Conversa ao pé do fogo.
As canções que um dia cantei para mim.
¶ Põe tua mágoa
bem no fundo do bornal e sorri, sorri, sorri!
O que importa é
vencer o mal mantem sua alegria,
Não importa
você se zangar, pois o mal há de acabar, e então?¶
Eu sempre gostei de cantar canções e hinos
escoteiros. Já vi tropas, alcateias cantarem divinamente. Tive a sorte de ver
sêniores em marcha de estrada sorrindo de peito aberto e cantando a plenos
pulmões, mostrando seu orgulho escoteiro. Quantas e quantas canções ouvi nas
centenas noites de Fogo de Conselho que participei, ou em volta de uma pequena
fogueira acesa em uma trilha qualquer onde alguns gravetos ou pequenas achas
alimentava o corpo e a mente da Patrulha. Cantei em montanhas e picos distantes,
Vales, colinas verdejantes, embaixo de árvore frondosas, colinas enormes onde
armei minha barraca. Emocionei-me muitas vezes a cantar as canções de Giwell
com os irmãos Insígnias. Amo muito “Em meus sonhos volto sempre a Gilwell”.
Todas as canções que cantei e ouvi cantar não tenho como dizer qual a mais
linda, a mais simples, a mais complicada. Quantas e quantas vezes, cansado,
voltando de um acampamento e empurrando a carrocinha as canções surgiam
naturalmente em minha mente. “Viemos do norte, do sul e do leste”... É e
terminar dizendo – “Lavando as panelas são todos irmãos”.
Aprendi algumas canções
cantadas por este Brasil afora que milhares de chefes fizeram. Poucas eu
guardei na mente. Eu mesmo fiz algumas e hoje esqueci. Das tradicionais eu tenho
as minhas preferidas. Guin gan guli, o Cucu a lembrar da Noruega, Terra do Belo
Olmeiro pensando nos grandiosos lagos do Canadá sem esquecer a Arvore da
Montanha. Um clássico que ninguém esquece. Com sono cantávamos baixinho o
Kumbayah. Eu tenho certo carinho pela Canção da Promessa. Guingaguli é demais e
o espírito de BP? Linda. Melhor ainda o Adeus Montes e Vales, Avançam as
Patrulhas, Stoldola (esta eu cantei uma vez fora do Brasil, marcou muito). A
Canção do Clã é inesquecível. São tantas e tantas e olhe, tive a honra de
conhecer chefes de outros países com canções divinas. Vi violeiros, gaiteiros,
trompetistas, um Sênior que tocava maravilhosamente um saxofone, mas sabe,
sempre chorei com algumas canções. Não dá para segurar. Falo da Canção da
Despedida. Uma vez acampava em um país sul americano e me aparece uma Akelá
tocando violino. Tocou de tal maneira que todos de mãos entrelaçadas ficaram
calados, mudos só ouvindo. Lágrimas caindo. Lindo demais.
Tive a honra de ver muitas
alcateias e tropas cantarem divinamente. Ali estava presente o espírito de BP
quando ele lembrava-se dos seus tempos na África e nas noites estreladas em
volta de uma fogueira. Ali nunca faltou uma bela canção. É maravilhoso ver
meninos cantando e vivendo o que cantam. Um violão, uma guitarra, uma
harmônica, um saxofone ou mesmo uma flauta simples engradece qualquer canção
escoteira. Quando a gente canta a canção entra em nossos corações, bate fundo
lá dentro e vai para o cérebro ficar guardada em um chips escolhido para
armazenar canções Escoteiras. Eu já disse, mas não deixo de repetir, nada é tão
maravilhoso que um céu estrelado, uma clareira em uma floresta perdida, achas
de lenha queimando, o calor adotando todos a sua volta e as fagulhas se
espalhando no céu. Então alguém por um simples gesto canta uma canção. Demais!
Nenhum espetáculo se sobrepõe aquele momento. É sublime e olhamos em volta com
os olhos vermelhos de emoção a ver nossos amigos escoteiros sentindo o mesmo
que nós.
Comprei uma vez um violão e
aprendi duas posições. Isto mesmo só duas e dava para acompanhar. Era delicioso
sair do campo da chefia, ir a um campo de patrulha ao entardecer na luz
brilhante de um lampião a gás ou a querosene; sentar em qualquer lugar, enquanto
o cozinheiro com os olhos enfumaçados sorria a ver sua sopa fervendo, e ver a
patrulha a cantar belas canções escoteiras. As outras que ouviam devagar iam se
aproximando, sentando em volta e cantando também! Maravilhoso! Ali a gente sentia
um calafrio, saber que somos todos irmãos, dizer que o escotismo marca que ele
é incomparável. E quando se canta a Canção da Promessa às lembranças correm
pelas matas, montanhas em busca de um acampamento que marcou. Minha Tia Dazinha
quando tinha doze anos me deu uma gaita de fole. Em casa me proibiram de
treinar. Diziam que o barulho era horrendo e ninguém queria sofrer. Risos. Eu
saia para a beira do rio e ficava lá horas e horas treinando. Coitado dos
peixinhos que pulavam na água para ver o tocador de gaitas que nunca tocou
nada! Risos. Não fui o melhor, mas já abusei da gaita em acampamentos até no
exterior. Aguas passadas. Isto não existe mais.
¶Boa noite Touros, boa
noite Maçaricos, Boa noite Corvos e Boa noite Lobos, pois agora eu vou dormir –
Bem alegre vamos indo, vamos indo vamos indo, bem alegre vamos indo para o mar
azul¶. - ¶Vem depressa correndo Escoteiro, ajudar o cozinheiro a fazer o
jantar!¶
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