Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O Contador de Histórias. 2017 deixarão saudades?


O Contador de Histórias.
2017 deixarão saudades?

               Hoje amanheci com a mente voltada no tempo e pensando se consegui neste ano ser um contador de historias... Disseram-me que para ser um tem que ter graciosidade, sofisticação, delicadeza, elegância e suavidade... Uma voz de anjo me sussurrou que para contar histórias eu devia primeiro aprender a ser um maravilhoso mágico encantador para chamar a atenção dos que gostam de ouvir histórias. Excepcional fantástico e surpreendente eu não sou. Tentei cativar e não sei se consegui. Como não sou sedutor, bonito e nem envolvente tive sim leitores amigos que um dia disseram que se emocionaram com minhas histórias... Será?

              Já contei histórias demais. De sonhos, de querer, de envolver e extasiar alguns que acabaram de nascer... Para minhas histórias! Contei uma que eu era um mágico e tinha o dom de semear a felicidade. Onde tocava minhas mãos faziam tornar realidade o sonho de cada um. Tentei com um navegante flutuar nas ondar do mar só para sentir as ondas da embarcação no meio do oceano. Alguns eu fiz sorrir, outros chorar... Fiz valer muitos sorrisos e até mesmo saudades de quem se foi para nunca mais voltar.

              Os poetas contadores de histórias dizem que tudo tem seu preço. Partimos em busca de sonhos tentando fazer deles uma vida real. Perguntei a uma Donzela amante de um príncipe quanto custa para ser feliz... Ela apenas sorriu sem ao menos me dar uma resposta. Volto meu pensamento para o que sou. Sempre a saga escoteira que me fez ser um pobre contador de histórias. Já contei quantas para você? – Eles os Badenianos do universo que Contam Histórias sabem deitar na relva, olhar o céu azul e a noite salpicada de estrelas. Eles dizem aleluia em um Fogo de Conselho. Contam suas paixões suas alegrias e suas vozes acompanham as chamas do fogo que folgadamente tentam chegar ao céu!

              Muitos companheiros uma noite em volta do fogo me disseram que adoram um Contador de Histórias. Dizem que ele é indispensável na vida do escoteiro nas noites de luar. Eu gosto de contar histórias, ver a fogueira alta e a história surgindo vendo os gestos da moçada com os olhos fixos tentando viver os personagens que vão aparecendo como se fossem vagalumes piscando seu colorido no escondido da floresta. Um poeta me contou que você é o piloto e a voz da história. É quem cria e conta mesmo para os que não estão presentes, pois os outros para eles irão contar.

              Shakespeare contou que sua consciência tem milhares de vozes. Cada uma delas traz milhares de histórias e sorri completando: Em cada história eu sou o vilão condenado! Eu humildemente renego para dizer que os poços da fantasia acabam sempre por secar o contador de Histórias, afinal cansado de escrever tentou escapar como podia e o resto... Ficou para o amanhã! Chefe! E o final?

             Pois é... Contar histórias? Não fiquei rico com elas. Nem um livro consegui fazer. Se vão ficar na saudade não sei. Não gostaria se ser lembrado como um Contador de Histórias que nem soube contar sua vida em pedaços. Ah! Meu caro Caio Fernando Abreu aprovo tudo que disse e peço mais: - São tudo histórias, menino escoteiro. A história que está sendo contada, cada um a transforma em outra, na história que quiser. Escolha, entre todas elas, aquela que seu coração mais gostar, e persiga-a até o fim do mundo. Mesmo que ninguém compreenda, como se fosse um combate. Um bom combate, o melhor de todos, o único que vale a pena. O resto é engano, meu jovem escoteiro, é perdição.

                       E o Chefe Zé das Quantas e o Escoteirinho de Brejo Seco lá na mata verdejante do interior, olha para o céu e emenda: - Chefe Contador de Histórias, tudo entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra. Minha história acabou um rato passou quem o pegar poderá sua pele aproveitar. E assim terminou a história...

Nota -  Eu gostaria mesmo de ser um Contador de Histórias para sair por aí semeando a felicidade. Eu sei que é um sonho louco e impossível. Muitas vezes nem mesmo sei se as minhas palavras atingem aqueles poucos pobres loucos que se arriscam a ler o que escrevi. E eu idiota confesso não desisto. Nunca desisti. Contra ou a favor procuro sempre ser um Contador de Histórias. Que bom seria se em todas as dificuldades eu fosse um mágico Contador de Histórias dizendo sempre: – “Viva a vida meu amigo, sorria”! E então as tristezas seriam guardadas para sempre na caverna da vida e assim todos nós viveríamos felizes para sempre!
Chefe Osvaldo


segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Histórias escoteiras. O assombroso Fantasma da sede do Grupo Escoteiro Tapajós. (baseado em um fato real)


Histórias escoteiras.
O assombroso Fantasma da sede do Grupo Escoteiro Tapajós.
(baseado em um fato real)

                    Podem crer, foram dois dias depois do natal que tudo aconteceu. Conheci um Chefe na Usiminas onde estava começando na usina e resolvemos montar um Grupo Escoteiro. Escolhemos Melo Viana um distrito de Coronel Fabriciano em Minas Gerais e para lá nos mudamos de mala e cuia deixando os belos alojamentos da Usina cheios de belas pulgas e percevejos. Eu um Chefe Escoteiro de Governador Valadares e o Carlos de Juiz de Fora entendido em lobos tínhamos tudo para criar do nada um sonho que todo Chefe tem um dia e poucos conseguem realizar.

                    Ficamos alguns meses em uma pensão e depois alugamos uma casa pequena onde mais um Chefe apareceu. Odair, Assistente de Tropa advindo de Muriaé. A prefeitura de Cel. Fabriciano nos cedeu uma antiga Escola com três salas que dava perfeitamente para cada sessão e ainda sobrava. Foi assim que surgiu o Grupo Escoteiro Tapajós que existe até hoje. Tivemos no Distrito de Melo Viana um apoio fantástico a contar do padre da igreja local. Em pouco tempo já tínhamos 12 chefes sendo cinco com o CAB Escoteiro e Lobinho.

                Seis meses se passaram e por uma fatalidade o Chefe Odair de Muriaé faleceu. Uma epopeia levar o falecido até Muriaé para ser sepultado. Ficamos tristes por perder um ótimo e fiel amigo. Nossa sede dava fundos para o Cemitério do Distrito de Melo Viana. Os três barracões eram divididos entre as sessões. Um para os lobinhos, um para a tropa e outro para a diretoria e almoxarifado.

                Duas semanas do passamento do Odair o Zé Pontes da diretoria me procurou para avisar que os vizinhos reclamavam de uma algazarra que acontecia em uma das salas da sede após a meia noite dos sábados. Chefe tocam corneta, bumbos, tambores e tarois. Pensei comigo. Só quatro de nós tinham as chaves. Quem seria? – Melhor ir lá para ver. Ir sozinho? Sei que era um escoteiro durão, mas nunca me dei bem com fantasma. Para ir lá tinha de contornar todo o cemitério cujas catacumbas e os túmulos de terra ficavam bem a mostra depois da cerca de arame farpado. Entrar na sede a meia noite? E se fosse verdade? Nem pensar. Vamos em dois. Dos chefes ninguém topou. O Carlos disse: Vado morro de medo de fantasmas!

                  Passou um mês. A Banda continuava tocando a meia noite nos sábados. Escoteiros e lobinhos evitando entrar na sede mesmo durante o dia. Os “Fantasmas da sede” estavam tomando proporções tal que vimos o números de jovens diminuírem. Precisamos desmascarar os tais fantasma. Segunda armado de um bastão com ponteira de aço e duas lanternas esperei dar onze quarenta e cinco da noite e tremendo fui para lá. Deus! Como tremia. O medo era borrar as calças. Ao passar pelo cemitério parecia que estava vendo em cada tumulo uma caveira se levantando. Fechava os olhos abria e elas desapareciam. O que o medo pode fazer não?

                   Onze e cinquenta e cinco. Um silêncio de morte. Juntei todas as minhas forças meti a chave na fechadura e entrei. E o pior me senti uma “besta quadrada”, pois me tranquei por dentro. Porque fiz isto? Não sei. Sentei em uma cadeira em volta de uma escrivania. O silencio era total. Já estava respirando melhor. Acho que não tinha nada. O povo inventa! Sorri pensando como o povo pode inventar! Deus! Foi então que vi uma corneta levantada no ar! Ninguém segurava! Um clarim esguichou no meu ouvido! Dei um berro que acordaria toda vizinhança. Larguei a lanterna e corri para a porta. Não abria. Onde estava a chave? Perdi. Um Bombo um tambor e duas cornetas tocavam sem parar fazendo uma barulheira infernal.

                   Eu gritava e berrava como um louco. Consegui abrir a porta. Sai correndo em desabalada carreira. As calças toda molhada e borrada. Fui direto ao Pároco. Ele dormia. O acordei. – O Senhor vai comigo – Chefe Osvaldo é impressão sua. – Vamos lá, não é o homem de Deus? – Precisa benzer a sede. Lá fomos eu e ele. Vi que ele sorria, queria mostrar uma força que não tinha. Entramos, silencio. Ele me olhou – Tá vendo? Não tem nada. Uma corneta berrou alto no seu ouvido. – Ele gritou – Louvado seja meu Senhor Jesus Cristo. Me socorre!  Nem me olhou sumiu na porta na minha frente.

                No sábado seguinte ele oito vicentinos, cinco filhas de Maria (o que elas iriam fazer lá?) foram a meia noite na sede dizendo que iriam exorcizar. Rezaram, cantaram e foram embora. Acho que deu certo. Os barulhos sumiram. Joguei fora a calça que usei naquele dia. Não dava nem para lavar. Até hoje não sei se foi o espírito do Odair. Ele nunca me disse nada. Uma semana depois fui pegar um guarda chuva em cima do guarda roupa na casa que morávamos. Chovia a cântaros. Trovejava. Relâmpagos no céu. Chefe Carlos trabalhando de zero hora. (turnos alternados). Estava sozinho em casa. Subi em uma cadeira. Meu Deus! A dentadura do Odair aberta como se estivesse rindo para mim! (ele tinha dentadura). Cai da cadeira estatelado no chão.

               Sai correndo e só parei no bar do Zaqueu. Melhor ficar ali até as madrugadas tomando umas e outra. Voltar para a casa? Vai ser difícil. Nunca mais ninguém reclamou da barulheira da banda. Tudo voltou ao normal. Os meninos que saíram voltaram. O tempo passou. A Usina me mandou embora. Ainda bem que a pedido do Padre Lara hoje Bispo montamos uma tropa na Igreja em Cel. Fabriciano. Saudades de Dom Lara, grande Chefe, sempre apoiando e sei que apoia até hoje.

               Um dia desses pensei em visitar o Tapajós em Fabriciano. Afinal saí de lá em 1965. Tempo demais. Não esqueço a canção do Grupo que eu e o Carlos fizemos: ¶ Eu sou um grande escoteiro, ouçam bem a minha voz... Vivo alerta o dia inteiro! Pois pertenço ao Tapajós! – £ Sinais de pista, eu dou escola, sou um artista em dar nós, sou sinaleiro a toda hora! Pois pertenço ao Tapajós! - Saudades muitas saudades...

Afinal são histórias. Acreditem se quiserem. Ainda guardo lembranças do Carlos do Odair de Don Lara, do Pontes, do Nogueira e de tantos outros. Valeu uma época. Valeu uma vida!


Nota - Todos nós temos uma história de fantasma para contar. Eu tenho muitas todas tirada da minha imaginação. Mas esta tem tudo para ser real. E foi mesmo. Não acreditam? Pena, o Carlos morreu. O padre também. Zé Pontes se estiver vivo tem mais de cem anos. Sobrou quem? Eu, pois o Padre Lara nunca soube de nada. Mas olhem não fico triste por não acreditarem. Pena que não guardei minhas calças borradas para provar! Kkkkkk.   

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Sintomas psicóticos e psicológicos do Escotismo Brasileiro.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Sintomas psicóticos e psicológicos do Escotismo Brasileiro.

                  Ops! Onde estou me metendo? Mal fiz umas séries na escolinha do Doutor Raimundo quando menino e agora já sou doutor? Necas! Não sou mesmo. Claro que sei que a psicologia é a ciência que se dedica aos processos mentais e comportamentais do ser humano. Mas só. Não entendo mais que isto, pois sou um Velho Chefe Escoteiro um matuto que saiu da roça e anda coçando a cabeça com o escotismo moderno que os “çabios” estão implantando hoje.

                 Outro dia fiquei pensando se um dia se formasse uma patrulha composta de Sigmund Freud, Platão, Aristóteles, John Dewey, Émile Durkheim, Immanuel Kant e quem sabe também Baden-Powell, pois ele é considerado um dos maiores pensadores da humanidade. Como seria esta patrulha? Bom eis que eles se reúnem, vão decidir o nome da patrulha, o grito, o lema, e claro escolher votando o líder. O Monitor. Como seria? Será que eles se entenderiam? Será que eles fariam um time para ninguém botar defeito?

