Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

terça-feira, 23 de maio de 2017

O Pernilongo, a Muriçoca, o carrapato e outros bichos.


Conversa ao pé do fogo.
O Pernilongo, a Muriçoca, o carrapato e outros bichos.      .

           Isto é coisa do demônio, dizia a Chefe Mercedes. Chefe “gente boa” a Chefe Mercedes. Entrou com idade avançada e logo conseguiu sua Insígnia de Madeira. No entanto ela detestava estes insetos que ela chamava coisas do Demônio. No primeiro acampamento os pernilongos se deliciaram. Em outro uma “tropa de carrapatos fez dela seu ninho”! Risos. Eu dizia a ela que pernilongos muriçocas e maruins parecem ser da mesma família, mas não são. Risos. São escolados e cada um tem sua maneira própria de morder e chupar o sangue dos pobres dos escoteiros, escoteiras e lobinhos sem esquecer os pernudos chefes é claro. Coitada da Chefe Mercedes. Seu braço ficou todo mordido e suas pernas também, pois achou que podia usar calças curtas. Risos. Danado de insetos chupa sangue. Adoram o “sanguinho” escoteiros e escoteiras quando vão acampar. Dizem que os jovens ficam tão encantados com o campo que se esquecem de tudo e os pernilongos e carrapatos se deliciam.

          Acampei muito em minha vida. Sem falsa modéstia quase 800 noites de acampamento. Nunca gostei muito destes “bichos”. Insetos chupa sangue não é o meu forte. Mas fazer o que? Ainda bem que só fui chupado por um morcego em uma gruta próximo a Maquiné. Bebeu pouco sangue, menos de um litro! Eu sei que hoje a modernidade trouxe o repelente, e até um aparelhinho a pilha que emite um som e a pernilongada se manda. Ainda não vi. Na minha época não tinha nada disto. Dava cinco e meia da tarde e a gente via a direção do vento para fazermos um fogo cheio de folhas verdes ou quem sabe estrume de gado. Cuspindo fumaça e tossindo feio um peão danado ficávamos sempre a favor do vento para que a fumaça mandasse a mosquitada para o “raio que o parta”!

                 Uma vez descobri que existe diferença do pernilongo da cidade e o do acampamento. O do acampamento ataca morde e você sente logo. Nós os antigos os chamamos de maruins. Com um raminho na mão a gente os espanta, mas tem de ficar abanando sem parar. Os da cidade não. São covardões. Vivem escondidos em baixo da cama ou de um móvel qualquer.  Primeiro zumbem no seu ouvido e somem. Você acorda com uma coceira danada. Pronto, ele já encheu a pança do seu sangue e vai se refastelar na parece do quarto sala ou cozinha.

           Lembro-me de um acampamento sênior nas barrancas do Rio das Velhas, bem perto da Barra do Guaçuí onde se podia avistar o São Francisco. Lugar maravilhoso. Cheio de peixes e lindos pássaros migratórios a fazerem acrobacias fantásticas no rio e nas lagoas próximas.  Era uma fazenda enorme e tinha uma bela floresta nas suas margens. O local era de tirar o folego. Lindo mesmo. Perfeito para um grande acampamento.  O capataz da fazenda nos preveniu. Olhe Chefe, lá a noite é um inferno. De cinco e meia as sete ninguém aguenta, as muriçocas são sedentas de sangue. Rimos dele. Não sabia que éramos da tropa dos valentes e intrépidos seniores Escoteiros aqueles que cantam dizendo serem os tais etc. Primeiro dia, barraca, algumas pioneirias, uma mesa e deixamos do lado centenas de boas folhas verdes. Que venham estes malditos demônios, dissemos. Vão enfrentar uma tropa que não tem medo de nada! Quem vier morre!

           Seis horas o inferno desceu do céu e ficou entre nós. Não era um nem dois eram milhões deles. Você olhava e via aquela nuvem cinzenta e preta e não havia onde correr. Mas nós corremos. Primeiro pulamos no rio e não dava para cobrir o corpo todo, então corremos até a sede da fazenda, mais de quatro quilômetros. O capataz riu a valer. Voltamos ao campo lá pelas nove da noite. A paz desceu a terra! Mas desistimos de dormir ali. Procuramos uma área próxima à fazenda e lá ficamos. Mas querem saber de uma coisa? Pernilongo e muriçocas avisam quando vão atacar e quando não avisam pelo menos a gente só coça. Risos. Mas e o danado do carrapato? Este sim é o satã em pessoa. Não grita, não canta, não fala e procura o pior lugar no seu corpo para se esconder. Fica lá dias e dias sem dar bandeira. O danado sabe como chupar o sangue. A principio uma coceira gostosa. Até o dia que descobre o bicho gordo, cheio de sangue como a dizer a você – Seu Escoteiro idiota chupei seu sangue e você nem viu! Agora posso morrer feliz! Risos. E morre mesmo. Você tira o bicho gorducho, mete unha com unha o sangue espirra e o danado morreu. Você é sênior, não perdoa, mata!

             Para dizer a verdade nunca levei repelente. Achava que isto era coisa de civilização. Se os heróis da floresta, os índios os bravos sertanejos ou os mateiros não usavam eu também não o faria. E cá pra nós isto é coisa de escoteiros aventureiros? Quem ainda não enfrentou saudáveis pernilongos, alegres muriçocas, carrapatinhos gentis, e aranhas negras e lindas nas suas teias nas florestas à noite no rosto, dançando ou rindo de você? Se não aconteceu você não passa de um “Pata-tenra” noviço. Afinal não dizemos para nossos escoteiros que eles não andam voam? Que Escoteiro não ri, dá gargalhadas? Que Escoteiro não chora, dá pernadas na dificuldade? Que Escoteiro não tem medo e luta até a morte? Que Escoteiro não corre dos insetos ou animais peçonhentos, enfrenta-os com seus caratês e golpes mortais?  

              Não sei não. Pobre dos escoteiros se forem seguir estas máximas. Ele sabe que seus super heróis não são assim. Sabe que ele é humano como os outros. Eu prefiro dizer calmamente que ele não se preocupe com as dificuldades, elas passam e reafirmo a eles – Meu jovem ou minha jovem, isto são coisas da floresta. Esqueça as dificuldades e enfrente. Um dia vai descobrir que tem a pele curtida e vai gritar bem alto: - Que venham os malditos carrapatos e pernilongos filhos de Satã!


              Mas voltando a Chefe Mercedes hoje ela mora no céu. Contou para uma amiga que lá não tem destas coisas. Eu gostava de ver a noite chegar e ela dando tapas nas pernas no rosto nos braços e pescoço. Chegava em casa toda marcada. A gente oferecia um raminho e ela dizia que aquilo não era coisa de escoteiro. Então tá! Fico pensando o que são “coisas” de escoteiros. E viva os pernilongos! Viva as muriçocas! Bem vindos os carrapatinhos espertos! No fundo no fundo sou Escoteiro e adoro-os!  Bichinhos do Senhor. E quem vive sem eles?


Um dia me disseram que quem tem medo de pernilongos, muriçocas, carrapatos, aranhas negras e lindos morcegos negros não são Escoteiros. Sei não. Se for verdade acho que não sou, pois detesto estes insetos. Mas se Deus os criou deve ter um motivo e só pode ser pagar nossos pecados aqui na terra. Risos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário