Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Chefe Pata Tenra, Os escoteiros chorões, o tatú-bola e a cascavel.


Lambanças. Quem não as tem?
O Chefe Pata Tenra, Os escoteiros chorões, o tatú-bola e a cascavel.

                 Nem sei se são lambanças. Quem sabe fatos reais de um tempo que passou. Ninguém passa pela vida sem passar por elas. Acontecem com qualquer um. Tive muitas lambanças na vida. Gosto de lembrar-me delas. São divertidas. Fazem-me bem. Cada passo cada jornada seja escoteiramente ou então na lida diária lá estão elas. Prontas para nos tirar do sério. Já contei aqui várias. Mais duas para ficarem na lembrança como verdade ou mentira. Acreditem se quiserem. Estas são duas simples. Nada espantoso. Risos. Não importa. Vamos lá:

- Primeira - 1979 - Acampamento de três tropas, grupos diferentes. Não era distrital. Chefes amigos acampando. Cinco dias. Local excelente. Seis chefes. Todas as tropas com quatro patrulhas completas, ou melhor, algumas com sete. Chegamos cedo. Dez horas. Combinado lanche para o almoço para dar tempo de montagem do campo. Dizem que é tipo Giwell, não sei. Me parece tipo Net. Não gosto. Acho que a Net debocha das outras. Para não atrapalhar, não fizemos a inspeção da tarde. Cinco e meia já no lusco fusco chamada dos intendentes. Viveres para o jantar. Todos vieram. Simples. Um arroz, linguiça frita, batatas cozidas com chuchu. Seis e meia ouvimos as primeiras patrulhas dando o grito. Jantar pronto. Monitores nos procurando no campo de chefia nos convidando e dizendo que o jantar estava pronto. Claro, agradecemos. Fizemos nosso próprio jantar.

Oito horas da noite. Faltavam ainda quatro patrulhas. Todas de um só grupo. Melhor ir lá ver. Em cada campo só barracas montadas e muito mal armadas. Fogão? Necas! Escoteiros? Todos chorando em um canto de fome e medo e pedindo mamãe. Eureka! Só jovenzinhos de dez/onze anos. – Montei a tropa agora, disse o Chefe deles. Resolvemos nivelar a idade, assim todos teriam as mesmas condições. Não preparou os Monitores? - Eles me garantiram que dariam conta. Humm! Se tivéssemos celular naquela época o acampamento estaria cheio de mamães para buscar os filhos. Eu e outro Chefe de outra tropa chamamos nossos Monitores. Ajudem. Façam o que puderem. Passem o comando para o sub.monitor. Tempo livre. Fazer atividade noturna só com todos. Os pata tenras não iriam aguentar. Em nenhum momento os chefes interferiram.

Dez e meia, os chorões jantando. Vieram todos de todas as patrulhas, abraços, ajuda, ensinando pioneiras e as canções zumbindo nos campos. Montaram com eles os fogões suspenso, mesas, toldos e engenhocas. Eles adorando e sorrindo, trabalhando se sentindo homens. Onze e meia. Todos dormindo. Dia seguinte, um belo de um acampamento. Uma amizade sem fim. Os Pata Tenras sorrindo. Adorando o acampamento. Ultimo dia, abraços, apertos de mão, choro, mas desta vez de saudades. O Chefe aprendeu e não interferiu em nenhum momento e nenhum de nós também. Aprender a fazer fazendo afinal eles não estão ali para isto? Pois é. A vida nos ensina e dá muitas voltas. Quem os viu antes e agora! Coisas da vida.

- Segunda – 1952 – Acampamento em Águas Turvas. Dois dias. Só os Raposas. Chegamos sábado bem cedo. Nada de novo. Sabíamos o que fazer. Sete escoteiros. Três Primeira Classe e três segunda. Só eu de Pata Tenra. Duas horas da tarde. Tãozinho correndo – Vi um Tatu-Bola! - Fumanchú vibrou. Daria um ótimo ensopado com batatas. Fumanchú era o máximo. O melhor cozinheiro que já vi. Lá fui eu o Romildo Monitor, o Israel Sub e o Tãozinho intendente. Não é fácil pegar um tatu. Eles já pegaram antes. Buraco fundo. Enfiar a mão? Nunca como dizem por aí pode ter uma cascavel. Vamos usar o truque da fumaça. Galhos secos na porta, fogo muitas folhas verdes molhadas. Uma fumaceira do inferno. É só fechar a porta do buraco. O tatu sai correndo. Dez minutos nada. Vinte. Chocalho de Cascavel. E agora? O tatu se enroscou. A cascavel não podia morder. Só vi o buraco sendo aberto pela cascavel.

