Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Conversa ao pé do fogo. Uma questão de caráter.


Conversa ao pé do fogo.
Uma questão de caráter.

Conheço uma pessoa que apoia o Escotismo, porém recusa a engajar-se como voluntária porque não quer fazer a Promessa Escoteira, e não tem nada a ver com o texto da promessa, mas porque ela vê que adultos fazem a promessa e não fazem o mínimo esforço por cumpri-la.

Ao ver o comportamento de certos adultos voluntários escoteiros penso que esta pessoa realmente pode estar com a razão. Onde está a educação pelo exemplo que Baden-Powell falou?

No Guia do Chefe Escoteiro B-P diz que “a finalidade do programa escoteiro é: Aperfeiçoar o padrão dos nossos futuros cidadãos, especialmente quanto ao caráter e saúde”, e ao longo de sua obra o fundador do Escotismo enfatiza a sua preocupação com o caráter. No mesmo Guia do Chefe Escoteiro está escrito “Caráter tem mais importância que erudição para se vencer na vida.”.

Para fazer o caráter desabrochar, B-P coloca, dentre outras coisas a Lei Escoteira que diz ser “a base que se assenta todo adestramento escoteiro” e então enfatiza que “Se o próprio Chefe Escoteiro abertamente cumpre e executa a Lei Escoteira em todas as suas ações os jovens vão segui-lo rapidamente”.

B-P coloca o 1º artigo da Lei Escoteira como aquele que se baseia todo o comportamento e disciplina futuro dos escoteiros. O interessante que o nosso Chefe não põe ênfase na primeira parte do artigo primeiro da Lei Escoteira, “O Escoteiro tem uma só palavra”, mas no final “sua honra vale mais que a própria vida.” Ainda que uma coisa seja dependente da outra, uma pessoa honrada tem uma só palavra, é verdadeiro. Baden-Powell disse “confiança e crédito são à base de todo o nosso desenvolvimento moral".

Uma Tropa pode ter todos os seus membros com as mangas cobertas de distintivos, seus chefes com mais contas no pescoço que o colar de Dinizulu, porém não estar cumprindo a finalidade almejada por B-P para o programa escoteiro, a começar do exemplo dos chefes.

Nos EUA a Boy Scouts of America, a associação Escoteira americana, participa de um projeto chamado CHARACTER COUNTS, focado no desenvolvimento de características éticas fundamentais.

É hora de o Escotismo pensar mais no fim, os valores positivos, que nos meios que tantos valoram como e rotulam como o verdadeiro escotismo, porquanto baseado unicamente no lado prático do Escotismo para Rapazes, esquecendo-se que Baden-Powell tem outras obras, e que naquela que baseamos este artigo, logo no prefácio ele diz: “O termo Escotismo presentemente significa um sistema de preparação e adestramento de cidadãos, através de jogos, tanto para rapazes quanto moças”.  A preparação do cidadão, e no contexto já explicado com ênfase no caráter, é o fim, os jogos, e demais atividades, são meios.
Artigo copiado do Site Saber e Agir.


P.S. Quem quiser conhecer o projeto Character Counts:- https://charactercounts.org

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Eu amo contar estrelas!


Eu amo contar estrelas!

                     Quando menino escoteiro eu gostava de contar estrelas. Uma, duas, três... E quando perdia a conta começava de novo a contar. Eram muitas, milhões delas. Foi em uma excursão noturna no Vale do Sino que aprendemos a contar. Não entendi bem na época o porquê. Hoje estrelas no céu sempre me fazem sonhar. Como é mesmo a canção? – “Mas a lua, furando o nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão, tu pisavas os astros distraída, sem saber que a ventura desta vida é a cabrocha, o luar e o violão”! Muito linda ela.

                    Fui crescendo contando estrelas e velejando num barco a vela no meio delas, perdido e embriagado com tanto encanto. Quantas estrelas eu contei? Milhões? Bilhões? Números infinitos sem nunca terminar. Eu me perdia no meio delas quem sabe tentando tocar e sentir a caricia do seu frescor? Do seu calor? Do seu brilho? Eu gostava de contar estrelas... Ainda Escoteiro eu adorava deitar na relva e ver aquele espetáculo que só Deus pode explicar. Passei noites acordado olhando para elas!

