Uma linda historia escoteira

Uma linda historia escoteira
Era uma vez...

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Do livro “Rastros do fundador”.



Do livro “Rastros do fundador”.
- A educação individual implica uma total confiança entre o Chefe e o Escoteiro, baseada na relação entre irmão mais velho e irmão mais novo; empregando um tratamento diferente para cada caso, graças ao conhecimento pessoal do seu temperamento, idade e caráter. “Porque nos havemos de preocupar com a formação individual”? Perguntam. Porque é a única forma por que se pode educar. Podemos instruir qualquer número de rapazes, mil de cada vez, se tivermos voz forte e métodos atraentes para manter a disciplina. Mas isso não é educação. De nada vale pregar a Lei do Escoteiro ou proclamá-la em vozes de comando a uma multidão de rapazes: cada entendimento requer uma exposição dos seus artigos e ambição de pô-los em prática. E é nisto que a personalidade e a capacidade do Chefe intervêm.
Baden-Powell of Gilwell.

Crônicas escoteiras. Paranapiacaba, a vila dos sonhos Escoteiros.



Crônicas escoteiras.
Paranapiacaba, a vila dos sonhos Escoteiros.

                       À primeira vista fazer escotismo aventureiro ao ar livre em São Paulo quando cheguei nesta cidade que passei a amar por volta de 1977 era tarefa de gigantes. Fui descobrindo e vendo que quem quer anda e consegue, quem não quer senta e dança a roda das galochas. Não esqueço a primeira vez que fui a Paranapiacaba. Para ser sincero nem me lembro de quem foi à ideia. Adoro andar de trem e tendo oportunidade lá fomos nós, eu mais dois chefes e uma patrulha de monitores.

                      Uma hora e pouca de viagem. Naquela época tinha trem todos os dias. Hoje? Acabaram com tudo, dizem que foi para preservar a vila. Li uma vez na Folha - CANDIDATA A PATRIMÔNIO MUNDIAL, PARANAPIACABA TENTA RESISTIR AO ABANDONO. A foto de trens e vagões abandonados não ficará para a posteridade. Deu-me um nó na garganta. Quantas vezes eu fui lá? Tantas que nem me lembro. Fui com monitores, com a tropa masculina e feminina, fui com seniores e fui com as guias. Claro fui também com a lobada querida e por último fui sozinho, a “Escoteira”, pois queria descer a Serra do Mar e quer saber? Foi delicioso. Um dia quem sabe vou contar.

                     Paranapiacaba foi projetada no século dezenove para abrigar operários da Ferrovia da São Paulo Railway Company que ligava Santos a Jundiaí. Uma pequena Vila de casas de madeira, mas como é linda. Na passarela da estação para a Vila a vista é maravilhosa. Como está na Serra do Mar à origem do seu nome que significa “lugar de onde se vê o mar” veio a calhar.  A São Paulo Railway inaugurou sua linha férrea em 1º de janeiro de 1867. Ela, primeiramente, serviu como transporte de passageiros; também serviu como escoamento da produção de café da província paulista para o porto de Santos.

                    Em 1874, foi inaugurada a Estação do Alto da Serra, que, mais tarde, seria denominada Paranapiacaba. Em 1969 desci a serra por ferrovia até Santos. Descer a serra foi um espetáculo a parte. Nunca esqueci a viagem. Incrivelmente bela. A descida era de tirar o folego e as cascatas, cachoeiras, corredeiras, matas, pássaros e animais eram visto a cada curva parecendo nos dizer: Bem vindo Escoteiro!

                     Uma vez com Guias e Escoteiras acampamos próximo à descida no Alto da Serra por três dias. Um local lindo, maravilhoso aguada e lenha à vontade. Riachos, corredeiras cascatas e o som imperdível aos ouvidos de um velho mateiro. Um jogo de aventuras foi demais. Ainda bem que a monitora possuía uma Silva e um Percurso de Gilwell perfeito.  Descobrimos uma pequena trilha que nos levou a locais lindos e nunca explorados. Durante dez anos fizemos da Serra de Paranapiacaba nosso local preferido para acampar. Tudo levado nas costas, bom demais!

