Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sábado, 30 de abril de 2016

O Poder do voto.


Conversa ao pé do fogo.
O Poder do voto.

                 Nesta hora difícil com que passa o país li uma crônica na Folha de São Paulo do Médico Dráuzio Varella, onde comenta a onda de vergonha que acometeu há muitos brasileiros, na votação do impeachment na Câmara da Presidenta Dilma Rousseff. Ela como todos nós não desconhecemos o lamentável nível da maioria dos nossos deputados, vendo em conjunto muitos despejando cretinices no microfone, assistindo a um espetáculo deprimente protagonizado por exibicionistas espertalhões travestidos em patriotas tementes a Deus. Votavam como se estivessem em um programa de auditório, preocupados em impressionar suas paróquias e vender a imagem de mães e pais amantíssimos. Ali vociferavam impolutos vendendo uma imagem que não é real. É o que temos ele disse o que fazer com Câmara e Senado funcionado com este tipo de pessoas que mais parece um show de horrores.

                      O que adianta homens enfatuados com gravatas de mau gosto, cabelos pintados de acaju e asa de graúna, com a prosperidade a transbordar lhes por cima do cinto, que receberam de 90 milhões de eleitores por alguns que os escolheram para representá-los. Dráuzio sempre um homem probo não se esqueceu de contar um fato que viu de um vídeo caseiro, uma moça de uns quarenta anos, em pé, de camiseta branca, ao fundo uma casinha humilde, atrás dela uma prateleira alta com frascos de plásticos espremidos uns contra os outros e um fio de eletricidade pendente de uma viga do teto. Com os olhos negros cheios de expressão, o sotaque e a energia de mulher nordestina gravou as seguintes palavras, articuladas com espontaneidade, como se estivesse conversando com o espectador:

- “O problema não tá no ladrão corrupto que foi Collor, não, nem na farsa que foi Lula”. O problema tá em nós como povo, porque a gente pertence a um país em que a esperteza é a moeda que é sempre valorizada. É um país onde a gente se sente o máximo porque consegue puxar a TV a cabo do vizinho. A gente frauda a declaração do Imposto de Renda para poder pagar menos imposto. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo na rua e depois reclamam do governo porque não limpa os esgotos. Saqueia as cargas dos veículos acidentados. O camarada bebe e depois vai dirigir. Pega um atestado sem tá doente só pra poder faltar no trabalho. Viaja a serviço de uma empresa, o que é que ele faz? Se o almoço foi dez reais, ele pega a nota fiscal de 20. Entra no ônibus, se senta, se tem uma pessoa idosa, se faz que tá dormindo. E querem que o político seja honesto.

O brasileiro tá reclamando de quê? Com a matéria prima desse país? A gente tem muita coisa boa, mas falta muito pra gente ser o homem e a mulher que nosso país precisa. Porque eu fico muito triste, quando uma pessoa... Ainda que Dilma renunciasse, hoje, o próximo seria... A suceder ela, teria que continuar trabalhando com essa mesma matéria-prima defeituosa, que somos nós mesmos, como povo. E não poderá fazer nada, porque, enquanto alguém não sinalizar o caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá, não.

Nós é que temos que mudar. O novo governante com os mesmos brasileiros não pode fazer nada não. Antes da gente chegar e culpar alguém, botar a boca no trombone, a gente tem que fazer uma autorreflexão: Fique na frente do espelho, você vai ver quem é o culpado. “Eu espero que nessa próxima eleição, dessa vez, o Brasil tenha noção do que realmente significa o poder de voto”.


A mensagem não traz o nome nem diz quem é essa brasileira. E você meu amigo o que me diz?

