Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Cozinha mateira? Sei não!



Conversa ao pé do fogo.
Cozinha mateira? Sei não!

                         Temos hoje uma plêiade de bons mateiros que se divertem no campo a fazerem comida mateira. Delicia! Sei que tem gente que faz e não gosta. Manjado é o pão do caçador. E a sopa de cebola, o pão do minuto, o ovo no espeto, ovo na casca de laranja, ovo no barro, milho na brasa, maçã recheada na fogueira? E o frango no barro? A carne moída na batata cozida nas brasas do fogo de conselho? Arre! São centenas. Se deixar os mateiros Escoteiros engordam esta lista em minutos ou horas. Dizem os bons mateiros que a comida mateira escoteira é a técnica de se cozinhar sem a utilização de utensílios domésticos. É um desafio.


                  Um deles disse que esta é a comida típica dos Escoteiros nos acampamentos. Afinal preparar sua própria comida é um desafio para qualquer escoteiro. Saber improvisar, paciência para substituir as tradicionais feitas nas panelas é uma arte. (pelo menos se tem uma vantagem, evitar lavar panelas, arre!). - Nada como um bom fogo, boas achas para brasa para deleite de uma boa refeição. Adoro uma banana verde uma cebola, uma batata e enrolar o pão do caçador para depois de cozido me deliciar. Conheci patrulhas que adoravam fazer um bom churrasco. Será que vale no acampamento? Trazer de casa? Nem pensar.

                   Eu sou daquele tempo, onde a diligência passava e gritavam: Correspondência? A Wells Fargo está passando! Alguns escoteiros desciam para esticar as canelas e apreciar uma Patrulha fazendo um belo almoço de cozinha mateira. Neste tempo dos cowboys as patrulhas iam caçar tatu, rodelas bem fritinhas de uma jiboia, se ter sorte pegar uns patos e marrecos na beira da lagoa. Não pode mais? Tudo bem, mas era um manancial a disposição. Pato-do-mato, pato-criolo, pato-bravo, cairina, pato-selvagem e pato-mudo. Haja pato!

                  Claro, o respeito à natureza e a liberdade da fauna tem de existir. Mas lá onde Genghis Khan perdeu as botas não falta uma gordura de porco, um pouco de sal para fritar, cozinhar ou fazer uma bela sopa destes gostosos animais e pássaros no meio de jenipapo ou uma bela abobora achada nas milongas de um rio qualquer. Tempo das Falas Novas, seja setembro ou novembro, onde Mowgly tentava acompanhar a bicharada embriagando na primavera!

                 Uma mochila, manta, muda de roupa, material de higiene um facão bem afiado, um canivete escoteiro, uma faca mundial e pronto. Partíamos cantando a Canção do Arrebol. “Alerta Escoteiro Alerta”! Lista de mantimentos? Taxa a pagar? Meu Deus! Nem pensar. Está me acompanhando? Quer ir comigo prú campo? Use de sua imaginação e venha comigo conhecer e viver aonde o vento nos levar. Na lagoa do Epaminondas? Oba! Sempre um franguinho a disposição, era só degolar! Risos! Depois pescar traíras, bagres e pintados na sombra da goiabeira.

                 Que fartura dos ensopados. Como disse Pero Vaz de Caminha, nesta terra se plantando ou mesmo não... Tudo dá! Pode rir, mas no Rio Chorão era peixe para pegar com a mão. Zé Bigode o intendente e às vezes cozinheiro, na curva da cachoeira pegava peixes com fartura. Então gente vamos avante? Mochila nas costas sorrisos nos lábios vamos atravessar o Rio Piraçu, correnteza forte, e depois de atravessar vamos arranchar na Clareira do Guaporé. Um vai pegar lenha, outro um fogo mateiro e você Akelá procure uma colmeia e devagar sem alarde tire um ou dois favos de mel! Medo? Chame o Baloo, ele é o mestre do mel de abelha.

