Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 4 de outubro de 2014

Eleições. Que vença o melhor.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Eleições. Que vença o melhor.

                     Domingo teremos eleições em nosso país. Iremos escolher homens ou mulheres que acreditamos possam trazer o que nós sonhamos. Cada um tem seu sonho e mesmo não acreditando que ele não vai se realizar totalmente sempre tem a esperança de que tudo possa melhorar pelo menos um pouco. Muitos expressam sua indignação por tal ou tal candidato(a) e comentam sua escolha pessoal acreditando que ele sim irá dar esperança a todos que votaram nele. São muitos. Cinco escolhas de deputado estadual a Presidente. Dizem ser mais de 20.000 os que pretendem ser eleitos nos diversos cargos. Um pouco de muito. Haja salário para pagar os sonhos, os gastos feitos e as cobranças dos eleitores.  É bom ter esperanças, pois sem elas não haveria vida e nem sonhos.

                     Fico pensando nos milhares de candidatos que nestes dias irão dormir pensando no futuro. Futuro próximo. Dois dias os separam da derrota ou da vitória de serem eleitos. Serão quatro anos para uns e cinco anos para o senador da República. Já existem aqueles que fizeram da politica sua escolha de vida. Sei que tem alguns com motivação Escoteira. Pelo menos dizem. Se forem ser “Escoteiros” como esperamos vamos aguardar sua atuação isto se forem eleitos. Espero que sim. Até hoje não vi no Congresso Nacional nenhum que foi a tribuna dizer que um dia foi Escoteiro, e que tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida.

                     A UEB diferenciando suas normas faz campanha para um só candidato. Esqueceu-se dos outros que também são Escoteiros. Alega ter reconhecimento pelo seu trabalho, mas não procurou saber do trabalho dos outros. Isto não é ético. Sempre achei que devíamos ter homens ou mulheres Escoteiros no Congresso Nacional. Nunca vamos crescer sem ajuda ou colaboração dos políticos. Se ele foi Escoteiro tem a obrigação de nos ajudar. Muitas vezes a colaboração não precisa ser financeira. Basta se orgulhar do que foi e do que o escotismo pode ser para a juventude brasileira. Dizer que devemos ser apartidário merece uma discussão a validade ou não desta norma. Não adianta dizer que devemos ficar a parte enquanto muitas outras associações estão crescendo com a ajuda deles e nós diminuindo. Inventaram o Pacto Escoteiro. Nome bonito, singelo, mas sem ação.  

    Pauto em minha vida não ter compromisso com ninguém e não dizer nomes e nem sugerir candidatos a todos que me cercam. Sempre acreditei que a escolha faz parte de cada um e acredito no que BP disse, a arte de fazer bem é errando sempre até fazer o certo. Minha escolha nem sempre será a escolha de outro. Em minha família se me pedem opiniões não deixo de dizer quem vou votar, mas acrescento: - A escolha é livre. Você deve saber ou pelo menos estudou bem sua escolha. Assim como na religião ou no esporte eu tenho minhas escolhas, mas todas elas baseiam-se no livro arbítrio. Religião não se discute. Esporte é para torcer e sorrir vencendo ou não. Eu ainda acredito na democracia. Pode ser que no futuro apareça um sistema melhor, mas tenho em meu íntimo que se podemos escolher é melhor que aceitar o que poderia me ser imposto.

                     Eu luto que no escotismo possamos ter um dia uma democracia transparente, onde se possa votar e ser votado sem uma trilha imposta para ter o direito de votar. Somos um movimento apartidário nas mãos de uns poucos que querem decidir entre si nosso destino. Impossível concordar. Domingo poderia ficar em casa, pois minha idade não me obriga mais a votar em A ou B. Faço questão de ir. Sem democracia nosso país perde e os que hoje não tem esta facilidade tem um povo subjugado e tendo de aceitar a imposição de idéias que nem sempre concordamos. Quem dera um dia nossos dirigentes fizessem do nosso movimento uma democracia onde do mais longínquo rincão poder-se-ia ouvir a voz e a exclamação de um membro do escotismo:  - Votei, e se escolhi bem não sei. Que nossa associação tenha rumos definidos, pois acreditei no meu candidato.

           Ainda sonho o dia que irei me dirigir em um local determinado, ou mesmo pelos meios eletrônicos votar no meu candidato Escoteiro em minha cidade desta vez para ser um dos nossos presidentes na União dos Escoteiros do Brasil. Que bom seria saber que podemos votar e ser votado sem me impuserem a obrigação de passar por diversas etapas para então após ser eleito (se for eleito) votar em meia dúzia que decidirão o destino de milhares de associados Escoteiros que não tiveram este direito. Seria maravilhoso praticar minha livre escolha, meu livre arbítrio de escolher entre muitos candidatos que elegantemente e eticamente se expuseram em uma campanha limpa digna de um homem responsável que acredita no escotismo como força na formação da juventude.


