Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O admirável Cinto Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
O admirável Cinto Escoteiro.

                       Olhei de novo. Não havia erro. Meus olhos fixaram com mais carinho. Sem dúvida, era ele mesmo. O velho amigo de sempre. Agora um pouco descuidado. Sem brilho e sem a mesma imponência de outrora. Fiquei com pena do couro. Desbotado e carcomido em algumas partes. O homem que o portava era moreno, quem sabe entrando nos sessenta anos. Os cabelos quase brancos. Um ar de cansaço talvez pela subida da rampa do Pronto Socorro. Pensei em interpelá-lo para saber a história dele. Quem sabe ele fora Escoteiro? Ou quem sabe o ganhou de alguém que foi Escoteiro? Eu sabia que aquele cinto deveria ter história. Muitas. Esqueci-me de dizer, eu hoje estava em uma sala de recepção, esperando a chamada para fazer um exame de pulmão. Nada demais apenas rotina. Já fiz tantos! A sala cheia. Pessoas indo e vindo. Interessante, sempre quando a espera é longa e eu sei que ser atendido pelo INSS ou pela prefeitura da minha cidade, não é fácil. Nestes casos sempre dou um gostoso cochilo. Sentado mesmo. Aprendi a cochilar nas espera de minha chamada. Houve casos de esperar seis horas. Paciência pobre sem plano de saúde é isto mesmo e não tem direito de reclamar. Adoro cochilar e pensar. Não noto as pessoas ao meu redor, mas quis o destino que eu estivesse de olho aberto para ver a entrada no meio daquele mundaréu de gente, de um maravilhoso, um admirável Cinto Escoteiro.

                       Minha memória gosta de trabalhar. Sempre procurando aqui e ali um motivo para funcionar os neurônios e os maravilhosos chips do cérebro. Fui buscar o passado. Lá muito além de antigamente. Chegava da escola e pegava minha caixa de engraxate. Era rotina. Cinco quarteirões e chegava com minha bicicleta em frente à Casa Abil. Na rua principal. O Senhor Nestor proprietário sempre me deixou trabalhar ali. Cada tostão suado era guardado com carinho. Sabia que juntar quarenta e cinco reais aos preços de hoje não era fácil. Mas precisava do cinto para fazer a promessa. Minha mãe fez a calça e a camisa. O meião eu comprei na Dona Leonor, da casa de tecidos. Ela era mãe de Eduardo, um lobinho meu amigo. Paguei a vista. Ela me deu um bom desconto. Sempre gostei de negociar. Sabia que o lenço o grupo dava para nós com o anel de couro. Lembro-me daquela tarde que fui ao correio. Comprei um vale postal de quarenta e cinco reais e fiz o pedido na loja Escoteira no Rio de Janeiro. Tinha o endereço. Agora era esperar a chegada do cinto. Poderia demorar vinte ou quarenta dias. O correio não era um primaz como hoje.

                       Demorou exatamente trinta e dois dias. Eu passava todos os dias no correio. De manhã e a tarde. E aí seu Neneco, chegou? Ele balançava a cabeça e eu decepcionado ia para casa ou trabalhar na porta da Casa Abil. Um belo dia pela manhã ao sair do colégio eu passei por lá. Surpresa, seu Neneco me disse que tinha chegado um sorriso enorme eu dei para ele. Peguei a caixa e fui correndo para casa. Abri. Que cinto lindo meu Deus! Ensinaram-me na Patrulha como engraxar o couro e fazer brilhar a fivela. Meu pai era seleiro. Fazia selas para cavalos. Chamou-me e disse – Olhe, recebi semana passada esta vaqueta de couro marrom, uma das mais lindas de um curtume da Bahia. Quer ver? Se quiser troco o couro do seu cinto. Dito e feito. Troquei. Com uma boa graxa durou para sempre. Era meu orgulho. Mas não era só eu. Todos os escoteiros daquela época davam um enorme valor ao seu cinto.

