dela. Ela soube das verbas estaduais e federais. Cobrava de cada um e não aceitava promessa. Nunca faltou a uma reunião escoteira. Quando descobriu que os que perderam suas casas no Bairro Jardim das Flores não tiveram nenhuma colaboração financeira mandou um e-mail para o Ministro das Cidades. Não recebeu resposta. Combinou com todos do grupo e amigos do colégio para enviar e-mails, pelo menos quatro por dia. O ministro respondeu que a verba estava com o prefeito. Ela botou a boca no trombone. O prefeito nada. Fez um cartaz e saiu pela rua gritando onde estava à verba dos sem casa! Em pouco tempo tinha uma multidão com ela. Ela deu queixa na delegacia e o delegado não queria aceitar a ocorrência. Ligou para a Polícia Federal e não foi bem tratada. Marie desistir? Nunca. Escreveu diretamente para a Presidente. Se foi ela ou não a responsável, o certo é que as casas começaram a ser construídas.

            Todos que a conheciam sabiam que quando crescesse ela poderia ser Presidente. Tinha jeito para tudo. Sabia reclamar, mas sabia elogiar e sempre dizia – Vamos fazer juntos. Interessante que Marie nunca aceitou ser prima, monitora nos Escoteiros e nas Guias. Ajudava em tudo. O grupo sabia o que ela fez. No comércio conseguiu todo material de campo para todas as patrulhas. Quando acampavam os mantimentos ela conseguia. Como guia participou de uma Aventura Sênior. As atividades não foram ruins apesar de que as patrulhas nunca foram acionadas. Mais na base do eu sozinho e você meu amigo. Dois fatos ficaram conhecidos. Um Chefe novo deu nela uma cantada. Ela o pegou pela mão e o levou a presença da equipe dirigente – Agora repita o que me disse Chefe! O moço envermelhou, gaguejou e pediu desculpas. Exigiu uma reunião com a equipe dirigente. Falou sobre palavrões, a falta de espírito Escoteiro, namoros escondidos e a indisciplina de alguns (não de todos). Queria uma providencia. O Alto Falante do campo alertou a todos sobre o que ela pediu. Não resolveu, mas diminuiu. Ela dizia sempre que vestir o uniforme é fácil, mas mostrar o espírito Escoteiro aí à “porca torce o rabo”.

           Marie fez dezoito anos e não quis ser pioneira. Preferiu participar da chefia. Inscreveu-se em todos os cursos. Sua fama de líder e direta nas palavras já era do conhecimento dos dirigentes. Isto atrapalhava Marie, ela queria ter uma vida simples, conhecer alguém, namorar e quem sabe casar e ter filhos. Sonhava em ter um casal. Na cidade todos os partidos a procuravam. Ofereciam tudo. Nunca aceitou. Ela gostava do Giovani que nunca olhou para ela. Ele como todos os rapazes da cidade achavam-na metida, dona de todas as ideias e não gostavam de sua liderança. Homens são sempre assim. Nunca querem ser mandados principalmente por mulheres. Acham que são eles os donos das ideias. Marie sabia que nem todos. Marie tinha 23 anos quando vários homens a espancaram. Quase morreu. Perdeu o olho direito. O delegado tinha uma rixa com ela, pois ela interferia em tudo por isto os culpados nunca foram encontrados. Nunca não, Marie fez questão de colocar na rádio e no jornal da cidade o nome de cada um. Muitos filhinhos de papai. Tiveram que abandonar a cidade para sempre.
         O Grupo Escoteiro onde Marie atuava crescia assustadoramente. Ela pediu a direção regional para ajudá-la a organizar outros grupos. Nunca deram bola para ela. Acho que não gostavam dela. Pessoas com liderança se não souberem se conter em alguns casos ficam antipatizadas. O coração de Marie não ligava para os invejosos, egoístas e os falsos que lhe dirigiam palavras só para agradar. Marie estudou. Fez direito, Abriu um pequeno escritório de Advocacia. Tornou-se uma advogada respeitável. Sua fama de honesta e sincera correu mundo. Aos 48 anos ainda participava do escotismo. Foi convidada diversas vezes para diversos Talk show. Marie era diferente de muitos que quando adquirem status profissional esquecem-se do escotismo, dos seus amigos. No seu país Marie fez tudo para que o escotismo fosse reconhecido. Nunca participou de eventos escoteiros nacionais tais como Assembleias, Congressos, Atividades nacionais onde só adultos participavam. Ela conhecia o esquema. Tudo era carta marcada apesar de muitos jurarem que não. Ela não gostava disto.
        Nunca foi agraciada com nenhuma medalha escoteira. Recebeu sim diversas condecorações de outros países. Uma vez a inscreveram para o Premio Nobel. Todas admiravam sua performance de ajuda ao próximo sem nunca desistir do resultado. Sua fama correu mundo. A própria liderança escoteira mundial a convidou diversas vezes para seus congressos. Sempre recusou. Muitas organizações reconheciam nela uma líder que nunca sabia dizer não. Quando ela completou 56 anos seu nome foi cogitado para Ministra do Supremo Tribunal Federal. Morreu dois anos depois vítima de um câncer no seio. Nunca ligou para si. Acredito que pensava que os outros vinham em primeiro lugar. Suas exéquias foram comentadas na imprensa escrita e televisada vinda de todas as partes do mundo. Muitos políticos e empresários famosos lá estavam. Disseram que foram prestar sua última homenagem a uma mulher de fibra. Ao lado do seu esquife estava a Patrulha lobo. Não faltou ninguém. Alguns de sua época fizeram questão de comparecer uniformizados. O mundo girou muitas vezes depois que Marie se foi. Marie nunca mais foi lembrada pela imprensa. Ela tinha o escotismo em seu coração e até o ultimo momento fez dele sua filosofia de vida.

Sempre Alerta Marie, que seu exemplo seja seguido por todos Escoteiros e Escoteiras do mundo!