Pernas para quem vos quer. De cascavel os Escoteiros querem distância! Deixe para amanhã disse o monitor. Voltaremos e matamos a cascavel e pegamos o tatu. O danado não vai escapar! Dormimos. Um bom Fogo de Conselho só com uma patrulha. Bom demais. Adoro esta vida de Escoteiro. Dei risadas, mas de vez em quando ouvia chocalho de cascavel. Os patrulheiros também ouviram. Melhor fazer um fogo alto em frente às duas barracas de duas lonas. Dormimos. Dia seguinte espreguiçando, saí da barraca. Putz Grila! Oito Cascavéis em volta. Dormiram ali esperando a gente acordar. Todos levantaram assustados. Romildo gritou! Por aqui. Corram o que puderem. Fomos para o lago entramos na água e ficamos lá até duas da tarde. Voltamos. Campo vazio. Desmontar acampamento. Vamos para a fazenda do Linhares.  Em fila partimos chocalhos na mata atrás de nós. Saímos na Rio Bahia. Avistamos quatro delas na beira da estrada a nos espiar. Uma carona em um caminhão caçamba até nossa cidade.


Nunca mais voltamos em Aguas Turvas. Não gosto de cascavéis até hoje. Sempre que vejo uma me dá arrepio. Uma mordida, quatro horas para morrer. Dependendo dela nem soro resolve. E naquela época soro? Melhor uma Surucucu. Não corre. Para e enfrenta. Se você corre ela fica. Cascavel não. Corre atrás da gente. Enfim, quem já acampou já viu cobras sabe como é. Sempre correndo da gente. Quase todas fogem quando fazemos barulho no mato, mas quer saber? Nunca confiem em cascavéis! 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Uniformes. Vale a pena usá-los?


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Uniformes. Vale a pena usá-los?

         Uma vez li que o uniforme é um item prático para uma organização. Considerando que as roupas são caras e desgastam, e claro pensando que nossa organização não é um desfile de modas, usar o uniforme evita situações constrangedoras com roupas sujas e rasgadas. Será que é só isto mesmo? Dizem que o uniforme identifica a pessoa que o está usando e sua organização. Dizem ainda que mostra se somos organizados, se somos disciplinados e que “vestimos a camisa” da nossa organização. Envergonhar do uniforme é não ser merecer em participar do que escolhemos como meta de vida. Ou nos identificamos como membro da equipe mostrando que fazemos parte ou então o melhor é desistirmos. Pensando que somos Escoteiros e somos conhecidos por um uniforme mesmo que ele tenha sido desmembrado em dois ou mais ainda é este que nos identifica.

         No entanto noto que muitos não levam a sério a uniformização. De uns tempos pra cá, a liberdade tomou conta de nossa associação. Cada grupo (sem generalizar) usava ou ainda usa o que o Chefe se mostrou exemplo. Ele mesmo costuma dizer que todos devem portar uma camiseta, do grupo é claro, com cores diferentes entre os demais e muitas vezes esta camiseta representa o Grupo Escoteiro o que não é verdade. Assim o costume se tornou inglório para nossa apresentação a sociedade. Algumas vezes inquiri educadamente um ou outro perguntando por que não estão de uniforme naquela atividade aventureira. – Resposta: - Chefe é para não sujar ou gastar! Bom isto. Uma resposta à altura. Mas será mesmo verdade? Gastamos muitas vezes uma quantia que não é pequena para fazermos um uniforme. Se notarmos bem usamos uma vez por semana, por menos de quatro horas. Nos acampamentos a maioria das sessões quase não o usa. Se uma patrulha está a pé ou fazendo uma jornada aventureira, seria deste que disciplinados, um dos mais perfeitos marketing do escotismo. (Um chamariz enorme para os jovens que veem e não participam isto se estivessem bem uniformizados).

