Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 30 de janeiro de 2016

O Contador de Histórias.


O Contador de Histórias.

                           Dizem que sou um deles. Sinto-me lisonjeado com tal titulo. Pensando bem é melhor ser um Contador de Histórias que um Antigo Escoteiro perdido em suas lembranças. Antigo? Eu? Deixa disso meu amigo. Nem prá dedéu! Nem sabes como é minha imaginação. De menino Escoteiro aventureiro a bater pernas por aí. Já me disseram que sou também escritor Escoteiro. Melhorou. Quem sabe sou convidado para a Academia Brasileira de Letras? Acho que não vou usar o fardão. Prefiro meu caqui curto de tergal. Vão se assustar quando adentrar no salão nobre fardado com meu querido caqui e de chapelão. Claro que terei no tope meu penacho verde e amarelo. Quem sabe usarei minhas jarreteiras? Bah! Tenho direito ou não? Afinal sou um antigo daqueles que chamam de velho Escoteiro babão que só acha que seu tempo foi o melhor. Pensando bem foi bom me tornar um Contador de Histórias. Será que escrevo supimpa? Se não pode saber que eu fui Escoteiro dos bons. Sei que foram outros momentos, mas que ficaram presos nas memórias do meu passado distante.

                          Até hoje não fico sem meu cabo solteiro, ainda sou bom de nós. Fazia sessenta hoje não mais que quarenta. Ainda tenho minha bandeirola vermelha e branca de semáforas. Transmitia 45 letras por minuto, hoje só vinte. Meus braços cansam demais. Outro dia me perdi na minha cigarra que tenho no quarto transmitindo código Morse. Dois pontos e um traço, traço e três pontos. Esqueci! Eita Morse danado! Mama mia! Mas na minha bussola silva não me perco, nela confiro sempre onde está à constelação do Escorpião, de Andrômeda, de Capricórnio, de Cassiopéia, de Sagitário e me perco nas nebulosas de Orion. É gostoso quando o céu não tem nuvens e consigo ver as estrelas ou que viajo no espaço para ver a aurora boreal. Depois fecho os olhos e viajo no espaço sideral. A gravidade não me incomoda. Adoro isto, correr em sonhos por galáxias nunca antes exploradas.

                            Outro dia vi um Escoteiro com 150 especialidades. Ele tinha duas de astrônomo e cinco de astronauta. Deus do céu! Suei demais para ter dezesseis. Não foi mole a de cozinheiro, de mateiro, de acampador, de sinaleiro e construtor de pioneiras. Não tem mais estas? E a de Mestre Socorrista? Humm! Lembro que quando pequenito brincava com outras patrulhas: - Aqui meu amigo não se prega nada na camisa com “cuspe”. Fico de uniforme a me olhar no espelho e o Chefe dizendo: - Melhore o brilho do cinto, o cordão Verde e Amarelo está desbotado. Gostei da primeira classe, mas as estrelas de metal de atividade precisa de polimento. E no acampamento? Descer as corredeiras a bordo de uma jangada do rio era de assustar. – Ficar formado, o monitor a cantar e a gente acompanhar esperando o Chefe da Inspeção do dia. Chão limpo, fossas novas, apetrechos, trecos, artimanhas e engenhocas. Tudo nos seus conformes e no lugar.

                          Mas o que eu gosto mesmo é de desenhar. Fui nota dez em fazer um percurso de Giwell. Tirei de letra o Mapa que fiz da Floresta do Tenente. Fecho os olhos e vem na minha mente a rosa dos ventos. Pontos cardeais colaterais e sub colaterais. E o azimute? Os graus? Sabe do que eu gosto mesmo? De ficar olhando e admirando a Rosa dos ventos de 32 pontos de uma carta de Jorge de Aguiar (1492). È uma carta náutica assinada e datada da mais antiga de Portugal. Você já viu uma carta náutica? - Não tenho mais minha barraca. Dei para um dos filhos acampar. Mas sempre a levava em um bosque e me divertia em armar de todo jeito. De olhos fechados, andando ou só de costas, com um só braço e uma perna amarrada. Hoje não dá mais para fazer pioneiras, um fogão suspenso, uma mesa tríplex com costuras de arremate arredondadas.

                       Fazer um toldo de folha de bananeira, brincar de construir com cipós de Alzira, de trepadeira, de flor-de-são-joão eram tantos que hoje perdi a conta. E o ninho de águia? E a Passagem do Tarzan? E a ponte pênsil? Poxa foram tantas que preciso ver meu livro de anotações. Hoje não posso mais gritar “MADEIRAAA!”. Os conservacionista me pegam de jeito.  Uma “arvinha” de  que a gente derrubava para um mastro ou o inicio de um pórtico que as tardinhas a gente sentava e cantava admirando o por do sol. Imitar um sabiá, ouvir na floresta encantada o pássaro preto dizendo: “Amanhã eu vou”! Deitar na beira do lago do Cisne e o sapo cururu escondido entre pedras, galhos e folhas e cantando maravilhas que a gente só pode admirar. Sabia que os sapos cantam para se comunicarem com outros sapos?