                     Desejo a todos vocês muitas alegrias e felicidades com seus candidatos. Espero mesmo que ele ou ela venha a dar resposta aos seus sonhos de um país cujos problemas não são tão difíceis de resolver. Como diz um amigo meu: - Bons ventos e bons caminhos!

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Tô Velho, que coisa boa!


No dia dos idosos, uma dedicação para os que são como eu.

Tô Velho, que coisa boa!

“Deus entregou aos velhos um grande benefício em lugar da memória - a prudência obtida pelo uso das coisas e um juízo mais agudo e eficaz”.

Ei Velho, você gosta de ser Velho? 
                 Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo. Eu não me censuro por comer biscoito extra um doce ou um chocolate, ou por não fazer a minha cama, ou pela compra de algo bobo que eu não precisava, para ser sincero hoje não compro mais nada. Claro compro pão na padaria, laranja na feira e no calor adoro um sorvete. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.

                Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo escrevendo e postar no computador até às quatro horas da madrugada e dormir até meio-dia? Eu Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 50, 60 e 70, e se eu, ao mesmo tempo, sentir desejo de chorar por um amor perdido... Eu vou. Claro que não preciso, pois ao meu lado está o grande amor da minha vida. Se der vontade vou andar na praia em um short excessivamente esticado sobre um corpo decadente e barrigudo, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros. Eles, também, vão envelhecer.

Eu sei que eu sou às vezes esquecido e costumo não lembrar-me de fatos da semana ou do mês. Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes. Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.

            Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Eu ganhei o direito de estar errado. Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser velho. Ele me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).
Portanto eu só tenho de agradecer a Deus por ser Velho. E quer coisa melhor que ser Velho, Escoteiro e metido a escritor?


Boa noite meus amigos e amigas. Um sono tranquilo e reparador para todos. Até amanhã! 

domingo, 28 de setembro de 2014

Meu nome é Guaraciaba e sou um índio Brasileiro.


Lendas escoteiras.
Meu nome é Guaraciaba e sou um índio Brasileiro.

                    Ele sabia que não era de uma extirpe de índios famosos, seus antepassados se foram e agora eram uma tribo de gente triste e sem futuro. Seu nome era José Raposo. Seus pais disseram que o primeiro nome dele era Guaraciaba, aquele que tem cabelos de sol. Loiro? Diziam que sim. Zé com seus dezoito anos era um índio simples, curtido de sol, usava um calção verde e com ele ficava por uma semana ou mais. Tinha um corpo jovem, mas um medo atroz de uma doença maldita que quase acabou com sua tribo. Kerexu ainda contava belas histórias dos índios Botocudos, quando eram fortes e famosos e habitavam a Serra do Onça no Alto Rio Doce. Kerexu dizia ter duzentos anos, mas não era verdade. Devia chegar nos 105 anos não mais. Ninguém entendia porque ele não morria. Era tudo na tribo, o Pajé, o doutor, o psicanalista e o religioso. À noitinha a meninada corria para a porta de sua Oca, e ali ficavam esperando a hora que ele com seu cachimbo enorme, com folhas de tabaco ressequidas soltava gostosos rolos de fumaça que fazia os olhinhos da turma seguirem o O ou o U que ele fazia com a fumaça que expelia do cachimbo. Kerexu era uma alma boa. Jose Raposo o considerava como um pai.

                Zé não tinha o que fazer. Zanzava para um lado e outro da aldeia e seus arredores. Sempre de olho nas águas modorrentas do Rio Doce. Ele sabia que terminando a estação das chuvas Anajé o Branco poderia aparecer. Eles se conheceram quando Zé viu-os acampados próximo à cachoeira do Limão, logo abaixo da curva da serpente. Ficou a olhar de longe os meninos brancos de chapéu longo, de lenços no pescoço e tentava em sua pequena compreensão ver o que iriam fazer. Alguém o cutucou por trás e Zé deu um salto se preparando para a luta. Anajé riu quando viu que ele se encrespava todo. – Paz amigo, muita paz! E sem ele esperar o Branco lhe deu um abraço. – Como se chama? Zé pensou que devia dizer seu nome indígena, quase disse – Apenas Zé... Mas orgulhoso falou alto: - Guaraciaba, o indio dos cabelos do sol! - Muito prazer Guaraciaba, meu nome é Josiel, mas me chame por Anajé, o gavião das montanhas! Recebi este nome há dois anos quando saltei o Fogo do Conselho no Vale das Corujas.

                Ficaram amigos e a noite, quando eles fizeram um fogo, Anajé cortou acima de seu pulso com a faca, repetiu o mesmo com o seu e dos demais brancos da patrulha. Juntou as junções que sangravam e disse – Guaraciaba, você e eu Anajé e os Patrulheiros da Raposa agora somos irmãos de sangue para sempre. Guaraciaba sorriu. Nunca teve amigos brancos e viu que os jovens de caqui lenço e chapelão bateram palmas. Guaraciaba os convidou para visitar a aldeia.  Meu amigo Anajé, não espere ver tendas de lona redondas feitas de pele de búfalo ou cavalos malhados a saciarem a sede na beira do nosso rio. Não espere roupas coloridas, colares feito de pedras preciosas, penachos de penas de pássaros que só nas mais altas montanhas se encontram. Nada disto, nossas tradições se perderam no tempo, hoje somos à sombra de uma famosa tribo dos Botocudos que um dia se orgulharam de suas histórias e lendas que desapareceram com o vento. Anajé riu. – Amigo e irmão Guaraciaba, não quero ver grandiosidades, basta o amor que vocês têm no coração. Anajé voltou lá por muitas luas. Fez muitos amigos na tribo e conversa constantemente com Kerexu.

