Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 8 de novembro de 2014

O adeus sem volta do Escoteiro.


Crônicas escoteiras.
O adeus sem volta do Escoteiro.

                           Pingo D’água e Varetinha estavam desanimados. Já estavam cansados de dizer a mesma coisa e sabiam que não estavam sozinhos. Tudo mudou da água para o vinho. O escotismo agora era outro e eles não sabiam o que fazer. Pedir conselhos? Comentar com alguém? Eles acreditavam que nenhum adulto iria dar razão a eles. Claro fizeram tentativas no Conselho de Patrulha, mas o próprio Monitor não via nada de errado, portanto suas opiniões nunca foram levadas em consideração na Corte de Honra. Pensaram em comentar com o Diretor Técnico, mas ele e o Chefe Tavinho eram unha e carne. Eles não queriam sair do Grupo Escoteiro, mas tudo estava sendo levado para isto e o pior ninguém via nada. Ninguém enxergava que a tropa encolhia a cada mês e poucos procuravam agora se inscrever. Não dizem que o pior cego é o que não quer ver? Não iam a tanto, mas pensavam que tem gente que é cego e não por cegueira. Deve ser por falta de inteligência.

                             Pingo D’água e Varetinha eram amigos desde que se conheceram na tropa. Ambos eram de patrulhas diferentes. Ele da Patrulha Lobo e Varetinha da Patrulha Texugo, no entanto eram unidos como se fossem da mesma patrulha. Foram mais de dois anos de felicidade, fazendo acampamentos, excursões, grandes jogos, aventuras mil que agora escassearam e praticamente não existem mais. Lembravam-se do antigo Chefe Tornado com saudades. Ele sim era um Chefe que nunca deveria ter saído da tropa. Quando entrou a Lobo tinha seis patrulheiros. Ele foi o sétimo. Chefe Tornado era daqueles que dizia – Aprender é fazer. Quer aprender? Faça o nó na árvore ou no galho mais alto com uma só mão. Fazer no braço ou bastão na vai ajudar na hora do vamos ver! Ele lembrava que em vários acampamentos as patrulhas estavam completas e as atividades foram lindas. Eles não paravam. Era Morse à noite ou semáforas ou fumaça no dia, sinais de pista, seguir pista a moda índia, grandes pioneiras, dezenas de nós e amarras, barracas suspensas, artimanhas e engenhocas, nossa! Que saudades!

                     Tudo mudou com a mudança do Chefe Tornado para a Capital. Ele nunca teve um assistente uma pena, pois poderia ter dado continuidade à tropa. Chefe Lobão convidou o Chefe Tavinho para assumir a tropa. Chegou com ares de chefão. Sempre gritando falando com todo mundo e as patrulhas começaram a desanimar com as atividades. Jogos? Nem consultava ninguém. Muitas vezes dava uma bola e dizia - Se virem! Jogar futebol não era meu forte. Bastavam minhas atividades de educação física no colégio. Eu queria escotismo de campo, de luta, de aventuras e de desafios. Ele era cego mesmo, pois não percebia que as faltas aumentaram. Alguns desistiam e nem iam mais ao grupo para dizer que saíram e não iam mais voltar. De 32 escoteiros a tropa agora tinha 18 e muitas reuniões não passavam de 12.

                         Perna Fina o Monitor nem se incomodava. Ele sempre foi um bom gritador. Por ser maior e mais forte levava a patrulha no muque. Em tempo algum aprendeu que o bom líder e aquele que sabe liderar e ser liderado. Não ensinaram isto para ele. Esqueceu completamente que precisávamos ser consultados e ouvidos. Mesmo falando para ele entrava em um ouvido e saia por outro. E olhe que foi num tal Ponta de Flecha e voltou todo posudo se achando o tal. Mostrou o certificado como se fosse o melhor Monitor do mundo, e só faltou dizer que agora o respeito a ele tinha de ser maior. Eu e Varetinha conversávamos muito sobre isto. A maioria dos patrulheiros que ainda frequentavam nada dizia. Eu conversei com meu pai. Ele nunca foi Escoteiro e seu conselho foi – Faça o que achar melhor e completou – Aprenda a tomar decisões. Achar melhor? Tomar decisões? Chamei Varetinha e disse a ele que ia sair. Amava o escotismo. Sempre pensei que seria Escoteiro para sempre. A minha maneira aguentei por quase um ano as mudanças na tropa. Não dava mais. Nossa patrulha não tinha mais que três ou quatro frequentando. Ouve dias que éramos três.