                         Outro dia na sala peguei dois lenços escoteiros e brincava tipotiando quando chegou uma visita. – Que isto Chefe? – Nada demais, fazia quinze tipos de tipoia e hoje só oito! Eu disse. Acho que estou ficando Velho. Mas que isto? Comecei a escrever porque me chamaram de Contador de Histórias e mudei tudo? – É escrever é uma arte de poucos. Preciso aprender a levar minhas escritas em uma trilha escoteira perfeita. Como no passado com a patrulha bivacando por aí. Nada de caminho a evitar e salte o obstáculo. Melhor é saber que lá atrás eu escolhi a trilha do caminho a seguir. Entrei nesta trilha acreditando que era um caminho da felicidade. Desprezei outros sinais que não me ajudavam a ser feliz. Ainda bem que me lambuzei na água boa para beber. Até hoje tento encontrar o fim de pista. Sei que ele vai aparecer a qualquer momento em alguma curva do caminho nesta estrada que me meti a fazer como Escoteiro.

                          Fico quieto no meu canto. Uma corda pendurada no alto do Jequitibá me diz que posso descer com o nó de evasão. Se alguém me segurar com um Balso pelo Seio quem sabe talvez aceito. Chega de fiel duplo ou arnês simples. Vou para o quarto assoviando o Stoldola. Gosto desta. Mudei para o Rataplã. Bem feito eu sei cantar e você não! Vou caminhar por aí, minha escala é a mesma e o passo duplo não mudou. Sorri quando pensei em fazer uma tala ou uma maca de casca de árvores. Se houvesse um terreno vazio por aqui eu corria a comprar um galináceo e fazer um delicioso frango no barro usando brasas quentes. Sorrio quando me lembro do Macedo que não acreditou quando disse que fiz um arroz sem panela. – Tá me chamando de mentiroso Macedo? Na rua triste que caminhava meu pensamento mudou. Onde está a alegria? Onde está o bom dia e o boa tarde moço da vizinhança?


                         Eis que vejo que a felicidade não está em fazer o que a gente quer, mas sim em querer o que a gente faz. Olho para traz e vejo que antes eu sabia tudo, hoje sei que nada sei. A educação deve ser o descobrimento progressivo de nossa ignorância. - Célia me chamando para jantar. Uma gostosa canjiquinha com pedaços deliciosos de carne de porco. Uma caipirinha que não posso beber, mas hoje é um dia especial, afinal não sou um Contador de Histórias Escoteiras?  

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Há nois aqui traveis! Pensaram que fui?


Há nois aqui traveis! Pensaram que fui?

                   O tempo passou e voei por cima dos meus setenta e cinco anos tirando de letra o que quase me derrubou. Daí fiquei pensando. – Velho! – Você pensa? Parece bala de menta que arde prá dedéu e não desanima! - Penso sim meu coligado, meu cumplice e meu amado amigo do escotismo. Ou melhor, meu confrade de acampar e respirar na mata da saudade. Fiquei adoentado, ou melhor, combalido espremido esperando convalescer. Me senti satisfeito, quitado, contente, pois de repente quatro camaradas e uma camarada, confrades de leitura se lembraram de mim. “Chefete” o que ouve? Descansou? Sumiu? Tomou sopa de torresmo? Tomou um belo pingado? Ainda apaixonado? E eu danadamente mirrado e fraco, sorri! Bom saber que amigos são assim. Sei que meu pulmão não concorda, ele me escracha me esborracha e vive tirando meu ar. Pulmão safado, danado, metido a esperto, assanhado, aligeirado um dia nós vamos brigar. Vou lhe dar tanta porrada que não poderá reclamar e olhe, nem a UEB vai poder ajudar. Entrementes voltando aos finalmente para mim tanto faz. Minha idade, meu pulmão sem ar eu sei que só Ele lá em cima pode decidir onde vou chegar.     

                   O tempo passa, o tempo voa, e o Velho Escoteiro continua numa boa! Risos. Onde vi isto? Sei lá entende? Não é meu é de uma propaganda que ficou para trás. Mas uma certeza eu tenho. Se meu coração é Escoteiro valeu, pois fiz o diabo a quatro. Pulei na “cacunda” do vento, andei na nuvem do tempo, enchi meu bornal de estrelas, Corri mundo pisando em terras de poeira e por isso agradeço a Deus o que fez por mim. Saltei de banda dos mosquitos do mal, pisei na serpente na estrada do arraial. Acho que estou chegando ao caminho final. Hora de dormir, remédios de montão. Que coisa boa, “bão demais prá dedéu”! Não importa se sou um Escoteiro Velho ou um Velho Escoteiro tanto faz, mas eu sou danadamente feliz!


Sabe Célia, nestes dias que passei lutando com você me olhando e tratando para voltar ao que era eu pensei: Faria alguma diferença se eu dissesse que ninguém poderia amar alguém tanto quando eu amo você? – Boa noite amigos.