Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 17 de setembro de 2017

Não deixe os sonhos deles morrerem!


Conversa ao pé do fogo.
Não deixe os sonhos deles morrerem!

                 Quanto tempo um adolescente presta atenção a você? Alguns entendidos dizem que cinco minutos eles absorvem suas palavras depois de dez eles deixam a mente viajar para outros lugares que não ali a ouvir seu Chefe ou um adulto. Ao começar a escrever este artigo me lembrei de alguns chefes quando acampei em Monte Carmelo e em volta de uma fogueira fizeram uma gostosa exposição dos seus pensamentos. – Disse um deles: – Acho que preciso me atualizar mais. Tem horas que não consigo acompanhar meus escoteiros! – Outro respondeu: - Concordo com você. Está difícil atingir o ponto certo para que eles possam entender e ouvir o que digo. – Um terceiro Chefe calado e depois de algum tempo comentou: - Conhecer não só na sede, como ele se comporta em sua casa com seus pais e na escola teríamos outra visão. Sabiam que um dia de acampamento vale mais que vinte reuniões de sede para entender melhor como ele é?

               Queria entrar na conversa deles. Achei melhor ouvir. Quem sabe eu tiraria subsídios para entender melhor o que se passa na mente do jovem ou da jovem escoteira. Um deles perguntou aos demais: - Vocês já perguntaram o que ele pretendia ao entrar nos escoteiros? Quais os seus sonhos? O que ele esperava da nova turma, da Patrulha, do Monitor e do Chefe? – Todos olharam para ele espantados. – Um disse: Bem pensando amigo. Eu mesmo me pergunto se o que eles nos dizem quando aparecem sorridentes para nós quando querem ser mais um da fraternidade. – Fraternidade? Disse o outro! – Pois é eu digo para eles o que ele vai encontrar aqui. Dou testemunho do que ele vai ser e do aventureiro que irá aprender a acampar e viver na natureza como um herói da selva!

              Por algum tempo todos se calaram. Pensei comigo. – Será que ele entrou no escotismo pensando encontrar aventuras, grandes excursões acampamentos daqueles que ele viu em filmes dos pioneiros, dos bandeirantes e de tantos heróis que ele um dia pensou que podia ser um? Olhei para um dos chefes que com os olhos semicerrados deixava transparecer seu pensamento se eles estavam dando tudo que ele sonhou quando entrou para os escoteiros. O mais novo sorriu e disse que nunca faltou diálogo. Seus monitores sabiam disto. Olhei para ele e seu olhar de vitória me preocupou. Queria perguntar quanto tempo seus jovens ficam em sua tropa. Não perguntei. Não valia a pena entrar neste caminho tortuoso.

              O mais velho se levantou, espreguiçou-se como se sentar em volta do fogo fosse dar a ele mais lucidez na condição de dirigente de tropa. – Eu ele disse, tenho “minha” tropa na mão. Ninguém discute minhas ordens. Não aceito indisciplina. Sou exigente, comigo eles não facilitam. Afinal o Chefe sou eu e como Chefe tenho responsabilidades na formação de todos. – Pensei comigo: - Este é o verdadeiro Chefe Escoteiro? O diálogo é com todos? Responsabilidades somente? Qual delas? Não disse nada. O que iniciou a discussão tentou argumentar: - Olhem, eu vejo que cada um quer ser independente e se sente bloqueado. Tem outros que não se enturmam e tem outros tantos que não respeitam os monitores!

               Hã! O primeiro dia. Dizem que dele ninguém esquece. Hora da conversa franca, de ouvir o jovem e não interromper. Será que o Chefe ouviria seus dilemas, seus sonhos e porque ele estava ali dizendo que queria ser mais um de nós? De supetão um deles reclamou dos pais: - Não participam, ficam a parte, quando o chamamos não aparecem. – Outro perguntou? Quantas vezes por ano você visita os pais? – Ninguém respondeu. Pensei novamente, ele deve ser bom de palestra, adora falar aos escoteiros. Será que eles ouvem e entendem o que ele quer dizer? Um deles teve a coragem de contradizer: - Converso com eles, vou em suas casas, os pais são meus amigos, mas não duram como escoteiros. Saem logo.

                Continuei calado. Minha mente era um redemoinho de perguntas sem respostas. Um deles com uma flanela pegou a chaleira de café fervendo. Serviu a cada um uma golada quente que fez bem naquela noite fria de inverno. O mais novo sorriu e disse: Acho que tem muito de nós que esquecem que não somos lideres de robôs. Um deles olhou para ele raivoso. – Eu sei disso, disse. Uma vez perguntei a um deles que me veio dizer que ia sair do escotismo. Não perguntei por que. Devia ter perguntado, mas eu sabia o que ele ia dizer. – Sabia mesmo? Perguntou outro. Ninguém disse nada.

                As horas passaram, o sono chegou, o papo encerrou. Todos foram dormir. Fiquei ali a meditar nas palavras de cada um. Perguntei a mim mesmo se eles não diriam que iam sair porque gostava mais de sua turma do bairro. Um deles disse que sentia sua falta, que naquela turma ele podia sugerir e que a amizade ali era ponto de honra para cada um. Os sonhos, a vontade de realizá-los e não poder. Ouvir e entender. Um poeta que devia ter sido Chefe escoteiro escreveu: - Eu sou um pescador de sonhos como muitos, mas diferente destes, não tenho isca e nem sequer anzol, apenas utilizo as minhas mãos; e o único que pesquei, vai, porém, escorregando por entre os meus dedos.

                Fui dormir recordando o que disse Kipling cujas palavras deviam ser decoradas e relidas sempre pelos chefes que se consideram educadores: - “Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... Deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.




Nota de rodapé: - Um dia uma criança chegou diante de um pensador e perguntou-lhe: - “Que tamanho tem o universo?” – Acariciando a cabeça da criança, ele olhou para o infinito e respondeu: - “O universo tem o tamanho do seu mundo”. Perturbada, ela novamente indagou: “Que tamanho tem meu mundo?” – O pensador respondeu: “Tem o tamanho dos seus sonhos”. Pois é, nós chefes escoteiros não devemos nos achar maior que todos. O “maior exemplo é o sol se escondendo no horizonte para a lua brilhar”. Sempre Alerta!

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