                       No último acampamento, um dos poucos que fizemos não tivemos liberdade. Ele levou pais para cozinhar para nós. Disse que assim teríamos mais tempo para outras atividades. Deus do céu! Pensei que isto só com lobinhos. No nosso canto de patrulha ele não saia de lá. Sempre fazendo o que deveríamos fazer. O fogo do conselho foi o pior que participei. Só ele determinava só ele falava só ele dizia o que fazer. Esperei a reunião seguinte e procurei o Chefe Tavinho. Queria ser sincero e dizer por que estava saindo. Nunca devia ter feito isto. Ele me olhou e disse que ser Escoteiro não era para qualquer um. Para ficar e participar tinha de ser forte, aceitar sem reclamar. No escotismo não tem lugar para perdedores. Meu Deus! Nunca esperei isto dele. Eu era para ele um perdedor? Será isto mesmo? Será que ele estava certo e eu errado? Varetinha me disse que não ia falar com ele e lá não pisava mais. No sábado seguinte não fui. Por dois meses não apareci no Grupo Escoteiro. Ninguém nunca me procurou para saber o que houve. Nem o Monitor.  Diversos outros meninos que saíram me procuraram para reclamar. Outros que nunca foram riam e diziam que lá nunca iriam aparecer. Ser Escoteiro? Nunca meu amigo. Nunca!

                      De vez em quando encontro com um e outro que ainda estão lá. Dizem que quase todos saíram e entraram outros. Nada tinha mudado. A tropa tinha 15 agora, mas com as meninas. Elas foram incorporadas por falta de chefia. O Chefe Tavinho continua. Não mudou nada. Labareda um Monitor da Tigre me contou em segredo – Olhe Pingo D’água, eu estive para sair. Fiquei por causa da patrulha, ou melhor, para dois deles, pois os demais saíram e entraram novos. Tudo continua como antes. É só apito, jogos repetidos, ele gritando para todos e sorrindo para as meninas. Elas agora são o xodó dele. Só tira foto com elas. Acampamentos? Poucos. Muito poucos. Dizem que ele vai substituir o Chefe Lobão que anda muito doente. Rezo que sim, pois quem sabe aparece um Chefe de verdade?


                      - Uma história fictícia. Dizem que não existe que é irreal. Nenhum Chefe vai se reconhecer nesta história. A tropa dele é diferente. Dizem que todos nós inclusive os jovens temos direitos e deveres, mas os jovens tem o que? Direitos? Você acredita mesmo que os jovens irão procurar o Chefe para explicar porque estão saindo? E onde eles podem reclamar? Afinal de quem é a culpa? Da patrulha, do Chefe ou do programa que foi oferecido a ele? Acho que você se for o Chefe deles é quem decide!

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Os pais e o Grupo Escoteiro


Conversa ao pé do fogo.
Os pais e o Grupo Escoteiro

                Muitos escotistas comentam comigo sobre as dificuldades encontradas quando procuram os pais para colaborarem em diversas situações no Grupo Escoteiro. Claro, sabemos que vários grupos não têm este problema, portanto nos dirigimos àqueles que nos lêem e gostariam de algumas sugestões a respeito. Alguns dos comentários recebidos:

               Alguns jovens participam com idealismo, mas nunca vi seus pais e quando peço uma reunião com eles, poucos aparecem. - Em época de eleição da diretoria é uma luta para que alguém se ofereça para ajudar, e isto nos poucos que comparecem. - Para qualquer atividade que for necessário uma taxa, isto sem falar na mensalidade, a maioria (os pais) não colaboram e não ajudam em nada. - Quando algum escotista pretende participar de alguma atividade ou cursos para aprimorarem seus conhecimentos, sempre arcam com todas as despesas de transporte e taxas, com isto muitos desistem de prosseguirem na trilha escoteira. - Enfim, sem eles ficamos sem condições de manter o Grupo Escoteiro, e até o registro anual é prejudicado. Ou fica sem fazer ou se registra poucos membros do Grupo.

              É, é uma situação constrangedora. Claro tudo isto não existiria se na entrada do jovem, algumas providencias fossem tomadas. Se o Grupo já está com vários destes problemas, (sugiro que leiam outros artigos tais como “onde está o erro” aqui neste blog) só existe uma solução e esta infelizmente tem de ser tomada para que possamos ter os pais de volta. Vou dar um exemplo de vários grupos escoteiros que são exigentes na admissão do jovem. Vejam como tratam o assunto:

               - Os pais devem vir acompanhados dos filhos interessados; (se não vierem não tem admissão) - Não aceitar pais de jovens inscritos no grupo trazendo filhos de vizinhos ou parentes.  - É feito uma ficha de inscrição, onde consta que os pais também vão pertencer ao Grupo e é explicado a eles o que se espera após a aceitação do filho e o que o movimento escoteiro tem a oferecer a ele. - Eles ficam automaticamente inscritos no primeiro Curso Informativo (pode ser feito pela própria chefia no grupo ou então ver no Distrito ou Região se existe algum a respeito) este curso não deve ser maior que 4 horas e menor que 2 horas. - Enquanto estas formalidades não forem cumpridas, o jovem não participa diretamente. Ele pode ficar por um tempo observando a movimento das tropas sem interferir. - Depois de feito os quesitos acima, quando da Cerimônia de Bandeira, o jovem e os pais são apresentados à tropa/alcatéia, aí sim o jovem começa na sua patrulha ou matilha que vai recebê-lo do chefe da seção correspondente, onde então se fará alem do grito da patrulha ou similar na alcatéia, saudando o novo membro.

               - Os pais são convidados à sede para que o chefe do grupo (diretor técnico, acho eu) mostre a eles o calendário anual das atividades e as reuniões dos pais alem do Conselho anual (congresso). Também deverão preencher uma pequena ficha, com nome, telefone e endereço e dizendo como podem colaborar no grupo, semanal ou mensal. Uma lista de funções deve ser apresentada pelo chefe. Do Grupo (diretor técnico acho eu), e a partir deste momento, o Chefe não deve deixar de fazer contato telefônico, pessoal ou mesmo lembrar a eles que precisam de sua presença conforme foi acertado anteriormente.

                 O mais importante é que a falta de duas ou três atividades marcadas nenhum deles comparecerem, e após contato telefônico e pessoal sem resultado, o jovem leva um aviso aos pais que ele só continua se eles vierem ao grupo para conversarem novamente. Claro, vocês podem dizer que isto é muito radical, mas é bom lembrar que somos um movimento voluntário, sem fins lucrativos e nosso intuito é colaborar com os pais, a escola e a igreja. Sem a presença destes nada podemos fazer em benefício do jovem. Muitos escotistas ainda não chegaram à conclusão que é os pais é que precisam de nós e não o contrário. 

                   É importante que o Grupo Escoteiro mantenha algumas atividades para os pais em seu programa, a fim de motivá-los e sempre acontece que muitos deles passam a se interessar mais pelo movimento, oferecendo seu tempo para colaborar como escotistas. Existem exemplos que em pouco tempo, surge um grande número de chefes resolvendo de vez a falta de adultos tão reclamados por muitos.

Algumas atividades sugeridas:

                 Uma vez por ano, com ajuda de alguns pais, escolher um local onde todos possam passar um dia inteiro, em confraternização (se possível um sítio fora da cidade, que tenha instalações necessárias para os participantes). Nesta confraternização executar um programa nos moldes escoteiros, formando patrulhas junto com os filhos, competições entre elas, com grito próprio, cerimonial de bandeira e encerramento com a Cadeia da Fraternidade.

                Nas atividades de Alcatéia, sempre ver com a chefia quantos pais serão necessários e convidar aqueles que se propuseram a isto. Comissões internas para em conjunto com a Comissão Executiva (diretoria) desenvolver tarefas tais como: Arrecadação financeira compras para acampamentos – transporte para atividades de seções – instrutores de especialidades e outras de comum acordo com o Conselho de Chefes e Diretores do Grupo Escoteiro.

                 Finalmente, agindo conforme aqui sugerido, os resultados serão sempre alcançados, e os chefes poderem ter mais tempo com suas famílias, pois agora o trabalho é dividido por todos aqueles que são responsáveis também pelo Grupo Escoteiro. Conheci diversos grupos, que a participação de pais é tão grande (seus efetivos superam 200 membros participantes), que quando realizam as atividades extra- sede com os pais, superam em mais de 400 participantes (vão avós, tios, tias, primos e amigos que eles também convidam).


                  É necessário que o Conselho de Chefes seja regularmente informado de tudo, para evitar atritos e sentirem responsáveis também pelos pais presentes. Espero ter colaborado, mas se quiserem mesmo ter os resultados esperados, mãos a obra. Um poeta já dizia: Quem quer anda, quem não quer manda! E não deixe para amanhã o que pode fazer hoje!

domingo, 2 de novembro de 2014

O escoteirinho sabido


Conversa a pé do fogo.
 O escoteirinho sabido.