                 Eita campo sem graça, se não vier tempestade, se não houver trovões raios na mata este acampamento perde graça. A noite é a melhor hora. Capa no costado, fogueira acesa, bananas e cuidado com a batata doce, ela não dá de banda! Um cafezinho pru Monitor e pru gaúcho um chimarrão no ponto e bem passado! Passado? Kkkkkk. E a noite vamos pegar galinha d’angola gostosa frita ou não até demais. Vamos fazer no barro. Tiro o bucho e bem limpado, pouco de sal e gordura, meto barro nas penas e cabeça, no buraco meio fundo a fogueira produziu brasas demais. E lá vai ela, bem tampada e é só esperar para se deliciar.

                  Comida mateira? Poxa gente aqui não é boteco e nem restaurante. Vamos que vamos na floresta do Jangadeiro. Lá tem Castanha e o Açaí. E lindos pés de palmito, sem contar inhames, maracujás e folhas de Lobrobô. Não conhecem? Risos. Espere o ensopado que faço sem panelas... Está rindo? Calma. É o truque do velho chefe. Não conto para ninguém, só para quem acampa comigo risos. Pois é, comida mateira é bom demais. Tem gente que gosta e outra não. Eu fico no meu pedaço. No campo não tenho embaraço. Dá para comer? Não enjeito!

                  Sei que hoje tudo é levado da sede. Mas tem outro jeito? Não sei. Mas você que esteve comigo nesta bela viagem de sonhos aventureiros não gostou? Lembra-se do Macaquinho que pulou em seu ombro na selva do Soldado? Medo da febre amarela? Nem não! O macaco é nosso irmão.  

                  São tantas lembranças que você nunca mais vai esquecer. Comida Mateira? Comece, e em pouco tempo estará tão acostumado que vai pedir a mamãe: - (folgado... Pedindo a mamãe?) Mamãe! Hoje eu quero sopa de maracujá com folhas de Lobrobô. E não esqueça mamãe, deixe tostar bastante a Galinha D’angola feita no barro branco que encontrei que tá assando lá no quintal!

Nota - São coisas do passado, agora não mais. Mas que foi uma época boa foi e supimpa que valeu a pena ter tantas coisas para lembrar. Dizem que cada ano os novos escoteiros também fazem sua comida mateira. Tem cada tipo de dar água na boca. Fico feliz em saber, pois assim quando for um Velho como eu, irá se orgulhar do que fez e do que marcou sua vida escoteira, com vivência mateira para nunca mais esquecer.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Noviço, Segunda e Primeira Classe. Nunca mais?



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Noviço, Segunda e Primeira Classe. Nunca mais?

                 Muitos dos novos chefes nunca ouviram falar. Outros têm uma pequena ideia e alguns passaram por elas. Pensando bem quem sabe elas hoje não teriam mais validade com as novas técnicas modernas de ensino. Por volta de 1925 o “Velho Lobo” apelido carinhoso do Almirante Benjamim Sodré, escreveu o precursor dos livros de classe para escoteiros e seniores. “O Guia do Escoteiro” foi à bíblia de muitos do que passaram no escotismo até 1954. Inclusive a minha.

               Por dezesseis anos ele passou de mão em mão nas patrulhas e tropas escoteiras. Em janeiro de 1941 exatamente na data de falecimento de Baden-Powell, passou a circular uma nova literatura “Para Ser Escoteiro” do Chefe Francisco Floriano de Paula. “Em 1961 foi convidado a dividir o trabalho em provas de classe, passando a serem três livros: - “Para ser Escoteiro Noviço” Para ser Escoteiro Segunda Classe” e “Para ser escoteiro Primeira Classe”. Em 1991 por um curto período foi introduzido algumas etapas de classe tipo múltipla escolha.

                Em 1963 a UEB reeditou os três livros do Chefe Floriano desta vez pelas mãos do Chefe Luiz Paulo Carneiro Maia e Ivan Bordallo Monteiro. Finalmente depois de diversas adaptações e alterações chegamos hoje ao Novo Programa Educativo da UEB. Não entro na validade ou não do programa. Deixo isso para os novos pedagogos que entendem mais da educação escoteira que eu. Quem sabe na minha nostalgia eu procuro ver com olhos de quem viveu naquela época. Se os jovens de hoje iriam gostar ou mesmo realizar as etapas exigidas até chegar a um Escoteiro de Primeira Classe só perguntando a eles.