                    Meus pensamentos voltaram ao presente. Procurei o ilustre desconhecido que porta o cinto.  Não vi mais o homem do cinto Escoteiro. Desapareceu na multidão que ali esperava uma consulta ou um exame. São coisas assim que marcam muito a nós escoteiros. O cinto é imutável. Mudaram a flor de lis. Uma pena. Adorava a antiga. Hoje eu triste me pergunto. Por quê? Para ficarmos mais modernos? Não sei. Já mudaram tanto que nossa marca desaparece no tempo das egocentricidades dos modernos homens escoteiros de hoje. Brincando na internet, achei um pequeno trecho, que nada explica e conforme diz o já falecido Chacrinha só “estrumbica”. Vejamos:


            “Dizem que mudanças são para os loucos”. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os que são peças redondas nos buracos quadrados. Os que veem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de regras. E eles não têm nenhum respeito pelo status quo. Você pode citá-los, discorda-los, glorificá-los ou difamá-los. A única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Eles inventam. Eles imaginam. Eles curam. Eles exploram. Eles criam. Eles inspiram. Eles empurram a raça humana para frente sem saber o que é o certo e o errado. “Talvez eles tenham que ser loucos”. Verdade mesmo?

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O mundo maravilhoso dos cozinheiros Escoteiros.


Conversa ao pé do fogo.
O mundo maravilhoso dos cozinheiros Escoteiros.

           Será que eles ainda existem nas patrulhas? Será que eles ainda procuram suas mãezinhas para aprender a fazer um arroz soltinho, a cozinhar o feijão no campo com a técnica Escoteira? Um bom bife sem queimar, uma sopinha de fazer estalar a língua? Devem existir sim. Claro são poucos, mas estão por aí com os olhos cheio de fumaça, um calor ou uma chuvinha fria caindo, gravetos alimentando o fogo, alguém achou um capim seco e lá estão elas em volta do seu fogão de barro. Era bom demais. Pela manhã ele era o primeiro a acordar. O café não podia demorar, pois a limpeza do campo para a inspeção teria prioridade. Engolir o café quente, comer quem sabe uns biscoitos ou um pão dormido. Mas quem se preocupava? Quem lembrava que se não fosse ele a fome mostraria sua cara? E a tarde, depois de uma jornada ou um Grande Jogo, revezar no banho e ele coitado firme lá no seu fogão a fazer uma sopinha de estalar os “beiços”. Bom demais.

           Eu nunca me esqueci deles. Fumanchu era demais. Fazia milagres com o que tinha o que foi pescado ou caçado. Alguém um dia me disse revoltado que uma atriz que foi Escoteira comentou em um programa suas performances em matar galinha, depenar e cozinhar. Ficou “brabo” – Você viu Chefe? Difícil explicar a ele que foi um curso de Sobrevivência na Selva. Sei que a possibilidade hoje é dificílima em nos perder na floresta. Sei não, como dizer a ele que quando jovem escoteiro matei dezenas de galinhas, cacei rolinhas, tatus, codornas, perdizes, capivara (coitadas, seus olhos quando morriam era de fazer dó). Mas era uma época que isto era comum. E olhe que nosso Chefe nos ensinava a pedir perdão quando cortávamos seu pescoço e abaixar a cabeça em sinal de respeito. Foi uma época “supimpa” escotismo sem dinheiro, sem listas feitas por nutricionistas a comprar em armazéns (ainda não havia supermercados), tudo vindo de casa na base da ração. Carne? Só as que lá conseguíamos. Mas tínhamos peixes, ovos de pássaros, tínhamos goiabinhas verdes para sopas deliciosas, maxixe, lobrobô, taioba, tomatinho do mato, um mundão de coisas. Saudades de você Fumanchu, muitas saudades.

                 Mas eu conheci outro valente cozinheiro, não pedia mandava e aí de quem não obedecia. – Ele berrava no alto dos seus trezes anos e a patrulha tremia. Mister Magôo. Que cara, que sujeito fora de série. Fazia fornos, lindos fogões um perfeito artista na arte de cozinhar. Saia cedo do campo e voltava com uma fieira de peixes de fazer inveja. Um dia chegou com um quati, nem grande e nem pequeno. – “À noite teremos um assado” dizia com a cara amarrada. E que assado, de dar água na boca. Mister Magôo não ficou na cozinha muito tempo, andou se enrolando com o Monitor e assumiu no grito. Risos. Calma, outra época. Era um tempo que valorizávamos nossas obrigações. Almoxarife ou Intendente, Aguadeiro, cozinheiro, Mestre de Campo, sanitarista, construtor de pioneiras ou escriba. Não importava a função. Cada uma delas era orgulho dos patrulheiros. No fundo mesmo todos nós fazíamos de tudo. Entretanto ninguém esquecia o cozinheiro, era a chave o mais importante. Quando ele estava na cozinha, pegando a lenha rachada, um fogo igual nas trempes ninguém importunava. Nem o Monitor.

