Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Dick Barzon o Escoteiro do Rio chegou na cidade.


Conversa ao pé do fogo.
Dick Barzon o Escoteiro do Rio chegou na cidade.

                            O tempo passa célere e quase não vemos as mudanças que nos transformam e se não segurarmos com mãos fortes nosso passado acredito que a vida não teria o valor que devemos dar a ela.  Alguém um dia me disse que o passado de cada um tem seu valor próprio. Os jovens que estão vivendo hoje se lembrarão também dos seus velhos tempos. Velhos tempos! Não foi o título de um filme? Novos e velhos tempos! – “Como era belo viver, enlaçado por um anel... Nas costas uma mochila, ao longe uma bandeira, embrenhar em matas na trilha que foi desfeita”... Ah! Escotismo. Quantas coisas vivemos num mundo mágico a sombra de um arco íris cercados de borboletas coloridas e lindos beija flores parados no ar, como se fossem se elevar em poucos instantes ao céu.

                          Meu primeiro amor. Treze anos e já amava alguém. Levantei cedo. Só um milagre para isto. Acontece que o milagre estava acontecendo. Era terça feira. E as terças e quintas eram meus dias de encantamento. Benditas férias escolares, sem elas não poderia vê-la. Terça e quinta eram sagradas. Dias que eu poderia sonhar e suspirar. Maria das Dores! Quantas vezes sonhei com ela? Nos meus treze anos me apaixonei profundamente. Soube muito tempo depois que a chamavam de Dorita. Tomei um café correndo com minha mãe dizendo que comesse um biscoito. Lá fui eu feito um maluco pelas ruas da cidade onde junto à nova praça de esporte eu iria vê-la. Parei sentado em minha bicicleta esperei ela chegar à janela. Quanta ansiedade. Seu rosto apareceu belo como se fosse a Virgem das Rochas impossíveis, ou melhor, a Madonna dos Rochedos onde Leonardo da Vinci fez a sua mais pelas telas que um dia pintou e ficou na história.

                       Olhou-me com um sorriso simples, jogou seus cabelos loiros de um lado a outro me deu uma piscada de olhos e um adeusinho. Isto me encantava. Era lindo. Minha namorada eterna que iria morar no meu coração para sempre. Fechou a janela e se foi. Era assim nosso amor. Eu não importava. Agora era esperar a quinta feira onde eu poderia vê-la novamente. Quantas saudades iria sentir por esperar uma eternidade de um dia depois do outro. Mas o destino da gente não dá para descrever. A vida de um menino é cheia de nuances e eis que meu Monitor chegou a toda velocidade em sua bicicleta verde. Vermelho com a corrida, Chapéu e uniforme gritou alto – Tem Escoteiro novo na cidade! O Escoteiro do Rio chegou! Está na sede! Vamos La! Esqueci meu amor. Um Escoteiro novo na cidade? Isto era demais. Dorita ficou esquecida na minha mente. Ela iria esperar que meu escotismo fosse guardado em outras plagas. Desculpe meu amor.

           Pelas barbas do profeta. Uma oportunidade única para ver o verdadeiro Escoteiro do Rio de Janeiro. Sempre foi assim. Era chegar um deles de qualquer cidade e a escoteirada ficava em polvorosa. Dorita, minha linda Dorita me perdoe. Juro que irei ver você outro dia. Peguei minha bicicleta pneu balão verde e lá fomos nós em desabalada carreira para a sede. A escoteirada e a lobada já estava lá. Mais de cinquenta meninos ansiosos pelo novo badeniano. Todos nós vibrávamos quando aparecia um Escoteiro ou Chefe de outra cidade. Ninguém ficaria de fora sem olhar e conversar com ele. No centro da roda ele chamava atenção. Uniforme diferente. Calça azul, camisa de mescla azul clara, meiões pretos e uma boina preta tipo Montgomery. E na boina tinha um lindo distintivo de metal em forma de asas com uma flor de lis.