            Guando Guaraciaba e Anajé estavam juntos, eles corriam pelas campinas, pisando em flores macias, saltando riachos de águas cristalinas, escalando montanhas e picos próximos a Nanuque, Crenaque ou na Mata do Condor. Nunca Guaraciaba foi tão feliz. Kerexu fez boas previsões para a amizade dos dois, mas preveniu Guaraciaba que um dia Anajé iria desaparecer como o vento na chuva para sempre. Anajé o levou a visitar sua cidade, o alojou em sua própria casa, ele sentou em uma mesa com a mãe de Anajé e seu pai, se sentiu importante por fazer as refeições junto aos brancos. No passado ele não gostava de brancos. Zumbiara o Chefe da FUNAI era traiçoeiro. Nunca atravessou o rio. Sempre mandava chamar o seu pai o Cacique Aritana para dar ordens, remédios e mantimentos. O fazia com desprezo, como se estivesse dando do próprio bolso. Mas ali, junto à família de Anajé Guaraciaba se sentiu outro. Tinha orgulho agora de ser um índio. Ele sabia que seu coração era feito de sangue vermelho, sangue dos antepassados.

              Naquele sábado que ele foi apresentado a Tropa, a Alcateia, ao Grupo Guaraciaba chorou. Não queria demonstrar fraqueza, pois diziam que índios são valentes e não choram. Sentiu a força dos meninos de amarelos e azuis, de lenço e chapéu grande. Sentiu uma amizade entre eles incrível. Quem sabe ele poderia fazer isto na sua tribo? Retornou pensando em mudar. Em voltar no tempo dos guerreiros fortes, sorridentes e que se orgulhassem dos seus antepassados. Guaraciaba casou com Avati e com ela teve dois filhos homens. Mandou vinte guerreiros estudar na capital. Dois voltaram doutores. A tribo mudou da água para o vinho. Agora a Aldeia tinha uma escola e um posto de saúde e Guaraciaba corria pelos campos, pelos rios e riachos a procura dos gazeteiros. Dava um sermão e eles de cabeça baixa voltavam para a escola. Anajé um dia disse a ele: - Guaraciaba um dia não vou voltar. Tenho que partir para longe em busca do meu destino. Mas quero que lembre que meu sangue está junto com o seu. Em espirito aqui irei morar para sempre.

              Anajé partiu. Muitas luas se passaram e Guaraciaba ficou doente. Seus doutores e Kerexu fizeram tudo para salvá-lo, mas não conseguiram. Os filhos de Guaraciaba agora adultos juraram ao seu pai que os antepassados dos Botocudos iriam se orgulhar na nova tribo. Uma semana depois Guaraciaba estava nas últimas. Seus olhos quase não abriam. A taba cheia de índios rezando. Alguém pediu passagem e ninguém mais ninguém menos que Anajé apareceu. Deu um abraço apertado em Guaraciaba. – Meu amigo, eu estava longe e uma noite Caapora e Catu me apareceram em sonhos. Disseram que você precisava de mim e logo sumiram em uma nuvem branca no céu. Aqui estou e vim trazer para você o meu amor Escoteiro onde um dia nossos sangues se cruzaram para que pudéssemos ser amigos e irmãos até no firmamento na terra dos seus antepassados. Quando você partir o sol vai sorrir, quando você chegar ao meio do céu Tupanã o Deus do Universo vai abraçar você. Então Tupanã vai soprar o vento da vida sobre você e vai dizer – Aqui Guaraciaba você vai esfriar sua sede, aqui o fogo do céu vai aquecer seu corpo quando sentir frio, aqui você vai correr pela terra junto aos seus antepassados. 


                 Guaraciaba morreu sorrindo. A tribo começou a cantar aos sons de tambores, chocalhos, guizos e cabaças. No céu de brigadeiro um trovão anunciou a chegada de Guaraciaba junto a Tupanã.  Anajé o Escoteiro partiu três dias depois. Abraçou Piatã e Apuã os filhos de Guaraciaba – Estarei com vocês em todas as horas e em todos os momentos. Pensem em mim quando precisarem de ajuda. Anajé colocou seu chapéu de abas largas, firmou seu lenço verde e amarelo no pescoço, amarrou sua bota negra e alçou sua mochila verde nas costas. Em uma simples jangada atravessou as águas tranquilas do Rio Doce levando consigo as saudades de um índio que sempre amou!