Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Conversa ao pé do fogo. Jogando conversa fora em um barzinho.


Conversa ao pé do fogo.
Jogando conversa fora em um barzinho.

        - Oi Matheus! (o garçom) Por gentileza, um chopinho! – Um não, quatro. Estamos aqui também. Eram quatro. Saboreavam um gostoso bolinho de bacalhau, quibes entre outros salgadinhos. Sempre estavam ali aos sábados. Acabava a reunião tiravam o uniforme e lá iam eles. Solteiros, nada melhor que um papinho.  – Continue o que estava dizendo disse um – O mesmo de sempre – riu. Acho que nosso movimento tem muitos chefes cheio de empáfia. – Ei calma – Está chamando alguns escotistas de arrogantes? Não seria presunção sua? – Não é. Você me conhece. Veja no nosso grupo. Tem alguns que são muito simpáticos, amigos, e outros se postam com altivez própria de quem é superior.

         – Outro Chefe disse: - Não sei se concordo com você. Veja, somos todos seres humanos. Temos nossos defeitos e nunca seremos perfeitos. – Mas meu amigo, você acha que isto poderia acontecer no movimento Escoteiro? Matheus veio com as bebidas. Um pequeno silêncio para saborear o malte famoso. Um deles disse – Há muito mais certezas em um copo de cerveja do que se pode imaginar – todos riram – o Outro olhou para o mais novo Chefe e disse – Corra atrás dos seus sonhos, e na volta traga uma cerveja para mim.

         - Não sei se você está enganado disse um Assistente. Tive uma decepção outro dia. Lembra-se do Chefe (...)? – Lembro. Recebeu a Insígnia de Madeira. Pois é, mudou muito. Parece que até anda diferente. – Não foi ele que tentou ajudar naquele curso do mês passado? – Foi sim. Disse-me que quer ser um formador. Seu sonho sempre foi ser da equipe – Outro gole, outro ah! O bolinho de bacalhau estava perfeito. – Estive conversando com um Chefe que foi Escoteiro quando jovem. Gente boa. Pena que fala demais e não deixa os outros falarem. Ele acha que só ele sabe. Todos riram.

           – A conversa não parava. Quatro amigos de longa data. Outro disse: Estou pensando em sair do grupo. Toma-me muito tempo. E sabem Assistentes não manda nada. Não foi o Lula quem disse? – Mas você reclamou? Procurou falar com ele em particular? – Não adianta. Manda-me o programa por e-mail já pronto. Costumo aparecer em um ou outro item, mas nada sério.

       - Perdemos dois jovens mês passado. Desistiram. - Por quê? Não sei. Não me disseram nada. Um seu pai não quis gastar com a taxa do Jamboree e o menino desistiu. O outro. Disseram seus amigos que o programa deles no bairro era melhor – pode? – Porque você não os procurou? – eu? Sou um mero Assistente meu amigo. O Chefe da tropa não está nem aí – E o diretor Técnico? Ora você conhece o “dito cujo”. Se fosse do outro grupo não diria nada. Ele sim é interessado. – Mais uma pausa, mais um gole e o pratinho de quibe acabou. Mais quibe Matheus disse! – E para mim outro chope – Para mim também.

        – Quem de vocês vai à Assembleia? Eu não vou. – Eu também não. – Acho que vou disse a akelá. – Vai mesmo? Não vai morrer de tédio? – e deram boas risadas. – Este ano não. Tem eleições. – E você vota? – Não voto, mas posso dar minhas “piruadas”. – Vou pensar se vou. Na última vez ficamos feito tontos andando para lá e para cá e outros querendo aparecer. Acho que se tivesse na lojinha espanador e melancia a região ia faturar aos montes. – Pois é, quer saber? Acho que não tinham programa para quem não vota. Podíamos participar de um ou outro seminário. Mas nestes os entendidos não davam vez para ninguém.

        - Um deles olhou para o relógio. Dez da noite. – Já? Vamos ficar mais um pouco. A conversa está animada! E deu boa gargalhas.  Soube que vão ter muitas eleições na Assembleia Nacional. – Eu também soube. – Pois é, dizem que agora a reeleição só por dois mandados – Vamos ver se é verdade – Me disseram que tem uns lá que são eternos. – Todos deram boas risadas.  E quando irão nos perguntar sobre as mudanças que fazem? – Acho que nunca! - Nunca? Mas eu gostaria de opinar. Chega de resolverem tudo por eles.

        – Um silêncio na mesa. Um olhou para o outro – Olhe eu vou dizer uma verdade se não fosse meu amor pelos jovens, já teria saído. Ser voluntário no escotismo não é fácil. É o único lugar onde se paga para ser voluntário. – O que? Paga? Você paga? – Claro pago mensalidades minha e de meu sobrinho, pago taxa de curso, pago taxa de acampamento e nem pensar em ir nestas atividades nacionais. – Dizem que tem grupo que paga tudo!- Paga mesmo? Paga! Sortudos!

        - Matheus! – A saideira, por favor! – Estavam calados. Um deles esperava a entrega da Insígnia Sênior. Soube que tinha sido aprovado. – Porque a demora? – Eles são muito ocupados. Ainda não deu tempo para me enviarem. Não é assim na bucha, você sabe disto. Tudo anda rápido se você é amigo do rei disse. – Já tentei minha medalha de bons serviços e nada. Dez anos. – Dez? Tanto assim? – Isto mesmo. Acho que o distrital ou o Assistente regional não vai com minha cara –

         - Gostaria de dizer isto na Assembleia falou a Akelá! - Porque lá tantos recebem? – Você viu a fila para receber? – É mesmo, um mistério minha amiga. Mistério. Aprenda com eles. Vejam o que fizeram. São considerados a nata do escotismo. Dizem que sacrificam mais que nós. O que você faz na Alcateia todos os sábados, aos domingos, dia de semana em reuniões com seus assistentes, participando de reuniões do distrito não é nada comparado a eles. – Dão duro mesmo? Claro que sim. Ser dirigente não é mole. – Olharam para a cara de um de outro e desandaram a rir.