                        Daria tudo para ver e ouvir. Tanto se fala em fraternidade, irmandade, sorrisos, respeito, apertos de mãos verdadeiros que não entendo porque ainda não temos o maior movimento fraterno do mundo. Ou será que temos? Trocar ideias hoje quase não existe mais. A nossa estrutura é mais moderna, não precisa ouvir o que os jovens ou mesmo os adultos pensam, não precisa consultá-los, pois os adultos líderes pensam por eles e sabem o que eles querem assim como os chefes dizem dos seus escoteiros. “Eu sei o que eles querem”. É bonito isto?

                   – Chefe! Não é verdade! – Não mesmo meu amigo? Diga-me quando você mesmo sendo adulto foi consultado, soube de uma pesquisa ampla geral e irrestrita realizada pelos nossos lideres nacionais e regionais? Afinal temos um sistema representativo estatutário que poucos têm o direito de votar. Votar eu disse, pois as decisões são tomadas por meia dúzia sem consultar a ninguém. É como o imperador ou o rei que ao escrever suas vontades só disse o seguinte: - Cumpra-se e quem discordar jogue-o na Comissão de Ética ou diga a ele que peça para sair.

                      Quanto à patrulha que sonhei dos grandes pedagogos, psicólogos e pensadores, humildemente sem comparação me lembrei do meu primeiro curso da Insígnia da Madeira lá pelos idos da década de sessenta. Feito na selva, aprender a fazer fazendo. Oito adultos de diversas camadas sociais. Eu meninote dos meus vinte e poucos anos. Dez dias de curso tentando entender a psique de seus novos amigos.

                     Primeiro e segundo dia, sorrisos, abraços e deixa que eu faça para você! Terceiro e quarto dia: - Quem é este cara? Só quer aproveitar... Não faz nada, um coça saco de primeira! – Quinto e sexto dia – Acho que vou desistir. Estou me matando e ainda bem que fiz dois amigos (eram oito). Sétimo e oitavo dia – Que tal um conselho de patrulha para nos entendermos? Novo e último dia. Lágrimas por saber que íamos nos separar. Promessas, agora amigos para sempre. Sei que amei o curso, pena que os que continuaram no escotismo e eram poucos estão agora morando nas estrelas ou como dizem por aí, no Grande Acampamento (Arre! Vou passar longe!) kkkkkk.

                        Mas voltando aos sintomas psicóticos e psicológicos do escotismo moderno, eu adquiri uma pequena experiência. Pequena mesmo. Afinal foram somente 70 anos (em abril próximo) labutando aqui e ali, ouvindo, sugerindo e vendo que os acertos foram menores que os erros. Aprendi que no escotismo vale mesmo o exemplo. Os lideres da UEB dão um belo exemplo aos seus pseudo comandados. Não vamos generalizar, mas as maiorias dos grupos são pequenos feudos onde um ou dois dita às normas que dizem ser da UEB. Quando são mais amenos e democráticos apoquentam os que chegam ou os que estão tentando ajudar fazendo criticas e nem sempre ditas diretamente ao interessado.

                      Já vi e alguns me disseram que existem Grupos Escoteiros que parecem comadres a falarem da vida dos outros. Mas tem outros onde a fraternidade existe para ser celebrada com palmas e palmas Escoteiras. Ah! Formar jovens é de mentirinha? Que adianta fazer tudo sem dar um bom exemplo para eles? Tem Regiões onde os lideres se aproximam e tentam ajudar nas mais diversas dificuldades locais, mas tem outras que estão cheias de arrogantes, cheios de si, se dando uma importância que a gente fica pensando: - E se ele tivesse um salário? Claro que iria gritar para os chefes: Sabem com quem está falando?

                 - Outro dia entrei em meditação profunda. Utilizei a técnica da meditação transcendental que Maharish Mahesh Yogi faz e que envolve o uso mental de sons específicos chamados “mantras”. Tentei minha corneta, mas não deu certo. Eu tinha um Chifre do Kudu e não deu resultados. Meu bumbo falhou psicologicamente. Depois fui ver realmente o que seria mantra: - É um hino do hinduísmo e budismo, dito de forma repetida para relaxar e induzir a um estado de meditação, que se canta ou escuta. Corri até minha vitrola e coloquei o Rataplã. Valeu, meditei bastante e acordei da meditação com um sorriso e pronto a abraçar o mundo escoteiro.

                           Agora podia ver melhor a patrulha dos grandes pensadores, psicólogos, pedagogos e afins. Baden-Powell não seria eleito monitor. Afinal é um militar e poderia fazer uma revolução ou uma ditadura escoteira. A turma da UEB detesta isto. Militarismo never!  E quem seria? Não sei. Acho que B-P seria no máximo um intendente. Ele militar devia conhecer bem isto nas casernas e guerras que participou. Sigmund Freud seria o sub. Tem cara de sub, Platão seria o monitor? Ou seria Aristóteles? Melhor parar por aqui. É duro formar uma patrulha. É duro formar uma equipe de chefes que se entenda por anos e anos. Mas veja bem, isto tudo faz parte da humanidade, muitos sem perceber ainda utilizam a velha máxima: - Um por todos e todos por mim! Risos.


                  E assim, as nuvens no céu vão passando, os ventos vão levando nossas esperanças, e quem sabe irão surgir novas flores no campo onde os escoteiros bons e cheios de amor acampam. Pois é a esperança é sempre uma dúvida, a Fé é uma convicção e o Amor uma certeza. Teremos isto em meta? Chega por hoje. “Afinal vivemos numa ilha chamada tristeza, rodeada pelo mar da saudade, aguardando um barco chamado esperança para nos conduzir à terra da fantasia”. E que venha 2018! Afinal seria o ano para escoteirar? Feliz Natal a todos!

Nota - Como disse Mário Quintana, essas duas tresloucadas, a Saudade e a Esperança, vivem ambas na casa do Presente, quando deviam estar, é lógico, uma na casa do Passado e a outra na do Futuro. Quanto ao Presente - ah! -, esse nunca está em casa. E viva o escotismo moderno! Bem vindo a uma das minhas chatices que nada entendo e me meto onde não devia! Risos. Feliz Natal!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Memórias de uma patrulha.

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Memórias de uma patrulha.

Nonô.
- Sentado no banco embaixo do toldo na área de refeições, olhava com carinho seu campo de Patrulha. Ele sabia que ali era a extensão de sua casa e tinha a obrigação de dar todo o conforto para viverem no acampamento sem ostentação. Como Monitor sabia que tudo ali fora um trabalho de equipe, onde cada um deu seu aval e agora poderiam viver por três dias com se estivem em casa. Cada um mereceu pelo trabalho que fez. Ele se orgulhava da Patrulha Tigre. Sabia que mais seis meses iria para Sênior, deixaria muitos amigos, mas ele havia os preparado para fazer a patrulha andar mesmo sem ele. Viu ao longe Marcus pescando no lago. Sabia que boa coisa iria acontecer.

