Conversa ao
pé do fogo.
De ilusão
também se vive.
Gosto de escrever contos e histórias onde a
aventura, a natureza e os belos sonhos Escoteiros estão presentes em todas as
linhas da imaginação. Muitos dizem que o hoje não foi o ontem e o amanhã
ninguém pode saber. Verdade, mas o nosso Movimento Escoteiro não é feito de
sonhos? De sonhar em ser um cavaleiro andante? De montar em uma águia e partir
em busca da terra do nunca? Quantos ainda ficam dias sonhando para o próximo
acampamento? Sonhando em viver na floresta, em subir em árvores, em construir
um ninho de águia ou uma ponte pênsil? E cantar? Sim isto mesmo, cantar ao
redor de uma fogueira contando “causos” rindo das piadas alegres, deixando os
olhos seguir as fagulhas que sem ninguém mandar se dirigem para o céu? – Mas
Chefe, isto não mais existe, hoje os jovens nem pensam mais nisto. Será mesmo?
Não seria nossa culpa ao aceitarmos sem mesmo saber se eles pensam assim? Quem
sabe impomos um programa que achamos bom por não acreditar mais que não existem
Escoteiros sonhadores?
Pode ser que nós os adultos falamos por eles
sem consultá-los dos seus sonhos? É fácil levar meninos e meninas para o campo,
ficar horas falando disto e daquilo, esticar uma corda para que um por um passe
sob os olhos atentos do Chefe. Se for assim o tempo passou e o sonho
desmoronou. Pergunto-me se um dia na hora certa, no lugar certo, em uma sombra
de uma grande árvore mostrar a eles os sons da floresta ou do bosque tão perto.
Ou então ouvir o doce cantar de um regato ao lado, de uma cascata, sorrir ao
contar que poderiam todos viajar pelas estrelas em questão de segundos. Será
que bastaria criar na mente esta hipótese plausível? Sei que não é fácil criar
sonhos com dezenas de jovens juntos. Quem sabe começar com os monitores? Pense,
continue pensando que você está com eles subindo uma montanha o vento soprando
no rosto, um levantar de sobrancelhas quando ouvem o ribombar de um trovão e assustados
pensam como se defender da chuva? Chuva? Bendita chuva que ao cair irá criar na
mente de cada um a vontade de se tornarem aventureiros audazes. Chovendo
cântaros e você conta uma historia para eles? Criar em suas mentes que eles
podem se safar com aquela chuva que os aventureiros de outrora souberam se
safar?
Tudo é tão simples quando acreditamos que
os jovens querem acreditar, querem ver, querem sentir, querem fazer e você sabe
que é o espelho deles. O espelho que eles seguirão. Portanto não faça nada para
estragar esta visão tão bonita. Deixe que eles viagem na imaginação. Acredite
que a vida é um processo de maturidade e está só existirá se deixá-los subir a
montanha e ver o que existe do outro lado. Tudo que você fará para criar a
fantástica ilusão do sublime sonho mudará completamente a razão da existência
dos jovens que de novo irão sonhar, mas sonhar os pés no chão, fazendo, agindo
e vivendo o que puderam criar. Faça exatamente como o Código Samurai – A
perfeição é uma montanha impossível de escalar e ela deve ser escalada um pouco
a cada dia. Sem perceber estamos discordando sempre destes sonhos em achar que
eles são impossíveis de realizar.
Ninguém vive sem ilusões, sem uma
bela imaginação, sem criar uma fantasia ou devaneio. Deixe que eles façam desta
miragem a realidade que podem e devem criar. Aquele poeta não disse que a vida
é feita de ilusões, mas não é das ilusões que saem os melhores momentos da
vida? Não diga não aos sonhos deles e se eles não têm sonhos crie um para eles tentarem
fazer os seus. Todos os jovens querem viver o sonho de ser herói. Tiraram isto
dele e nós podemos devolver em forma de escotismo aventureiro. Não aquele de
uma fila interminável por uma estrada com você determinando aonde ir. Não tenha
medo do que vai acontecer. Haja sim com cautela, mas sem tirar o espírito
aventureiro. Lembre-se ali são eles os donos dos sonhos, os donos da aventura,
você é um mero coadjuvante que tenta a sua maneira passar para eles o que um
dia viveu. Agora o momento é deles e você deve aplaudir isto.
Ninguém gosta de sonhar e ficar acordando
vendo o tempo passar. Ver o vento vir e ir sem ter ao menos possibilidade de
tocá-lo. Sem saber o som da floresta, sem saber como é o orvalho da madrugada a
cair suavemente no rosto. Sem saber o que os pássaros dizem sem sequer
reconhecer o cantar do regato que lhe forneceu a água para sobreviver. Deixe-os
ver o vento balançar as árvores, deixe que eles descubram o caminho a seguir,
deixe-os descobrirem como podem viver sonhando com os pés no chão. Esqueça a
modernidade por alguns minutos, tente não se preocupar com as adversidades dos
novos tempos, mas faça tudo para que eles andem sozinhos. Eles um dia quando se
tornarem adultos não terão de fazer isto? Belas são as palavras de Kipling que
escreveu um dia quem sabe para nós chefes – Quem ao crepúsculo já sentiu o
cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é
rápido em entender os ruídos da noite... Deixai-o seguir com os outros, pois os
passos dos jovens se volvem aos campos de desejo provado e do encanto
reconhecido!
Precisamos retornar aos sonhos que
um dia tivemos e mostrar aos jovens que do sonho a realidade é um passo. Precisamos
pensar que o mundo é como um acampamento em que montamos nossa tenda podemos
apreciar a natureza, e depois voltamos para a nossa casa que é a eternidade. E
finalmente tudo isto me lembra de um poeta cujo nome nunca ouvi falar. Quem foi
não importa, mas uma coisa eu garanto é um criador de ilusões a nos mostrar que
o caminho para prosseguir é sonhar e acreditar em seus sonhos:
- Diz-se
que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás,
para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através
das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que
entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E
somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então
o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por
um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento.
Assim
somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Coragem! Avance firme e torne-se
Oceano!
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