Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Crônica de um Velho Escoteiro Bengaleiro. A perna, a Bengala e o caminho para Sucesso.


Crônica de um Velho Escoteiro Bengaleiro.
A perna, a Bengala e o caminho para Sucesso.

- Ops! Não é o livro de BP, é o meu caminho. Sucesso ou não “tô” nele e não abro mão. Saltitei da cama cedo, a perna me olhou espantada e disse: Pé na taboa escoteiro vou te levar em excursão vai ser alegria de montão! Quá, eu conheço esta “petisca”. Mas não dei prá ela xulê, Café nos introitos, biscoito para mastigar e na parede pendurada a minha gostosa bengala. A perna logo reclamou: - Caminhada curta escoteiro, deixa de ser treteiro! Upalalá! Lá fui eu tartarugando e bengalando, e minha perna reclamando. Andei quase dois quilômetros, e ela calada não praguejou.

- Andar de bengala é um “barato”, todo mundo tira o chapéu, devem pensar coitado do velhote, já não vai ao convescote, perna curta não vai dar. Risos. Entro na padaria, minha voz não é batuta, rouca e desafinada, me atendem com presteza! Poxa! Ainda dizem que velho não tem valor, tem sim, e si tá de bengala todo mundo respeita. Vou atravessar a rua, paro no meio fio, os carros buzinando e a motoristada fazendo sinal: - Passe Velhote, a rua é sua! Lá atrás a “buzinaria”. Alguém grita “deixa o velho passar”!

- Finjo que quase tropeço, todos querendo ajudar e lá vou eu a caminhar. Minha mente não dá trégua e começo simplesmente a pensar. Lembro-me do Gilmar Mendes, o Ministro Valentão que diz não dar um abraço, não gosta da lava jato. Ele solta todo mundo e nem tai com aquela cara de assustar. Risos. E o Temer? E Rodrigo Maia? Um vai para a china o outro vira presidente. E a deputadaiada continua trabalhando (trabalhando?) terças e quartas e depois é hora de voltar no jatinho da FAB. E você? Vai votar em quem?

- O cara recebe propina de cinquenta mil e reclama. Só isto? Moço propineiro, passa prá mim, tô andando de Vulcabrás, meu carrinho fundiu o motor. E se não quer eu quero, “faiz favô”! Na esquina da São José dou uma bela risada. Quem passa acha o que? “O Velhote tá no norte” Deviam era preocupar em quem votar. Eu? Não voto em ninguém eleito. Ninguém! Ali e acolá seja vereador deputado ou senador, “nois tamo é roubado”! E se gritar pega ladrão não fica um meu irmão!

- A mente não para, a perna calada, a bengala toc toc. Olho atravessando a rua, um cara magro, alto cabelo espichado, dente prá frente e pensei... É o Maestro Munir! Conhece? Sei que não. Era o maestro da Banda do Grupo Escoteiro São Jorge onde aprendi a escoteirar. Adorava desde pequeno ir ao Campinho do Cine Pio XII ver a banda tocar. Batuta! Maestro munir andava com uma varinha. Bumbo aqui, corneta e clarim acolá! Acho que foi pela banda que entrei no lobinho. Quantas saudades! Sempre adorei marchar!

- Lobinho, não disseram que o Maestro Munir era o Akela? Bem nunca o vi lá, quem mandava era o João que todos chamavam de “Jão”. Balu seu moço, Balu mas ninguém chamava ele assim. Sabe, eu gostava dele. Seu jeitão de sorrir, de cantar de contar histórias. Pequeno magro, negro e pai eterno. Fiquei lobeando com ele por quatro anos. E o Maestro Munir? Era dono da banda, lá não tinha lobinhos, só sênior e pioneiro. Precisavam ver o Maestro nos desfiles. Nunca vi tanta medalha e tanta estrelinhas de metal. E o seu chapéu? Deus do céu! O cara era o tal!

- Sai da Avenida São José e na Padaria do Guido atravessei a rua entrando na Pica Pau. A perna não reclamava. Andava devagar quase parando. Foi um custo para me aceitarem na banda. Entrei para treinar no Tarol. Depois fui para uma Caixa Clara até chegar ao Tambor. Meu sonho era o clarim. Um dia o Maestro me deu um e disse: Leve para sua casa, treine e quando souber tocar me dá um toque quem sabe você vai tocar na banda! E não é que no dia em que ia apresentar, eis que a Patrulha foi acampar! Clarim ou acampamento?

- Eu gostava mesmo era do “Seu Miguel” nos seus sessenta anos contava histórias demais. Dono do Sítio Pato Manco, era nosso local preferido para acampar poucos dias. Nem dava a noitinha chegar e lá vinha ele com o Montanha, um vira-lata magro e que nem latia. Montanha? Risos. Lembro que ele contava histórias quando soldado na frente da batalha da Revolução de Trinta. Paulistas contra “nois”. Ele era bom para contar. Fingia estar com seu fuzil “Mauzer” modelo 1928 e pum!