Marcus.
- Ele gostava de pescar. Aprendeu com seu pai e na Patrulha todos sabiam que ele iria trazer sempre um pescado para as refeições. Escolheu um bom lugar em volta do lago e sabia que pelo menos alguns lambaris e quem sabe uma traíra eles iriam ter nas próximas refeições feita por Josiel. Ele ajudou a fazer as duas fossas e deu uma mãozinha para levar até a arena da bandeira um tronco já seco que encontram na mata. Deu para montar um excelente mastro onde iria balançar no alto a do Brasil, a do Estado e a do Grupo. Ele estava na Patrulha há dois anos. Ficou amigo de todos e sempre estavam juntos mesmo quando não estavam escoteirando. Afinal era o Bombeiro e lenhador e porque não o pescador?

Josiel.
- Olhou seu fogão com carinho. Quantos caíram quando estava cozinhando? Sorria ao lembrar. Era como o Chefe dizia: - Tem de errar para aprender. Um pequeno fogo para o barro secar. Assim ficaria mais firme para fazer o jantar. Duas bolsas de lonas cheias de água estavam penduradas no porta-treco. A lenha já havia sido colhida e guardada. Algumas achas embaixo do fogão. As demais em local próprio onde era o lenheiro. Mesmo com os olhos marejados pela fumaça ele sorria. Gostava de ser o cozinheiro da Patrulha. Até o Monitor tinha respeito por ele. Lembrou o dia que Tomé o intendente disse que ele era o mais importante na Patrulha.

Tomé.
Quando entrou era o Bombeiro/lenhador. Sempre foi obediente e disciplinado. Gostava da Patrulha, pois eram uma equipe onde todos dividiam as tarefas. Quando Nonato foi para os seniores ele pediu para ser o Intendente. Ele sabia que era uma grande responsabilidade. Cuidar da tralha, do material de sapa e das barracas era uma função para poucos. Mas ele sabia que daria conta do recado. Mesmo no acampamento ele não tirava os olhos dos demais quando utilizavam alguma ferramenta na intendência. Sabiam todos que ele tinha de prestar contas ao Monitor no final do acampamento. Nada poderia faltar. Lembrou-se de Josué o Bombeiro Lenhador novado que deixou um facão fora do campo. Riu do fato ao lembrar.

Josué.
- Não era um noviço. Já tinha um ano e meio de Patrulha. Diziam que ele ainda era um pata-tenra. Passou para os escoteiros e se orgulhava de ter sido um Lobinho cruzeiro do sul. No início todos se preocuparam e ficavam do seu lado em todas as atividades que faziam. Ele sabia que ainda não era um veterano como os demais, mas iria chegar lá. Nunca reclamou de sua função. Conhecia a lenha boa para o fogo, sabia que quando molhada o interior estava seco. Nunca se perdeu ao ascender o fogo e sabia com perfeição manter a água colhida sem perigo de insetos. Gostava de ser almoxarife e ajudante do cozinheiro. Fez uma grande amizade com Totonho o Sub Monitor. Chegou mesmo a sonhar em substitui-lo quando Nonô fosse para os Seniores. O tempo iria ajudar.

Totonho.
- Nunca reclamou na Patrulha. Quando foi escolhido por Nonô para ser o seu sub pensou se daria conta do recado. Não foi difícil. A Patrulha era unida e Nonô fazia questão da fraternidade e união. Sorria ao pensar que aprendeu a fazer grandes pioneirías. Não foi fácil. Quando construiu a ponte Pênsil pensou que não ia dar certo, mas deu. O Ninho dos Falcões foi outra aventura bem maior que o Ninho de Águia. Tinha um amigo que o ajudava em tudo mesmo sendo o Escriba. Noel sempre fora o intelectual da Patrulha.

Noel.
- Nunca foi esnobe com seus companheiros. Quando nasceu diziam que com um ano já lia livros que assustavam sua mãe e seu pai. Superdotado? Assim falavam sobre ele. Escrevia, contava histórias de grandes homens do Brasil e do mundo. Quando começou no escotismo como lobo se sentiu meio por fora. Sabia muito para sua idade e nem sempre foi bem entendido pelos chefes da Jângal.  Queria “tirar” o Lis de Ouro, mas só Nonô tinha conseguido. Tinha receio que os demais o olhassem diferente e pensassem que ele queria ser o melhor de todos. Sempre se aconselhava com o Chefe Falcão. Tinha por ele o maior respeito.

Chefe Falcão.
- Nunca foi escoteiro. Era um dos seus arrependimentos e logo que surgiu oportunidade entrou para os escoteiros e nunca se arrependeu. Aprendeu fazendo e errando conforme o método bipidiano. Amava sua tropa. Não havia escoteiros especiais para ser protegido. Todos para ele eram iguais. Nunca dizia meu escoteiro, meu Monitor meu cozinheiro. Nos seus oito anos de tropa aprendeu com muitos monitores como agir e como tratar a cada um. Quando recebeu a IM prometeu dar mais do que sabia aos seus jovens. – Diziam que ele sempre foi o mesmo Chefe tendo a IM. Nunca aceitou convites a não ser para colaborar com um ou outro Chefe escoteiro.


Apenas uma apresentação da Patrulha Tigre e seus escoteiros. Ate mais.

nota - Memorias de uma Patrulha são lembranças de patrulheiros que tiveram orgulho nas suas funções e a desempenharam com alegria. Eles sabiam que cada um dependia do outro para que tudo corresse bem no campo de Patrulha. Se você meu amigo ou minha amiga passou por esta fase no escotismo sabe que as lembranças ficam marcadas para sempre. 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Crônica de um Velho Chefe Escoteiro. A Corte de Honra.


Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
A Corte de Honra.

             Era meu antigo Chefe. Convidou-me para ir com ele ao Campo Escola aonde iria se encontrar com um amigo e dar uma carona em seu retorno. Eu gostava de ir lá, o verde completava as diversas cores diante dos olhos e ofuscava a quem vivia na cidade de pedra. Era como se fossemos transportados do nada para um paraíso, já que não fazíamos parte da coreografia estática, mas que se movimentava em plena natureza com a brisa gostosa de um final de janeiro e dava um sabor todo especial aquele bosque e a floresta que se avistava ao longe.        

             Sempre que estive lá eu me transformava. Era como se meu espírito fosse transportado para um éden feito de jardins e flores. Era gostoso mudar de ar, sentir a brisa da floresta o silencio reinante dentro daquela cidade de pedra. Ali me sentia realizado. De tudo daquela floresta no campo escola se mantinha viva a natureza, que era preservada, apesar de algumas construções de pedra e tijolos destoarem do local. Tudo ali tinha o sabor doce e suave da elevação do espírito no mais alto grau que ele pudesse alcançar naquele momento mágico.