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Era uma vez... Um comissário Viajante da UEB. (uma história baseada em fatos reais -)


Lendas Escoteiras.
Era uma vez... Um comissário Viajante da UEB.
(uma história baseada em fatos reais -)

              Corria o ano de 1956. Estava com dezesseis anos e respirava escotismo em todos meus poros. Estudava mas não era bom aluno. O escotismo era onde eu me sentia realizado. Naquele sábado de abril pela primeira vez tomei contato com um alto Dirigente da UEB. Foi surpresa, pois nunca tínhamos recebido visitas da alta cúpula a não ser amigos de Grupos Escoteiros de cidades mais próximas. Eramos duas patrulhas seniores, uma com sete e outra com seis patrulheiros. Quase todos advindos da Tropa escoteira com exceção de Venceslau que entrou como Sênior. Nossas reuniões eram mais bate papo, programas de acampamentos, atividades aventureiras e nosso Chefe Sênior quase não ia as sede. Vivíamos mais em atividades ao ar livre que na sede. Aquela máxima que dizia onde tem um Sênior tem uma Tropa valia ali. A bandeira tinha sido hasteada. Fazíamos questão. Zé Geraldo o monitor se incumbiu de tudo. Sentados embaixo de uma mangueira vimos quando ele chegou na charrete de Micoçar. Foi uma surpresa enorme. Alto bem grande barriga proeminente, cabelos negros escondidos no chapéu de abas largas, calças curtas e um andar elegante de gente de cidade grande.

              Estávamos sentados de qualquer maneira. Ainda não havia entre nós aquela exigência de circulo e ferradura só para a bandeira. Ele chegou pomposo. Tinha pelos meus cálculos uns 45 anos. Deu um sempre alerta que quase arrebentou os tímpanos de alguns seniores que estavam mais próximo. – Cadê o Chefe? – Não veio hoje – disse Manoel. - Por quê? – Pergunta idiota. Ninguem respondeu. – Alguém pode chamá-lo? – Não dá Chefe, ele trabalha na Vitória Minas e viajou até Baixo Guandu no expresso. Só volta segunda. - E o Chefe do Grupo? Na casa dele no Morro do Chapéu. – Alguém pode avisar que o Comissário da UEB está aqui? Ninguém falou nada. Não estavam gostando do tipo. Estava muito metido e arrogante com ar de dono da bola. Acostumados com um aperto de mão, apresentação, um sorriso e fraternidade ele não demonstrou isto. Nem seu nome disse. Mindinho se ofereceu para ir avisar o Chefe João Soldado. – Avisar não disse. Diga a ele que é um comissário da UEB, que ele venha logo! – Rimos baixinho. Se ele dissesse isto para o Chefe ficaria no mínimo dois dias no xadrez.

                  Vinte minutos depois Mindinho chegou. – O Chefe disse que se quiser vá a casa dele. Micoçar sabe onde é. Micoçar era um charreteiro de aluguel. Naquela época as charretes faziam a festa na rodoviária e na estação ferroviária. Micoçar era o xodó das moçoilas, pois sempre tinha uma rosa para as que viajassem com ele na chegada ou na partida. Ele saiu com Micoçar sem despedir-se de ninguém. Ficamos sabendo depois que o Chefe João Soldado ficou uma “arara” com ele. Soubemos que o Comissário fazia exigências, falava alto, dizia que era Comissário e a UEB dera a ele plenos poderes. – Lá pelas seis e meia da tarde o Chefe João Soldado chegou com ele à sede. Já estávamos saindo quando ele nos chamou. – Patrulhas o Comissário quer fazer uma reunião para vocês. Quer demostrar como é uma reunião escoteira. Queria os escoteiros, mas estes só voltam amanhã do acampamento. Combinei com ele de vocês estarem aqui por volta das nove amanhã, domingo!

                  A reunião seria realizada no Campinho de futebol onde nos reuníamos. Ninguem gostou da ideia, mas ordens são ordens. Eu pensei que naquele domingo iria perder meu filme da matiné no Cine Pio XII. Buffalo Bill contra o Sioux Hunkpapa e na sequência Nyoka, a Rainha da Selva. Portando o uniforme não pagávamos ingressos. Ordem dada ordem cumprida. A reunião que ele planejou era uma correria de louco. Tais como as de hoje, mas naquela época era visto como um besteirol danado de ruim para seniores. Para dizer a verdade eu estava gostando. Tinha outros que não. O tal comissário bufava e corria para lá e para cá. Como apitava. Uma enorme audiência se formou. Ele dava palestra, jogos, corria saltava e resolveu fazer um comando Crow. Não sabia que éramos peritos na corda. Na primeira fila rindo a valer estava Micoçar com seu bigodinho a lá Charles Chaplin. Naquela época não éramos amigos. Ficamos depois da saga do Comissário Viajante. Foi então que o Comissário formou um circulo e ensinou-nos uma canção que mais tarde adorei, mas naquela época! Vixe, que vergonha. Era a Piaba. Tinha de rebolar, dar uma umbigada e dançar requebrando. Canção para outros não para os machões seniores como nós.