         Cheguei e entrei na roda. - Sempre Alerta disse! Ele sorriu para mim. Sentei e ele continuou conversando com todos. Dizia que morava próxima a praia do Arpoador (não fazia a mínima ideia). Era Escoteiro do Ar. Já tinha viajado em diversos tipos de avião. Seu pai era Piloto da Panair do Brasil. Contou que fazia mil coisas como Escoteiro do Ar. Seu pai tinha um teco-teco e ele por diversas vezes dirigiu o monstro. Acamparam em Paquetá, em Niterói, na região dos lagos, já fora na Alemanha, nos Estados Unidos. Lindo! Supimpa, este sim era o Escoteiro do mundo. Um autentico acampador! Ficamos ali por horas. Todos ouvindo o Escoteiro do Rio contando suas aventuras.

         Lá pelas duas da tarde o convidei para ir almoçar comigo em minha casa. Fiquei esperando sua resposta quando a maioria também convidou. Ele agradeceu, pois estava na casa da avó e se não fosse lá almoçar teria que ouvir poucas e boas. O escoltei até a Rua Peçanha perto da Padaria do Tunico Boca Grande. Ele no portão deu um sempre alerta e entrou. Durante a semana ficávamos o dia inteiro com o Escoteiro do Rio. Passeamos com ele em vários lugares e depois de consultar o Papaleguas nosso Monitor o convidei a ir a uma excursão noturna no Pico do Papagaio no próximo sábado. Estava no programa e ninguém iria faltar. Iriamos logo após a reunião terminar e voltaríamos no dia seguinte à tarde. Ele aceitou só não tinha mochila. Sem problemas. Tínhamos guardado na sede várias ganhas da polícia militar. As demais patrulhas sabendo que ele iria resolveram ir também.

        Sábado, sete da noite. Lá íamos nós em fila indiana as quatro patrulhas e o Guia Cocada seguia em frente. Eu ia ao lado do Escoteiro do Rio. Orgulhoso. Iria contar para muitos que ele ficou do meu lado e subiu a serra comigo. O Pico do Papagaio era próximo a nossa cidade. O duro era a subida. Treze quilômetros que matava qualquer um. Eu já tinha ido lá varias vezes e jurava sempre quando ia que seria a última vez. Eram onze e meia da noite. E não foi que aconteceu uma surpresa. O Escoteiro do rio começou a chorar. Paramos. Quem sabe um espinho? – Eu quero mamãe! Eu quero mamãe! – Deus do céu! O que era aquilo? Só então ele nos contou que tinha dez anos e ia passar para a tropa no fim do ano. Era lobinho e seu pai comprou tudo que ele precisava para ser Escoteiro!

         Foi demais para mim e todos da Patrulha. Rimos a mais não poder. Achávamos que junto a nós estava um Super Escoteiro, e não passava de um lobinho crescido e que nunca fez atividade em Patrulha. Estava morrendo de medo e de cansado. Distribuímos sua mochila entre nós, e voltamos à cidade. As demais patrulhas continuaram. Eram uma da manhã quando o deixamos na porta da avó dele. Os olhos cheios de lágrimas. Chorava de fazer dó.


         Bem, lá se foi o nosso herói. Mas sabíamos que ele iria crescer. Aprender e ser um bom mateiro, mas que servisse de lição para não ser gabola, mentir dizendo o que não era. Nunca mais ouvi falar no Escoteiro do Rio. Para dizer a verdade nem o nome dele ficamos sabendo. Só no dia que partiu contou que se chamava Dick Barzon. Quem sabe ele está aqui a ler esta história e vai lembrar? Alô Escoteiro do Rio, (hoje beirando os setenta anos) Sempre Alerta para você! Apesar dos pesares você significou muito para nós. Sempre Alerta! E meu namoro com Dorita continuou por mais alguns anos. Ela lá naquela janela encantada a piscar para mim e eu encostado no muro a sonhar, quer melhor que isto? Risos. 

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