                   Os pais me pareceram snobes quando vieram fazer sua inscrição. Quando disse que eles teriam que fazer um pequeno curso de quatro horas para o filho ser aceito foi um Deus nos acuda. A mãe levantou e pegou o filho pela mão dizendo que não ia se submeter aquilo tudo. Ela tinha mais o que fazer. Ele gritou com a mãe e o pai. – Não sou idiota disse. Não queria vir aqui foi vocês que insistiram. - Agora aguentem e aceitem as normas! Nossa! Eu pensei. Ele teria quanto anos? Oito? Nove? O pai ficou parado. Vamos reunir em família. Foram lá fora e voltaram. – Tudo bem Chefe, que assim seja. No dia marcado eles apareceram. Fizeram o curso e foram apresentados ao grupo escoteiro no cerimonial. O filho recebido pela Aquelá. Todos os lobos apertaram sua mão. Ele parecia alegre. Ou pelo menos parecia.

                  Três reuniões depois Martinha a Chefe veio reclamar comigo. – Olhe Chefe, o sabe tudo está acabando com a Alcateia. Quer dirigir mandar decidir. Já reuniu duas vezes os lobos e disse que eles têm direitos. Não são obrigados a obedecerem tudo do Chefe. Que eles devem ler os Estatutos do menor e do adolescente. É difícil dialogar com um jovem como ele. Pela arrogância dos pais sabia que teria dificuldade. Soube que ele era superdotado. Estava liderando a Alcateia com nove anos. Conversei com o Chefe da tropa. Vamos fazer uma experiência? O Chefe ficou assim e assim. Nove anos? Tudo bem, vamos tentar. Vai para a Coruja, o Monitor é mais velho e durão. No programa a tropa ia acampar três semanas depois. O Monitor disse ao Chefe que ele não devia ir. Estava muito verde ainda.

                    Ele me procurou. Precisavam ver sua pose ao falar comigo. Exigia seus direitos. Nove anos o danado e pensei que quando crescer ele será um barril de democracia. – Tudo bem, você vai. Mas se chorar lá não vai voltar. Só no final do acampamento. Ele riu – Chefe sou homem e sou macho. Sem decidir minha vida. Chegou com uma mochila e apetrechos que tomavam todo seu corpo. Ele sumiu atrás da tralha que carregava.  Disse a ele que o ônibus nos deixaria quatro quilômetros do local do campo. Ele riu. Chefe precisa me conhecer melhor. Não sou de desistir nunca. Nunca pedi ajuda e nunca irei pedir. Sei o que faço. Dito e feito, dois quilômetros e ele para trás, três e ele sumiu de vista na curva da estrada. O Monitor voltou para ajudar.

                       No primeiro dia ele corria para todo lado. Parecia mesmo ser um jovem esperto com seus nove anos. Tudo aconteceu à noite após o jantar. Não gostou da janta. Procurou-me para levá-lo até um restaurante a beira da estrada. Eu estava com meu automóvel. – Nem pensar meu jovem. O que você comeu todos comeram. Chefe eu não comi nada! Porque não quis. Quem sabe o cozinheiro deixou uma porção para você na panela? Dito e feito, ele começou a gritar, a chorar e deitou no chão pegando a maior manha. Passou a noite toda chorando. Não o levei e nem mandei recado aos seus pais. Boi bravo é assim que aprende pensei. Certo ou errado ele ficou lá os quatro dias. Parou de gritar e chorar. No retorno vi que sua mochila diminuiu. Falei para o Monitor. Ele jogou fora boa parte de tudo em um barranco para diminuir o peso.

                    Na chegada seus pais estavam lá esperando. Ele desceu do ônibus e calado foi com a patrulha para guardar a tralha da patrulha. Estava uma luva agora. Obediente e disciplinado. Na semana seguinte seu pai me procurou - Chefe, meu filho mudou e para melhor. Parece outro menino. O que houve? Não entrei em detalhes. Disse que o escotismo é trabalho em equipe. Aprender a fazer fazendo. Ele aprendeu. – Seu pai agradeceu. Depois fiquei sabendo que era um alto executivo na Ford. Sua mãe advogada em um dos melhores escritórios de advocacia da capital. Os anos passaram e o escoteirinho lá conosco.


                       Três anos depois fui morar em outro bairro. Um grupo próximo a minha casa balançando para não fechar. Precisava de ajuda. Mudei de grupo. O escoteirinho eu o vi nove anos depois em uma atividade regional. Era outro, precisavam ver. O Que o escotismo pode fazer não? A vida é assim mesmo. Acampamento é para os jovens aprenderem a lutar pela vida. Dar cobertura, passar a mão na cabeça, chamar papai e mamãe para leva-lo não é o certo. Bem casos são casos. Cada um tem seu estilo. Este deu certo graças a Deus!