Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Apenas uma reunião de tropa...


Conversa ao pé do fogo.
Apenas uma reunião de tropa...

                Gedeão sabia que o sábado estava chegando. Como tudo mudou para ele. Antes uma motivação enorme quando ia para as reuniões de tropa. Uma alegria uma vontade de continuar ali além do horário, mas agora... Agora não. Ele notou que as últimas reuniões foram fracas, sem graça, e Marcondes tinha faltado mais de duas reuniões. Ele se lembrava de Ethan e Galileu. Nenhum deles o procurou para dizer que estava saindo. Ele foi à casa dos três e olhe que não era fácil. Trabalhava do outro lado da cidade e só aos sábados após as reuniões tinha um pequeno tempo, é claro que isto interferia e muito com sua família que o cobrava sempre. Chefe Gedeão havia meses que pensava onde estava errando. Ele sempre rebuscava no passado as atividades os acampamentos e as reuniões de tropa que participava. Era outra época. Quatro patrulhas completas. Dificilmente alguém saia, mas hoje? Hoje era tudo diferente. Ele ainda tinha três patrulhas porque Jerusa, Jesabel, Germine e Isabel passaram da Alcateia para a tropa.

                  Ele sentia que as meninas ficavam mais tempo, eram mais interessadas e queriam a todo custo chegar ao Lis de Ouro. Os meninos nem todos. Agora a tropa tinha dezenove participantes, mas dez eram meninas. Ele sabia que isto não podia continuar, ele não podia perder meninos assim. Tinha que haver um motivo. Ficou feliz quando Ester saiu dos lobos e veio ajudar na chefia. Mas ela tinha muito boa vontade e pouco conhecia dos Escoteiros. A consultou muitas vezes, mas sua experiência era mínima. Um dos maiores problemas ele conseguiu resolver: - O enorme tempo que ficavam no hasteamento e arreamento da bandeira. Sempre escolhiam esta cerimônia para promessa, para entrega de distintivos e especialidades e certificados o que atrasava muito o programa da tropa. Como todas as sessões faziam a reunião em conjunto era natural que todos estivessem presentes, afinal eram ou não uma grande família? No Conselho de Chefes que faziam uma vez por mes mês ele levantou o assunto. Sorriu quando viu que outros pensavam como ele.

                  Chegaram a um acordo. Cada sessão iria tirar um tempo durante as reuniões para fazer a promessa, entregar distintivos dentre outros. No Cerimonial só as grandes conquistas: - Lobo Cruzeiro do Sul, cordões de eficiência, Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria. Não iriam demorar mais que quinze minutos no inicio e dez no fim. Mesmo assim ele não estava satisfeito. As reuniões estavam mornas, os jogos sem graça e as atividades técnicas desinteressantes. Notou também que as patrulhas nos tempos livres quase não se reunião, o adestramento do Monitor com seus patrulheiros só era feito quando ele exigia.  Sabia que adoravam acampamentos e excursões, mas e a ultima excursão? Faltaram cinco. Uma lástima. Conversou com os monitores na Corte de Honra e em particular. – O que está havendo? Alguns nada diziam e outros davam desculpas que não condizia com a verdade. Ele tinha um enorme arquivo de jogos. Agora com a Internet ficou mais fácil ainda. Adiantava? Não.

                  Chefe Gedeão precisa descobrir o motivo. O motivo real e ele sabia que não era só ele. Conhecia muitos amigos chefes que se ressentiam da mesma maneira. Nunca se descuidou de sua biblioteca Escoteira. Gastou uma nota para ter todos os livros que precisava. E os cursos? Pagou do seu próprio bolso a maioria deles. Mesmo depois quando recebeu a Insígnia de Madeira ele notou que nada mudou a não ser o lenço. Cantava sempre baixinho o Volta a Giwell. Mas voltar para onde? Outros cursos? Quais? Não sabia se existiam cursos de pós-graduação o conhecido MBA no escotismo. Será que existia? Ele precisava mais, precisava de um curso onde se poderia discutir programas de reuniões, jogos, técnicas novas de motivação e tantos mais. É não adianta dizer que em meus sonhos sempre volto a Giwell. Nem sei se eles tem cursos para aprimorar meus conhecimentos ele dizia.

