Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 22 de maio de 2018

Quem bate? É o friiooo!



Quem bate? É o friiooo!

- Sei não... Alguns dizem que amam outros que detestam. Já gostei do frio e hoje não mais. Tudo que tenho de “bode na sala” aparece quando o frio chega e a maioria dos meus “pobrema” dão as caras. Agora além das outras fui premiado com uma tal de labirintite. Chegou sem avisar e me derrubou. Tem dois meses que sou premiado com ela e vômitos. Puxa que danação, prá não dizer que é bão demais. Lá fui eu uma, duas, três e outras vezes correndo no Pronto Socorro atrás dos “homes” do Jaleco Branco. Era injeção no traseiro, soro na veia e o escambal.

- Faz parte da nossa vida, não está escrito lá que “seja feita a Tua vontade, aqui na terra como no céu”? Não reclamo. Afinal a vida continua e ele decide quando parar. “Quando o frio chega, é batata”! Lá vem ela me abraçar. Tudo vai resolver, já tenho marcado para final de setembro uma consulta com o especialista. Falta pouco tempo. Vamos aguardar afinal “tô nu SUS” e não posso reclamar. Nessas horas de frio me ponho a lembrar de quando escoteirava por aí no meio do gelo, das geadas tilintando de frio em volta das fogueiras para esquentar.

- Esta aconteceu há tempos. E põe tempo nisso. Tonico chegou correndo na Oficina de meu pai. – Vado chegou uma Patrulha de escoteiros do Norte. Dizem que vão para o Ajuri Nacional no Rio de Janeiro.  Estão na Praça Serra Lima. – Dei tchau pru papai e lá fomos até a praça na minha bicicleta pneu balão Philips. Eram quatro. Uniformizados com suas reluzentes bicicletas cheias de balangandãs. Sempre Alerta, aperto de mão e “zaz” para a sede. Em menos de uma hora a escoteirada e a lobada estava lá. – Viemos da Bahia e vamos prú Rio para o Ajuri Nacional! Putz, que inveja.

- Iam embora no dia seguinte. Cada um dos mais de cem meninos que estavam em volta deles ofereceram alojamento, com cama, roupa lavada e comida no bucho. Eu levei um, se não me engando de nome Joaquim. De que não sei. Alto magro, uns dezesseis ou dezessete anos. Almoçou, jantou e a noite fomos paquerar as meninas na pracinha Serra Lima. Claro vesti meu uniforme e a praça encheu. Os causos conto depois. Fomos dormir lá pelas tantas. Ele disse que preferia dormir na rede. Rede? Invejei! Nunca tinha dormido. – No dia seguinte foram embora acompanhados de dezenas de nós até a ponte de São Raimundo.

- Resolvi comprar uma rede. Trabalhei dobrado com minha caixa de engraxate. Três meses. Custava sessenta paus a vista. (não havia fiado nem prestação). Comprei. Linda, meio verde musgo com beirolas brancas. Junho, o frio chegou. Fomos acampar no pé do Pico Ibituruna, um pico de frente para nossa cidade. Orgulhosamente levei a dita cuja e a turma me olhando. Chico disse: - Tem certeza? E o frio? – Faço fogueira eu disse. – Donato riu: - Aposto que lá pelas uma ou duas vai prá barraca!

- Meia noite e eu inquieto na rede. Não havia posição para dormir. Marinheiro de primeira viagem. Mesmo enrolado na manta o frio gelava o fogo ajudava só de um lado. Acendi outra fogueira. Uma de cada lado. Embaixo nas costas e trazeiro só gelo. Caramba! Porque fui inventar? Pensei em ir prá barraca. Mas o orgulho do desafio era maior que eu. Lá pelas três e meia uma garoa! Chuva intermitente. Eu na rede joguei uma lona... Nada, não resolveu.  

- Rael levantou e disse: Vado, venha não vou contar para ninguém. Minha capa preta, na frente um fogo espelho que ele fez. Quentinho. Dormi. Rede? Ficou para minhas manas quando quisessem descansar usando o pé de Manga e Abacate do quintal da nossa casa. Anos depois quando descemos o São Francisco a bordo do Benjamim Guimarães, o Capitão ofereceu rede prá nós. Eu necas de catibiriba. Dormi enroscado na minha manta na proa da barca e os outros na rede. Se não conseguiram não me disseram.

- Olhe, já dormi em cada lugar de fazer medo, em cima de uma árvore correndo de uma jaguatirica. Na subida da Serra da Piedade cheia de pedras, no Pico da Bandeira por duas vezes, no Cipó, no Itacolomi e no Itatiaia. Centenas de vezes olhando as estrelas, debaixo de chuva, de vento que nem dá para contar. Mas dormir na rede nunca mais. Minhas costas só reclamavam. Bom mesmo era enroscar em minha capa, sentar com as pernas cruzadas em volta de um fogo e cochilar. Bom demais. Ainda tenho duas redes que nem colocar na varanda coloco. Rede? Desculpe os aficionados, mas eu nunca mais!

Nota – Nesses dias frientos a barra para os velhos escoteiros como eu pesa. E como pesa. Chegou de presente uma labirintite acompanhada de vômitos como se fosse um prêmio que fui sorteado. Algumas vezes fico de molho, o mundo rodando e quem sou eu para corujar minha máquina que me leva junto a amigos. Hoje acordei sem poder levantar, reclamei comigo e disse: - Vado vá lá, conte uma história para alegrar e depois volte prá cama! É prá já! E aqui tô eu!

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