           - A conta, por favor! – Dividiram, pagaram abraços, dividiram um taxi, pois não foram de carro. A lei seca estava severa. A Akelá foi de ônibus. Mais um sábado. Amanhã domingo. Descansar? Nem pensar. Cada um tem milhares de coisas para fazer. Mas francamente, é uma pretensão destes chefes acharem que trabalham no escotismo mais que os dirigentes não acham? – E eu? Eu meu amigo estou morrendo de rir! Tapir de Prata neles!

Nota de rodapé: - Jogando conversa fora é uma série que há tempos escrevi sobre quatro amigos três chefes e uma Akelá, que a cada quinze dias após as reuniões escoteiras vão jogar conversa fora em um barzinho de um amigo. Tomam seus chopes, pois ninguém é de ferro e sempre os temas discutidos são sobre escotismo. Aos poucos vou publicando toda a serie escrita há mais de cinco anos, mas acho que atual. 

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Na beira do caminho tinha uma flor... Tinha uma flor na beira do caminho.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Na beira do caminho tinha uma flor... Tinha uma flor na beira do caminho.

                             Era um sol de meio dia. Quente, fervendo o sangue do Escoteiro caminhante. Mal dava para olhar a frente de tão quente... O chapéu de abas largas tentava segurar os raios amarelos do sol poente. A camisa ensopada. Ele pensou em tirar o lenço e a camisa. Ficar com a camiseta que estava por baixo. Mas esqueceu desta vontade. Aprendeu a andar uniformizado onde fosse. Não importa se tinha alguém a vê-lo ou não. Há horas esperava encontrar uma arvore frondosa, a beira do caminho. Nada. A estrada era de terra e quase não cabiam dois veículos passando um pelo outro. Ele sabia que ainda tinha chão para percorrer. Não fora com sua patrulha pela manhã. Prova de matemática. Um mais dois cinco mais oito e ele aprendeu a tabuada assim nas jornadas da vida. Agora não. Não calculava a soma divisão ou a multiplicação. Precisava parar para descansar, mas e o riacho de águas cristalinas e a árvore frondosa que não apareciam?

                            Tirou seu cantil e bebeu dois goles. Não mais. Ele não sabia quanto tempo de caminhada ainda tinha para encontrar um riacho. Ali era impossível. Tudo estava seco, nem o verde do campo se via. O chão do caminho era terra pura e vermelha. Se chovesse valha-me Deus o barro que formaria. Um, dois, quatro seis quilômetros de pé no chão. Sua mochila pesava. Ele estava acostumado. Bastava encontrar uma árvore frondosa, apenas um cochilo e ele andaria outros seis se necessário. E os pássaros? Ele não via nenhum. Naquele sol escaldante nem pássaro se arriscaria a voar pelos céus. Ele passou por ela... Na beira do caminho. Nem reparou. O sol não deixava. O chapéu quebrando a testa para esconder o calor e a claridade escondia as belezas que ele não via na beira do caminho.

                           Andou alguns passos e parou. Sua mente tinha gravado a flor na beira do caminho. Pensou o que seria e a mente o obrigou a lembrar. Voltou-se calmamente e a viu... Linda, vermelha, quase do tamanho de uma rosa. Mas não era uma rosa. Somente ela com sua planta a segurar como se fosse cair com o peso. Não havia vento, ela não se mexia. Mas era linda. A mais linda flor que ele tinha visto. Deu meia volta até a flor na beira do caminho. Quem pensaria que na beira do caminho tinha uma flor? Verdade, mas na beira do caminho tinha uma flor. Ficou de frente a ela. Viu que ela sorria e não se importava com os raios de sol que não penetravam nas suas pétalas. Tirou sua mochila e se agachou ficando frente a frente com ela. Um perfume suave percorreu seu olfato. Gostoso, delicioso. Aroma agradável de cheirar. Era um balsamo para manter o corpo firme. Aquela sublime fragrância jogava todo seu perfume no Escoteiro que caminhava no sol do caminho.

                       Ficou ali estático por minutos que se transformaram em horas. Ela a flor na beira do caminho o hipnotizava. Ele precisava prosseguir precisava chegar ao acampamento antes do anoitecer. Seus amigos da patrulha o esperavam. Então o sol se escondeu. Uma nuvem branca com pássaros esvoaçantes chegou. Um vento sul começou a soprar. A flor balançou na sua planta, mas não caiu. O Escoteiro procurou um galho e o fincou junto à flor. Do seu cantil molhou a linda flor da beira do caminho. Precisava seguir adiante. O tempo não espera, e ele olhou a flor pela ultima vez. Grande, Vermelha, quase do tamanho de uma rosa. O Escoteiro partiu olhando para trás. Uma enorme tristeza o invadiu. A flor da beira do caminho balançou de um lado a outro. Como se estivesse agradecendo o que o Escoteiro fez por ela.

                         Era só uma flor, uma flor vermelha linda a beira do caminho. E ele viu que na beira do caminho tinha uma flor, tinha uma flor na beira do caminho, tinha uma flor, no meio do caminho tinha uma flor...
(Baseado no poema de Drummond – No meio do caminho tinha uma pedra.).


Nota de rodapé: Nunca me esquecerei dessa jornada. Na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma flor... Tinha uma flor no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma flor! Conto baseado no poema de Carlos Drummond de Andrade. No Meio do Caminho.