                     Ele tentou de tudo. Fez jogos que ninguém esperava, montou diversas bases técnicas, deu dica para cada patrulha onde conseguir conhecimentos, levou um amigo violonista para ensinar a cantar melhor as musicas Escoteiras, tentou ao seu modo ensinar e mostrar a cada Escoteiro e Escoteira o verdadeiro sentido da lei e promessa. Em nenhuma reunião ele deixava de comentar ou fazer um jogo sobre a lei escoteira. Como religioso que era Deus estava presente em tudo que fazia e ele fazia questão de dizer aos seus jovens. Chegou a comprar um caminhão de eucaliptos e bambus para uma disputa de pioneirias na sede. No inicio supimpa, mas depois... É voltar a Giwell todos diziam, mas ele não sabia onde ficava Giwell a não ser na Inglaterra. Passou domingos e domingos montando programas, discutiu com monitores e pediu ajuda as patrulhas para dizerem se aprovavam ou não. Claro ninguém dizia não só sim.

                       Chefe Gedeão viu que nada deu certo. No último sábado  Jerusha não veio. Quase ao encerrar foi procurado por Joviel que disse não iria vir mais. Ele iria fazer um curso à tarde. E agora meu amigo? Ele disse para si mesmo. Tentou uma última cartada, ligou para muitos chefes que conhecia. Todos ou a maioria sempre lhe dando uma força, dizendo o que fazer como fazer e ele sabia que tudo aquilo ele já tinha feito. A tropa ele sabia ia de mal a pior e detestava quando via patrulhas incompletas, com três ou quatro ou mesmo quando via algum Chefe tirando Escoteiro de uma patrulha para colocar em outra. Naquele sábado foi para casa amargurado. Tinha de haver uma solução. – Fazer fazendo? Deixar que eles decidam? Querem fechar a tropa? Melhor acabar com tudo? – Gedeão já tinha decidido. Iria insistir para que cada um desse sua opinião, ele sabia que no inicio todos sempre abaixavam a cabeça e não diziam nada. Os mais afoitos comentavam, mas nada de importante.

                 - Tropa! Ele disse com todos em linha. A partir de hoje vamos ficar quinze minutos depois do horário. Avisem aos seus pais. Não disse mais nada. – Naquele sábado eram doze. Muitos já tinham desistido. – O motivo é para saber qual a atividade que devemos fazer quais os jogos que devemos fazer como motivar nosso amigo na patrulha, quais as sugestões podemos dar. Agora é com vocês. Gedeão se calou. Não falou mais nada. Pegou todo mundo de surpresa. Naquele sábado o tempo acabou sem ninguém falar nada. No segundo sábado todos sentados em circulo e ele nada disse. Ninguém falava. Deu o tempo e todos foram embora. Assim foi no terceiro e quarto sábado. Gedeão soube que eles se reuniam fora da sede. E no quinto e sexto sábado começou a ouvir. Ele só ouvia. Em todas as reuniões nunca disse nada. Nunca deu palpite. Afinal por anos ele fazia tudo e achava que tinha a solução na mão.


                     Três meses depois ele viu alguém levantando a mão. – Sabe Chefe, eu acho... – Outro também disse: - Sabe Chefe... E assim Gedeão venceu a batalha. Agora todos faziam questão de opinar. A tropa se motivou de tal jeito que vinte minutos não dava. Precisavam de mais. As discussões eram acaloradas. Gideão nunca falou. Nunca disse nada. Sempre ouvindo seus Escoteiros e Escoteiras. Mas o que diziam ele sabia que devia por em prática. Só sei que em menos de oito meses a tropa de Gedeão tinha três patrulhas completas a caminho para a quarta. Chefe Gedeão ainda lembrava quando leu em um livro um comentário de saber ouvir: -                Perceber, reconhecer, entender, compreender, valorizar, dar atenção, respeitar… São vários nomes diferentes para um processo tão simples, mas ao mesmo tempo tão difícil de ser praticado: ouvir, de fato, o outro.  

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