Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Acampamentos – Fatos e versões.


Crônicas de um Velho Chefe escoteiro.
Acampamentos – Fatos e versões.
(para não ferir susceptibilidades Twedy é um nome fictício)

                Ontem, quando fazia minha aventura diária escoteira percorrendo mais de um quilometro a pé, o que hoje para mim não é fácil, durante a caminhada comecei a me lembrar de fatos pitorescos em acampamentos que tive o privilegio de estar presente e de que guardo ainda boas recordações. Se não me engano acampei por mais de setecentas noites, em barracas, lonadas ou sob estrelas ou até mesmo embaixo de nuvens negras que deixavam a água cair do céu como se fosse uma cachoeira sobre mim. Seria impossível lembrar de tudo, afinal perdi a conta há muito tempo de quantos meninos escoteiros, seniores, pioneiros e chefes tive a honra de acampar com eles. Peguei um “punhado” de lembranças. Sacudi em meu bornal e como em um voo cego escolhi duas para contar.

                 O nome dele se não me engando era Twedy. O apelidamos de Holandês Voador. Era um importante CEO de uma multinacional e por causa do filho resolveu participar como Chefe. Claro como muitos pais ele queria estar perto para ver o que fazíamos com seu filho. Foi em julho que acampamos em um local que sempre dava um ou dois graus abaixo de zero nas épocas de inverno, mas excelente para acampar. Ele não tinha mochila. Levou duas bolsas e uma mala. Chegou em seu carrão importado. Quando viu que iriamos de ônibus e depois percorrer quatro quilômetros a pé quase desistiu. Quem tem experiência de campo sabe que a chegada ao campo é cheia de entretantos. Corre aqui corre ali, patrulhas escolhendo campo, chefia montando seu campo e a intendência, não havia folga. Twedy tinha trazido um banco móvel e ali sentou olhando tudo. – Vamos trabalhar? Eu disse. – Chefe não posso, olhe minhas mãos. Sou um executivo e não um lenhador!

                 Éramos oito chefes, seis deles pata tenra. Twedy sabia como eu era e estranhei seu estilo folgado. A meninada corria por todo lado preparando seu campo. Lá pelas duas ele veio reclamar que estava com fome quando seria o almoço. – Peguei o programa e mostrei para ele. O primeiro dia a cozinha é sua eu disse. É você quem vai dizer quando vamos almoçar! Como era um líder em seu trabalho foi logo me dizendo que ia almoçar fora e todos os chefes poderiam ir comigo que ele pagava. – O chamei para ir comigo visitar os campos de patrulha que estavam sendo montados. – Mostrei o filho dele suado, com as mãos cheias de calo e construindo um fogão de barro. Para secar mais rápido um fogo foi aceso e duas panelas soltavam deliciosos aromas de uma refeição supimpa. – Veja seu filho. Pensei que você era quem iria dar exemplo. Que tal aprender com ele?

                 Claro que ele trocou sua roupa de grife e logo com um facão o vi cortando bambus a granel. Sumiu neste mundo nunca mais o vi. Vez ou outra seu filho entra em contato comigo. Um dia me disse – Chefe, o acampamento mudou meu pai! Lembrei-me de um Chefe que me dizia: - Você pode ficar anos com um aprendiz de Escoteiro e não o conhecer ou então fazer um acampamento com ele e em menos de vinte e quatro horas ver o que ele é, e o que será no futuro. E Voltaire? Um menino gordo desculpe, avolumado sim. Sua mãe quando o deixou sob nossos cuidados chorava a cântaros. – O que vão fazer com ele? Chefe o senhor vai dar toda a atenção a ele? Deu-me uma lista de remédios e horários. - Chefe... Bem tenho experiência de sobra com pais protetores. Eles não entendem que o escotismo é uma maneira de dar liberdade e livro arbítrio desde cedo para que quando crescerem saber como fazer e agir.

                         Voltaire quase desistiu. Sua Avó, sua tia, sum mãe e a empregada não saiam de perto dele. O ônibus partiu. Ainda bem que era uma época sem celular. Quatro dias acampados em uma clareira de uma floresta sombria. Sem civilização, só nós abrindo um novo caminho para aprendermos a nos virar. Tinha bons monitores. Sabiam como agir e fazer. Não me preocupava. Em hora nenhuma procurei Voltaire. Ele era um menino esperto. Seu corpo não ajudava, mas em nenhum momento o vi parado. Mesmo suando as bicas para a montagem de campo, ele era um exemplo para os demais. Quando Moralto o monitor me procurou para reclamar de Pagé, eu disse para ele: - Peça para Voltaire conversar com ele. Moralto riu e voltou ao campo.

                       No dia da chegada a família de Voltaire toda lá. Quanta choradeira. Pensei comigo que antes dos filhos acamparem quem devia fazer um bom acampamento na selva são os pais e parentes protetores. Afinal para que servem nossos filhos? Ficaram sob nossas asas por todo o sempre? Esta é a vantagem do escotismo. Não sou muito a favor de pais protetores estarem chefiando tropas com seus filhos atuando. Sei que não é muito fácil, pois não se encontra chefes preparados como voluntários dando sopa. Mas que estes pais façam tudo para não ter o filhote sobe suas asas. Isto além de prejudicar o próprio filho, vai dar mau exemplo para os demais. Muitos anos depois me encontrei com Voltaire. Ainda forte, mas não gordo. – Chefe, se não fosse o escotismo não seria o que era hoje! – São estas palavras que nos motivam a continuar.


                       Peço desculpas aos leitores que no meu ponto de vista estes fatos e versões não os deixem acabrunhados. Não foi esta minha intenção. Hoje não é ontem onde tínhamos um manancial Escoteiro crescido para atuarem nas alcateias e tropas. Hoje dependemos dos pais, estes abnegados que estão dando tudo de si para colaborar. Escotismo é bom, tem um programa um método, mas tem uma finalidade muito importante; Desenvolver o jovem, por meio de um sistema de valores que prioriza a honra, baseado na Lei Escoteira e na Promessa escoteira. Através de prática no trabalho em equipe e da vida ao ar livre, faz com que o jovem assuma seu próprio crescimento tornando-o um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade e disciplina.

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