            O meu Chefe me convenceu a ir lá. Ele também como eu, gostava do local e quem sabe, encontraria outros amigos para uma conversa amena. Chegamos cedo e o Curso ainda não havia encerrado. Estava atrasado em “algumas horas”. Um dos membros da equipe veio ao nosso encontro, e saudou o meu chefe convidando-o a conhecer os demais na Sala da equipe. Ao passar pelos alunos cursantes, sem chamar a atenção, ele perguntou se podia ficar ali alguns instantes, ouvindo o que era transmitido a todos pôr um DCIM, que ele conhecia bem. Sentou-se em um banco de madeira, um pouco afastado. Sentia-se em casa. Outros da equipe se juntarem a ele.

            O tema da palestra era interessante. Corte de Honra. A sessão devia ter começado há pouco tempo e o Adestrador tentava a sua maneira, explicar como funciona e como deve ser a participação dos Monitores. Tentava mostrar que ela não era uma Reunião de Monitores e nem parecida com a reunião de Patrulha. – Corte de Honra, - dizia - é um órgão que se reúne ordinariamente ou extraordinariamente quando se faz necessário. Não vou entrar em detalhes sobre datas, participantes ou mesmo responsabilidades. Isto vocês poderão ver na literatura especifica. - Ela existe para dar uma dimensão da democracia, direitos e deveres do cidadão, responsabilidade e julgar de maneira clara temas que poderão ser do interesse da Tropa ou mesmo, quando a tropa se sentir prejudicada. Ela existe para tomar decisões sabiamente. Isto para o jovem irá servir como exemplo quando adulto.

            A palestra continuou na parte que eu julgava mais importante. Durante uns dez minutos, foi explicado suas finalidades, duração, como seria a presença do chefe. Foi uma palestra interessante, e ao seu final, o meu chefe fez questão de ir cumprimentar o DCIM, apesar dos dois não terem um relacionamento formal, pois praticamente não se conheciam.

            No retorno, não conversamos sobre o assunto. Isto poderia influir no jovem Escotista que estava conosco e havia participado do curso. Quando o levei até sua residência, também ele nada comentou. Como estava com pressa, deixei para outra ocasião e quem sabe, qualquer dias deste ele pudesse complementar o que para mim era obvio, pois participava sempre da Corte de Honra da tropa em que colaborava e achava que não tinha nenhuma dúvida sobre ela.

            Em um dia de reunião de Tropa, eu estava na sala da chefia, tentando rascunhar um programa fornecido pelas monitoras, de uma atividade noturna a pedido de uma das chefes da Tropa Feminina e aceitei. Gosto de ajudar. Foi então que ouvi conversas na sala ao lado, e notei que Três Monitoras, acompanhadas de suas submonitoras e duas chefes, estavam em reunião de Corte de Honra, e que pelo visto, deveria ser extraordinária. Senti-me deslocado, mas minha saída abruta iria prejudicar o andamento e a curiosidade me fez continuar onde estava.

            A informalidade das moças mostrava que a Corte teria um final previsível. Pela maneira como a Presidente conduzia, era notório que os assuntos tinham sido discutido em Patrulhas e às decisões seriam acatadas de maneira satisfatória. Um deles, porém, levou mais tempo do que o necessário e somente naquele caso houve intervenção da chefia. Algumas monitoras solicitaram que fosse aprovado a participação dos monitores da Tropa masculina na atividade noturna do próximo sábado. Uma das monitoras se mostrou contra assim como outras duas submonitoras. Cada uma apresentou sua versão e mesmo assim, houve um empate técnico. Durante todo o tempo às chefes não falaram.

            A presidente pediu a opinião das chefes e elas foram contrárias. Sem desmerecer a idéia, ela comentou do interesse de uma das monitoras em namorar um dos monitores e isto foi que forçou a aceitação da maioria. Como era uma atividade específica da Tropa feminina, não haveria como aceitar a participação dos monitores, pois não havia nenhuma finalidade que pudesse explicar tal solicitação. Afinal, o que eles poderiam colaborar num programa já feito, somente para moças? - Claro que teriam a participação de elementos masculinos, mas isto para segurança e que tinha sido determinado pelo Chefe do Grupo. Iriam dois pais e um Assistente Sênior.

           Aceitar a participação dos monitores seria um contra-senso. Não ouve unanimidade, e nesta hora prevaleceu à decisão da Chefe. Foi servido um suco com biscoitos, conversaram mais um pouco sobre repetir ou não alguns jogos e a reunião foi encerrada com a assinatura de todos os presentes, isto é claro, após ter sido lida a ata e aprovada, para satisfação da escriba da Corte de Honra.


            Terminei minha tarefa, e após entregá-lo a Chefe, fui embora para casa, pensando nas vantagens da Corte de Honra e de sua validade no Adestramento como forma de cidadania.

nota: - Corte de honra. Formal ou informal? Alguns dizem que todos devem se portar como em uma Corte, com respeito, sem falar alto ou mesmo com gírias e outras maneiras da juventude hoje. Outros dizem que a informalidade faz parte da camaradagem, da fraternidade sem faltar com o respeito devido. Acho que em ambos os casos tem certa razão. Se a Corte de Honra funciona bem se os monitores e subs convidados se sentem bem, não há o que discutir. E você? Se é Chefe escoteiro como é sua Corte de Honra? 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Lembranças gostosas demais. Luar do sertão.


Lembranças gostosas demais.
Luar do sertão.

                Era uma casinha pequena, pintada de branco, cheia de flores em volta. Cercada por centenas de árvores não muito altas. Buriti, Jatobá, Pequi, Pau Terra, Tingui e tantas outras. Terra de cerrado. Ela tinha dois quartos. Eu e Célia em um e os quatro meninos em outro. Uma salinha de nadinha com uma poltrona, uma cômoda com um pequeno rádio a pilha e mais nada. Uma cozinha estreita. Eu mesmo com a ajuda do Mané Vaqueiro e Antonio Tratorista construí um puxadinho atrás. Um fogão de barro, um forno de barro de onde saia gostosuras de bolos, biscoitos deliciosos e assados. Era de piso de terra batida e bancos toscos. Na frente da casa uma diminuta varanda. Uma cadeira de balanço e dois bancos de madeira.