               Tem coisa mais linda que vários meninos Escoteiros, com a tarde chegando, banho tomado, uma conversa ali e outra aqui, a fumaça aparece no fogão do cozinheiro, uma sopa tem início, a fome chega, a espera é longa, um pedido de lenha, um pedido de agua e todos atendido prontamente. E quando ele avisa ao Monitor que a boia está pronta? Dá um frenesi, a barriga zoa, o aroma se espalha, os pratos na mão, todos sentados em volta da mesa rústica de madeira, lá vem ele com seu caldeirão fervendo, ninguém diz nada esperando sua hora de comer. “Senhor, uns tem e não podem, outros podem e não tem, nós que temos e podemos agradecemos ao senhor”. Chegou a hora. Os pratos são cheios de sopa que sai fumaça de tão quente pelas mãos do cozinheiro. Uns soprando a colher cheia e quente, outros queimando a língua de tanta fome. Impossível descrever tudo.

          Mesmo com a noite cobrindo o campo, um pequeno lampião aceso, grilos pulando, vagalumes coloridos se espalhando na relva, céu de estrelas, agora ninguém prestava atenção. Ah! Quantas saudades, meu coração bate só de pensar. Um olhando para o outro que olha o prato que olha a sopa sendo tomada que olha o  caldeirão para ver se tinha mais. Cozinheiro Escoteiro. Uma função que nunca poderá deixar de existir. São eles a razão da alegria da patrulha, são eles a razão única de existir uma patrulha no campo fazendo um gostoso acampamento de Gilwell.


BOM APETITE!

domingo, 30 de novembro de 2014

Polemica, uma vaca Escoteira que deu o que falar.


Lendas Escoteiras.
Polemica, uma vaca Escoteira que deu o que falar.

                      - Melhor parar uma meia hora, - disse Polaco o Monitor da Pantera. Ninguém disse nada, mas sabiam que a trilha na subida com aquele sol deixava qualquer um respirando alto. Não havia árvores e cada patrulheiro procurou um arbusto que pudesse fazê-lo esconder do sol. Sabiam que a trilha até a Curva do Pavão não era o melhor caminho, mas ajudava para economizar mais de quatro quilômetros na estrada do Roncador. Durante uns dez minutos ninguém disse nada. Todos só procuravam recuperar suas forças. Cada um meio escondido em um arbusto à beira da trilha. O sol inclemente não perdoava ninguém. Podiam ter tirado o lenço e a blusa o uniforme, mas como se fosse uma norma não escrita ninguém tirou. Sempre foi assim desde que entraram para a patrulha. – Soube que o Chefe Morcego vai embora! – todos olharam para Jovi. Muitos levaram o corpo em dúvida. – Verdade? Disse Moreno. – Bem fiquei sabendo pela minha mãe. Ele foi transferido para outra cidade. – Um silêncio completo. – E se for verdade? Pensou Nonato. – Se for não sei o que vai acontecer conosco.

                       Vinte minutos depois Polaco deu a ordem de seguir em frente. Todos pensativos com a notícia do Chefe Nonato. E se ele fosse quem ficaria no lugar? A mente fervilhava no que acabam de saber. Uma preocupação a mais para cada Escoteiro da patrulha. Afinal o Chefe Polaco confiava nas patrulhas e elas podiam excursionar e acampar sem a presença do Chefe. Os pensamentos os fizeram esquecer-se do sol e da subida. Logo avistam a curva do Pavão. A trilha agora seria só descida. Ficaram alegres avistaram o Mata-Burro e a porteira da Fazenda Pingo D’água. O coronel Marcondes era um amigo dos Escoteiros. Mário Prata riu quando atravessaram o mata-burro. – Mata-burro ou mata qualquer animal grande? Porque o nome? Mas ele não comentou nada com ninguém. A estrada da fazenda tinha coqueiros dos dois lados. Quando estiveram lá no ano passado o Coronel contou a história delas. No tempo dos escravos seu bisavô comprou as mudas na Europa. Cada escravo ficou responsável por uma. Se a muda não vingasse o escravo seria morto. Quando souberam desta maldade queriam retrucar, mas valia a pena? Hoje o Coronel Marcondes era um amigo e sempre os tratavam maravilhosamente bem.

