Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Palavra de Escoteiro ou palavra de honra? “Os dez artigos da Lei Escoteira”


Palavra de Escoteiro ou palavra de honra?
“Os dez artigos da Lei Escoteira”

           Era uma rotina acampar com os monitores e subs da tropa. Pelo menos a cada dois meses íamos para o Sitio do meu amigo Tornelo. – Chefe, fique a vontade, nem precisa pedir autorização. Boa aguada muitos bambus um local excelente. Eram quatro subs e quatro monitores. Eles adoravam tais acampamentos. Eu também, pois tínhamos mais tempo para conversar, aprender fazendo e trocar ideias. Ouvir adolescentes e suas necessidades eram para mim uma alegria sem par.

              Com as atividades de monitores a tropa deu um salto em motivação e crescimento. Nesta acampamento tudo correu normalmente. Jantamos um belo bife com arroz soltinho. Não faltavam bons cozinheiros. Lá pelas nove foram chegando onde montei a fogueira. Eu tinha encontrado perto da Lagoa do Jacaré, dos troncos grossos que deu dois ótimos bancos. Cada um foi se assentando e um deles colocou as batatas no fogo já aceso. O café no bule esmaltado junto à fogueira com pedras em volta para não espalhar as brasas fumegava.

          Havia sorrisos no ar. Todos adoravam participar. Ficamos conversando até que um Monitor me perguntou – E a história de hoje Chefe? Sorri. Sempre tinha uma historia para contar. – Vamos então disse. Hoje irei contar uma história sobre a Lei Escoteira. Eles já sabiam que a palavra de um escoteiro vale mais que sua honra. Mas o que é honra? Melhor contar a história. Alguns se serviram de café quentinho e biscoitos. Calados prestavam enorme atenção. Mal dava para ouvir os grilos e a sinfonia de sapos cururus na lagoa próxima.

       – Tudo começou quando a Patrulha Onça Parda estava reunida na casa do Escoteiro Santos Dumont. Estavam lá o Monitor Rui Barbosa, os Escoteiros e escoteiras Olavo Bilac, Caio Martins, Anita Garibaldi, Barbara Heliodora e Joana Angélica. Eles sempre faziam estas reuniões às quartas feiras em casa de algum membro da patrulha. – Chefe! Interrompeu um Monitor, mas estes nomes são verdadeiros? Lembrei que eles fizeram parte da história do Brasil. Bem pensado Antonio. Mas faz parte da história.  

          - Conversaram e após sugestões de programa para o segundo semestre, Anita Garibaldi pediu a palavra: – Meus irmãos de patrulha lembram-se da última reunião que o Chefe fez um Jogo Escoteiro usando a Lei Escoteira? – Sim, disseram todos. Mas foi um jogo meio parado disse Olavo Bilac. – Concordo disse Anita Garibaldi, mas acho que valeu. E ela perguntou: - O que significa a Lei Escoteira para um escoteiro? – Uma discussão simpática começou. Falou Caio Martins, Santos Dumont, Barbara Heliodora e Joana Angélica. Rui Barbosa o Monitor só observava. .

          - Cumprir ou não cumprir? Dizia. Fazer o melhor possível? Quem sabe assim era mais fácil. Foi Santos Dumont que abriu o jogo – Para dizer a verdade eu não sou muito de cumprir a lei. Ela existe para nos dar um caminho a seguir. Sabemos que cumprir todos os artigos é impossível. – Não sei se concordo disse Olavo Bilac. Anita Garibaldi nada falou. Só ouvia. O mesmo fazia Joana Angélica. Barbara Heliodora não concordou. – Se ela existe e nós prometemos um dia fazer o melhor possível não podemos continuar assim por toda a vida.