                        Fui obrigado a cantar e dançar. “Sai, sai, sai oh piaba saia da lagoa”! Quando alguém dava uma umbigada à turma da arquibancada rolava de rir. Na minha vez Micoçar começou a gritar: - Vai Telírio! Vai Telírio! Mostre seu requebro! Bem aquilo foi demais. Chamar-me de Telírio era briga na certa. Hoje não, mas naquela época os homossexuais da cidade eram considerados a escória e falar seus nomes era palavrão. Telírio era o mais conhecido. Eu vermelho de vergonha tentei dançar. Difícil requebrar. A turma da arquibancada gritando: - Vai Telírio, requebra e mostre que você é o maior dançarino da cidade! Desisti. Muitos outros também. O povo morrendo de rir. O chefão gritando: - voltem todos. Não dispensei ninguém! O comissário raivoso gritava possesso: - Nem cantar sabem? Que raios de seniores são vocês? Mocinhas lavadeiras do Rio Doce? Todos foram embora. Micoçar a gritar no meu ouvido me chamando de Telírio. Puxei a faca e disse que era a vez dele dançar. Dance se não vai sentir o sangue correr. A turma do deixa disso chegou.

                           O Comissário saiu com Micoçar e foi direto a casa do Chefe João Soldado. Esqueci-me de dizer ele era Terceiro Sargento da Policia Militar. Soube que ele de novo ameaçou fechar o grupo. Tanto falou que o Chefe João Soldado o pegou pela camisa e o arrastou a charrete de Micoçar dizendo: - Suma! Se aparecer na minha frente de novo quebro seus dentes e o coloco uma semana no xilindró. Micoçar se trazer ele aqui outra vez ajeito seu canto no xadrez! Dia seguinte quando o Chefe João Soldado nos contou toda a conversa eu quase morri de tanto rir. - Ora, ora, ele na minha cara disse que não tínhamos seniores. Tínhamos sim um bando de moleques indisciplinados (até certo ponto com razão). Exigiu que fizéssemos um Conselho de Tropa e destituísse ambos os Monitores. Disse que enquanto não fizermos tudo isto o grupo nunca seria registrado. Interessante é que nunca fomos registrados. Nosso grupo tinha mais de trinta anos de atividade e nunca fizemos registro. “Belle Époque”, outros tempos. Uma Segunda Classe suada. Primeira Classe? Não era para qualquer um.


                  E sabem o melhor? Eu e Micoçar anos depois nos tornamos grandes amigos. O tal Comissário alugou sua charrete por dois dias e não pagou. Foi embora e deu o cano. As patrulhas fizeram uma “vaquinha” e pagaram em suaves prestações. Sua charrete me levou a belos lugares por vales e rios desconhecidos. Charretes! Também foram engolidas pela modernidade; assim como o escotismo pelos novos tempos!

domingo, 24 de abril de 2016

O dia do Escoteiro. Um dia para lembrar...


O dia do Escoteiro.
Um dia para lembrar...

                  Dizem que são outros tempos, outras eras, alguns dizem que era no tempo das diligencias. Será? Como Lobinho nunca me disseram que o dia 23 de abril era o dia do Escoteiro. Acredito que o Akelá e o Balu não sabiam. Quando passei para Escoteiro lá por volta do final do ano de 1951, estava com onze anos e tinha um enorme orgulho de vestir meu uniforme Escoteiro. Lutei para conseguir. Presente mesmo só o chapéu que uma tia comprou em BH e me deu. Engraxei muito sapato para comprar o pano e minha mãe fez a calça e a camisa. Meu cinto comprei de Manuel Reco Reco, só me lembro do apelido. Ele desistiu. Filho do dono das casas Abil entrou, ficou quatro meses nem fez a promessa e se mandou. Paguei tostão por tostão. O meião foi fácil, na Livraria do Seu Toninho tinha material esportivo. Tinha um sapato Velho e resolvi comprar um “Vulcabrás”. “Deus meu” durou uma eternidade. O lenço e o anel o grupo deu.