                     Ele como sempre os recebia no primeiro degrau da escada da varanda da casa grande. Imponente. Com uma perneira usada, mas engraxada. Seu chapéu preto de couro cru fazia dele uma figura maravilhosa. As botas longas de cano alto o faziam maior do que era. Um sorriso no rosto mostrava a alegria de vê-los novamente. Percorreu uns cinco metros e abraçou a todos. O Coronel Marcondes morava sozinho. Dona Mariza sua esposa foi para o céu quando nasceu Tonho, o único filho que teve. Hoje mora na capital e é engenheiro em uma firma que montou. Pouco visitava seu pai. Gerard foi o primeiro a abraçá-lo. Ele tratava Gerard como se fosse o segundo filho. Não houve fila nos abraços, Gerard, Giacomo, Mario Prata, Polaco, Jovi, Manfredo e eu fizemos um circulo e todos o abraçaram simultaneamente. Claro, logo veio o grito da patrulha que ele participou e sorriu quase chorando. Um homenzarrão e sentimental o Coronel. Agradecemos o almoço devido à hora e comemos umas roscas e um delicioso bolo de chocolate. – Precisamos partir Coronel. Nosso programa é vasto! No mesmo lugar? Perguntou. Sim senhor falou Polaco.

                      - Polêmica pode ir conosco? Claro, disse ele. Está na curralama onde vocês devem passar. – Giacomo lembrou-se de Polêmica. Uma vaca que todos adoravam. Ela na primeira vez que acamparam ali resolveu comer as barracas, roupas e tudo que encontrava pela frente. Perderam quase tudo, mas fizeram uma grande amiga. Depois nunca mais isto aconteceu. Quando se aproximavam da Curralama ouviram o mugido de Polêmica. Ela dava pulinhos enquanto os seguia na Estrada que os levariam ao Lago do Cisne Negro. Não demoraram em chegar. As atividades da montagem do campo deu inicio. Polêmica em volta deles aproveitando um branqueara gostoso. A tardia o sol se ponto ouviram o som de um motor de caminhão. Ficaram na espreita, pois não era comum. Ninguém nunca tinha ido ate ali. Manfredo e Jovi subiram até uma elevação para ver. Voltaram correndo – Parece que estão roubando gado do Coronel! – Um conselho de patrulha. Meninos não podem enfrentar homens armados. Mais de quatro quilômetros até a fazenda do Coronel. – Gerard deu a ideia de ficarem mais distante gritando enquanto Jovi iria no passo Escoteiro até a fazenda.  

                    Quando começaram a gritar viram os bandidos correrem até onde eles estavam. Melhor voltar e se esconder proximo ao campo de patrulha disse Polaco. Não deu tempo, Mario Prata e Manfredo foram encurralados. Os meninos Escoteiros não sabiam se defender. Eram bandidos perigosos. Três deles. Um deles começou a rir da tremedeira dos Escoteiros. Não percebeu a chifrada no traseiro dado por Polêmica. Logo ela avançou no segundo e o derrubou. O terceiro correu mais que pode, mas foi alcançado por ela. Escoteiros são assim sabem o que fazer e como fazer. Umas embiras de cipó e logo os três bem amarrados. O coronel chegou de charrete. Riu quando viu os bandidos presos. – Sabem ele disse – Eu amo vocês. Aqui nas minhas terras me sinto seguro – Coronel trate bem a Polêmica. Ela sim foi quem nos salvou. O coronel riu e levou os três para a delegacia.


                         Dizem que  Escoteiros são heróis. Um herói é um indivíduo comum que encontra a força para perseverar e resistir apesar dos obstáculos devastadores. Se eles foram heróis parabéns, mas quer saber? Para mim o verdadeiro herói desta historia foi à vaca Polêmica. Ela sim deu cabo da bandidada sem ter medo. Mas histórias são histórias, e são elas que nos fazem sentir bem a sensação de uma boa aventura!