Impossível descrever todos os acampamentos que fizemos lá. Os chefes, escoteiros, escoteiras guias e pioneiros que juntos vivemos dias maravilhosos e que estiverem lendo este artigo devem lembrar como tudo foi maravilhoso. Até os lobos viveram ali grandes aventuras como se tivessem entrado na Jângal de Mowgly. Como em todo local inexplorado a segurança vinha em primeiro lugar. Nunca foi um local para Pata Tenras.

                   Um dia Paranapiacaba saiu do nosso roteiro. Descoberta por marginais, rapazes e moças que iam lá para dar início ao seu vicio, falando palavrões, dando mau exemplo aos jovens fez com que deixássemos a beleza da vila, das matas e das cascatas para nunca mais voltar. Hoje o trem ainda vai lá, mas é um trem turístico somente aos sábados e domingos com horários determinados. Perdeu a graça. 

                   Dona Francisca uma moradora um dia escreveu: - Aqui a Vila é mágica. A Vila aparece e desaparece. Tem dia em que você vê o morro Tem horas que você não vê nada. Parece que o grande caldeirão que você põe para esquentar, e a fumaça vem para a vela apagar. Tem bruxa no pedaço com sua varinha de condão que põe fogo no fogão A fumaça aparece, e a Vila... Desaparece! Como em um passe de mágica. O morro a sorrir a fumaça há persistir O dia não passa, nem as horas. Só fica a fumaça na cidade mágica.

                  Faz anos que não volto lá. Poderia acrescentar outros lindos locais que acampávamos. O Sitio da Viúva, O Parque Anhanguera na área inexplorada e São Lourenço da Serra... Todos locais maravilhosos que tínhamos a porta aberta para acampar quando quiséssemos. Intercalávamos com acampamentos em outras cidades confraternizando com os Grupos locais. Lembro-me de Santa Barbara do Oeste e Pouso Alegre. Eita tempo bom. Se voltar na Terra quando partir quero continuar escoteiro... À moda de BP!

Nota - A Serra de Paranapiacaba - Dorme; repousa em teu sono, Da força pujante emblema, Que tens o oceano por trono E as nuvens por diadema! Imóvel, muda, imponente, Entestas com a excelsa frente Das águias o azul império; E em vastíssimo cenário. Da tormenta o quadro vário Contemplas do espaço etéreo. (somente a primeira estrofe). João Cardoso de Meneses e Sousa.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Conversa ao pé do fogo. Turnover, rotatividade, evasão e o escambal.



Conversa ao pé do fogo.
Turnover, rotatividade, evasão e o escambal.

Todos sabem o que significa, todos conhecem, alguns sentiram na pele outros se safaram por algum motivo. Não é fácil perder lobos ou escoteiros ou mesmo chefes amigos. Eles sempre têm um motivo para explicar e nem sempre condiz com a realidade. Se fizermos hoje uma pesquisa nos Grupos Escoteiros, cada um teria um motivo. Tem explicação? Claro, tem aqueles grupos mais estruturados, onde os chefes se preocupam e correm atrás para sanar esta perda tão nefasta.

Já ouvi tantas explicações que fico pensando porque a maioria dos chefes ainda continua lutando com a perda do efetivo. Sei de grupos com cem e até trezentos membros participantes que nunca se preocuparam. Não sei se eles têm um acompanhamento através de gráficos e pesquisa sobre o tema. Já ouvi de Grandes Chefes formadores ou mesmo de Velhos Lobos tantas explicações que ainda me bato do porque isso ainda não resolveu. E a UEB? O que ela diz?

Não sei, se ela se preocupa, pois nunca li nem ouvi falar. Sei que ela alardeia quando os associados crescem apesar de que nem sabemos do porque isso acontece. Quem sabe ela dirá que os cursos são pródigos, os formadores bem preparados e a literatura vasta para cobrir todas as deficiências. Ainda me pergunto por que ainda não fizeram uma grande pesquisa, orientação às bases e esquecer o velho mote que o Chefe não estava preparado? Sempre o Chefe!