           Houve uma época que fazíamos questão de estarmos bem uniformizados. Fazíamos questão de nos mostrar em público não como hoje que tem chefes, pioneiros e seniores dando exemplo de levar em uma sacola ou guardar na sede e vesti-lo lá. Vergonha? Se é isto ele não é merecedor de participar do nosso movimento. Lembro que já lobinho passando para Escoteiro não tive a sorte de fazer a promessa no mesmo dia da passagem (hoje é comum isto). Meu uniforme de Escoteiro só seria usado quando da promessa. Era ponto de honra na tropa. Ninguém vestia peças sem estar devidamente promessado e preparado para vesti-lo. A liberdade tomou conta e hoje é comum um de calça curta, ou a camisa fora da calça, sem o lenço ou até com o lenço, mas sem a promessa. Quem vê aquele jovem na comunidade não entende bem a disciplina e o orgulho de participar de um movimento maravilhoso como o nosso.

              Quando existem normas severas para isto então nossa apresentação em publico se torna respeitosa e somos reconhecidos como um movimento sério e educativo. Se o Grupo conseguiu com que todos os participantes se uniformizassem não existe desculpa para que eles não se apresentem assim. O jovem ou a jovem que teve um inicio dentro de padrões de apresentação, de aceitação das normas e só quando fizerem suas promessas irão vestir o uniforme então ele será motivo de orgulho por toda vida escoteira. Quando o adulto se mostra desleixado, quando ele dá exemplo de “invencionices” de peças ou distintivos e cobertura ele nunca poderá cobrar dos jovens a postura que se espera de um membro Escoteiro.

             Muitas vezes noto que o próprio adulto desconhece as normas ou se faz por desconhecer. Ele é o exemplo e sabe que o que fizer será motivo de copia por todos que estão a sua volta. Lembro com saudades que levávamos a sério a uniformização. A inspeção inicial e final era severa. Nos acampamentos não se aceitava desculpa. Tinhamos que aprender a lavar e passar “a escoteira”. (Dois ou três galhos esticados com as peças durante a secagem).  Lá também nas atividades ao ar livre nunca saímos do campo sem o uniforme. Permitia-se que ficássemos de camiseta nas horas de tempo livre. Eu mesmo mandei de volta para casa jovens que chegavam à sede com o uniforme mal apresentado ou que não fizeram suas promessas. Errado? Não senhor! Ele quando entrou sabia como se portar. A disciplina começa na sede e se ela não existe o jovem não terá nunca o que pretendemos para sua formação.

         Um chapéu de abas largas e retas (aprendíamos com o Monitor como fazer), meias bem postas com listas retas, sapatos engraxados ou tênis preto limpos e nunca sem cor. A camisa e a calça fazíamos questão de nós mesmo passar. A mamãe do lado ensinando. Assim íamos aprendendo a fazer fazendo. Podem dizer que os tempos são outros. Se são estão errados. Estes tempos não estão trazendo então o que sempre sonhamos. Um escotismo respeitado, com uma comunidade participante e acreditando que ali seus filhos iriam aprender a ter civilidade, obediência, disciplina e agindo por sí próprio sem depender sempre dos outros. Tudo é questão de ver em que lado estamos lutando. Do lado do que pretendia Baden-Powell ou do lado do bem querer e fazer o que bem entender em nome dos modernos tempos. Se isto trás resultados eu desconheço.

       Não importa o uniforme que vestimos. Temos que ter orgulho dele em qualquer hora. Ele foi feito para nos representar e isto só nos deve trazer alegria em dizer: - Sou Escoteiro e me orgulho. Quando me disseram que muitos jovens não entravam no escotismo porque achava o caqui ridículo eu fechado em mim mesmo dizia: - Graças a Deus que eles não entraram. Não nos seriam úteis e iriam um dia ou outro mostrar que os Escoteiros não se orgulham da sua organização. Dizem que com a nova vestimenta, mais moderna eles agora iram participar. Que Deus nos ajude para que eles não nos tragam a má impressão que já estamos vendo – Calça curta, comprida, camisa dentro da calça e fora da calça, calçado a escolher, meia branca preta ou qualquer cor. Lenço amarrado na ponta, cobertura a escolher. Espero mesmo que os que forem vestir a vestimenta que se orgulhem do seu uniforme. Só assim um dia poderemos dizer que nossa organização tem tudo para modificar o Brasil!

           Lembremos que levamos dezenas de anos para que a sociedade nos reconhecesse com o uniforme caqui. Agora vamos começar tudo de novo com a vestimenta. Se ela não for bem apresentada ao publico o escotismo vai perder e muito com o que esperamos das autoridades, ou seja, o reconhecimento que somos um movimento sério e disciplinado, de formação e educação de jovens e que a sociedade pode confiar que somos sérios e que investir nos seus filhos no escotismo é um passo enorme para um Brasil grande!