                 Salto o obstáculo do Escoteiro Noviço e das exigências para a Segunda Classe. Queira ou não pular o obstáculo de cada uma dessas provas não era para qualquer um. Deveriam ser facilitadas? Acho que não. Afinal aprender a utilizar e manusear uma faca ou canivete era uma obrigação de todos os jovens acampadores. Se hoje tem um GPS naquela época existiam como hoje as estrelas, as constelações, o vento, as folhas das árvores o sol e a lua para nos dar o caminho a seguir.

                Um passo Escoteiro, um Passo duplo, saber a altura de uma montanha, uma árvore ou um rio era demais. Mas não vamos falar sobre elas. Muitos daquela época conseguiram ter em sua farda o distintivo tão sonhado de Segunda Classe. Sonhado? Não esqueçamos as especialidades. Um muro de lamentações para muitos. Não sei, mas acho diferente de hoje. Conseguir uma de Acampador, intendente, cozinheiro, socorrista ou sinaleiro era um verdadeiro desafio. Os nós os sinais ficaram para trás. Mas saber de cor a Lei e a Promessa eram ponto de honra.

                A Primeira Classe era um sonho que muitos não conseguiram realizar. Muitas das exigências eram simples, mas outras não. Era como a especialidade de Socorrista que hoje muitos desconjuram pela sua maneira rústica de executar. Veneno? Faca em brasa? Torniquete? Garrote? Tipoias? Ataduras? Pelo menos todos faziam questão de aprender e fazer.

                 Ninguém se preocupava com a exigência de quinze noites acampados, várias excursões e estar preparado para com um companheiro, fazer uma jornada de vinte e cinco quilômetros a pé. Cozinhar a própria refeição estava no ombro: - A especialidade de Cozinheiro. Percurso de Gilwell muitos aprendiam na Segunda Classe. Se fossem para o campo, amavam a natureza. A fauna, a flora, os minerais eram fatos corriqueiros. Mapas, croquis eram manuseados diversas vezes nas excursões e acampamentos.  

                 Os relatórios, os projetos, a Rosa dos Ventos, a bussola, o sol, o relógio, a lua as estrelas, indícios naturais era rotina na Patrulha. Carta Topográfica se aprendia nos Cantos de Patrulha onde uma vez por semana eles se reuniam. Fazer um esboço de um campo de Patrulha, levando em conta o vento, a cozinha as barracas e o Refeitório eram coisas de Pata-Tenra. Fossas, canto do lenhador, intendência e as artimanhas e engenhocas eram comuns nos acampamentos de Patrulha.

                 Não sei se a Primeira Classe era difícil. Conheci muitos que orgulhosamente a receberam. Eu tive esta honra. Naquela época ver uma Patrulha com um ou dois primeiras e três ou quatro segundas a gente sabia com qual Patrulha estava lidando. Foi uma época de escotismo solto, sem amarras, meninos com suas mochilas correndo pelos campos, mostrando responsabilidade, lealdade, cortesia, sinceridade e sabendo manter o autocontrole demonstrando estar à altura do nome escoteiro em sua maturidade.

                 A modernidade não pode parar. As adaptações também. Não sei se o que BP disse quando criou o método escoteiro, acreditando que todo o programa deveria ser voltado para o campo, para as atividades ao ar livre, não foram sufocadas pelas técnicas modernas de ensino. Prevejo que em breve toda metodologia Bipidiana seja absorvida pelos novos programas que irão surgir. Só espero que o objetivo de BP seja alcançado. Os resultados! O homem e a mulher em uma comunidade dando exemplos pessoais e cuja honra e caráter não havendo dúvidas que foi o Escotismo um dos principais responsáveis!

Nota – Não me meto com a nova metodologia de programas de hoje. Se antes a preocupação eram atividades mateiras hoje não. Bom isso. Os cursos hoje são mais objetivos. Temos cursos para o Escotista, para o Dirigente Institucional, a nível Preliminar, Básico e Avançado. São cursos bem diferentes, pois aprender nós, amarras e técnicas escoteiras ficaram no passado. Não existe mais necessidade. Gostei de saber do curso para chefes sobre o ECA, e o mais novo: Formando Staffs para o futuro! Não é este o nome? Desculpe.