Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A canção que ela fez para mim!


A canção que ela fez para mim!

                     Vida de Sênior é bão demais! Um sábado de reunião, ufa! O dia não era de brigadeiro. Desanimado e mesmo assim fui cumprir minha jornada escoteira. Reunião de sede não gostava. Amava o campo, as trilhas as florestas e os rios caudalosos. Ao chegar pensei que não era um bom dia para animar a patrulha. Na sede ninguém. Por quê? Sempre nos encontramos ali antes do inicio, falar dos outros, papear, “causos” não era uma rotina? Fui para o pátio da sede. Então eu a vi. Fiquei sem fala. Linda! Impossivelmente linda! Seria uma princesa? Desceu das nuvens direto na sede? Ou quem sabe um anjo que Deus mandou para dar novo ânimo aos seniores? Meu coração disparou. Minha mente deixava o corpo e se transportava para os mais lindos campos e montanhas a explorar. Fui à Cachoeira do Sonho, fui à Montanha Das Borboletas Douradas, fui até no despenhadeiro da Mil Mortes. Joguei-me lá de cima. Sabia que não ia morrer.

                 Foi então que percebi. Lá estavam os Seniores. Todos eles. Não faltou ninguém. Estavam em pé encostados à parede da biblioteca. Como eu não tiravam os olhos da linda moça dos cabelos loiros e cachos dourados. Cachos despencando como na Cascata do Sol Nascente. Olhos? Azuis! Incrivelmente azuis. Uni-me a eles. Não notaram a minha presença. Seus olhos esbugalhados assim como o meu só tinham uma direção. Cláudia Alvonaro. Seu corpo? Não posso dizer aqui. Afinal dizem que somos limpo de corpo e alma. Mas parecia ter sido esculpido por Michelangelo, ou melhor, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni. Ah! Una Madonna Escoteira? Quem sabe ali estava sua obra prima da renascença sua bela escultura a Pietá. Não podia ser. Estávamos em 1958 e não 1498 quando ela foi esculpida.  

                   A paixão tomou conta de mim. De mim só não de todos os seniores. Doze rapazes perdidamente apaixonados pela bela Cláudia Alvonaro. Mas de onde ela veio? Do céu? Do firmamento? De uma estrela distante na Galáxia de Andrômeda? Da cidade não era. Conhecíamos todas as beldades. – Ela é de Vitória. Espírito Santo disse um Sênior. Meu Deus! Capixaba e linda assim? Bendita Vitória. Santino o Chefe Sênior adentrou ao pátio. Jovem ainda. Vinte e oito anos. Viu-nos e foi até nós cumprimentando. Ninguém olhou para ele. Inteligente como todo Chefe Sênior descobriu através de um “Kim” imaginário o motivo de nossa perplexidade e imutabilidade. – Ora, ora, parecem que nunca viram uma garota! Ele disse. Sem respostas. Continuávamos mudos. Olhos vidrados na bela Cláudia Alvonaro. A mais bela capixaba que o mundo conheceu. E nós os bravos seniores da tropa Anhanguera.

                     Ela estava linda. Uniforme azul, bonezinho de lobo. Saia curtinha (que pernas meu Deus!). Akelá? Não tinha mais de dezoito anos! Não seus bobos disse o Chefe Sênior. Ela é Assistente. Tem dezessete. Está fazendo uma visita. Vai embora hoje no trem noturno das oito. – Vou também! Falaram todos ao mesmo tempo. Chefe Santino riu sonoramente. Que vida. Descobre-se o amor de nossas vidas, a nossa alma gêmea e ela vai embora assim? E para piorar tudo ela começou a cantar. Os lobos sentados em círculo e ela cantando uma canção que não conhecia. Voz? Uma cantora nata! Ninguém na sede tirava os olhos dela. Maravilhosamente bela e uma voz harmoniosa, que podia seguramente ser a maior cantora de todos os tempos.

                   O céu que me condene! Que me mate! Que acabe comigo. Estava “deverasmente” apaixonado. Perdidamente apaixonado. E o pior aconteceu! Ela olhou para mim e deu um sorriso. Senti o corpo tremer. Tive que sentar. Que sorriso! Que voz! Que rosto! Que corpo! Não podia ser uma mulher Akelá. Era uma deusa trazida do Olimpo. E eis que como se fosse uma chicotada, como se tivesse caído uma pedra enorme em minha cabeça, um Chefe novo de uns vinte e cinco anos entrou acompanhado do Chefe do grupo.  – Vamos embora meu amor! O que? Meu amor? Então olhei melhor, ele estava com a aliança na esquerda e ela também. Marido e mulher.


                  Ela se foi. Deu um “xauzinho” e disse um Sempre Alerta que nunca mais, nunca mais mesmo e eu juro, irei esquecer. A mulher dos meus sonhos, a mulher que iria ser a minha vida, a minha alma gêmea se foi. Se houve reunião de seniores eu não sei. Acho que os outros também ficaram como eu no mundo da lua. Começamos mudos e terminamos calados. Chefe Santino sorria no alto dos seus vinte e oito anos. Um homem experimentado sabendo o que sentia aqueles garotos que estavam crescendo e aprendendo com a vida. Cláudia Alvonaro virou a esquina abraçado com seu amado. A tropa acompanhou com os olhos seu ultimo adeus. E eu? Fiquei meses sonhando e planejando ir acampar em Vitória. Mas será que ela iria deixar o marido e se casar comigo?

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