          - Joana Angélica lançou um desafio – Se Lei é tudo para os Escoteiros, falamos em honra, palavra escoteira e ética porque não tentamos por dez dias cumprir a risca todos os artigos? Quem sabe, prosseguiu, poderíamos fazer uma aposta e os que perdessem pagaria uma rodada de sorvetes na Sorveteria do Paulão? Muitas opiniões. Rui Barbosa completou – Se aprovam eu estou de acordo. Lembrem-se que faltar com um artigo da lei é questão de consciência. Cada um deu sua palavra e faltar com a verdade não é próprio de escoteiros.

            - Caio Martins entrou na conversa – Acredito que o Escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida. – Barbara Heliodora emendou – Concordo, o Escoteiro é leal. Sem lealdade não existe amor, amizade, fraternidade e consciência. Sem lealdade não existe o Espírito Escoteiro.

             Aprovaram o desafio. No final da reunião de patrulha todos juraram com as mãos entrelaçadas: – Prometo ser leal e dou minha palavra escoteira que se errar direi a todos. – Era uma quinta, dia 12 de agosto. O desafio iria durar até o dia 22 de agosto. Rui Barbosa pensativo não sabia se conseguiria cumprir. Olavo Bilac ria baixinho – Este desafio eu tiro de letra - Caio Martins lembrou de suas palavras: - Para cumprir cada um tem de caminhar com suas próprias pernas. Santos Dumont tinha dúvidas se chegaria até o final.

            - Anita Garibaldi não tinha dúvidas. Barbara Heliodora se considerou leal e acreditava que sempre cumpriu os artigos da lei. Joana Angélica receava suas amigas de classe. Falavam muito palavrão e sempre contavam piadas cujo teor era contra a ética e a honra. Dez dias se passaram. Reuniram-se na casa de Joana Angélica. Hora do acerto de contas. Hora que cada um devia dizer se cumpriu ou não a lei escoteira.

            - Rui Barbosa deu o exemplo como Monitor: – Não consegui. No Sétimo artigo me perdi. Tudo por causa do meu pai. Encheu-me as paciências de tal maneira que fui indelicado com ele. Pedi desculpas, mas já havia infligido à lei. Joana Angélica riu e emendou – Eu também não consegui. O quarto artigo é difícil. Amigo de todos? Tive que dar um empurrão na Rebecca minha prima. Entrou no meu quarto e fez uma bagunça que só vendo. Depois me arrependi. Afinal ela só tem cinco anos!

- Caio Martins disse que cumpriu todos. - Barbara Heliodora pediu desculpas, mas não cumpriu o quinto e o oitavo artigo. Não fui cortês com minha mãe e quando ela me repreendeu na frente de todos, eu chorei por dois dias. Olavo Bilac disse que cumpriu sem pestanejar e se precisasse ficaria para sempre cumprindo a lei escoteira. Anita Garibaldi também não conseguiu. Discuti com minha professora, pois ele me deu oito em história. Merecia um dez. Por último Santos Dumont disse que cumpriu todos.


            Os monitores e subs estavam de olhos arregalados. Chefe é história verdadeira? Quer saber? Eu não sei se iria cumprir como muitos fizeram. Não disse sim e não e encerrei a história contando que foram todos tomar o sorvete na Sorveteria do Paulão. Eles empanturraram-se tanto que deu dor de barriga. Risos. - Um silêncio profundo em volta do fogo. Ninguém disse nada. Uma coruja piou ao longe. Os sapos pararam de coaxar. O céu ficou escuro e um relâmpago riscou o ar. O trovão deu para assustar. – Boa noite meus caros monitores, chequem suas barracas a intendência, o lenheiro. Vem uma tempestade por ai!     

Nota de rodapé: - Você se preocupa com a Lei Escoteira em sua tropa? Ela é sempre lembrada nas reuniões e fazem belos jogos para que todos possam assimilar? Sabemos que quando fazemos nossa Promessa dizemos que iremos fazer o Melhor Possível para cumprir. Mas afinal, e o Chefe? Ele deve ser exemplo ou não para seus escoteiros no trato com a Lei? O dito popular em dizer que “não sou santo” vale para nós? Que cada um pense até onde cumpre ou até onde finge cumprir.