                 Sei que devem estar perguntando – E daí? Bem era uma época que fazíamos questão de atravessar a cidade de norte a sul de leste a oeste com o uniforme. Na sede eu ia na minha bicicleta Philips, pneu balão, faixa branca que meu pai me presenteou. Vendeu uma sela (era seleiro) para um fazendeiro e sem dinheiro deu a bicicleta como caução e nunca mais apareceu. Era um orgulho sábado pela manhã lavar, passar cera, escovar e deixá-la brilhando. Viajei com ela milhares de quilômetros por muitos e muitos anos. Foi então que um dia o Chefe Jessé no cerimonial de bandeira disse que o dia 23 de abril dia de São Jorge era o dia dos escoteiros. Uma surpresa. Não sabia. Ninguém na patrulha e na Tropa sabia. Ele retirou do bolso uma comunicação da UEB dizendo para comemorarmos. Quem era essa tal de UEB eu desconhecia. Não tínhamos registro e nem nos preocupávamos com isto.

                     Um Conselho de Patrulha foi formado. Votamos para andar o dia inteiro com o uniforme marqueteando com vizinhos e indo a escola com ele. Foi uma festa. A meninada do Colégio Dom Bosco quando me viu (era o único Escoteiro do Colégio) foi àquela algazarra. O Padre Pedro me olhou de soslaio. Perguntou-me porque não estava com o uniforme do colégio. Expliquei. Levou-me até a secretaria para explicar ao Padre Jonas. Ele sorriu. – Pode deixar! Eu também fui por algum tempo Escoteiro na Holanda! Sorri, fiquei durinho e disse “Sempre Alerta Chefe” – Padre Pedro me corrigiu – Chefe não, Diretor! Não importava. Na sala os colegas davam risadas. Padre Jonas fez questão de ir comigo de sala em sala explicando o dia e porque estava de uniforme. Contou sobre os escoteiros holandeses, o que significava e quem foi o fundador. Eramos conhecidos na cidade, afinal o grupo foi fundado em 1942. Mas pouca gente sabia da lei da promessa e o que era o escotismo.

                     A maioria sabia dos nossos acampamentos afinal, além de atravessarmos a cidade por anos a fio indo acampar, havia a nossa carrocinha daquelas que zumbia e apitava nos eixos das rodas só para chamar atenção quando íamos acampar. Para mim foi um marco em minha vida escoteira. Valeu por tudo principalmente em saber que o Padre Jonas foi Escoteiro. O Chefe João Soldado nosso Chefe geral fez questão de convidá-lo para a diretoria. Aceitou mas não ficou muito tempo. Foi transferido para outro Colégio Marista em outra cidade. A data serviu para que todos os anos fizéssemos alguma atividade. Foi Tomaz quem sugeriu que neste dia as tardes déssemos flores as senhoras que passassem pela Praça Serra Lima. Difícil era arrumar as flores. Nunca mais esqueci este dia. Ficou gravado para sempre. Quando Chefe fazia questão de ouvir os escoteiros e os lobinhos para sugerirem uma solenidade qualquer. Usar só o lenço nem pensar. Todos faziam questão de calça curta acima do joelho, lenço bem passado, chapéu ou boné e estar presente na escola do seu coração.

                   Desculpem o relato, mas deitado em meu berço esplêndido, cansado de tanto dormir e tentar me recuperar lembrei-me de todos estes fatos. Não podia deixar de escrever e postar aos meus amigos. Outros tempos, outras eras, mas sem diligência, por favor. Ainda tínhamos charretes e bicicletas para nos transportar. Volto a minha insignificância de Chefe Dodói. Dói aqui dói ali dói acolá. Vamos ver se esta semana volto a escoteirar aqui com meus amigos, o único lugar que ainda posso lembrar, contar e pensar que escotismo é bom demais. Meu abraço fraterno a todos vocês. Boa noite!

Chefe Osvaldo.