Uma vez me disseram que a evasão estava um por um, ou seja, entra um sai outro. Eu fico no dois por um, entra dois sai um. Um membro importante na hierarquia escoteira comentou certa vez que ela a evasão não passa de cinco por cento do efetivo. Não sei de onde ele tirou esta afirmação. De uma coisa eu sei, se o jovem saiu é “porque não encontrou o que procurava”!  Não adianta somar dois mais dois ou cinco mais quatro, o resultado nunca vai bater! Saiu? Tem motivo e se tem cabe a nós encontrar e procurar melhorar onde está o erro.  

Eu tive enorme experiência neste tema; Sempre me preocupei com ele. Acredito até que tenha outros chefes que conhecem melhor que eu e isto seria bom se eles se voltassem a explicar aos que não sabem como fazer quais seriam as metas, ou os programas que eles fazem. Agora, ficar reclamando, dizendo que os jovens foram ingratos, deixando todos na mão e pegando o que sobrou jogando em outra Patrulha não vai resolver. Fazer um programa para 3 ou 4 patrulhas e elas estiverem incompletas dificilmente se alcançará a meta pretendida.

Patrulhas como diz aquele Velho Sábio são a alma do negócio. Sem elas a motivação será mínima. Não dá para trabalhar o motivar um ou dois somente. O tempo vai se encarregar para ele um dia sair. Isto acontece também com os voluntários, os chefes e nesse caso o motivo é obvio: - Acreditou que seria assim ou assado e não foi. E então? Os lideres daquela Unidade procuraram ver o erro ou só bateram palmas por ver que seu pupilo não era o que esperavam?

Sei que a participação em algumas alcateias ou tropas são boas. Em outras não. Os grupos onde existe a preocupação com a evasão tem maior sucesso e os outros que ficam a reclamar como se fosse sorte encontrar o escoteiro ideal não tem. Antigamente se batalhava para que a alcateia tivesse só 24 participantes e a tropa 32. BP chegou a dizer que ele se achava em condições de liderar uma tropa de até 26, mas que poderia haver outros chefes melhores que ele que pudessem chegar a 32 não mais. Eita cara humilde sô!

De uma coisa eu sei, Patrulha só com pata tenras ou uns gatos pingados dificilmente um programa poderá atingir o objetivo desejado. Catar um aqui, outro ali e ir completando e desfazendo para refazer mais a frente é perda de tempo. Nunca vai dar resultado. E aquele que "marketeou" convidando aqueles que não tivessem Patrulha para participar do Jamboree em Barretos que ele tinha vaga em suas patrulhas? Nossa! Que Patrulha eim? Nem vem que não tem dizer que seria só para o Jamboree. O ambiente esperado jamais será alcançado.

Eu teria mil e uma explicação sobre a evasão. Poderíamos em grupo discutir o tema por vários dias. Acredito que nada que me contassem seria novo. Macaco velho desculpem. Já vi tanto nessa minha vida que de uma coisa eu sei. Se saiu, se se mandou se aboletou de sua Patrulha e da sua responsabilidade na Chefia é porque não encontrou o que procurava. Como diz por aí: Não era a minha praia. Outro dia lembrei-me de um Chefe que me disse: Vado, se o cara diz que tem tempo não caia na onda. Os melhores chefes são aqueles que não tem tempo.

Chame seus jovens, deixe eles falarem. Cale-se! Na primeira vez em um conselho de Patrulha ou de tropa eles não saberão o que falar. Já fiquei uma vez quase uma hora e meia com eles mudos. Entraram mudos e saíram mudos. No sábado seguinte um vacilou, veio outro e ai a chuvarada caiu prá valer. É bom ouvir e péssimo dar desculpas. Que tal: Turma entendi, vamos fazer um novo programa? Quem ajuda? Eita ponha a Patrulha para trabalhar e diga, se sair à culpa não foi minha! Né ou não é?

Como estou meio por fora dos cursos, poderiam me informar se existe discussões sobre o tema Evasão e se todos opinaram ou só o Líder Formador sabia os motivos? Todos tem a palavra. De uma coisa eu sei e aprendi, um ano é muito pouco para dar a formação escoteira que se espera. Alardear cem mil se saiu vinte mil e entrou trinta mil não teremos os resultados esperados. Teremos?