                Muitos jarros de plantas e centenas de bromélias, rosas brancas e vermelhas e outras que faziam um jardim florido em volta exalando um perfume inesquecível. Célia gostava. Ao lado, uns quarenta passos ela fez uma horta. Tomates, couve, repolho, pés de mandioca, cebolinha, batata doce, alface, pés de mamão, goiaba, taioba (adoro) e muito mais. Nos fundos há uns oitenta metros um chiqueirinho. Sempre com dois ou três capados no ponto. Mais a frente o galinheiro. Como tinha galinhas nossa senhora! Celia colhia tranquilamente uma a duas dúzias de ovos por dia. Franguinho a molho pardo uma vez por semana. Amigos da cidade adoravam quando aparecíamos com cestas enormes de verdura e ovos.

                  Como a gente era feliz. Sem preocupações das grandes cidades. Durante o dia o passear dos avestruzes, das galinhas d’angola, um ou outro veadinho que passava correndo, passarinhada que escureciam o céu fazendo um espetáculo fantástico. Na época certa as cigarras faziam a festa. À noite então! Coisa linda! Quando se aninhavam em frente a minha casa os vagalumes aos milhares eu apagava a luz. (Luz de gerador ligado só à noite). Não precisava, pois eles os vagalumes davam conta. Um espetáculo digno de se ver.

                No porto da fazenda um belo barco a motor. O Rio das Velhas ficava próximo ao grotão onde uma pequena cachoeira embelezava o rio cheio de esplendor. Na piracema todos ficavam boquiabertos com os pulos dos peixes querendo subir a corredeira. Descendo uns três quilômetros o Rio abraçava o Velho Chico. O Rio São Francisco. Gente, minha mente mexe comigo ao lembrar. – Célia quer comer um peixe? – Marido traga um pequeno, não tem mais lugar na geladeira. Geladeira movida a gás. Sempre cheia, carne de porco de vaca, de frango até de tatu e capivara. Meu cavalo sempre arriado. Sem pestanejar eu saia para pescar e trazia um dourado ou um pintado. Coisa de trinta minutos. Conversa de pescador? O Escoteiro tem uma só palavra!

                  Milhares de cabeça de gado. Quase dez mil. Cria recria e engorda. De manhã correr as curralamas para anotar os novos bezerrinhos que chegavam ao mundo e depois ir vaquejar nas largas e a tarde tratorar um pouco nos piquetes da curralama. Leite à vontade, de graça aos que espichassem uma viagem até um dos currais. Célia adorava. Queijo, requeijão doces, manteiga, bolos e tantas guloseimas que é melhor nem lembrar. Dormia-se de janela aberta, o som de um veículo era considerado intruso na área. Agua à vontade, até uma pequena piscina nós fizemos para a filharada. Hoje quando meus filhos me visitam e lembram-se dos tempos na fazenda à gente vê nos seus olhos algumas lágrimas de saudade de um tempo que ficou marcado neles. A cidade de Pirapora ficava a menos de vinte quilômetros.

                         Vovó Lavínia era uma grande amiga. Tinha o apelido de Vovó, mas era pouco mais velha que eu. Era uma Akelá de um grupo Escoteiro da Capital. Nunca se esqueceu da gente. Foi fazer uma visita de uma semana. Ficou lá duas. Só foi embora porque o colégio que ela lecionava mandou um telegrama raivoso. Risos. Não sabia que ela conversava com a natureza. Vi com estes olhos que a terra há de comer que a vi uma tarde acariciando o pêlo de um pequeno veadinho. Selvagem é arisco que só vendo. Eu a vi várias vezes conversando com os avestruzes que lá faziam sua morada. E olhe que eles eram também ariscos.

                    Deixar alguém tocá-los? Nem pensar, mas ela tocava. Eu na verdade nunca tinha visto ninguém fazer isto, mas Vovó Lavínia tinha lá seu encantamento. Levei o maior susto quando vi uma cobra enorme que não identifiquei atrás dela. Gritei para ela correr, ela parou olhou para a cobra que se enrolou toda. Vai dar o bote pensei. Impossível, Vovó Lavínia agachou olhando e sorrindo para o réptil e parecia falar ou sussurrar para a cobra. Instantes depois a cobra sumiu no meio do mato e foi embora. Desculpem é verdade.

                 Uma noite sentados na varanda, filharada dormindo ela pôs os dedos na boca e pediu que eu e a Celia fizéssemos silêncio. – Escutem falou baixinho! As estrelas estão cantando no céu! Gente, na fazenda havia o mais belo céu que tinha visto em minha vida. E olhe que estive em milhares de lugares por este mundão de Deus. Não precisava contar, eu sabia que tinha bilhões e bilhões de estrelas no céu. Uma via láctea que marcava qualquer um. Fizemos silêncio. Olhávamos para o céu. Ouvimos um som calmo e refrescante como a brisa da madrugada. Se foi o cantar das estrelas não sei, mas o som, as estrelas brilhantes, o vento calmo e ali ou acolá um vagalume tornaram aquela e outras noites parte de minhas lembranças nunca mais esquecidas, parte da minha vida. 


                 Quando ela foi embora sentimos uma tristeza enorme. Um vazio grande. Tentei várias vezes ouvir as estrelas cantarem. Nunca mais. Acho que preciso de mais tempo nesta e em outra vida para poder ouvir o cantar das estrelas. É eu era mesmo feliz e não sabia. Daria tudo para voltar no tempo. Mas o tempo não para. Dele só fica as lembranças, gostosas, incrivelmente belas para que possamos continuar a labuta nesta vida.

nota - Uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela e murmurando baixinho: "Que Saudade". Lembranças, belas lembranças quando gerenciei uma Fazenda no Norte de Minas. Inesquecível, até hoje sinto falta daqueles tempos... Daqueles momentos!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

AMBIÇÃO Por Baden-Powell. A ambição de fazer o bem é a única que vale.


AMBIÇÃO
Por Baden-Powell.
A ambição de fazer o bem é a única que vale.

Saindo um pouco da minha rotina de histórias eis-me aqui para postar um pequeno artigo escrito por Baden-Powell que vale para todos que praticam o escotismo. Que tenham um ótimo dia e uma vida escoteira cheia de amor paz e alegria fraterna.

AMIZADE.
A amizade é como um boomerang; tu dás a tua amizade a um dos teus companheiros, e depois a outro e a outro ainda, e eles retribuem-te com a sua amizade. Assim, a tua amizade e boa vontade iniciais vão-te fortalecendo à medida que vão sendo transmitidas aos outros, e acabam por regressar a ti, em retribuição, tal como o boomerang regressa à mão de quem o lança.

Se não tiveres medo das pessoas que encontras nem sentires antipatia por elas, também elas, da mesma maneira, não te recearão nem desconfiarão de ti e terão tendência para gostar de ti e serem tuas amigas.