                      Eu sempre gostei de contar estrelas, aquelas que moram lá no céu. Contei estrelas em lugares incríveis, montanhas impossíveis, picos indecifráveis. Sempre descansando a cabeça na grama, em uma pedra, ou a velha mochila companheira de aventuras. Fui ao mais alto pico do Caparaó e não contei estrelas. O céu encoberto de nuvens não me deixou contar. Pensei que naquele dia as estrelas quem sabe envergonhadas se escondiam por trás dos astros distraídas, e eu relutante ali a olhar para o céu e só via a bruma branca, opaca não me deixando ver.

                    Eu gosto de contar estrelas... Uma, duas, três, quatro... Foram tantas! Em Itatiaia um espetáculo inesquecível. Nas Montanhas do Morcego elas perdiam de vista. Nas planícies de Crenaque eu me esquecia de dormir. No lago do Enforcado era um imaginável chão de estrelas a salpicar nas asas cinzentas o colorido de um brilho de uma noite sem lua. Deus criou tudo em sete dias? Tantas estrelas no céu e eu nunca consegui saber quantas são. Perfeição do criador. Criou tantas coisas lindas, criou o nascer do sol, o por do sol se escondendo no mar imenso. O vento! Sim o vento amigo que nos acaricia o rosto no sol escaldante. Será que ele acaricia as estrelas?

                    Eu gosto de contar estrelas... A vida não para. Fui crescendo e homem me tornei e a idade não mais me deixou contar estrelas. Hoje as procuro no céu claro da minha morada e não as vejo. É, moderno isto. A luz do homem ofusca a luz de Deus. Não se pode mais contar estrelas nas grandes cidades, mas eu não desisto. Vou continuar insistindo e um dia quero de novo deitar na relva, próximo a um fogo adormecido onde as fagulhas relutam em subir aos céus, quem sabe para não atrapalhar a maravilha do firmamento e eu então começarei do zero, de novo a contar estrelas... Uma, duas, três quatro...

                    Hoje vou dormir pensando nelas.  Pensando quantos como eu um dia tiveram a felicidade de contar estrelas. Seria o mundo mudado? Ninguém mais se importava com elas? Os meninos e as meninas não contam mais estrelas? Ah! Como eu gostaria de ser pequenino perdido em uma montanha, deitar na relva e olhar para o céu estrelado, sentindo o zunzum dos cometas que passam e não pedem passagem e somem em uma parte perdidos no meio das estrelas.


                     Deito, coloco as mãos fechando meu pensamento. Olho para o teto do meu lar onde durmo, abre-se uma fenda e vejo o céu. Não sei se estou dormindo ou se estou contando as estrelas... Uma, duas, três, quatro... Eu amo contar estrelas...

Nota de rodapé: - Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

domingo, 17 de setembro de 2017

Não deixe os sonhos deles morrerem!


Conversa ao pé do fogo.
Não deixe os sonhos deles morrerem!

                 Quanto tempo um adolescente presta atenção a você? Alguns entendidos dizem que cinco minutos eles absorvem suas palavras depois de dez eles deixam a mente viajar para outros lugares que não ali a ouvir seu Chefe ou um adulto. Ao começar a escrever este artigo me lembrei de alguns chefes quando acampei em Monte Carmelo e em volta de uma fogueira fizeram uma gostosa exposição dos seus pensamentos. – Disse um deles: – Acho que preciso me atualizar mais. Tem horas que não consigo acompanhar meus escoteiros! – Outro respondeu: - Concordo com você. Está difícil atingir o ponto certo para que eles possam entender e ouvir o que digo. – Um terceiro Chefe calado e depois de algum tempo comentou: - Conhecer não só na sede, como ele se comporta em sua casa com seus pais e na escola teríamos outra visão. Sabiam que um dia de acampamento vale mais que vinte reuniões de sede para entender melhor como ele é?

               Queria entrar na conversa deles. Achei melhor ouvir. Quem sabe eu tiraria subsídios para entender melhor o que se passa na mente do jovem ou da jovem escoteira. Um deles perguntou aos demais: - Vocês já perguntaram o que ele pretendia ao entrar nos escoteiros? Quais os seus sonhos? O que ele esperava da nova turma, da Patrulha, do Monitor e do Chefe? – Todos olharam para ele espantados. – Um disse: Bem pensando amigo. Eu mesmo me pergunto se o que eles nos dizem quando aparecem sorridentes para nós quando querem ser mais um da fraternidade. – Fraternidade? Disse o outro! – Pois é eu digo para eles o que ele vai encontrar aqui. Dou testemunho do que ele vai ser e do aventureiro que irá aprender a acampar e viver na natureza como um herói da selva!