Nota – Ele saiu do escotismo porque pensou que encontraria isso e encontrou aquilo! É  mesmo? Conheço essa frase desde que recebi uma encomenda da Wells Fargo escoltada por Tom Mix e o Zorro. Desculpem a brincadeira, mas o tema é sério. Se queres ter resultados na formação escoteira se preocupe com a Evasão, ou rotatividade ou Turnover. Não importa, importa que você conheça os motivos e trabalhe para saná-los. Boa atividade, bom campo e uma vida escoteira longa e feliz!     

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Os sonhos impossíveis do Velho Chefe Escoteiro.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Os sonhos impossíveis do Velho Chefe Escoteiro.

- Francamente eu não sei se foi Montgomery um General inglês, quem disse em uma das suas inúmeras e famosas batalhas: - “O possível faremos agora e o impossível daqui a pouco”! Monty seu apelido ficou famoso pelas suas frases: Esta ele perguntou a um soldado para levantar a moral de suas tropas: - "Qual é seu bem mais apreciado, soldado?", "Meu fuzil, senhor", respondeu o soldado. "Está enganado, é sua vida"!

- Portanto não posso duvidar que alguém em algum lugar já nasceu ou está para nascer para dar uma virada histórica no escotismo brasileiro. Quem sabe no mundo todo? Pensando bem alardeiam aos quatro ventos seja em qualquer nação que estamos crescendo. Crescendo? - Deixamos de lado nosso principal dogma, nossos mandamentos que BP escreveu e principalmente a mística ou até mesmo o mistério que cerca o escotismo. Quem sabe suas principais regras.

- Partimos para um modernismo desenfreado, realizado em poucas mãos, onde sábios e pensadores modernos mudam o sistema educacional, achando que devemos trilhar o caminho da certeza esquecendo aventura, a descoberta, o fazer fazendo atraindo o jovem pela beleza da simplicidade, incluindo aí a metodologia Badeniana diferente de sua escola, e seu aprendizado prático em seus lares. Deixamos de lado o mais chamativo e sensato meio que BP definiu em poucas palavras: - Acima das torres da matriz ainda existem estrelas no céu!

- Partimos para uma nova filosofia escrita a poucas mãos sem consulta, sem pesquisa, alterando tudo que demorou dezenas de anos para construir. Bom ou ruim a mística, a tradição, o incompreensível habitat de Mowgly, o cabalístico das cerimonias de um Volta a Gilwell. Nomes históricos foram substituídos por nomes moderno. O Comissário, o Chefe, o Distrital o Adestrador e tantos outros passaram a se denominar comumente parecido com outras organizações que nada tem de escotismo. Esquecemos nossas origens?

- Pedagogos, novos pensadores modernos estão a mudar a maneira com deve ser a nova educação escoteira dos jovens. Estamos sendo uma máquina humana servindo de cobaia para ver se vai ou não dar certo. A fleuma Escoteira de BP está sendo esquecida. Vivemos a era do Presidente, do Diretor, do Líder sem nome impingindo cursos que nada tem a ver com a natureza que acreditávamos ser a fina flor do escotismo Badeniano de Gilwell Park.

- Aquela tempera que existia, aquele comportamento cabalístico, característico e porque não dizer medieval, seria o modo o estilo que tanto atraia os jovens? Preocupo que possam substituir as bases fundamentais, tais como O Sistema de Patrulhas, as técnicas de campo, a vida ao ar livre, o aprender fazendo e finalmente a Lei e a Promessa. Não podemos esquecer-nos da retidão moral e da correção de princípios.

- A luta pelo poder, as decisões secretas, os conchavos nos transformou em políticos astutos tentando criar uma nova forma uma nova mentalidade, esquecendo ou desprezando os Velhos Lobos para sua nova hegemonia de comando. Criam falsamente um novo sol, um novo épico do Escotismo. BP emudeceu! Não se discute mais sobre ouvir os jovens, os chefes ou a todos que participam do escotismo. As finanças, o enriquecimento, substitui passo a passo o nosso lema Servir. Qual a direção escolhida? Sem metáforas, por favor!

- Ainda tenho um sonho. Sonho de um Velho Chefe Escoteiro que não ficou parado no tempo. Sonho que todos possam usufruir de direitos e deveres sem os obscuros transcendentes de uma metáfora qualquer. Votar e ser Votado? Ser ouvido consultado? Afinal não seria assim que os direitos são de todos? Se os Matabeles chamavam BP de “Impisa”, O lobo que nunca dorme, ou se os Ashanti o chamavam de “Kantakye” o homem do chapéu grande, ou até mesmo os Kaffir o chamarem de “M’hlalapanzi” “o que atira deitado e que planeja antes de agir” não seria um novo recomeço uma nova história sem esquecer o nosso passado?

- Que se faça ou reescreva o novo escotismo que muitos chamam de Tradicional, mas lembremos de que fazer o escotismo de Baden-Powell não significa ser tradicional. Ninguém esquece quando aprende e adquire um hábito de comportamento. Temos uma herança, um legado que não pode ser esquecido. Temos quer queira ou não voltar às origens sem esquecer o mundo em que vivemos. Acima das torres da Matriz ainda existem estrelas no céu.  

- Precisamos de uma nova história sem esquecer-se de contar a antiga história. Direito iguais, ordem e progresso sem sofisma. Um novo despertar para que todos dêem as mãos em busca de um escotismo melhor. Qualidade e não quantidade. Quem sabe um novo “Conselho” formado por Velhos Lobos de todos os estados. Um fórum com direito a tomada de decisões com voz e voto.

- Precisamos acabar com esta guerra surda de que só alguns tem direitos da filosofia de BP. Chega dessas discussões e conchavos muitas vezes discutidas em porões do submundo escoteiro que nunca poderiam existir. Precisamos de humildade, de fraternidade e nunca esquecer que somos amigos de todos e irmãos dos demais escoteiros. Precisamos dar as mãos, recebendo e dando colaboração. Manter viva a chama do lema Servir! Uma estrada de duas mãos!

Nota – De repente tudo vai ficando tão simples que assusta. A gente vai perdendo as necessidades vai reduzindo a bagagem. As opiniões dos outros são realmente dos outros, e mesmo que seja sobre nós, não tem importância. Vamos abrindo mão das certezas, pois já não temos certeza de nada e isso não faz a menor falta. Paramos de julgar, pois já não existe certo ou errado, e sim a vida que cada um resolveu experimentar. Por fim, entendemos que tudo o que importa é ter paz e sossego, é viver sem medo, é fazer o que me alegra, o que me faz bem, o que me faz feliz... É só!

terça-feira, 22 de maio de 2018

Quem bate? É o friiooo!



Quem bate? É o friiooo!

- Sei não... Alguns dizem que amam outros que detestam. Já gostei do frio e hoje não mais. Tudo que tenho de “bode na sala” aparece quando o frio chega e a maioria dos meus “pobrema” dão as caras. Agora além das outras fui premiado com uma tal de labirintite. Chegou sem avisar e me derrubou. Tem dois meses que sou premiado com ela e vômitos. Puxa que danação, prá não dizer que é bão demais. Lá fui eu uma, duas, três e outras vezes correndo no Pronto Socorro atrás dos “homes” do Jaleco Branco. Era injeção no traseiro, soro na veia e o escambal.

- Faz parte da nossa vida, não está escrito lá que “seja feita a Tua vontade, aqui na terra como no céu”? Não reclamo. Afinal a vida continua e ele decide quando parar. “Quando o frio chega, é batata”! Lá vem ela me abraçar. Tudo vai resolver, já tenho marcado para final de setembro uma consulta com o especialista. Falta pouco tempo. Vamos aguardar afinal “tô nu SUS” e não posso reclamar. Nessas horas de frio me ponho a lembrar de quando escoteirava por aí no meio do gelo, das geadas tilintando de frio em volta das fogueiras para esquentar.

- Esta aconteceu há tempos. E põe tempo nisso. Tonico chegou correndo na Oficina de meu pai. – Vado chegou uma Patrulha de escoteiros do Norte. Dizem que vão para o Ajuri Nacional no Rio de Janeiro.  Estão na Praça Serra Lima. – Dei tchau pru papai e lá fomos até a praça na minha bicicleta pneu balão Philips. Eram quatro. Uniformizados com suas reluzentes bicicletas cheias de balangandãs. Sempre Alerta, aperto de mão e “zaz” para a sede. Em menos de uma hora a escoteirada e a lobada estava lá. – Viemos da Bahia e vamos prú Rio para o Ajuri Nacional! Putz, que inveja.

- Iam embora no dia seguinte. Cada um dos mais de cem meninos que estavam em volta deles ofereceram alojamento, com cama, roupa lavada e comida no bucho. Eu levei um, se não me engando de nome Joaquim. De que não sei. Alto magro, uns dezesseis ou dezessete anos. Almoçou, jantou e a noite fomos paquerar as meninas na pracinha Serra Lima. Claro vesti meu uniforme e a praça encheu. Os causos conto depois. Fomos dormir lá pelas tantas. Ele disse que preferia dormir na rede. Rede? Invejei! Nunca tinha dormido. – No dia seguinte foram embora acompanhados de dezenas de nós até a ponte de São Raimundo.

- Resolvi comprar uma rede. Trabalhei dobrado com minha caixa de engraxate. Três meses. Custava sessenta paus a vista. (não havia fiado nem prestação). Comprei. Linda, meio verde musgo com beirolas brancas. Junho, o frio chegou. Fomos acampar no pé do Pico Ibituruna, um pico de frente para nossa cidade. Orgulhosamente levei a dita cuja e a turma me olhando. Chico disse: - Tem certeza? E o frio? – Faço fogueira eu disse. – Donato riu: - Aposto que lá pelas uma ou duas vai prá barraca!

- Meia noite e eu inquieto na rede. Não havia posição para dormir. Marinheiro de primeira viagem. Mesmo enrolado na manta o frio gelava o fogo ajudava só de um lado. Acendi outra fogueira. Uma de cada lado. Embaixo nas costas e trazeiro só gelo. Caramba! Porque fui inventar? Pensei em ir prá barraca. Mas o orgulho do desafio era maior que eu. Lá pelas três e meia uma garoa! Chuva intermitente. Eu na rede joguei uma lona... Nada, não resolveu.  

- Rael levantou e disse: Vado, venha não vou contar para ninguém. Minha capa preta, na frente um fogo espelho que ele fez. Quentinho. Dormi. Rede? Ficou para minhas manas quando quisessem descansar usando o pé de Manga e Abacate do quintal da nossa casa. Anos depois quando descemos o São Francisco a bordo do Benjamim Guimarães, o Capitão ofereceu rede prá nós. Eu necas de catibiriba. Dormi enroscado na minha manta na proa da barca e os outros na rede. Se não conseguiram não me disseram.

- Olhe, já dormi em cada lugar de fazer medo, em cima de uma árvore correndo de uma jaguatirica. Na subida da Serra da Piedade cheia de pedras, no Pico da Bandeira por duas vezes, no Cipó, no Itacolomi e no Itatiaia. Centenas de vezes olhando as estrelas, debaixo de chuva, de vento que nem dá para contar. Mas dormir na rede nunca mais. Minhas costas só reclamavam. Bom mesmo era enroscar em minha capa, sentar com as pernas cruzadas em volta de um fogo e cochilar. Bom demais. Ainda tenho duas redes que nem colocar na varanda coloco. Rede? Desculpe os aficionados, mas eu nunca mais!

Nota – Nesses dias frientos a barra para os velhos escoteiros como eu pesa. E como pesa. Chegou de presente uma labirintite acompanhada de vômitos como se fosse um prêmio que fui sorteado. Algumas vezes fico de molho, o mundo rodando e quem sou eu para corujar minha máquina que me leva junto a amigos. Hoje acordei sem poder levantar, reclamei comigo e disse: - Vado vá lá, conte uma história para alegrar e depois volte prá cama! É prá já! E aqui tô eu!