AMOR VS. MEDO OU ÓDIO:
A liberdade acompanhada pelo amor opera maravilhas. Pense bem nisto.
A educação pelo medo e pela repressão tem sido uma prática demasiado frequente, e tem destroçado muitas e muitas vidas. Um pai perguntou-me recentemente como é que poderia corrigir o seu filho do hábito de mentir; estava farto de lhe bater até ficar cansado, mas sem resultado. A minha resposta foi: “Era melhor que batesse em si mesmo por ter feito dele um mentiroso”. É o medo que desencadeia o hábito de mentir. A educação está a encorajar o rapaz a exprimir-se o melhor possível e com a maior honestidade, no seu trabalho como nas suas palavras, e não em reprimi-lo e «discipliná-lo”.

“O receio do pai não implica necessariamente o respeito por ele”.
“É a vara que muitas vezes faz o covarde e o mentiroso”.
Buda disse “Só há uma maneira de expulsar o Ódio do Mundo, e essa maneira é incutir nele o Amor”. Temos diante de nós a oportunidade para, em vez do egoísmo e da hostilidade, inculcarmos paz e boa vontade no espírito das gerações vindouras.

Baden-Powell of Gilwell. 

sábado, 25 de novembro de 2017

Contos de Fogo de Conselho. A origem de Donald e seus sobrinhos Escoteiros


Contos de Fogo de Conselho.
A origem de Donald e seus sobrinhos Escoteiros.

Huguinho, Zezinho e Luisinho.

                        Certo dia, Donald ao chegar a casa encontrou três simpáticos patinhos que traziam uma carta. Na carta, a prima Anita pedia que Donald lhe cuidasse dos "três anjinhos" por algum tempo. Logo de cara, os "três anjinhos" deram-lhe de presente, uma caixa de bombons recheados de pimenta, fizeram mil gracinhas que quase deixaram o Donald maluco. Era o tipo de enredo das colunas publicadas em 1937 nos Estados Unidos, quando os sobrinhos de Donald apareceram pela primeira vez. Eles eram o resultado do trabalho de Alfred Taliaferro, um dos desenhadores da Walt Disney. Este sentiu a necessidade de ampliar o mundo de Donald, que tinha vivido até então na esfera familiar de Mickey.

                       Donald, que era um dos alvos preferidos das brincadeiras dos traquinas sobrinhos de Mickey, acabou por ganhar os seus próprios sobrinhos: três de uma vez só! Nos primeiros tempos, os três patinhos eram terríveis: adoravam atormentar toda a gente, especialmente o tio, e, além disso, detestavam tomar banho e ir à escola! Com o tempo, porém, eles foram criando juízo e, de meninos traquinas, transformaram-se em espertinhos patinhos. Escoteiros-Mirins.

                        Desde as primeiras histórias de Donald, os três sobrinhos já acompanhavam o tio em muitas aventuras. No 1º número da revista O Pato Donald (1950), publicada pela Editora Abril, os três patinhos apareciam com Donald e Tio Patinhas na história "Donald e o Segredo do Castelo". Mas nessa época chamavam-se Nico, Tico e Chico. Só mais tarde receberiam os nomes que têm hoje. De vez em quando Huguinho, Zezinho e Luisinho vestem a roupa de Escoteiros-Mirins, partem para ajudar aos outros e proteger a natureza e os animais.

                       Como Escoteiro-Mirins, consultavam sempre o fabuloso livro que os tirava de quase todas as dificuldades "Manual do Escoteiro-Mirim", o qual apareceu pela primeira vez em Março de 1954. Esse Manual ficou tão famoso que foi necessário publicá-lo "de verdade" com aquela riqueza de informações. O primeiro fez tanto sucesso foi logo seguido de um segundo do volume.

                      Os três sobrinhos tornaram-se Escoteiro-Mirins em Fevereiro de 1951, na revista Walt Disney's Comics Stories (n.125), como criação de Carl Barks. Os três escoteiros tentavam, nesta história, conquistar o posto de Brigadeiro General nos "Junior Woodchucks" (nome inglês original para os Escoteiros-Mirins). Na edição de Setembro de 1951 (n.132) já tinham conquistado o posto de Generais de dez-estrelas.

Origem dos nomes.
Não se conhece com rigor a origem dos nomes dos sobrinhos de Donald. Uma das hipóteses avançada é que em 1937, o desenhador Al Taliaferro deu a cada um dos sobrinhos do Pato Donald o nome de figuras populares nos Estados Unidos da América de então: «Huey» (Huguinho) como homenagem a Huey Long, governador da Louisiana, «Dewey» (Zezinho) em homenagem ao governador republicano de Nova York Thomas E. Dewey, e « Louie» em homenagem ao trompetista Louis Armstrong.

Outra hipótese é a de que Taliaferro tenha pretendido homenagear o almirante George Dewey (1837-1917) da Guerra Hispano-Americana e que "Louie" seja uma homenagem ao animador Louie Schmitt (1908-1993).

prenome completo de Huey é Hubert, de Dewey é Deuteronomy e de Louie é Louis.

Existem rumores sobre um quarto sobrinho, chamado Phooey, mas acredita-se que não seja realmente um personagem e sim um erro de desenhistas entusiasmados que vez por outra faziam quatro e não três personagens.
Nota de rodapé: - Quem quando jovem não se divertiu com Donald e seus Escoteiros-mirins?  Quem um dia não ambicionou a ter um Manual do Escoteiro–Mirim? São histórias que ficaram gravadas em nossas memórias em uma época boa dos Gibis e principalmente dos personagens da Disney que tanto nos encantaram. Conheçam a história deles.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Palavra de Escoteiro ou palavra de honra? “Os dez artigos da Lei Escoteira”


Palavra de Escoteiro ou palavra de honra?
“Os dez artigos da Lei Escoteira”

           Era uma rotina acampar com os monitores e subs da tropa. Pelo menos a cada dois meses íamos para o Sitio do meu amigo Tornelo. – Chefe, fique a vontade, nem precisa pedir autorização. Boa aguada muitos bambus um local excelente. Eram quatro subs e quatro monitores. Eles adoravam tais acampamentos. Eu também, pois tínhamos mais tempo para conversar, aprender fazendo e trocar ideias. Ouvir adolescentes e suas necessidades eram para mim uma alegria sem par.

              Com as atividades de monitores a tropa deu um salto em motivação e crescimento. Nesta acampamento tudo correu normalmente. Jantamos um belo bife com arroz soltinho. Não faltavam bons cozinheiros. Lá pelas nove foram chegando onde montei a fogueira. Eu tinha encontrado perto da Lagoa do Jacaré, dos troncos grossos que deu dois ótimos bancos. Cada um foi se assentando e um deles colocou as batatas no fogo já aceso. O café no bule esmaltado junto à fogueira com pedras em volta para não espalhar as brasas fumegava.

          Havia sorrisos no ar. Todos adoravam participar. Ficamos conversando até que um Monitor me perguntou – E a história de hoje Chefe? Sorri. Sempre tinha uma historia para contar. – Vamos então disse. Hoje irei contar uma história sobre a Lei Escoteira. Eles já sabiam que a palavra de um escoteiro vale mais que sua honra. Mas o que é honra? Melhor contar a história. Alguns se serviram de café quentinho e biscoitos. Calados prestavam enorme atenção. Mal dava para ouvir os grilos e a sinfonia de sapos cururus na lagoa próxima.

       – Tudo começou quando a Patrulha Onça Parda estava reunida na casa do Escoteiro Santos Dumont. Estavam lá o Monitor Rui Barbosa, os Escoteiros e escoteiras Olavo Bilac, Caio Martins, Anita Garibaldi, Barbara Heliodora e Joana Angélica. Eles sempre faziam estas reuniões às quartas feiras em casa de algum membro da patrulha. – Chefe! Interrompeu um Monitor, mas estes nomes são verdadeiros? Lembrei que eles fizeram parte da história do Brasil. Bem pensado Antonio. Mas faz parte da história.  

          - Conversaram e após sugestões de programa para o segundo semestre, Anita Garibaldi pediu a palavra: – Meus irmãos de patrulha lembram-se da última reunião que o Chefe fez um Jogo Escoteiro usando a Lei Escoteira? – Sim, disseram todos. Mas foi um jogo meio parado disse Olavo Bilac. – Concordo disse Anita Garibaldi, mas acho que valeu. E ela perguntou: - O que significa a Lei Escoteira para um escoteiro? – Uma discussão simpática começou. Falou Caio Martins, Santos Dumont, Barbara Heliodora e Joana Angélica. Rui Barbosa o Monitor só observava. .

          - Cumprir ou não cumprir? Dizia. Fazer o melhor possível? Quem sabe assim era mais fácil. Foi Santos Dumont que abriu o jogo – Para dizer a verdade eu não sou muito de cumprir a lei. Ela existe para nos dar um caminho a seguir. Sabemos que cumprir todos os artigos é impossível. – Não sei se concordo disse Olavo Bilac. Anita Garibaldi nada falou. Só ouvia. O mesmo fazia Joana Angélica. Barbara Heliodora não concordou. – Se ela existe e nós prometemos um dia fazer o melhor possível não podemos continuar assim por toda a vida.

          - Joana Angélica lançou um desafio – Se Lei é tudo para os Escoteiros, falamos em honra, palavra escoteira e ética porque não tentamos por dez dias cumprir a risca todos os artigos? Quem sabe, prosseguiu, poderíamos fazer uma aposta e os que perdessem pagaria uma rodada de sorvetes na Sorveteria do Paulão? Muitas opiniões. Rui Barbosa completou – Se aprovam eu estou de acordo. Lembrem-se que faltar com um artigo da lei é questão de consciência. Cada um deu sua palavra e faltar com a verdade não é próprio de escoteiros.

            - Caio Martins entrou na conversa – Acredito que o Escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida. – Barbara Heliodora emendou – Concordo, o Escoteiro é leal. Sem lealdade não existe amor, amizade, fraternidade e consciência. Sem lealdade não existe o Espírito Escoteiro.

             Aprovaram o desafio. No final da reunião de patrulha todos juraram com as mãos entrelaçadas: – Prometo ser leal e dou minha palavra escoteira que se errar direi a todos. – Era uma quinta, dia 12 de agosto. O desafio iria durar até o dia 22 de agosto. Rui Barbosa pensativo não sabia se conseguiria cumprir. Olavo Bilac ria baixinho – Este desafio eu tiro de letra - Caio Martins lembrou de suas palavras: - Para cumprir cada um tem de caminhar com suas próprias pernas. Santos Dumont tinha dúvidas se chegaria até o final.

            - Anita Garibaldi não tinha dúvidas. Barbara Heliodora se considerou leal e acreditava que sempre cumpriu os artigos da lei. Joana Angélica receava suas amigas de classe. Falavam muito palavrão e sempre contavam piadas cujo teor era contra a ética e a honra. Dez dias se passaram. Reuniram-se na casa de Joana Angélica. Hora do acerto de contas. Hora que cada um devia dizer se cumpriu ou não a lei escoteira.

            - Rui Barbosa deu o exemplo como Monitor: – Não consegui. No Sétimo artigo me perdi. Tudo por causa do meu pai. Encheu-me as paciências de tal maneira que fui indelicado com ele. Pedi desculpas, mas já havia infligido à lei. Joana Angélica riu e emendou – Eu também não consegui. O quarto artigo é difícil. Amigo de todos? Tive que dar um empurrão na Rebecca minha prima. Entrou no meu quarto e fez uma bagunça que só vendo. Depois me arrependi. Afinal ela só tem cinco anos!

- Caio Martins disse que cumpriu todos. - Barbara Heliodora pediu desculpas, mas não cumpriu o quinto e o oitavo artigo. Não fui cortês com minha mãe e quando ela me repreendeu na frente de todos, eu chorei por dois dias. Olavo Bilac disse que cumpriu sem pestanejar e se precisasse ficaria para sempre cumprindo a lei escoteira. Anita Garibaldi também não conseguiu. Discuti com minha professora, pois ele me deu oito em história. Merecia um dez. Por último Santos Dumont disse que cumpriu todos.


            Os monitores e subs estavam de olhos arregalados. Chefe é história verdadeira? Quer saber? Eu não sei se iria cumprir como muitos fizeram. Não disse sim e não e encerrei a história contando que foram todos tomar o sorvete na Sorveteria do Paulão. Eles empanturraram-se tanto que deu dor de barriga. Risos. - Um silêncio profundo em volta do fogo. Ninguém disse nada. Uma coruja piou ao longe. Os sapos pararam de coaxar. O céu ficou escuro e um relâmpago riscou o ar. O trovão deu para assustar. – Boa noite meus caros monitores, chequem suas barracas a intendência, o lenheiro. Vem uma tempestade por ai!     

Nota de rodapé: - Você se preocupa com a Lei Escoteira em sua tropa? Ela é sempre lembrada nas reuniões e fazem belos jogos para que todos possam assimilar? Sabemos que quando fazemos nossa Promessa dizemos que iremos fazer o Melhor Possível para cumprir. Mas afinal, e o Chefe? Ele deve ser exemplo ou não para seus escoteiros no trato com a Lei? O dito popular em dizer que “não sou santo” vale para nós? Que cada um pense até onde cumpre ou até onde finge cumprir.