- Bem a mente vai sessando e vou chegando a minha morada. Célia está no portão. Marido comprou ovo? Puxa! Esqueci! A perna reclama mas lá vou de volta até o verdureiro Bastião. Sem ovo não dá. Sem dente não posso mastigar. A perna calada, a bengala toc. Toc. Upalalá! Viver é bom demais e prá que reclamar meu irmão! Um sorriso nos lábios bengala na mão e seja o que Deus quiser!

Nota de Rodapé: - Apenas para passar o tempo. Afinal ontem sofri o diabo na mão da minha perna. Hoje ela quebra o galho mas ainda não está no ponto e nem vai ficar. É bom caminhar. Acalma, faz a gente pensar e o tempo passa as historias ficam e no meu caminho para o sucesso vou vivendo com minha bengala minha nova companheira.

domingo, 27 de agosto de 2017

Putz! Minha perna não me obedece mais!


Putz! Minha perna não me obedece mais!

            Pois é, fiz de tudo, mas ela se encrespou. Chamei-a no cantão e rezei um sermão. Ela caladona como se estive nem aí! Fui até meigo, agradeci a ela pelo que fez por mim, por ter me levado a lugares lindos, por ter me ajudado a atravessar planícies, vales e subir montanhas escorregadias. Até fui piegas quando disse a ela que era hora dela me ajudar. Mocinha, você vai me deixar na mão? Ela ficou calada e calada ficou. Argumentei que precisa dela para fazer caminhadas, ir à padaria, comprar na vendinha do Abreu alguma verdura prá cozinhar.

            Ela já vinha definhando há tempos. Vivia se queixando que era melhor eu parar e partir para outra. Outra? Dona perna, que outra? Já não se vendem pernas como antigamente. Onde vou conseguir uma? Ela calou e desde aquele dia calada ficou. Hoje ao levantar vi que meu corpo estava pesado demais mesmo assim tateei pelas paredes e rodei a casa de canto a canto. Ela gemendo. Pensei que ela estava fingindo e fui até a varanda. Ela me obrigou a sentar. – Vado, não dá mais ela disse. Dá sim, deixa de frescura e vamos continuar pisando no chão brasileiro, afinal sou ou não sou o Vado escoteiro?

              Ameacei, rodei a baiana, disse a ela que ia chamar a Corte de Honra, meus monitores não teriam piedade. Ela deu gargalhada! – Fui mais além, vou levar você a Comissão de Ética da UEB ou será EB. Putz me confundo muito até hoje não entendi porque deixaram de lado a União, era tão bonito! – Ela naquele sorriso enigmático não me deu bola. Cheguei à conclusão que é melhor deixá-la fazer pirraça. Tudo bem que estou chegando aos setenta e sete anos e ela já trabalhou demais. Mas parar assim sem mais nem menos?

               Queria aposentar a bengala, mas não deu. Lá vou eu por caminhos conhecidos na minha barraca de plantão. Toc, toc, o som da bengala não é lá uma melodia de Puccini e me tira do sério. Passei o dia sentado e bengalando. Já que é assim que ela se dane, fui para meu computador. Escrevi adoidado. Dois contos e um artigo e ela lá esticada sem ao menos agradecer o que fiz por ela. Amanhã é outro dia, vamos ver se minha perna colabora. Preciso andar espraiar ir por aí sem rumo e sem violão debaixo do braço.

                 Tenho que ser compreensivo. Perna não dura à vida toda disso eu sei. Mas precisava tanto dela e vou dar um descanso. Falei baixinho em seu ouvido: Perna querida faça igual ao meu pulmão, ele não reclama vez ou outra falta o ar, mas mesmo assim vai me dando tempo para pescar na vida que eu levo. Que seja se ela quer assim. Sei que isto faz parte da vida, nem tudo dura para sempre. O corpo nasce, cresce fica dodói e se vai. Vira poeira cósmica no chão da terra que sempre amei.


                 Mesmo assim, agradeço a ela meu pulmão e parte dos meus órgãos que ainda não me deixaram na mão. Mas sinto que estão acabando. Ainda bem que meu espírito, minha vontade não desiste e mesmo sem meu corpo que amo, vou andando no pedaço e dizendo, enquanto houver vida, enquanto houver pensamento, não desisto. Que seja, vamos aguardar o amanhã, quem sabe eles que fazem o meu corpo não resolvem me ajudar?

Nota de rodapé: -  Hoje acordei cansado, de que? Perguntei-me. Não sei. Minha perna não queria carregar meu corpo e insisti com ela para não desistir. Escrevi sentado e isto deu para ela pensar no erro que cometia. Mas cá prá nós, nem tudo dura para sempre e eu só tenho a agradecer a ela e partes do meu corpo por me darem a vida que sempre amei.