              Por algum tempo todos se calaram. Pensei comigo. – Será que ele entrou no escotismo pensando encontrar aventuras, grandes excursões acampamentos daqueles que ele viu em filmes dos pioneiros, dos bandeirantes e de tantos heróis que ele um dia pensou que podia ser um? Olhei para um dos chefes que com os olhos semicerrados deixava transparecer seu pensamento se eles estavam dando tudo que ele sonhou quando entrou para os escoteiros. O mais novo sorriu e disse que nunca faltou diálogo. Seus monitores sabiam disto. Olhei para ele e seu olhar de vitória me preocupou. Queria perguntar quanto tempo seus jovens ficam em sua tropa. Não perguntei. Não valia a pena entrar neste caminho tortuoso.

              O mais velho se levantou, espreguiçou-se como se sentar em volta do fogo fosse dar a ele mais lucidez na condição de dirigente de tropa. – Eu ele disse, tenho “minha” tropa na mão. Ninguém discute minhas ordens. Não aceito indisciplina. Sou exigente, comigo eles não facilitam. Afinal o Chefe sou eu e como Chefe tenho responsabilidades na formação de todos. – Pensei comigo: - Este é o verdadeiro Chefe Escoteiro? O diálogo é com todos? Responsabilidades somente? Qual delas? Não disse nada. O que iniciou a discussão tentou argumentar: - Olhem, eu vejo que cada um quer ser independente e se sente bloqueado. Tem outros que não se enturmam e tem outros tantos que não respeitam os monitores!

               Hã! O primeiro dia. Dizem que dele ninguém esquece. Hora da conversa franca, de ouvir o jovem e não interromper. Será que o Chefe ouviria seus dilemas, seus sonhos e porque ele estava ali dizendo que queria ser mais um de nós? De supetão um deles reclamou dos pais: - Não participam, ficam a parte, quando o chamamos não aparecem. – Outro perguntou? Quantas vezes por ano você visita os pais? – Ninguém respondeu. Pensei novamente, ele deve ser bom de palestra, adora falar aos escoteiros. Será que eles ouvem e entendem o que ele quer dizer? Um deles teve a coragem de contradizer: - Converso com eles, vou em suas casas, os pais são meus amigos, mas não duram como escoteiros. Saem logo.

                Continuei calado. Minha mente era um redemoinho de perguntas sem respostas. Um deles com uma flanela pegou a chaleira de café fervendo. Serviu a cada um uma golada quente que fez bem naquela noite fria de inverno. O mais novo sorriu e disse: Acho que tem muito de nós que esquecem que não somos lideres de robôs. Um deles olhou para ele raivoso. – Eu sei disso, disse. Uma vez perguntei a um deles que me veio dizer que ia sair do escotismo. Não perguntei por que. Devia ter perguntado, mas eu sabia o que ele ia dizer. – Sabia mesmo? Perguntou outro. Ninguém disse nada.

                As horas passaram, o sono chegou, o papo encerrou. Todos foram dormir. Fiquei ali a meditar nas palavras de cada um. Perguntei a mim mesmo se eles não diriam que iam sair porque gostava mais de sua turma do bairro. Um deles disse que sentia sua falta, que naquela turma ele podia sugerir e que a amizade ali era ponto de honra para cada um. Os sonhos, a vontade de realizá-los e não poder. Ouvir e entender. Um poeta que devia ter sido Chefe escoteiro escreveu: - Eu sou um pescador de sonhos como muitos, mas diferente destes, não tenho isca e nem sequer anzol, apenas utilizo as minhas mãos; e o único que pesquei, vai, porém, escorregando por entre os meus dedos.

                Fui dormir recordando o que disse Kipling cujas palavras deviam ser decoradas e relidas sempre pelos chefes que se consideram educadores: - “Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... Deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.




Nota de rodapé: - Um dia uma criança chegou diante de um pensador e perguntou-lhe: - “Que tamanho tem o universo?” – Acariciando a cabeça da criança, ele olhou para o infinito e respondeu: - “O universo tem o tamanho do seu mundo”. Perturbada, ela novamente indagou: “Que tamanho tem meu mundo?” – O pensador respondeu: “Tem o tamanho dos seus sonhos”. Pois é, nós chefes escoteiros não devemos nos achar maior que todos. O “maior exemplo é o sol se escondendo no horizonte para a lua brilhar”. Sempre Alerta!